A famulia deve congregar na mesma igreja

25 Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia.

Leia o capítulo completo: Hebreus 10

A famulia deve congregar na mesma igreja

Este versículo em outras versões da Bíblia

25 não abandonando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia.

Versão Almeida Revista e Atualizada

A famulia deve congregar na mesma igreja

25 não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia.

Versão Almeida Revista e Corrigida

A famulia deve congregar na mesma igreja


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Este é o 2º artigo que faz parte de uma série deste autor sobre igreja relacional. Wayne Jacobsen é escritor e palestrante. Ficou bastante conhecido no Brasil com a publicação dos livros “Por que você não quer mais ir à igreja?” e “Deus me ama”, ambos pela Editora Sextante. Em dezembro de 2009, esteve em nosso país para uma conferência em que compartilhou o que significa viver diariamente como um filho amado do Pai e como isso influencia a maneira de nos relacionarmos uns com os outros. Clique aqui para ler os artigos anteriores

“Não deixemos de nos reunir como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o dia” (Hb 10:25).

Não conheço outro trecho das Escrituras que tenha sofrido mais abuso que este. Ele é muitas vezes citado como a razão pela qual as pessoas devem participar de uma instituição religiosa nas manhãs de domingo, sentar-se nas fileiras e submeter-se à performance musical e leitura que outras prepararam para elas.

Para muitos, este é o único critério que determina se alguém pertence à igreja de Deus ou se é classificado como independente e rebelde. É uma ideia tão cristalizada em nossa psique religiosa que nada mais importa.

Se você frequenta algum desses estabelecimentos religiosos com certa regularidade (poucas semanas já são suficientes), os demais o considerarão um crente saudável. Se não, eles levantam as sobrancelhas com desconfiança. Só o frequentar já valida a fé de alguém. Algumas das pessoas mais arrogantes e independentes que conheço participam semanalmente de eventos religiosos, mas saem e vivem a vida de acordo com seus próprios termos.

Baseado neste ponto, muitos vão admitir que frequentar cultos nas manhãs de domingo não vai garantir seu caminho para os céus nem assegurar um relacionamento transformador com o Deus vivo. Mas enquanto eles admitem que isso pode não funcionar para todo mundo, consideram aqueles que não congregam regularmente como estando em grande perigo.

Que tragédia! Quando falhamos em enxergar a igreja como Deus a vê e impensavelmente abraçamos o que 2000 anos de tradição religiosa dizem que ela é, perdemos uma das mais simples e melhores verdades da Palavra de Deus. O escritor de Hebreus está falando de algo muito mais vital do que alguém sentado nos bancos num culto de domingo.

Encorajando uns aos outros

O texto de Hebreus nunca foi escrito para obrigar as pessoas a frequentarem uma programação de cultos toda semana. Mas, por favor, não me compreenda mal. Se seu relacionamento com outros cristãos gira em torno dessas reuniões e nesse ambiente você está crescendo em experimentar tudo o que Deus tem para você, permaneça nisso!

Mas penso que cometemos um erro grave se assumimos que isso era tudo o que o escritor tinha em mente. Eu apresento cinco razões pelas quais ele deveria estar falando de algo maior.

Primeiro, a igreja daquela época não tinha nada parecido com o que atualmente chamamos de “culto”. Sim, eles se reuniam – principalmente em casas, e só ocasionalmente em reuniões maiores para ouvir um dos apóstolos ou um mestre distante que os ajudaria a descobrir quem Deus é e como caminhar com ele. Estas reuniões, contudo, em nada se pareciam com a maioria das reuniões atuais, feitas mais para entreter do que para capacitar.

Segundo, o escritor tinha o foco em um ambiente em que cada crente era envolvido em encorajar os outros – estimulando-os ao amor e boas obras. Onde isso acontece nas reuniões atuais? As pessoas só olham para a nuca das outras enquanto todo o “ministério” é desempenhado por talentosos músicos e oradores. Esta Escritura que estamos analisando pinta um quadro totalmente diferente, com diálogo face a face e engajamento pessoal.

