O legado de júpiter netflix

O "Legado de Júpiter" foi cancelado pela Netflix. A série dos heróis baseados no universo de Mark Millar, apesar de ter terminado com um nítido gancho para uma segunda temporada e dos atores terem comentado sobre uma nova fase, não terá sequência. A notícia pegou muitos de surpresa.

A produção era uma das grandes apostas da Netflix, que segundo comentários no mercado, gastou mais de R$ 1 bilhão na adaptação da obra. Surpreendeu ainda o anúncio do cancelamento ter vindo tão rápido, apenas poucas semanas após a estreia.

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Provavelmente, os números de audiência foram decepcionantes. A empresa de streaming é conhecida por acompanhar de perto as taxas de engajamento de suas produções, cancelando as que não caem no gosto dos espectadores.

Para os fãs de Millar, a boa notícia é que apesar do cancelamento de "O Legado de Júpiter", o autor já começou a produzir para a Netflix uma adaptação de "Supercrooks" - que se passa no mesmo mundo ficcional de "O Legado de Júpiter", mas se concentra nos vilões planejando um roubo monumental.

Em um comunicado divulgado ontem no Twitter, Millar afirmou que "tomamos a difícil decisão de liberar nosso incrível elenco de seu compromisso com o show". A série trazia atores de destaque como Josh Duhamel, Leslie Bibb e Ben Daniels.

"Estou muito orgulhoso do que a equipe alcançou com 'O Legado de Júpiter' e do trabalho incrível que todos fizeram naquela temporada de origem", escreveu Millar. "Já me perguntaram muito sobre o que estamos planejando com este mundo, e a resposta é ver o que os super-vilões estão fazendo".

O sonho de ser Marvel

Criar uma grande franquia ou "universo" é o Santo Graal dos serviços de streaming. Star Wars e os heróis da Marvel são exemplos de franquias tão grandes que se tornam universos. A razão para o encanto é fácil de explicar: o dinheiro.

As grandes franquias geram receita com a venda de produtos e licenciamentos, mas principalmente, são fundamentais para reter e atrair assinantes no streaming. O negócio de streaming é movido a sucessos. E quando você tem uma franquia forte, pode lançar diversas histórias secundárias. Por exemplo, "WandaVision" e "Falcão e o Soldado Invernal", criadas a partir de personagens menores dos Vingadores e que ganharam suas próprias séries na Disney+. Como esses personagens já são conhecidos e tem afinidade com a audiência, suas chances de sucesso são maiores e a necessidade de investir em marketing para explicar quem eles são, diminui.

Quem tem um universo cinematográfico pode produzir um grande volume de histórias de sucesso quase certo, como Star Wars tem mostrado no Disney+. E volume importa nesse jogo. A falta de grandes lançamentos no primeiro trimestre de 2021, por causa da pandemia que impediu as filmagens, foi apontada pela Netflix e Disney+ como uma das principais causas da desaceleração do número de novos assinantes (o que desagradou o mercado e fez o preço das ações das empresas despencar logo após o anúncio dos resultados).

Grandes franquias como Star Wars e Vingadores ajudam a explicar a disparada de crescimento do Disney+, que ultrapassou 100 milhões de usuários apenas 16 meses após sua estreia. O preço mais baixo da assinatura do Disney+ em mercados emergentes é outra explicação, mas preço baixo sem conteúdo não funciona. Mesmo alguns serviços gratuitos de streaming têm patinado para crescer.

A busca por novas franquias também levou a Amazon dias atrás a comprar a MGM por R$ 44 bilhões. O estúdio de Hollywood tem personagens como James Bond, Rocky e Robocop, além de mais de 4 mil filmes e 17 mil episódios de séries, que vão passar a fazer parte do catálogo do Amazon Prime.

Planos frustrados

Para a Netflix, "O Legado de Júpiter" parecia uma aposta certa, então o investimento bilionário não chega a ser uma surpresa. Os heróis da Marvel fazem sucesso há anos e fizeram maravilhas pela Disney+. Dois recentes grandes sucessos da Amazon Prime, "The Boys" e "Invencível", também desconstroem a imagem clássica de heróis. E a Netflix ainda tinha Mark Millar por trás da produção de "O Legado de Júpiter".

O escritor de quadrinhos Mark Millar é conhecido por algumas das obras mais comentadas da Marvel nos anos 2000. Ele escreveu a história em quadrinhos "Guerra Civil", de 2006, que inspirou o filme "Capitão América: Guerra Civil", de 2016, parte do Universo Marvel.

Millarworld, a empresa de quadrinhos de Millar, nasceu em 2004 e lançou sucessos que foram adaptados para filmes como "Wanted", de 2008, e "Kick-Ass", de 2010. Em 2017, a Netflix comprou a Millarworld por um valor não revelado na primeira grande aquisição da empresa de streaming. Nos últimos anos, a Netflix contratou diversos executivos da Disney para fortalecer sua área de franquias.

Segundo o The Wall Street Journal o negócio girou entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões, dando acesso a uma biblioteca de 20 propriedades com potencial para se tornarem franquias. Millar atua como presidente e chefe de criação e sua esposa Lucy é a CEO. Eles são coproprietários de cada uma das obras incluídas na venda da Millarworld.

Millar declarou ao Business Insider que "O Legado de Júpiter" era um projeto mais ambicioso que "Wanted" e "Kick-Ass". Ele gastou oito semanas planejando "90 anos de continuidade", com notas espalhadas por seu escritório antes de escrever um roteiro.

"O Legado de Júpiter" foi mais um balde de água fria nos planos da Netflix para criar uma grande franquia de heróis. "The Umbrella Academy" é uma série interessante e faz sucesso entre os assinantes da Netflix fãs do gênero heróis distópicos, mas ainda é um fenômeno segmentado.

A aposta nos vilões de "Supercrooks" faz sentido para Millar e a Netflix. "La Casa de Papel", também da Netflix, é um fenômeno global e amada pelo público. Quem sabe a empresa não se dedica aos vilões e deixa os mocinhos para a Disney, que segue imbatível na construção das franquias de heróis.

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