A música do filme As coisas da vida marcou a estreia no cinema do compositor

Opinião

Michel Piccoli e Romy Schneider em "As Coisas da Vida": filme de abertura de Cannes/1970

“As Coisas da Vida”, de Claude Sautet, com Michel Piccoli e Romy Schneider, foi um dos títulos marcantes da edição do Festival de Cannes realizada há exactamente 50 anos: o seu peculiar realismo é indissociável dos temas e narrativas de toda uma época

São memórias de há meio século — não exactamente por nostalgia (apenas um pouco, se não levarem a mal…), antes para observarmos as diferenças de que se fazia o cinema. Há 50 anos, por esta altura do ano, desenrolava-se o Festival de Cannes (2 a 16 de maio de 1970). Era a 23ª edição e o júri oficial tinha como presidente o escritor guatemalteco Miguel Ángel Asturias.

Na abertura oficial do certame foi apresentado um filme francês — “As Coisas da Vida”, de Claude Sautet — que, curiosamente, poucos meses mais tarde (fevereiro 1971), seria o título inaugural e primeiro grande sucesso do cinema Satélite, uma das mais emblemáticas “salas-estúdio” de Lisboa, construída no interior do Cine-Teatro Monumental (demolido em 1984).

Sautet representava a persistência de um cinema francês que, em paralelo com os fulgores da Nova Vaga ao longo da década de 60, se mantinha fiel a uma tradição romanesca alicerçada em dois vectores fundamentais: em primeiro lugar, uma tradicional estrutura de argumento, quase sempre apoiada em diálogos muito elaborados; depois, o recurso regular a intérpretes de grande popularidade — neste caso, Michel Piccoli e Romy Schneider, ambos em período áureo das respectivas carreiras.

Talvez possamos definir como valor primordial deste cinema as tais “coisas da vida” que o título consagra. Dito de outro modo: estamos perante um modelo de narrativa que não é estranho à herança de alguns mestres clássicos da produção francesa — lembremos Jean Renoir e Max Ophüls —, agora virado para as muitas transformações de comportamentos, públicos e privados, que marcaram a sociedade francesa (e, em boa verdade, quase todos os países europeus) ao longo dos anos 60/70.

Claro que o cinema não se faz apenas dessa atenção aos modos de viver do próprio presente em que nasce cada filme. O certo é que “As Coisas da Vida” ficou como um caso exemplar de uma visão enraizada num forte desejo de realismo, aliás alicerçada num requinte técnico francamente invulgar na época — recordemos a célebre e, na altura, muito comentada cena do acidente de automóvel com a personagem de Piccoli [video].

Curiosidade complementar: a edição desse ano de Cannes deu também a conhecer outros títulos conduzidos pela mesma vontade de, em registo mais ou menos realista, contar histórias dos respectivos países. Exemplos que vale a pena recordar são “Morangos Amargos”, de Stuart Hagmann, sobre os protestos estudantis numa universidade dos EUA, “Kes - Os Dois Indomáveis”, de Ken Loach, uma das primeiras crónicas sociais do inglês Ken Loach, e também um dos momentos decisivos da modernidade no cinema português: “O Cerco”, de Antónia da Cunha Telles (os dois últimos apresentados, não na competição oficial, mas na Semana da Crítica).

Para a história, registe-se que a Palma de Ouro foi para “MASH”, de Robert Altman, com Donald Sutherland, Robert Duvall e Elliott Gould — era uma visão crítica da instituição militar, indissociável do envolvimento dos EUA no Vietname, embora, neste caso, em delirante tom de farsa.

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14 ANOS 89 minutos

  • Direção

    Claude Sautet

  • Título original

    Les choses de la vie

  • Gênero:

  • Ano:

    1970

  • País de origem:

    Suíça / França / Itália

Leitores


Sinopse

Pierre está entre a vida e a morte: o arquiteto acaba de sofrer um grave acidente de carro, e se encontra em coma ao lado do veículo acidentado. Enquanto isso, tem breve recordações do passado, lembrando-se das duas mulheres que marcaram seu percurso: Hélène, amante de um caso turbulento, e Catherine, com quem se casou e teve uma criança.

Detalhes

Direção

Roteiro

Sandro Continenza
Jean-Loup Dabadie
Paul Guimard
Claude Sautet

Autoria

Elenco

Michel Piccoli
Romy Schneider
Gérard Lartigau
Jean Bouise
Boby Lapointe
Hervé Sand
Jacques Richard
Betty Beckers
Dominique Zardi
Gabrielle Doulcet
Roger Crouzet

Produção

Jean Bolvary
Raymond Danon
Roland Girard

Realização

Fida Cinematografica
Lira Films
Sonocam

Trilha Sonora

Fotografia

Montagem

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