Terceiro, o escritor da carta aos Hebreus fala para seus leitores fazerem isso diariamente. Como então o que escreveu poderia ser compreendido como uma ou duas reuniões semanais? O escritor estava falando de reuniões que eles teriam a cada dia. Obviamente, ele não falava de reuniões organizadas, mas contatos espontâneos entre crentes que aprendiam a viver juntos diante de Deus e encontravam ocasiões para compartilhar suas vidas diariamente.

Quarto, ele diz especificamente que a principal razão de se reunir era para que um encorajasse o outro. A maioria das pessoas fala em frequentar as instituições religiosas de hoje por causa da responsabilidade que assumiram, e não para encorajamento, o que pode ser doloroso, mesmo não sendo intencional. Philip Yancey conta sobre uma prostituta que buscava ajuda e foi encorajada a procurar uma igreja. Ela respondeu: “Por que eu iria lá, pois já me sinto terrível comigo mesma? Eles farão eu me sentir pior.”

Surpreendentemente, nenhuma Escritura orienta os crentes ou líderes a dar responsabilidades a cada um. Isto é reservado somente a Deus. Estamos falando de encorajar uns aos outros e dizendo que algumas vezes poderíamos confrontar ou admoestar, e isso não quer dizer que estamos assumindo responsabilidades uns pelos outros.

Finalmente, ele animou os crentes a se conectarem uns com os outros em toda a comunidade. Enquanto pregamos que a reunião dos crentes é essencial, nossas reuniões contribuem cada vez mais para a fragmentação do corpo de Cristo em cada localidade. Em vez de nos ligarmos com uma grande diversidade de pessoas, nos reunimos apenas com pessoas exatamente iguais a nós e que creem da mesma forma que nós.

Dois ou três reunidos

O escritor de Hebreus encorajava um relacionamento profundo entre os crentes, algo que nenhum culto religioso pode oferecer. Ele falava de uma completa rede de relacionamentos que Deus constrói entre os crentes e o quanto é importante para nós permitir que outras pessoas participem de nossas vidas. Não caminhar sozinhos, uma vez que podemos ser tão úteis uns para os outros.

Paulo nos deu uma percepção do porquê disso em Efésios. Ele disse que a plenitude de Deus é revelada em todo o corpo, e não em crentes isolados. Não conhecemos o bastante por nós mesmos nem temos força suficiente. E como vamos vivenciar isso? Sendo espectadores em uma grande reunião ou compartilhando nossas vidas com companheiros de caminhada?

Até mesmo Jesus deixou isso claro ao dizer que o mais poderoso momento da vida do corpo acontece entre dois ou três, e não em grupos de centenas. É quando as pessoas podem ser conhecidas pelo que realmente são, amadas em momentos de desespero e também descobrir a presença de Deus umas nas outras.

O mais poderoso exemplo disso no século passado aconteceu na China durante o regime comunista. Como as pessoas foram forçadas à clandestinidade por causa da perseguição, elas descobriram a alegria de cuidarem umas das outras, de não se considerarem como a pessoa mais importante. Experimentaram a libertação das tradições religiosas, da liderança de um só homem e daqueles que não eram completamente rendidos a Deus. O mais interessante foi como a vida de Deus cresceu no meio delas. E nós, estamos ouvindo as mesmas lições que elas aprenderam naquele período? Não! Estamos muito ocupados com nossa programação cristã.

As circunstâncias forçaram os cristãos chineses a abraçar o que o Novo Testamento fala tão claramente: a verdadeira vida do corpo não pode ser adotada institucionalmente; ela resulta de pessoas completamente apaixonadas pelo Pai e aprendendo a viver como família com outros irmãos e irmãs.

Infelizmente, muitos crentes nunca experimentaram este tipo de vida no corpo – não têm uma visão de igreja além daquela a que se acostumaram aos domingos, quando assistem ao culto e depois voltam para suas vidas particulares. Contudo, quando vêm as crises e precisam de amigos para compartilhar a vida de Deus sob essas circunstâncias, não encontram ninguém. Logo percebem que ficar sentados assistindo a cultos não os prepara adequadamente para encarar os dias ruins de suas vidas.

