A construção da primeira ferrovia do Brasil foi concedida em 1852 a Irineu Evangelista de Souza (o Barão de Mauá). O trecho saia da Baía de Guanabara, na cidade do Rio de Janeiro, e seguia em direção à cidade de Petrópolis (RJ), tinha 14,5 quilômetros de extensão e foi inaugurada no dia 30 de abril de 1854 por dom Pedro 2º.
Ela foi a primeira operação intermodal do Brasil, pois permitia a integração do transporte hidroviário e ferroviário.
Após a inauguração da Estrada de Ferro Mauá sucederam-se as seguintes ferrovias:
Ferrovias Históricas
Ferrovia | Data de Inauguração |
Recife ao São Francisco (PE) | 08/02/1858 |
D. Pedro II – Central do Brasil(RJ) | 29/03/1858 |
Bahia ao São Francisco (BA) | 28/06/1860 |
Santos a Jundiaí (SP) | 16/02/1867 |
Companhia Paulista (SP) | 11/08/1872 |
A implantação deste modelo ferroviário, durante o segundo reinado, baseado em uma tecnologia inadequada para os padrões de velocidade e tráfego atuais e a lógica de implantação de ferrovias baseada no modelo primário-exportador deixaram algumas características que permanecem no sistema ferroviário:
Ferrovia | Data de Inauguração |
Companhia Mogiana (SP) | 03/05/1875 |
Companhia Sorocabana (SP) | 10/07/1875 |
Central da Bahia (BA) | 02/02/1876 |
Santo Amaro | 02/12/1880 |
Paranaguá a Curitiba (PR) | 19/12/1883 |
Porto Alegre a Novo Hamburgo (RS) | 14/04/1884 |
Dona Tereza Cristina (SC) | 04/09/1884 |
Corcovado (RJ) | 09/10/1884 |
A implantação das ferrovias em São Paulo está ligada à expansão da cafeicultura para oeste, formando uma malha em direção ao porto de Santos. Eram 18 ferrovias que chegavam, às vezes, até as fazendas de café e, por isso, apresentavam vários ramais. Podemos destacar as seguintes:
Estrada de Ferro Sorocabana - com 2.074 km;
Companhia Mogiana de Estradas de Ferro - 1.954 km;
Estrada de Ferro Noroeste do Brasil - 1.539km;
Companhia Paulista de Estradas de Ferro - 1.536 km;
Estrada de Ferro Araraquara - com 379 km.
A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil foi construída a partir de 1905, partindo de Bauru (SP), ela atravessava São Paulo e o Estado de Mato Grosso do Sul até Corumbá na fronteira com a Bolívia.
Sul, Norte e Nordeste do país
No Rio Grande do Sul, construiu-se a primeira via férrea por Lei Provincial de 1867. Ela começou a funcionar em 1871 ligando Porto Alegre a Nova Hamburgo e, em 1874, estendeu-se de Porto Alegre a São Leopoldo.
Com a assinatura do Tratado de Petrópolis com a Bolívia em 1903, o Brasil constrói a ferrovia Madeira-Mamoré (concluída em 1912) no meio da Amazônia para permitir o escoamento de látex da região e para permitir o acesso da Bolívia ao oceano Atlântico. As obras não foram fáceis e milhares de brasileiros morreram nesta por causa da febre amarela e malária.
No Nordeste temos a construção das estradas de ferro Recife ao São Francisco e Salvador ao São Francisco, posteriormente interligadas e que passaram a integrar a malha ferroviária desta região, tendo como uma de suas finalidades o escoamento da produção da indústria canavieira e dos produtos manufaturados importados.
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- Transporte ferroviário: Por que não deu certo no Brasil?
O Brasil é um país com dimensões continentais, apresentando uma larga extensão norte-sul, além de uma grande distância no sentido leste-oeste em sua porção setentrional. Por esse motivo, é necessária uma ampla rede articulada que ligue os diferentes pontos do território nacional a fim de propiciar o melhor deslocamento de pessoas e mercadorias.
Além disso, para que o país possa ampliar as exportações, importações e, principalmente, os investimentos estrangeiros, é necessário que os meios de transporte ofereçam condições para que os empreendedores tanto do meio agrário quanto do meio industrial possam ter condições de exercer suas funções sociais. No Brasil, a estratégia principal foi a de priorizar a estruturação do sistema rodoviário – sobretudo a partir do Governo JK – em detrimento da construção de ferrovias e hidrovias, que só recentemente vêm recebendo maiores investimentos.
As rodovias no Brasil
O transporte rodoviário no Brasil foi – e ainda é – o meio responsável pela maior parte dos fluxos de bens e pessoas no país, que priorizou a sua construção para favorecer as empresas estrangeiras do setor automobilístico e promover a entrada delas no país. A expectativa era estruturar o modal rodoviário a fim de propiciar a construção de polos industriais de automóveis no Brasil com o objetivo de ampliar a geração de empregos, embora hoje as indústrias desse setor empreguem cada vez menos trabalhadores, em função das novas tecnologias fabris.
