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DOI:
//doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v25i1p47-66 Palavras-chave:
Language, Linguistic Community, Culture, Identity Construction Resumo
A língua enquanto fator social é constitutiva de cada ser humano. A linguagem atribui a cada
indivíduo, bemcomo a sua comunidade linguística, um modo particular e peculiar de perceber o mundo e seu entorno. A linguagem éinclusive influenciada por vários processos socioculturais e históricos. Se de fato podemos afirmar que cada língua fazsua leitura de mundo, surge então uma inquietação, como se comportaria uma mesma língua em vários continentes, em quemedida influências socioculturais atuam e influenciam no processo de construção de identidade cultural. Ora definindocomunidades
linguísticas, ora diferenciado grupos sociais, a língua institui-se como espaço simbólico de identificação. Odocumentário Língua – Vidas em Português a medida que reúne relatos de falantes de língua portuguesa em diversoscontinentes visa a ilustrar que a língua portuguesa a partir de processos sócio históricos e culturais tem sido fatordeterminante na construção de identidade, autoafirmação e legitimação das nações que de um modo ou de outro integrama comunidade linguística lusófona. Por
acreditamos ser admissível instaurar um dialogismo entre Língua, Cultura eIdentidade, é que desenvolvemos o presente estudo, isso porque os estudos sociolinguísticos atuais não buscam, comooutrora, apenas estudar, entender ou descrever aspectos linguísticos estruturais e supraindividuais, mas, sobretudorefletir sobre relações entre sujeito, língua, identidade, cultura e história. Downloads
Como Citar
Santana, J. D. de. (2012). Língua, cultura e identidade: a língua portuguesa como espaço simbólico de identificação no documentário: Língua - vidas em português. Linha D’Água, 25(1), 47-66. //doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v25i1p47-66
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O ser humano é dotado da faculdade da linguagem. As línguas são criações humanas e não algo que o homem encontrou na natureza; pertence, pois ao mundo da cultura.
Mas o que é cultura? Se fizermos uma rápida consulta a dicionários, veremos que essa palavra encobre significados os mais diversos. Não é objetivo deste artigo tratar o tema cultura em profundidade e, aliás, nem poderíamos, já que não temos formação específica para isso, razão pela qual apresentaremos uma definição bastante simples e didática de cultura.
Em linhas gerais, define-se cultura por oposição a natureza. Há o mundo natural, físico e biológico, e o mundo da cultura. O ser humano transforma a natureza e cria objetos que não existem na natureza. Quando, por exemplo, trabalhando o barro, o homem faz um vaso, cria um objeto cultural. A cultura é algo abstrato, não a observamos diretamente pelos órgãos do sentido. Não vemos, não cheiramos, não tocamos, não ouvimos a cultura. O que vemos são produtos da cultura, os incontáveis “objetos” culturais criados pelo homem, que vão de um singelo e artesanal vaso de barro a obras artísticas como as pinturas de Leonardo da Vinci, as peças de Shakespeare, os contos de Guimarães Rosa, as composições de Mozart.
Pela cultura, não se criam apenas objetos concretos, como obras de arte, vasos, vestimentas, os diversos pratos que fazem parte da culinária de um povo; criam-se também objetos incorpóreos como os costumes (sepultar os mortos, por exemplo), as crenças, as regras de conduta, as proibições (a proibição do incesto, por exemplo), as instituições (por exemplo, o casamento, a língua) etc.
A cultura, produto da criação humana, existe na sociedade, criando valores. Os produtos culturais, sejam corpóreos ou incorpóreos, tais como crenças e valores, são compartilhados pelos membros das comunidades, formando um sistema de referências que organiza a vida em sociedade.
A língua falada e também a escrita são instrumentos pelos quais os indivíduos compartilham cultura. Desde pequeno nos são transmitidos valores, modos de agir, costumes, crenças etc. que são os da sociedade em que vivemos. Nesse caso, há uma transmissão oral da cultura, mas a cultura também é transmitida pela língua escrita.
Uma receita culinária pode ser transmitida oralmente de pai para filho, mas pode ser transmitida também pela língua escrita, fixada em livros ou em sites de culinária. Os poemas homéricos, Ilíada e Odisseia, foram transmitidos primeiro pela língua falada. Só mais tarde ganharam forma escrita. O mesmo aconteceu com os contos maravilhosos dos irmãos Grimm. Podemos, portanto, falar em cultura letrada, transmitida pela escrita, e em cultura oral, transmitida pela língua falada. O importante é perceber que todos os povos têm sua cultura, mesmo os que não conhecem a escrita.
Entre os objetos culturais, a língua ocupa papel relevante; pois, além de integrar a cultura, ela também a expressa, permitindo o intercâmbio cultural. A maior parte das aquisições culturais são transmitidas pela língua falada ou escrita.
A língua, como se apontou, é objeto cultural porque não existe na natureza. Trata-se de criação humana que é transmitida de geração a geração; tem, portanto, caráter histórico e, por pertencer à História, apresenta modificações decorrentes da passagem do tempo.