Qual a relação entre educação e desenvolvimento econômico e social?

Ao longo de sua história, o Brasil já teve diversos momentos de crescimento econômico – alguns classificados como “voos de galinha” por muitos economistas, no sentido de que essas aves não conseguem se manter no ar por muito tempo, perdendo o fôlego rapidamente e voltando ao chão. Ou seja: não conseguimos dar continuidade a mudanças consistentes que, de fato, garantam o desenvolvimento duradouro no País.

Em nenhum desses “espasmos” de crescimento do Brasil a Educação de qualidade foi o eixo central. É com o objetivo de colocá-la como a prioridade do nosso desenvolvimento que o Todos Pela Educação tem trabalhado nos últimos anos, com destaque especial para 2018, com a iniciativa suprapartidária Educação Já.

Para alcançar esse objetivo, devemos melhorar, entre outras coisas, a formação dos professores, criar políticas transversais para a Primeira Infância e repensar o Ensino Médio. Todas essas mudanças devem, é claro, acompanhar melhoria da gestão de recursos para a Educação;

Com isso em mente, conversamos com a economista Ana Carla Abrão, sócia da consultoria americana Oliver Wyman e ex-secretária da Fazenda de Goiás, para entender como a Educação influencia a economia e como a falta de qualidade do nosso ensino afeta o desenvolvimento brasileiro. Uma coisa é clara: não iremos alcançar a prosperidade e a redução de desigualdades que buscamos se não investirmos em Educação. Afinal, aquela frase “um País é o que suas pessoas são” é realmente verdadeira. Confira abaixo as respostas de Ana Carla.

Todos: De que forma a má qualidade da nossa Educação prejudica o nosso crescimento econômico?

Ana Carla Abrão:O principal ponto é a produtividade. A produtividade é o grande motor do crescimento, a capacidade de produzir mais com o mesmo número de trabalhadores. Quando eles são qualificados, produzem mais, aumentando o potencial de crescimento da economia, a geração de emprego e renda. Esse é um problema grave no Brasil porque a produtividade está estagnada nos últimos 20 anos. Em todas as comparações internacionais, estamos muito atrás. Um dos fatores primordiais na explicação disso é que, apesar de conseguirmos aumentar a escolaridade média, não avançamos na qualidade do ensino.

Além da produtividade, quais outros benefícios que a Educação pode trazer para a economia de um país?

Ana Carla Abrão:Há diversas formas de se medir o impacto da Educação na economia. Um País mais educado gasta menos com saúde pública, tem níveis de segurança mais elevados, já que apresenta criminalidade mais baixa. Maior escolaridade faz com que, direta ou indiretamente, uma economia funcione com mais eficiência.

De que forma a baixa qualidade da Educação está perpetuando as nossas injustiças sociais?

Ana Carla Abrão:A baixa qualidade da Educação significa que reforçamos as desigualdades. No Brasil, as pessoas que nascem em famílias mais pobres não têm a chance de conseguir uma renda melhor do que a de seus pais. Permitir que elas concorram em igualdade de oportunidades com aquelas que tiveram a sorte de nascer em uma família rica é um grande instrumento de redução de desigualdade. Se não há uma Educação pública que garanta a chance de as pessoas mais pobres aumentarem a renda ao longo das gerações, a desigualdade acaba sendo reforçada.

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Palavras-chave: Educação. Capitalismo. Desenvolvimento econômico. Modernização.

Resumo

A subordinação da educação ao desenvolvimento econômico brasileiro entre os anos 1950 e 1970 revela elementos marcantes do movimento global capitalista, sobretudo ao evidenciar que o processo de acumulação de capital nos países centrais (denominados desenvolvidos) ocorre em detrimento do desenvolvimento dos países da América Latina, mediante uma relação fundada na exploração do trabalho legitimado pela regulação estatal. A industrialização brasileira e a respectiva complexificação do processo de trabalho exigiram uma força de trabalho especializada e modificações na organização educacional, cujos princípios de racionalidade, eficiência e produtividade constituiriam o eixo central na formação e/ou qualificação do trabalhador. A dinâmica de reprodução do capital utilizou a educação como um meio para adequar a capacidade produtora dos indivíduos sociais à manutenção do status quo da burguesia em favor dos setores dominantes, sob um insidioso discurso de modernização que ao invés de proporcionar o desenvolvimento econômico e social no Brasil, reafirmou a condição de dependência/subordinação aos países de capitalismo central.

Biografia do Autor

Maria Alcina Terto Lins, Universidade Federal de Alagoas - UFAL

Assistente social, professora adjunta a na FSSO (UFAL). Doutora em Serviço Social (ufpe). Mestre em Serviço Social (ufal). experiência docente na graduação e na pós-graduação (lato sensu). Atuação profissional na área de saúde. pesquisadora na área do mercado de trabalho e formação profissional em serviço social e na área da saúde. Vice-líder do grupo de pesquisa Serviço social, trabalho e políticas sociais (ufal). Especialização em gestão de redes de atenção à saúde (fiocruz). Especialização em metodologias ativas no ensino superior. Facilitadora em educação permanente em saúde (fiocruz). Componente da diretoria do Sindicato do(a)s Assistentes Sociais do Estado de Alagoas. Ex-integrante do cress/AL, gestão: "Em tempos de luta, resistir e avançar em defesa do projeto ético-político profissional"- atuou na comissão de formação profissional do Conselho Regional de Serviço Social/AL e na Comissão Permanente de Ética.

Orcid: //orcid.org/0000-0002-4900-020X

Referências

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Como Citar

LINS, M. A. T. A Relação entre a Educação e o Desenvolvimento Econômico no Brasil no Período de 1950 a 1970 . Revista Labor, v. 1, n. 25, p. 76-89, 27 abr. 2021.

Copyright (c) 2021 Revista Labor


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Qual a relação entre desenvolvimento econômico e desenvolvimento social?

O desafio do desenvolvimento econômico perpassa pelas questões sociais, visto que as demandas emergem da cultura, crença, política, relações sociais e até mesmo do próprio processo histórico que distanciou nações pelo seu processo de crescimento econômico no sentido da industrialização.

Qual a relação entre educação e desenvolvimento social?

A influência no desenvolvimento social Uma população com mais educação também sabe seus direitos e deveres, sabe pensar de forma crítica e reivindicar melhorias sociais. Logo, tem mais condições de transformar a sua própria realidade, pensando no bem comum.

Qual a importância da educação para o desenvolvimento social de um país?

A Educação, que é um dos principais fatores que propiciam o desenvolvimento das nações, deve ser o pilar de um país. Os países que detêm uma boa educação, respeito, zelam para o cumprimento das leis, condenam a corrupção, os privilégios e praticam a cidadania, como consequência, desenvolvem-se.

Qual a relação entre investimento em educação e desenvolvimento econômico?

O nível educacional da população adulta de um país é o resultado de décadas de investimento em educação, da mesma forma que o estoque de capital físico da economia é o resultado de décadas de investimento em máquinas, equipamentos e infra-estrutura.

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