Esta pesquisa objetiva identificar a constru��o das identidades entre meninos e meninas nas aulas de Educa��o F�sica. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com car�ter de inspira��o etnogr�fica, do tipo estudo de caso, situada no campo dos estudos de g�nero e da educa��o, relacionada a uma escola de Ensino Fundamental da Rede P�blica Municipal de Ensino de Iju� (RS). Para a organiza��o dos dados, lan�amos m�o de alguns recursos, como observa��es das aulas e aplica��o de question�rio aos alunos. A amostra escolhida envolveu alunos/as dos Anos Iniciais (4� s�rie) e dos Anos Finais (7� s�rie). Os resultados obtidos com a pesquisa mostram que: a) as narrativas de g�nero surgem por parte dos alunos com xingamentos, apelidos maldosos ou at� mesmo com agressividade; b) os meninos, pela habilidade t�cnica de saber jogar futebol, imp�em-se no espa�o (a quadra); c) h� um desejo muito claro dos alunos pela pr�tica do futsal, nas aulas de Educa��o F�sica. Unitermos: Educa��o F�sica. G�nero. Disputas entre meninos e meninas.Abstract This study tries to identify the construction of identities among boys and girls in Physical Education classes. This is a qualitative research, with ethnographic inspiration, of the case study type, located in the field of gender and education studies, related to an Elementary School from the Municipal Education System of Iju� (RS). To organize the data, we used some features such as class observations and the application of a questionnaire to students. The chosen sample involved students from the Early Years (4th grade) and Final Years (7th grade). The results of the research show that: a) the gender narratives arise from students with swearing, unkind nicknames or even aggressiveness; b) boys, because of their technical skills to play soccer, impose themselves in space (the court); c) there is a very clear desire of male students for the practice of indoor soccer in Physical Education classes. Keywords: Physical Education. Gender. Disputes between boys and girls.
Problematiza��o As narrativas relatadas a seguir s�o comuns em grande parte das aulas de Educa��o F�sica observadas e talvez demonstrem um pouco das disputas entre meninas e meninos no contexto da escola p�blica pesquisada. Apresentamos a seguir narrativas decorrentes nas aulas de Educa��o F�sica dos Anos Iniciais e dos Anos Finais, marcadas pela agressividade, pelos xingamentos e por apelidos maldosos. Durante as aulas de Educa��o F�sica, os corpos est�o muito expostos e, nesse sentido, surgem muitas manifesta��es de discrimina��es, de adjetiva��es, em que alguns corpos s�o �flechados no cora��o�, com descaso e preconceito. S�o elas: ignorante, idiota, burra, boca aberta, lerdas; enfim, as chacotas dos pontos fracos. H� uma forte celebra��o da boa apar�ncia, das performances, dos desempenhos (SCHWENGBER, 2009), da constru��o do masculino com caracter�sticas mais h�beis e fortes do que o feminino. Diante dessa constru��o do g�nero masculino, observam-se narrativas como as expostas acima, as quais agridem o feminino. Essas express�es conferem �s meninas um lugar de inferioridade e um sentimento de incapacidade de realizar as atividades, lugar este afirmado pelo comportamento dos meninos que querem impor superioridade e o fazem atrav�s da agress�o verbal e, �s vezes, f�sica. Para Vigarello (1998, p. 17), o
Dessa maneira, o corpo incorpora as normas, os preceitos, as leis dos espa�os sociais no qual est� inserido, assim como � no corpo que se demarcam as quest�es de g�nero entre meninos e meninas. � importante estudar o contexto escolar, pois a escola est� entre os espa�os sociais ocupados pelas crian�as e pelos adolescentes na contemporaneidade. A escola � parte do projeto pessoal de vida dos sujeitos e, segundo Gusm�o (2003 apud OLIVEIRA, 2010, p. 93), �a escola � um espa�o de sociabilidades, de encontros e desencontros, buscas e perdas, descobertas e encobrimentos, de vida e nega��o da vida�. Trata-se de um espa�o sociocultural, que, sob a �tica da cultura,
No entanto educar �, mais do que valorizar a cultura do educando, � ensinar o sujeito a pensar em si no mundo, al�m daquele no qual ele se insere.
