E a surdez... é uma deficiência?

Falar sobre surdez com quem não conhece nada sobre o assunto é sempre uma conversa interessante. Pouca gente sabe que a maioria dos surdos têm dificuldades com o português por serem alfabetizados em Libras, e muita gente ainda usa a nomenclatura incorreta (surdo-mudo) para se referir a quem tem deficiência auditiva. A discussão sempre começa com esses esclarecimentos e demora um pouco até se aprofundar.

No fundo, as pessoas não estão acostumadas a falar sobre acessibilidade. Quando o tema aparece, os primeiros a serem lembrados são as pessoas com deficiência física ou quem possui deficiência visual. A surdez passa despercebida. Como saber se aquele rapaz com o qual você cruzou na rua mais cedo é surdo ou ouvinte? Muitas vezes não paramos para pensar nisso, e é por isso que as conversas sobre a comunidade surda sempre seguem o mesmo roteiro. A surdez é uma deficiência invisível.

Reconhecer isso é chamar atenção para a maior barreira que os surdos enfrentam: a comunicação.

A comunicação está no centro do problema

Dentre as inúmeras barreiras existentes para a acessibilidade, a comunicacional é, de longe, a maior para o surdo. Pense por um momento consigo mesmo: quais atividades do seu dia a dia envolvem comunicação? Praticamente todas, não é? Imagine como é o cotidiano de uma pessoa surda que tem a Língua Brasileira de Sinais como primeira língua, em um país em que poucos ouvintes sequer a conhecem. Muita coisas são comprometidas. E muitas delas são básicas:

  • Na educação, por exemplo, os efeitos ocorrem tanto na socialização dos alunos surdos quanto na dificuldade em terminar os estudos. A taxa de alfabetização das pessoas com deficiência auditiva é bem menor que a das sem nenhuma deficiência – 75,5% contra 92,1% (Censo 2010).
  • Isso também afeta a vida profissional do surdo, que precisa enfrentar o despreparo de recrutadores e gestores em um ambiente de trabalho que não está acessível a maioria das vezes.
  • E o ambiente virtual não é exceção: somente 2% dos sites estão acessíveis para as pessoas com deficiência. É como se a internet estivesse offline para o surdo!

Esses são só alguns exemplos de como a falta de comunicação pode afetar profundamente a vida de quem é surdo. No final das contas, ela tem grande impacto em uma coisa fundamental para a vida: a conexão humana.

O segredo é a conexão

“Quando não conseguimos alcançar o que alguém diz, não nos comunicamos efetivamente com essa pessoa. E quando não nos comunicamos efetivamente com outro ser humano, perdemos a conexão humana, que é a conexão mais bela e mais poderosa da vida.” – Paula Pfeifer, em post no blog Crônicas da Surdez.

A vida em sociedade é feita de conexões humanas. São elas que nos proporcionam o desenvolvimento pessoal e profissional que buscamos. Também são elas que definem muitas das regras sociais, essenciais para uma convivência harmoniosa com o outro.

E como fazer para recuperar essa conexão? Essa é uma pergunta sem resposta simples, mas uma boa forma de começar é ouvindo as histórias dos surdos. Um exemplo super legal é este depoimento em vídeo da Luana, do Instituto da Oportunidade Social (IOS), contando sobre sua trajetória e desafios da surdez.

Outro caso interessante é o da Denise, que compartilhou o que enfrentou quando foi para o mercado de trabalho e deixou um recado especial para os surdos que estão procurando emprego.

Essas histórias são fundamentais para dar visibilidade às lutas e conquistas de quem possui deficiência auditiva. Se você é surdo, deixe sua história (ou um pedacinho dela) nos comentários! E se você por ouvinte, faça a reflexão final: o que eu posso fazer para dar mais visibilidade à surdez?

Você já deve ter ouvido vários termos usados para descrever uma pessoa com perda auditiva, incluindo surdo e deficiente auditivo. Ambos podem ser usados para descrever uma pessoa com problemas auditivos, no entanto, não devem ser classificados como sinônimos.