Encontrando a Família

Conhecer a Deus como Pai nos leva a um engajamento com seu povo como família. Você sente a fome agitando você? Está acontecendo com pessoas em todo o mundo. Cansadas com os joguinhos políticos usados para manipular o poder institucional ou entediadas com o ambiente passivo promovido nos “cultos” de adoração, pessoas, em números cada vez maiores, estão deixando a religião organizada.

Conheço muitas destas que, infelizmente, abandonaram a Deus. Mas há muitas outras famintas em compartilhar uma autêntica vida no corpo de Cristo com outros crentes que permitem que Jesus seja verdadeiramente o centro de suas vidas. Como muitos no limite da fome, eles podem não saber o que estão realmente buscando. Como muitos de nós ficamos a maior parte de nossas vidas numa religião, não temos certeza de para onde mais devemos olhar. Então continuamos buscando um evento, um grupo de pessoas ou um mentor para nos ajudar a encontrar um caminho, e muitas vezes ficamos desapontados nessa busca.

Como disse no artigo anterior (Grupo News edição nº 76, julho de 2013), a dinâmica institucional só produzirá uma sombra do que a vida familiar realmente é. Ela não pode nos proporcionar a realidade. Se é relacionamento o que estamos querendo, então devemos pensar relacionalmente. O tipo de comunidade de Deus não é produzido pela engenhosidade humana ou por um programa. Ela brota organicamente em torno das pessoas que estão aprendendo a seguir Jesus e se veem como parte de algo maior que elas mesmas.

Então, encontrar a família do Pai começa com o próprio Pai, e não com os outros. Se ele não é o objeto de sua busca de todo o coração, você perderá a parte principal do que ele é para você. Não comece com um programa. Comece com ele. Não permita que nenhuma expressão da vida do corpo seja um substituto para o cultivo de seu relacionamento pessoal com o Pai. Muitas vezes confundimos isso. Buscamos um relacionamento com Deus por meio do relacionamento com os outros. O oposto, porém, é verdadeiro. Aprendemos a nos relacionar com os outros, mas amando a Deus em primeiro lugar. Então você será capaz de ver como ele está colocando-o em uma família. Volte-se para toda a sua localidade, e não apenas para um grupo particular. Deus tem pessoas em todo lugar. Descobrir como ele quer introduzi-lo neste processo pode envolver os seguintes estágios:

1. Comunhão espontânea

Estar conectado na família muitas vezes começa com comunhão espontânea. Que crentes famintos Deus colocou ao seu redor? Podem ser pessoas conhecidas que você convidaria para uma tarde de comunhão ou para almoçar de vez em quando. Também acontece em momentos não programados, quando você está na fila do mercado e encontra uma pessoa a sua frente que também ama ao Senhor.

Deus tem muitas maneiras de reunir sua família. Procure conhecer a família que mora em seu bairro; convide a sua casa o novo funcionário de seu trabalho ou seja voluntário em sua comunidade e veja quem Deus colocou perto de você. Garanto-lhe que você não vai mais olhar as pessoas ao seu redor da mesma forma. Podem ser crentes com os quais você pode compartilhar a vida de Deus ou pessoas que não O conhecem plenamente, as quais você pode amar em nome de Jesus.

A comunhão começa desta maneira. Pessoas que conhecem um pouco mais umas das outras e descobrem que têm a vida de Deus em comum. Em minhas viagens, encontro pessoas em todo canto do mundo com fome de conhecer o Deus vivo. Às vezes tomamos uma refeição juntos; outras vezes nos encontramos na casa de alguém que eu ainda não conhecia, e então começa um longo relacionamento e uma oportunidade de compartilharmos nossa paixão por Jesus.

A comunhão espontânea pode assumir diversas formas. Ela pode durar somente poucos momentos ou dias, mas algumas vezes ela pode se tornar muito mais significativa. Olhe ao redor. Os crentes com os quais Deus quer que você experimente a vida do corpo podem estar muito mais perto do que você pensa.

2. Desenvolvendo amizades

Além desses encontros espontâneos, você encontrará pessoas com as quais deve ter conexões mais profundas. Isso se o Espírito Santo está aproximando vocês para ajuda mútua na caminhada.