O autor segue apontando que, �mais do que nunca, cabe � escola dialogar e buscar aproximar esses mundos distantes�, sobretudo entre meninos e meninas. Por isso, nos interessa ampliar o nosso conhecimento sobre como meninos e meninas se relacionam no espa�o escolar, principalmente nas aulas de Educa��o F�sica. Mergulhar nesse tema significa mapear minuciosas descri��es do cotidiano escolar, destacando alguns fatos (cenas escolares) que possibilitem compreender essas rela��es. Muitas vezes, a escola, bem como as aulas de Educa��o F�sica, acaba reproduzindo alguns estere�tipos de g�nero masculino e feminino, delimitando espa�os, definindo o que pode ou n�o fazer, o que � designado s� �s meninas e aos meninos, definindo tamb�m posturas, jeitos, prefer�ncias. Segundo Santom� (1998, apud OLIVEIRA, 2006, p. 65), �as culturas silenciadas e/ou negadas s�o aquelas dos grupos minorit�rios e ou/marginalizados que, por n�o disporem de estruturas importantes de poder acabam n�o sendo contempladas, quando n�o, estereotipadas e deformadas�. A Educa��o F�sica e as suas pr�ticas passaram a ser entendidas pelo vi�s cultural. E como Bracht (1999) nos fala, deve-se recorrer ao conceito de cultura corporal de movimento. O movimentar-se � entendido como forma de comunica��o com o mundo, �que � constituinte e construtora de cultura, mas, tamb�m, possibilitada por ela. � uma linguagem, com especificidade, � claro, mas que, enquanto cultura habita o mundo do simb�lico� (ibidem, p. 45). As manifesta��es corporais humanas t�m um vi�s cultural, sendo ele ent�o o principal conceito para a Educa��o F�sica, na qual o profissional
Torna-se necess�rio que as aulas de Educa��o F�sica considerem as diferen�as que os alunos t�m entre si, e que fa�a �da diferen�a entre os alunos condi��o de igualdade, em vez de ser crit�rio para justificar a subjuga��o de uns sobre os outros� (idem, 2003, p. 18). A Educa��o F�sica tradicionalmente traz tamb�m a cultura de que s� os habilidosos podem jogar, quem tem uma maior aptid�o f�sica e um bom rendimento, fazendo com que os alunos que n�o t�m essas caracter�sticas n�o gostem das aulas e acabem n�o participando. Daolio (ibidem, p. 126) diz que as aulas t�m que ser planejadas para atingir todos os alunos, �sem esta descrimina��o dos menos habilidosos, se s�o meninas, gordinhos, baixinhos ou mais lentos�. O ideal seria uma Educa��o F�sica que soubesse reconhecer as diferen�as f�sicas e culturais, garantindo o direito de todos � pr�tica, sem constrangimentos e preconceito, porque os humanos s�o iguais justamente pela express�o de suas diferen�as (idem, 1995). Narrativas como as expostas acima podem nos ajudar a conhecer parte das rela��es de conflitos na escola entre meninos e meninas, desde elas mesmas. A partir disso surgiram as seguintes indaga��es: como e quais narrativas de identidades de g�nero s�o constru�das por meio da a��o discursiva entre os alunos? Como meninos e meninas se relacionam nas aulas de Educa��o F�sica? A escola, as turmas observadas e a professora de Educa��o F�sica No in�cio do 2� semestre de 2011, fizemos o primeiro contato no local onde foram realizadas as observa��es, as quais se deram de outubro a dezembro de 2011. Com a turma dos Anos Iniciais, as observa��es ocorreram nas segundas-feiras, das 9h30min �s 11h30min. Com a turma dos Anos Finais, ocorreram nas