Algumas pessoas têm dificuldade para ouvir, mas conseguem se comunicar oralmente com ou sem ajuda de aparelhos auditivos. Outras, utilizam apenas a língua de sinais. Alguns indivíduos nascem com problemas auditivos, enquanto outros adquirem ao longo da vida.

Esses são apenas alguns exemplos para mostrar como os problemas auditivos são variados e podem ser classificados de diferentes maneiras. Mas, se você já ficou confuso e não sabe a diferença entre os tipos e graus de perda auditiva, você não está sozinho.

Realmente, pode ser difícil entender as maneiras pelas quais os médicos e organizações de saúde definem e tratam os diferentes níveis de perda auditiva e surdez. Muitas vezes, há uma diferença na definição e a diferença entre os conceitos depende de quem você pergunta e de qual perspectiva está olhando.

As diferenças entre surdo e deficiente auditivo podem ser indicadas sob o ponto de vista médico, social e cultural. Abaixo, estão algumas explicações que podem ajudar você entender melhor a diferença entre surdo e deficiente auditivo e encarar os problemas auditivos de maneira adequada.

Surdo Vs. Deficiente Auditivo

Do ponto de vista médico, a principal diferença entre surdez e deficiência auditiva está na intensidade do problema auditivo. Para facilitar o entendimento, trouxemos as definições da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Deficiência auditiva

A deficiência auditiva significa a diminuição na capacidade de ouvir sons - uma ou ambas orelhas - da mesma maneira que outras pessoas. De acordo com a OMS, os indivíduos com perda auditiva que varia de leve a grave, podem ser classificados como deficientes auditivos. Geralmente, essas pessoas com dificuldade de audição se comunicam pela linguagem falada e podem fazer uso de aparelhos auditivos, implantes cocleares e outros dispositivos.

Surdez

A surdez é definida pela Organização Mundial de Saúde como a “perda completa da capacidade de ouvir em uma ou ambas as orelhas”. Geralmente, um indivíduo surdo têm perda auditiva profunda e costuma usar a língua de sinais para se comunicar.

Definição cultural

O aspecto cultural é muito diferente da definição médica e não pode ser ignorado. Nesse sentido, ser surdo ou ter deficiência auditiva não está relacionado com o quanto você consegue ouvir, e sim com a maneira como você se reconhece.

As pessoas que se identificam com a "cultura surda", utilizam a língua de sinais e participam ativamente da comunidade, consideram-se surdas. Para eles, a perda auditiva é encarada como uma forma diferente de aproveitar o mundo e não como uma deficiência que os limitam de ter uma vida como qualquer outra.

Por outro lado, aqueles que não se identificam com a cultura dos surdos, são considerados deficientes auditivos.

Níveis de surdez e deficiência auditiva

Além dessas definições, tanto a deficiência auditiva quanto a surdez podem ser categorizadas de acordo com o nível de gravidade. São eles:

Perda auditiva leve: o indivíduo com perda auditiva leve só pode detectar sons a partir de 26 e 40 dB. Ele pode entender a fala na maioria das situações, mas costuma ter dificuldades em ambientes com muito ruído de fundo. Os aparelhos auditivos são bem úteis nesse caso, embora muitas pessoas não encaram o problema auditivo como algo sério.

Perda auditiva moderada: neste estágio, a pessoa só consegue detectar sons entre 41 e 60 dB. Para quem sofre com perda auditiva moderada, pode ser difícil conversar com outras pessoas em ambientes ruidosos ou quando não puderem ver a pessoa com quem está falando. Certamente, os aparelhos auditivos facilitam a vida de quem tem esse problema auditivo, tornando o discurso mais claro e agradável.

Perda auditiva severa: a pessoa só ouve sons acima de 61 a 80 dB. Quem sofre com a perda auditiva severa não consegue ouvir “normalmente” com os aparelhos auditivos, mas as próteses podem fornecer melhorias suficientes para que a compreensão da fala seja possível em várias situações.