Outra característica da implantação das rodovias no Brasil foi a integração das diferentes partes do território brasileiro, que concentrou seus investimentos nas regiões litorâneas. Esse quadro começou a mudar ao longo do século XX, destacando-se a construção da capital Brasília. Assim, rodovias como Belém-Brasília, Cuiabá-Porto Velho e tantas outras tinham como preocupação estabelecer a ligação entre pontos e localidades até então desconectados.
A grande crítica a essa dinâmica questiona a opção por rodovias, algo não muito recomendado para países com larga extensão territorial, como o Brasil. Em geral, as estradas costumam ter um custo de manutenção mais elevado do que outros meios de transporte, como o ferroviário e o hidroviário, além de um maior gasto com combustíveis e veículos. Em virtude dos elevados custos e da política neoliberal de redução dos gastos públicos em investimentos estruturais, iniciou-se uma campanha de privatização das rodovias, que encontrou o seu auge na década de 1990, mas que ainda ocorre atualmente através de concessões públicas.
Apesar disso, a qualidade das rodovias no Brasil é bastante ruim, além da larga quantidade de estradas não pavimentadas. Elas oneram os gastos públicos, que muitas vezes não conseguem atender às necessidades principais, fator que não se modifica nem com as privatizações, uma vez que as concessões costumam ocorrer apenas com as estradas que já estão prontas e estruturadas.
Trecho da rodovia Belém-Brasília em Tocantins (BR-153) ¹
As ferrovias no Brasil
O transporte ferroviário no Brasil foi predominante até o final do século XIX, quando estruturava os deslocamentos de mercadorias da economia cafeeira, sendo, por essa razão, bastante consolidado na região Sudeste. As ferrovias, apesar dos elevados custos em suas construções, possuem baixos gastos em manutenção, o que não impediu que, de 1950 até os dias atuais, várias delas fossem sucateadas e até desativadas.
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Além disso, existem várias ferrovias no Brasil em construção, mas que as obras encontram-se inacabadas, muito embora os recentes investimentos por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) trabalhem para modificar esse cenário. A principal ferrovia no Brasil em construção é a Ferrovia Norte-Sul, que já possui algumas áreas concluídas e em operação (ou com uso e operação a serem efetuados em breve).
Após a privatização de boa parte das ferrovias nacionais na década de 1990 e da derrocada da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), empresa estatal responsável por administrá-las, a participação das ferrovias no Brasil até aumentou, apesar de atender interesses e deslocamentos muito específicos e limitados. Ainda hoje, a malha ferroviária nacional concentra-se nas regiões Sul e Sudeste.
Trecho da rodovia norte-sul na cidade de Imperatriz (MA) ²
As hidrovias no Brasil
O transporte hidroviário é o que possui a menor representatividade e participação nos sistemas de deslocamento nacional, o que é uma grande contradição, haja vista o grande potencial que o país possui para esse modal. No Brasil, a rede hidroviária é muito ampla e muitos rios são navegáveis sem sequer exigir a construção de grandes empreendimentos e estruturas, como obras de correção e instalação de equipamentos.
Uma justificativa para a negligência de investimentos nas hidrovias brasileiras é a existência de muitos rios de planalto, que são mais acidentados e exigem mais obras de correção para facilitar o transporte. Os rios de planície, mais facilmente navegáveis, encontram-se em áreas afastadas dos grandes centros econômicos.
Por outro lado, cita-se a concentração de investimentos em rodovias em áreas onde o mais indicado seria o investimento em hidrovias, cujo exemplo mais notório é o caso da Transamazônica, uma estrada construída quase que paralelamente ao rio Amazonas, de fácil navegação.
No entanto, a partir dos anos 1980 e sobretudo após a criação do Mercosul, que passou a exigir mais das hidrovias para a integração do Cone Sul, os investimentos públicos nessa área elevaram-se, mas ainda são insuficientes. As principais hidrovias do Brasil são a Tietê-Paraná, a do Rio São Francisco, a do Amazonas, entre outras.
Eclusa em operação na
Hidrovia Tietê-Paraná ³
Em resumo, o que se percebe é que os meios de transporte no Brasil precisam de diversificação para que haja menos dependência das rodovias nos deslocamentos de mercadorias e pessoas. Em geral, é necessária a instalação de uma matriz multimodal, ou seja, com vários sistemas de transportes diferentes integrados. Outra necessidade é uma maior integração rumo ao oeste do país, principalmente em direção aos países sul-americanos e ao Oceano Pacífico, com vistas a ampliar as trocas comerciais dentro do continente e em direção aos países asiáticos.
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¹ Créditos da imagem: Agência CNT de Notícias / Wikimedia Commons
² Créditos da imagem: Etore.Santos / Wikimedia Commons
³ Créditos da imagem: Hermógenes Teixeira Pinto Filho / Wikimedia Commons