ter�as-feiras, das 13h25min �s 15h20min. Conversamos com a dire��o e ap�s com a coordena��o pedag�gica, que nos encaminhou � professora de Educa��o F�sica respons�vel pelos Anos Iniciais e pelos Anos Finais. De acordo com Geertz (2001), um dos cuidados que o pesquisador deve ter desde os primeiros contatos � a preocupa��o de se fazer aceito. A Escola Municipal tem uma estrutura simples com todo o seu espa�o t�rreo. Apresenta uma sala de professores, secretaria, sala de v�deo e biblioteca com climatizadores, sala da dire��o, refeit�rio, banheiros e salas de aula. A escola n�o possui gin�sio de esportes pr�prio e utiliza o do bairro, que se localiza ao lado da escola, o qual, nos dias de muita chuva, n�o pode ser ocupado, pois a quadra fica muito �mida. A escola tem uma estrutura muito bem conservada; possui um p�tio grande na frente, rodeado de bancos ao ar livre, e tamb�m uma pracinha nos fundos. Os alunos observados estudavam na manh�, e as aulas de Educa��o F�sica tamb�m aconteciam neste turno. A turma da 4� s�rie era composta de 23 alunos, sendo 13 meninas e 10 meninos, de classe m�dia baixa, oriundos das proximidades da escola. A turma era bem agitada, com estudantes agressivos e desrespeitosos uns com outros; o relacionamento entre meninos e meninas era nada amig�vel. A turma da 7� s�rie era composta de 33 alunos, sendo 17 meninas e 16 meninos, por�m em nenhuma das aulas observadas a turma estava completa, pois sempre participavam no m�ximo 25 alunos. Pertencentes a fam�lias de classe m�dia baixa, os alunos eram considerados como alguns dos mais agitados e desobedientes da escola. As meninas n�o participavam na maioria das aulas; ficavam sentadas ao redor da quadra, mexendo em seus celulares, que levavam escondido da professora. Os meninos estavam sempre dispostos a jogar futebol e reclamavam quando a professora propunha alguma atividade diferente. Meninos e meninas quase nunca se entendiam para jogar, a n�o ser por duas alunas que sabiam jogar futebol e que conseguiam se enturmar com os meninos. A professora se formou pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul � Uniju� em 1999 e, al�m desta escola, lecionava em outra na cidade de Coronel Barros/RS. Formada h� 12 anos, trabalhava 40 horas semanais, sendo 20 horas em cada escola. Processo de descri��o das cenas Estudar o cotidiano escolar n�o � tarefa f�cil, e isso ainda � pouco realizado por pesquisadores. Sendo assim, o/a pesquisador/a precisa ter bastante aten��o quanto �s percep��es de alunos/as e professor/a, assim como ao princ�pio da relativiza��o, o que permite um conhecimento mais aproximado sobre os/as estudantes e sua cultura. Optamos por descrever cenas do cotidiano escolar com o intuito de mostrar a din�mica da escola, as rela��es entre os sujeitos, assim como os afetos, os desafetos e as viol�ncias sofridas e praticadas naquele ambiente. N�o basta s� fazer uma investiga��o te�rica sobre os alunos; � preciso entrar no cotidiano da crian�a, observar suas atitudes, brincadeiras, relacionamentos com alunos do mesmo g�nero ou do g�nero oposto. Costa (2004, p. 20) considera que, para enriquecer um estudo, deve-se levar muito em conta a observa��o do cotidiano, �possibilitando uma melhor compreens�o de como as crian�as expressam as rela��es de g�nero, dos seus modos particulares de lidar com essas quest�es�.
