Quais fatores explicam a maior participação feminina no mercado de trabalho?

A equidade de gênero nas empresas não é um tema relacionado somente ao empoderamento feminino. Diminuir a diferença nas taxas de participação entre homens e mulheres no mercado de trabalho produziria benefícios significativos para a sociedade e até para a economia em nível global. É o que mostra o estudo “Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo – Tendências para Mulheres 2017”, criado e divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em meados de junho.

Segundo o documento, se essa diferença diminuísse em 25% até 2025 – compromisso que foi firmado pelos líderes do G20, em 2014 –, seria possível gerar uma receita fiscal de US$ 5,8 trilhões nesse período, aumentando a arrecadação global de impostos em aproximadamente US$ 1,5 trilhão, a maior parte em países emergentes (US$ 990 bilhões) e desenvolvidos (US$ 530 bilhões). No Brasil, esse aumento seria de até R$ 382 bilhões ou 3,3% no PIB, com um acréscimo em torno de R$ 131 bilhões em receita tributária.

No entanto, mesmo diante de números tão expressivos, o tema vai além e ainda é um grande desafio para as empresas. Em 2017, estima-se que a taxa de participação das mulheres na força de trabalho global alcance pouco mais de 49%, enquanto a dos homens chegue a 76%, uma diferença de quase 27 pontos percentuais. No Brasil, os números são inferiores à média global, mas, ainda assim, díspares: 56% de participação feminina e 78,2% masculina, uma diferença de 22,1 pontos percentuais. Para 2018, o relatório ainda prevê que estas taxas permaneçam inalteradas.

Expectativas para o futuro

Os dados mostram que, apesar de 58% das mulheres de todo o mundo preferirem trabalhar em empregos remunerados, metade delas está fora da força de trabalho. Já as que estão inseridas, além de terem uma menor probabilidade de encontrar uma vaga, ainda têm acesso limitado a empregos de qualidade. Entre os diversos fatores socioeconômicos que influenciam a participação feminina no mercado de trabalho, estão discriminação, educação, execução de tarefas não remuneradas, equilíbrio entre trabalho e família e estado civil e a conformidade do papel de gênero.

Para a mudança dessa realidade, além da quebra de estereótipos e mudança da visão do papel das mulheres na sociedade, o relatório recomenda medidas abrangentes que incluam: a promoção da igualdade de remuneração por trabalho de igual valor; o debate das causas da segregação ocupacional e setorial; a redução e redistribuição das tarefas de cuidado não remuneradas; e a potencialização e divulgação de ações que previnam e eliminem a discriminação, a violência e o assédio contra mulheres e homens no mundo do trabalho.

Para conhecer a pesquisa completa (em inglês), acesse: “World Employment and Social Outlook: Trends for women 2017”

Com informações da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou pelo 5º ano seguido, mas elas seguem ganhando menos que os homens e ocupando, cada vez menos, cargos gerenciais. É o que apontam as Estatísticas de Gênero divulgadas nesta quinta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os dados são de 2019 e mostram que, naquele ano, a taxa de participação feminina na força de trabalho era de 54,5%, enquanto a masculina era de 73,7%.

Historicamente, participação das mulheres sempre foi menor que a dos homens, mas tem diminuído — Foto: Economia/G1

Apesar da diferença entre os dois sexos, a taxa das mulheres cresceu 2,9 pontos percentuais (p.p.) na comparação com 2012, quando tem início a série histórica da pesquisa, enquanto a dos homens caiu 1 p.p. no mesmo período.

De acordo com o analista da Gerência de Indicadores Sociais do IBGE André Simões, esse aumento da participação das mulheres pode estar relacionado ao impacto da crise econômica de 2015 e 2016 sobre a ocupação dos homens. A taxa delas aumentou anualmente desde 2015, enquanto a deles caiu seguidamente entre 2016 e 2018.

“Uma coisa que a gente pode falar é que a crise de 2015 e 2016 afetou muito os setores que empregam mais homens, como a indústria e a construção civil. As mulheres, é claro, sentem a crise também, mas elas estão mais em setores como os de serviços, que sofreram menos”, apontou.