As amizades se desenvolvem quando as pessoas se esforçam para estar juntas. Encontram-se constantemente, procuram coisas para fazerem juntas e retornam encorajadas após esses encontros.

Amigos não colocam expectativas uns sobre os outros nem usam o outro para suas necessidades pessoais. Amigos são aqueles que compartilham juntos suas jornadas com o Pai. Não buscam controlar um ao outro nem desprezam o outro caso este não atenda suas necessidades. A amizade divina busca compartilhar a caminhada com a mais profunda honestidade e vulnerabilidade, sempre dando a liberdade para a outra pessoa ser completamente genuína.

Muitas vezes a amizade surge entre pessoas que se ajudaram durante tempos difíceis. O que começa como um ato de compaixão pode facilmente se tornar uma amizade muito próxima. Por isso é importante se engajar nas necessidades de pessoas ao redor, oferecendo suporte e ajuda necessária e possível até que atravessem a crise.

Toda amizade verdadeira que temos com alguém na família do Pai é um incrível tesouro. Elas são dignas de cada fração de tempo que gastamos para cultivá-las. As verdadeiras duram para sempre, embora o tempo e as circunstâncias possam não permitir que estejamos juntos com regularidade. Mas quando nos reencontramos, podemos retomar exatamente do ponto onde paramos.

 3. Comunidade intencional

Com o desenvolvimento das amizades, muitas vezes as pessoas querem algo mais. Deus nos fez para viver em comunidade, lembre-se disso, e embora estejamos ligados pela cruz a todos os crentes do planeta, uma das mais valiosas formas de experimentar a vida de Cristo é compartilhar a caminhada com um grupo de amigos.

A comunidade intencional acontece quando um indivíduo ou família decide se ligar com outros para compartilhar a caminhada. Percebendo que o Pai os chamou para caminhar juntos por um tempo, que pode durar alguns meses ou vários anos, eles escolheram compartilhar suas experiências juntos, seja em reuniões regulares de compartilhamento, de louvor, de oração ou de estudo da Palavra, tendo contato durante a semana.

Ouvir a Deus juntos, guardando a liberdade de cada um em Cristo, cuidar uns dos outros em momentos de necessidade e estar atentos a como Deus quer nos usar para estender seu reino parecem ser alguns dos objetivos deste tipo de comunidade.

A forma que elas tomam, contudo, pode variar bastante. Igrejas nos lares podem ser do modo que falei, mas também podem ser grupos que surgem dentro das instituições. Eles não se reúnem por uma aliança ou credo, mas pelo fato de pessoas escolherem se amar profundamente e o bastante para estarem juntas nos altos e baixos da vida e viverem abertamente umas para as outras. Diga-se se passagem, as crianças se adaptam muito bem a este ambiente. Nada melhor do que isso para prepará-las a uma vida de aventura na família do Pai.

A iniciativa necessária

Por que, muitas vezes, estes grupos são difíceis de encontrar? Porque eles exigem um nível de iniciativa pessoal que a maioria das estruturas programadas roubou do povo de Deus. Seja porque alguns preferem ser alimentados como crianças ou porque foram levados a pensar que são incompetentes para seguir a Deus sem a ajuda de um líder “ordenado”, o fato é que muitos crentes têm pouco tempo ou energia para descobrir a grandeza de viver no corpo de Cristo do modo como o Pai pretende.

Existem maneiras muito mais fáceis de ajuntar cristãos, mas para descobrir a profundidade do que viver na família do Pai quer dizer, não podemos simplesmente sentar atrás de alguém e esperar que faça a programação. Em vez disso, podemos optar por nos unir com pessoas que Deus colocou ao nosso redor e buscar de que forma nossas vidas podem abençoar a outros. Reconhecendo as pessoas que Deus chamou para andar conosco, podemos combinar nossos recursos com aqueles irmãos e irmãs e nos descobrir muito mais capacitados a estar firmes quando os dias forem maus.

Isto é o que o escritor de Hebreus quis que você soubesse.

Isto é o que Deus está reedificando nestes dias. Peça para ele lhe mostrar sua igreja como ele mesmo a vê e para levá-lo a viver na alegria, poder e liberdade desta realidade.

Traduzido de www.lifestream.org por Ezequiel Netto