Cena 1 � Toda aula brigo com algu�m Processo de an�lise da cena 1 As meninas s�o maioria na turma e gostam das atividades propostas, de modo que s�o as primeiras a se organizarem e s�o elogiadas pela professora, por seu comportamento e desempenho. Os meninos oferecem muita resist�ncia, pois querem apenas jogar futsal, debocham das atividades, dizem n�o fazer e que s�o �bobagens�. Nas observa��es das aulas e principalmente na cena anteriormente descrita, foi poss�vel perceber rela��es de g�nero marcadas por agressividade, xingamentos e desrespeito. Meninos e meninas parecem n�o conseguir conversar; preferem se impor pela for�a das agress�es. Meninos querem mostrar superioridade, mas meninas se fazem presentes resistindo e enfrentando-os, defendendo um espa�o. As narrativas de g�nero surgem por parte dos alunos com xingamentos, apelidos maldosos ou at� mesmo com agressividade entre ambos os sexos. Percebe-se isso em express�es como �nanica�, �boca aberta�, �girafa�, �feioso�, �cala a boca, pequeninha�, �bicho feio, tomei um susto�. Narrativas como essas s�o comuns em quase todas as aulas, assim como chutes, empurr�es, tapas. Em rela��o � professora, n�o foi poss�vel perceber em suas falas e a��es distin��o entre meninos e meninas, por�m ela sempre teve mais problema com os meninos em suas aulas, e as meninas estavam sempre preparadas para as atividades. Diante dessa situa��o de agressividade, ela relata ficar impotente. No caminho ao gin�sio, n�o h� sil�ncio e, sim, express�es gestuais; meninos e meninas se chutam, empurram, falam palavr�es, iniciam discuss�es sem motivos. Parece imposs�vel que ocupem o mesmo espa�o sem se agredir. Durante a aula pr�tica, a professora at� tenta fazer grupos mistos, mas meninos e meninas reclamam bastante, tornando a aula uma bagun�a maior ainda. A professora j� reclamou algumas vezes do mau comportamento dos alunos. Na maioria das aulas, s�o os mesmos que aprontam. Nas poucas tentativas que a professora fez em juntar meninos e meninas no mesmo grupo, percebeu-se que, quando um menino falha, os outros xingam, por�m menos do que quando as meninas erram. Se uma menina erra, as outras riem ou mandam a primeira fazer direito, mas n�o com palavr�es. Quando um menino erra, as meninas xingam. Acredita-se que esses frequentes comportamentos agressivos s�o demonstra��es de que meninos querem mostrar superioridade diante das meninas, e estas n�o aceitam, ent�o se mostram dispostas a defender seu espa�o tamb�m na aula de Educa��o F�sica. Algumas meninas j� n�o apresentam um comportamento esperado, de delicadeza e recato, e muito menos de submiss�o. Elas enfrentam os meninos e dificilmente cedem algo a eles sem ao menos lutar por aquilo que querem. Esses comportamentos n�o acontecem apenas nas aulas de Educa��o F�sica, visto que a disputa por espa�o sempre estar� presente em qualquer ambiente. No entanto, quando as crian�as percebem uma �autoridade� do outro sobre si, h� o conflito, a disputa. Tanto meninas quanto meninos demonstram a necessidade de se sobressa�rem no grupo misto. As atividades propostas pela professora nas aulas de Educa��o F�sica, de acordo com o que foi presenciado, s�o marcadas pela sociabilidade do conflito e tamb�m localizam meninas e meninos que, pela disputa, defendem seus interesses e objetivam o dom�nio da brincadeira e do jogo. As identidades de g�nero s�o produzidas por meio de repetidos enunciados performativos; inserem-se num campo de lutas dos atores (meninos e meninas) por poder de significa��es. Definir-nos por ser homem ou mulher faz parte de um amplo processo cultural. � nessa dire��o e sob essa perspectiva conceitual que faz sentido compreender os sujeitos (as crian�as) e as pr�ticas educativas de g�nero e, aqui, da Educa��o F�sica escolar. Desse modo, percebe-se o quanto as refer�ncias ao g�nero n�o s�o meras caracter�sticas oriundas da biologia do corpo � s�o constru��es