Questionado, o pesquisador enfatizou que “não necessariamente” houve uma melhora qualitativa da ocupação das mulheres no mercado de trabalho.

“Esse dado [aumento da taxa de participação] pode estar mostrando uma questão de necessidade da mulher buscar uma ocupação, tendo em vista a saída de homens do mercado de trabalho diante da crise. Elas podem ter entrado no mercado para garantir a provisão do domicílio diante do desemprego dos homens”, ponderou.

O levantamento mostrou, ainda, que além da desigualdade sexual, as mulheres também enfrentam desigualdade racial. Em 2019, a taxa de participação entre as mulheres brancas foi de 55,7%, enquanto entre as pretas e partas foi de 53,5% - respectivamente, acima e abaixo da média.

Filhos pequenos são entraves para as mulheres no mercado

A pesquisa do IBGE evidenciou que ter filhos pequenos está entre as muitas barreiras enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho.

Em 2019, o nível de ocupação das mulheres sem filhos de até 3 anos de idade era de 67,2%. Já entre as mulheres com filhos nessa faixa etária caía para 54,6%.

Para mulheres pretas e pardas com filhos de até 3 anos de idade o nível de ocupação era ainda menor, de 49,7%.

Entre os homens foi observado o oposto – o nível de ocupação entre os que tinham filhos pequenos (89,2%) foi maior que entre aqueles que não tinham filhos (83,4%).

"Esses dados evidenciam a necessidade de políticas públicas voltadas a favorecer a ocupação das mulheres no mercado de trabalho. A oferta de creches, por exemplo, por si só poderia aumentar a participação delas, porque elas teriam onde deixar os filhos enquanto trabalho", avaliou o analista da pesquisa André Simões.

O levantamento destacou, ainda, que as mulheres dedicavam, em média, 21,4 horas semanais aos cuidados de pessoas ou afazeres domésticos em 2019, quase o dobro da média dos homens, que foi de 11h semanais.

"O maior compartilhamento entre homens e mulheres dos cuidados e afazeres domésticos também é outro fator importante para a ampliação da autonomia das mulheres no mercado de trabalho”, acrescentou Simões.

Outro dado da pesquisa que pode estar relacionado às demandas domésticas comprometendo o trabalho das mulheres é referente ao chamado emprego parcial, em que a jornada de trabalho não ultrapassa 30 horas semanais.

De acordo com o IBGE, em 2019, quase 1/3 das mulheres (29,6%) ocupadas no mercado de trabalho tinham jornada parcial, quase o dobro dos homens (15,6%) ocupados.

O maior compartilhamento entre homens e mulheres dos cuidados e afazeres domésticos também é outro fator importante para a ampliação da autonomia das mulheres no mercado de trabalho”,

Mais mulheres com CNPJ

A pesquisa também mostrou que, desde 2012, aumentou em cerca de 1,2 milhão o número de mulheres ocupadas como empregadoras ou conta própria com CNPJ. Entre os homens, esse aumento foi de 1,5 milhão.

Embora em números absolutos o crescimento de empregadores e conta própria com CNPJ tenha sido maior entre os homens, proporcionalmente foi entre as mulheres que mais cresceu. O aumento entre elas doi de 59%, enquanto entre eles, de 33%.

“Não podemos dizer que são todos empreendedores só porque têm CNPJ. Esse aumento pode ter acontecido em ocupações mais elementares, no sentido de buscarem uma forma de se ocupar formalmente no mercado sem que isso reflita em remuneração maior”, apontou Simões.

Presença feminina em cargos de gerência tem 2ª queda seguida

Apesar de ter aumentado a participação de mulheres no mercado de trabalho e a proporção daquelas que têm CNPJ, a presença feminina em cargos gerenciais teve a segunda queda anual seguida. Ainda assim, ela segue maior que a observada em 2012.

Mulheres são minoria em cargos de maior complexidade e melhor remunerados, segundo o IBGE — Foto: Economia/G1

Segundo o analista do IBGE André Simões, existem “barreiras estruturais” impedindo que a mulher ocupe postos de maior complexidade e, consequentemente, de maior remuneração.