Perda auditiva profunda: qualquer pessoa que não consiga ouvir um som abaixo de 90 dB. Em algumas vezes, a pessoa com perda auditiva profunda não ouve absolutamente nada, em qualquer nível de decibéis. Aparelhos auditivos potentes podem ajudar a ter uma audição melhor em alguns casos e outros meio de comunicação - como língua de sinais, leitura labial e escrita são essenciais.

Um outro conceito que pode ser aplicado, é a perda auditiva incapacitante, que refere-se à perda auditiva maior que 40 dB em adultos e 30 dB em crianças. Nesses casos, o problema auditivo compromete a função cognitiva, a qualidade de vida, o bem-estar emocional, comportamental e social do indivíduo. Esse tipo de perda auditiva atinge 466 milhões de pessoas, isto é, 5% da população mundial. A tendência é que os números aumentem nos próximos anos e, pela estimativa da OMS, até 2050 uma a cada dez pessoas - mais de 900 milhões de pessoas - terão perda auditiva incapacitante.

Causas da deficiência auditiva e surdez

Diversas doenças e circunstâncias podem causar a perda de audição e surdez. Conheça as principais delas:

Causas congênitas

As causas congênitas são aquelas que resultam em perda auditiva no momento ou logo após o nascimento. O problema auditivo pode ser causado por fatores genéticos hereditários ou não e também por doenças durante a gravidez e o parto, como por exemplo:

● Rubéola, sífilis e demais infecções durante a gravidez;

● Uso de determinados medicamentos durante a gravidez, como diurético, antimaláricos e citotóxicos;

● Asfixia no momento do nascimento;

● Icterícia grave durante o período neonatal.

Causas adquiridas

Também existem doenças e circunstâncias que podem levar à perda auditiva em qualquer momento da vida, incluindo:

● Infecções crônicas no ouvido;

● Doenças infecciosas, como sarampo, meningite e caxumba;

● Uso de medicamentos ototóxicos;

● Lesão na cabeça ou ouvido;

● Exposição ao ruído excessivo;

● Envelhecimento;

● Excesso de cera ou corpos estranhos no canal auditivo.

Percebeu como a surdez e a deficiência auditiva são conceitos diferentes e que não há uma definição única para nos dizer se alguém é surdo ou deficiente auditivo? Embora o conceito médico seja o mais utilizado no mundo todo, é preciso respeitar a percepção pessoal de cada um e forma como ele se define e está inserido na comunidade surda.

É correto afirmar que o surdo é uma pessoa deficiente?

Para as pessoas surdas, a surdez não é uma deficiência – é uma outra forma de experimentar o mundo. Mais do que isso, a surdez é uma potencialidade, que abre as portas para uma cultura própria muito rica, que não se identifica pelo que ouve ou não. Na comunidade surda não há “perda auditiva”, mas sim um “ganho surdo”.

Que tipo de deficiência e a surdez?

Deficiência Auditiva: consiste na perda parcial ou total da capacidade de detectar sons, causada por má-formação (causa genética), lesão na orelha ou na composição do aparelho auditivo. Surdez: é considerado surdo todo aquele que tem total ausência da audição, ou seja, que não ouve nada.

Porque surdo não é deficiente auditivo?

Assim, deficiente auditivo é aquele que tem algum grau de perda auditiva mesmo que, em algum momento, tal perda se torne total. Na maioria dos casos, a pessoa já aprendeu a se comunicar por meio da linguagem oral e escutou os sons em algum momento. O surdo, por sua vez, tem total ausência de audição.

Como se chama um deficiente auditivo?

Entretanto, chamar qualquer pessoa que possui algum grau de surdez de DEFICIENTE AUDITIVO está errado, já que a lei não considera todas essas pessoas como pessoas com deficiência auditiva. O termo 'deficiente auditivo' sequer deve ser usado. O correto é pessoa com deficiência auditiva.

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