sociais, hist�ricas, datadas e localizadas aqui em um espa�o, como no universo da escola. Isso leva-nos a considerar que as atividades f�sicas t�m tamb�m uma dimens�o produtiva de feminilidade e masculinidade. O interior da escola torna-se um importante cen�rio de disputa das rela��es de g�nero que se desdobra em diversas pr�ticas curriculares. A escola apresenta-se como espa�o de poder, um lugar em que as crian�as se constituem como determinados tipos de sujeito, em que elas constroem as identidades, neste caso, as de g�nero. Cena 2 � Mulher, voc� � uma boca aberta Processo de an�lise da cena 2 Observa-se aqui o �car�ter mais competitivo� presente no comportamento do menino em oposi��o ao �car�ter pac�fico� do comportamento da menina. As meninas n�o se sentem desafiadas a jogar, nem pela professora que n�o faz nenhum movimento pedag�gico de investimento na dire��o de ensin�-las, de modo que as pr�prias meninas tamb�m se contentam, dizendo: �n�s gostamos de brincar de boneca, casinha� e n�o praticar nenhum esporte. J� os meninos tamb�m n�o s�o desafiados pela professora, mas eles trazem consigo algumas habilidades, especialmente de praticar o futsal, pois muitos frequentam escolinhas para ter seu aperfei�oamento, desenvolvem suas habilidades para ter agilidade com a bola, desenvolvem sua vis�o perif�rica, treinam passes, situa��es de jogo coletivo. Nas aulas de Educa��o F�sica observadas, as meninas parecem n�o se importar com o dom�nio das habilidades motoras dos meninos; por sua vez, eles xingam, brigam, chamam-nas por palavr�es, mas isso n�o faz com que elas se incentivem a jogar, para ser melhores que eles, pois simplesmente n�o se importam. Aqui interessa pensar que talvez a pr�pria professora colabore, oferecendo mais prote��o aos meninos e sugerindo desvantagens para as meninas nas �reas de jogos tidos como pertencentes ao dom�nio masculino e tamb�m n�o interv�m quando os meninos dirigem xingamentos �s meninas. Na cultura da sociedade contempor�nea, o esporte � um dom�nio fundamentalmente masculino. Na situa��o observada, os meninos apresentam maior desempenho motor em rela��o �s meninas, principalmente na locomo��o e na manipula��o de objetos, al�m de terem maior resist�ncia, tamanho e for�a. Para Ferreira (1998), as diferen�as no desenvolvimento motor nos meninos proporcionam melhor desempenho em atividades que exijam pot�ncia muscular, como saltos, chutes, arremessos, e as meninas t�m maior facilidade em atividades com equil�brio e flexibilidade. As meninas necessitam de um espa�o de aprendizagem motora, mas s�o �roubadas� nessas oportunidades de se desenvolver corporalmente e esportivamente, como observamos. E, desse modo, s�o recebidas com �xing�es� e com chacotas, deixando-as reprimidas e sem atitudes de agir corporalmente. Para Souza (2006), muitos trabalhos t�m tematizado a desigualdade de meninos e meninas, em que os meninos dominam as meninas e os professores mesmo assim oferecem mais aten��o a eles, deixando-as em desvantagem. Os garotos xingam as meninas at� que elas desistam do jogo, deixando o espa�o livre para eles; sendo assim, os professores corrigem e chamam mais a aten��o dos meninos e deixando as meninas livres para escolher se querem entrar no jogo ou ficarem ao redor da quadra, dando toques com bolas. Souza (2006) tamb�m destaca que as meninas s�o c�mplices da distin��o dos g�neros, pois preferem fazer qualquer outra coisa para n�o ter que jogar com os meninos. Enquanto isso, os garotos se preocupam em desenvolver uma superioridade em cima das meninas, para mostrar aos pares que t�m autoridade. ABREU (1995 apud ALTMANN, 1998, p. 49) �constatou que, ao considerarem as meninas inabilidosas, meninos t�m uma pr�-disposi��o em n�o aceitar sua participa��o nos jogos�. Essa falta de habilidade leva a uma maior descrimina��o nas aulas do que elas serem mulheres, pois quem tem habilidade, nesse tipo de aula, acaba por ser aceita no