“São muitas as barreiras. Na esfera cultural, a mulher ainda é vista como a pessoa que deve assumir a função reprodutiva e de cuidados domésticos, enquanto os homens ainda são encarados como os provedores do lar”, avaliou Simões.

A menor presença feminina nos cargos de direção e gerência vai na contramão do nível de instrução, segundo o IBGE. Isso porque, em 2019, na população com 25 anos ou mais, 19,4% das mulheres tinham curso superior completo, enquanto entre os homens esse percentual foi de 15,1%.

A formação superior sequer garantia às mulheres maior acesso aos cargos dentro do próprio ambiente acadêmico. No mesmo ano, elas representavam menos da metade (46,8%) dos professores de instituições de ensino superior no país.

Mulheres seguem ganhando menos que os homens

Em 2019, a remuneração média das mulheres foi R$ 1.985, cerca de 22% menor que a média dos homens, que foi de R$ 2.555. Esses valores correspondem apenas à média do rendimento habitual de todos os trabalhos, ou seja, não incluem outros rendimentos como pensão ou auxílios do governo, por exemplo.

Segundo o IBGE, a remuneração das mulheres foi menor em todas as faixas etárias. A menor diferença foi observada no grupo entre 14 e 29 anos – 10% a menos que os homens da mesma faixa de idade. Já no grupo de 60 anos ou mais, essa diferença saltou para 36%.

Entre os principais grupos ocupacionais, as mulheres só tiveram salários maiores que os homens quando membros das Forças Armadas, policiais e bombeiros militares – em média, elas receberam 5% a mais que os homens ocupando os mesmos cargos.

Em cargos de diretoria e gerência, a remuneração das mulheres foi, em média, 38% menor que a dos homens nos mesmos postos de trabalho. Percentual de diferença semelhante foi observado entre profissionais das ciências e intelectuais, trabalhadores dos serviços, vendedores dos comércios e mercados e, também, entre operários e artesões da construção, das artes mecânicas e outros ofícios – nestes três ramos elas recebiam 36% menos que os homens.

Mulheres seguem ganhando menos que os homens mesmo ocupando os mesmos cargos, aponta IBGE — Foto: Elcio Horiuchi/G1

Aumento de mulheres parlamentares

Ainda de acordo com o levantamento do IBGE, entre 2017 e 2020 aumentou de 10,5% para 14,8% a proporção de mulheres exercendo o cargo de deputada federal - um crescimento de 4,8 p.p..

Apesar deste aumento, o Brasil ainda tinha a menor proporção de mulheres deputadas federais na América do Sul. Em um ranking de 190 países, o país ocupava a 142º posição quanto à presença feminina no parlamento.

Já nas câmaras municipais, em 2020, 16,0% dos vereadores eleitos eram mulheres, 3 p.p. a mais que o registrado nas eleições de 2016.

O IBGE destacou, no entanto, que as mulheres pretas e pardas eram sub-representadas entre as mulheres eleitas. Enquanto elas constituíam, respectivamente, 9,2% e 46,2% das mulheres na população, alcançaram 5,3% e 33,8% das cadeiras obtidas pelas mulheres nas eleições municipais.

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Quais os motivos do aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho?

Em razão do avanço e crescimento da industrialização no Brasil, ocorreram a transformação da estrutura produtiva, o contínuo processo de urbanização e a redução das taxas de fecundidade nas famílias, proporcionando a inclusão das mulheres no mercado de trabalho.

Que fatores explicam a maior participação da mulher no mercado de trabalho Quais as dificuldades enfrentadas por elas?

O que não se pode negar é o preconceito contra as mulheres em determinadas áreas, principalmente ligadas à tecnologia. O motivo disso é cultural, uma vez que essas carreiras sempre foram relacionadas aos homens – uma vez que ainda se acredita que a mente masculina é muito mais de exatas que a mente feminina.

Qual é a participação das mulheres no mercado de trabalho?

Em 2021, houve uma leve melhora para 51,56%. Os números são, ao menos, 20% inferiores aos dos homens. Em 2012, eles tinham 74,51% de participação. Em 2020, esse índice era de 69,78% e aumentou para 71,64% em 2021.

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