Quem é o autor de gabriela

Walcyr Carrasco se define como um workaholic. Sem ligar muito para férias entre um trabalho e outro, assim que coloca o ponto final em uma trama, logo entrega a sinopse de outra. Por conta disso, nos 12 anos de contrato com a Globo, prepara-se para assinar seu décimo trabalho na emissora, a readaptação de "Gabriela", baseada no livro "Gabriela, Cravo e Canela", de Jorge Amado, que estreia no próximo dia 18 de junho. "Gosto de produzir. De estar no ar. Fazer novela é cansativo, mas me sinto um privilegiado por fazer o que gosto e do jeito que quero", gaba-se. Leitor apaixonado da obra do escritor baiano, Walcyr tinha acabado de fazer "Morde & Assopra" quando soube dos planos da Globo em celebrar o nome de Jorge Amado no ano em que ele faria 100 anos. "Li Gabriela várias vezes ao longo da vida. Gosto da postura política e de como o Jorge retrata a sociedade e o sexo em uma Bahia dos anos 20. Vi que era a oportunidade de mostrar esta história para a geração atual", ressalta Walcyr, que não gosta de se referir ao novo trabalho como remake. Segundo ele, seu texto não faz nenhuma referência ao folhetim de Walter George Durst, exibido em 1975. "Minha adaptação é baseada apenas no livro", garante o autor de 60 anos.

Natural da pequena Bernardino de Campo, interior de São Paulo, Walcyr estreou na tevê de forma discreta com a desconhecida "Cortina de Vidro", de 1989, do SBT. Alternando trabalhos na extinta Manchete e o no SBT ao longo da década de 90, ele só conseguiu chamar atenção do público e da crítica com a libertária "Xica da Silva", de 1997, um dos últimos sucessos de dramaturgia da Manchete emissora que saiu do ar em 1999. "Tenho muito carinho por essa novela. É certo que só fui para a Globo por causa da repercussão deste trabalho", assegura o autor, que na época, por ainda ser contratado do SBT, assinou a novela sob o pseudônimo de Adamo Angel.

A primeira versão de "Gabriela" (1975) é clássica, foi reprisada algumas vezes e ainda está no inconsciente coletivo do público de novela. Você está pronto para eventuais comparações?

É claro que as comparações vão existir. Porém, não concebi este trabalho como um mero remake da trama de 1975. A origem é o livro do Jorge Amado. Nem assisti à versão de 1975. Por isso, acho que é mais interessante tratar a atual "Gabriela" como uma readaptação do livro "Gabriela, Cravo e Canela".

Não assistiu a nenhuma cena mesmo?

Não, pois na época estava morando nos Estados Unidos. E também não tentei rever nada agora. Desde que me foi feito o convite para este trabalho, estava claro que era uma homenagem ao centenário de Jorge Amado e que seria uma adaptação do livro. Eu li "Gabriela Cravo & Canela" pela primeira vez aos 12 anos. Voltei a ler este livro uma série de vezes na minha vida. Sou um grande fã do Jorge. E por ter essa relação afetiva com a obra literária dele, vejo este trabalho como a realização de um sonho.

O que mais chama sua atenção na trama de "Gabriela"?

O que me comove em "Gabriela" é o retrato moral, político e sexual de uma época. No caso, o Brasil no início do século 20. É engraçado que, ao adaptar, é impossível não notar que ainda existem muitos resquícios dessa sociedade no Brasil atual. Outra coisa é a liberdade que a trama carrega. Gabriela é uma personagem extremamente rica, porque ela é totalmente livre. Segue seus instintos sem pensar muito no que pode acontecer, ela ama de maneira libertária, sem interesses, é avessa a qualquer convenção social. Isso mexe comigo.

É uma história de forte apelo sexual e vai ao ar às 23h. Você acha que seria possível fazer "Gabriela" em outro horário?

Mutilaria a trama. Se a Globo me pedisse para fazer essa novela em outro horário, acho que não aceitaria. Teria de cortar muita coisa, e não digo apenas as cenas sensuais ou palavrões, o corte seria de conteúdo. Personagens e situações do livro que precisam da liberdade do horário iriam sofrer com a censura da classificação indicativa.

O convite para você fazer "Gabriela" surgiu logo depois do fim de "Morde & Assopra" (2011). O fato de ser uma novela mais curta foi importante na hora de aceitar?

Sou tão apaixonado pelo que faço que não fico medindo o tempo das tramas. Quero apenas liberdade de criação. E prazer e estrutura para trabalhar. Eu aceitei na hora, poderia ser uma minissérie, uma novela de 200 capítulos, o que fosse. É um Jorge Amado! Não seria burro a ponto de recusar para curtir minhas férias. Passei uma semana descansando em Miami, e voltei já construindo a trama. O (diretor) Mauro Mendonça Filho tinha acabado de fazer "O Astro". Uma semana depois dele finalizar a direção, a gente foi com a equipe para Ilhéus.