jogo (ibidem). O professor de Educa��o F�sica teria a fun��o de ensinar e de estimular as meninas para a pr�tica esportiva, desenvolvendo e aperfei�oando suas habilidades no jogo, assim se sentir�o mais confiantes frente aos meninos e motivadas para a pr�tica do esporte. Na cena destacada, ainda temos a menina que se designa de loira burra. Ela mesma se inferioriza em frente aos outros, neste caso, dos meninos. Chamamos a aten��o para o quanto essa express�o �loira e burra� � feminina (loira e burra), pois quase nunca escutamos �loiro e burro�. Essa express�o parece circular na cultura h� muito tempo. Outro ponto importante � que a professora tamb�m �n�o se importa com essa nomea��o� e n�o interfere. A hist�ria da �loira burra� vem do s�culo 1 a. C., em uma cr�tica do poeta Prop�rcio. Algumas das mulheres desse s�culo pintavam os cabelos para imitar as gaulesas e germ�nicas, para os povos b�rbaros. �Muitos males cercam a garota que estupidamente pinta seu cabelos com uma falsa cor�. Parece que essa express�o associada �s loiras continua. J� a teoria biol�gica moderna descreve que �fios louros� s�o comuns em crian�as e tendem a escurecer quando adultos. Na contemporaneidade, esse preconceito � retomado num conjunto de piadas e letras de m�sica tais como, por exemplo, nos anos 90 do s�culo XX, na m�sica do cantor Gabriel, o Pensador que gravou a m�sica �L�raburra�, que tornou a express�o mais forte recentemente. Esses efeitos parecem circular facilmente na cultura at� nos dias de hoje junto �s meninas loiras, de modo que elas pr�prias, como no caso descrito, se definem como modo a justificar sua habilidade esportiva, minimizando-se em frente aos colegas. Algumas considera��es Constituir-se como ser masculino e feminino faz parte de um amplo processo cultural, do qual participam institui��es como fam�lia, igreja e escola. � nessa dire��o que se faz importante compreender os sujeitos e as quest�es de g�nero dentro do ambiente escolar. O interior da escola torna-se um cen�rio de disputa em que meninos e meninas querem se afirmar. A escola, em muitos momentos, delimita o que � apropriado a cada um dos g�neros; ela mesma produz as diferen�as entre eles, quando os separa na sala de aula, no recreio e tamb�m nas aulas de Educa��o F�sica. Nos diversos espa�os sociais em que vivemos, bem como na escola e nas aulas de Educa��o F�sica, acabamos por ser classificados. Como afirma Mac An Gahill (1996 apud SOUSA; ALTMANN, 1999, p. 55), �os sistemas escolares modernos n�o apenas refletem a ideologia sexual dominante da sociedade, mas produzem ativamente uma cadeia de masculinidades e feminilidades heterossexuais diferenciadas e hierarquicamente ordenadas�. Ao observarmos as cenas descritas, percebemos um desejo de impor superioridade por parte dos meninos. Meninas muitas vezes mostram-se submissas, por�m �s vezes decidem lutar pelo seu espa�o nas aulas de Educa��o F�sica. Precisamos considerar que o processo de socializa��o das novas gera��es n�o pode ser considerado simples, linear ou mec�nico. �Ele � complexo, sutil e marcado por inevit�veis resist�ncias individuais e grupais, bem como por profundas contradi��es� (SOUSA; ALTMANN, 1999, p. 64). Isso porque s�o contradi��es fortalecidas pelo vi�s cultural, dif�ceis de ser modificadas.
As duas cenas s�o reveladoras de conflitos di�rios que essas crian�as e adolescentes realizam para sobreviver. Foi poss�vel perceber que o esporte � usado como ferramenta de superioridade.
Complementando esse pensamento, Sousa e Altmann (1999, p. 6) trazem a ideia de que,
Apostamos na escola e nas aulas de Educa��o F�sica para o enfrentamento das quest�es de g�nero, pois acreditamos que professores e professoras, como sujeitos adultos, possam intervir no processo de ensino e fazer que as diferen�as entre os g�neros, bem como os conflitos, sejam minimizados. Nota
Refer�ncias
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