Qual foi importância de ir até a cidade onde a história é ambientada?

Total. Fiquei apenas cinco dias em Ilhéus. Embora não seja mais a cidade que está no livro, ainda conserva certos aspectos descritos pelo Jorge. Além de escolher locações junto com o Mauro. Visitei as grandes fazendas da região para conhecer antigas propriedades de coronéis, falar com os herdeiros. Fui a casarões do centro da cidade, onde pude ter contato com as outrora "sinhazinhas", que hoje são senhoras idosas. E junto com o Mauro Monteiro, responsável pela cenografia, fiquei pensando em como seria a cidade cenográfica.

Geralmente, os autores limitam-se a escrever e a equipe de produção cuida da parte técnica. O que o levou a participar das escolhas cenográficas?

O livro é bem específico e a cidade funciona como um personagem. Por isso, me interessei em participar desta parte do processo. O trabalho é todo do Monteiro, mas eu queria negociar com ele os pontos principais dessa cidade que seria recriada no Projac (Centro de Produção da Globo). Por exemplo, no livro é claro que quem está no Bar Vesúvio, tinha de ver a moça da janela, que é um desfrute para a cidade toda. Então, era essencial passar essa mensagem na cenografia.

O elenco de "Gabriela" tem nomes que já trabalharam com você em outras novelas, como Vanessa Giácomo e Mateus Solano. A última palavra na escalação dos atores é sua?

Escalar atores é um longo processo de negociação entre autor, diretor-geral, diretor de núcleo, produtores de elenco. Participo da escolha dos atores. E é claro que quero trabalhar com quem eu já sei que pode ter um bom desempenho. Mas fechar elenco é resultado de um consenso.

Existe algum nome sugerido que você não tenha gostado tanto no início?

Não. Eu confio nas pessoas que estão na direção. O Roberto Talma e o Mauro Mendonça Filho vieram de um trabalho de muito êxito com o remake de "O Astro". É a primeira vez que trabalho com os dois de forma direta e achei que algumas sugestões deles eram realmente muito boas. A ideia de escalar a Ivete (Sangalo) e a Juliana (Paes) foi do Talma. O Nacib era um dos personagens mais difíceis para encontrar um ator. Quando eles falaram o nome do Humberto (Martins), pensei: "Pronto! Não tem outro!".

Por quê?

Ele tem uma certa inocência no olhar, ao mesmo tempo em que é muito másculo. O Nacib do livro e os outros atores que interpretaram esse personagem tem essa mistura exata entre inocência e virilidade. Humberto captou isso. E quem assiste televisão sabe que ele amadureceu muito artisticamente ao longo do tempo. O vi em "O Astro" e gostei muito.

"Gabriela" estreia na semana que vem. O que você achou das cenas que já assistiu?

Me surpreendi muito. Por ser a primeira vez que trabalho com o Mauro, não sabia como meu texto iria ficar com o olhar dele. Gosto da visão teatral dele em cena. Pela experiência que tem nos palcos, não faz o ator apenas dizer falas e ter reações, ele faz o intérprete criar. Por ser um texto baseado em literatura, é fácil os atores irem por um caminho um tom mais artificial. Mas adorei tudo que vi. Espero que o público também goste.

Gabriela - Globo - estreia no dia 19 de junho, às 23h

Qual a história de Gabriela?

"'Gabriela' retrata uma mulher livre, que entende o amor, o sexo, a sensualidade, a natureza, os bichos e as crianças de uma forma muito livre. Sendo ela primitiva, miserável, sertaneja, humilde e ignorante, acaba sendo a mais livre de todos naquela sociedade dos anos 20.

Onde foi gravada a primeira novela Gabriela?

Gravações. As gravações da trama começaram em março de 2012. As primeiras cenas foram gravadas nas cidades de São Raimundo Nonato e Caracol, no estado do Piauí. Depois foram gravadas cenas na cidade de Canavieiras, na Bahia.

Em que ano Jorge Amado escreveu Gabriela?

Publicado em 1958, Gabriela, cravo e canela logo se tornou um sucesso mundial. Na televisão, a história se transformou numa das novelas brasileiras mais aclamadas mundo afora.

Onde nasceu Gabriela Cravo e Canela?

Um pequeno vilarejo do sul da Bahia foi o endereço da família Amado depois de abandonar a fazenda. Ferradas fica no município de Itabuna.

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