A industrializacao do continente americano não ocorreu ao mesmo

Por: Mariana Mayor Lima

A industrialização na América Latina é caracterizada como incipiente, tardia e de substituição de importações. Tais características estão relacionadas entre si e diretamente ligadas às elites latino-americanas, como a cafeeira no Brasil, e à conjuntura existente no período da industrialização.

No início do século XX, o mundo vivia um momento de instabilidade, pautado pelas Guerras Mundiais e pela crise econômica de 1929. Até o momento em questão, a relação econômica existente entre a América Latina e outros continentes, como a Europa, era uma relação neocolonial, ou seja, os países latino-americanos exportavam matéria-prima e importavam produtos industrializados.

Devido ao período de instabilidade supracitado, houve um declínio das exportações da América Latina, uma vez que a Europa diminuiu suas importações, já que seu consumo e indústria estavam voltados para a guerra. Logo, a indústria europeia não estava produzindo os bens que os países latino-americanos costumavam importar do continente. A partir desse momento, a elite da América Latina passou a substituir a importação dos produtos que necessitava pela importação de máquinas industriais europeias que produziam as manufaturas.

No entanto, as máquinas da Europa importadas pela América Latina já estavam obsoletas e atrasadas para a época, uma vez que a Europa já estava vivenciando a Segunda Revolução Industrial e a América Latina, naquele momento, iniciava a Primeira. Esse fato explicita a industrialização incipiente, tardia e não competitiva que ocorreu América Latina, não resultando em uma mudança significativa na estrutura industrial dos países da região.

Segundo a economista Maria da Conceição Tavares, o setor externo das economias primário-exportadoras, como as dos países da América Latina, possuem alta relevância. De acordo com seu texto Auge e declínio do processo de substituição de importações no Brasil[1], duas variáveis básicas pautam a relação dessas economias com o setor, são essas: exportação como importante parcela da renda nacional e importação como fonte de suprimentos industrializados para suprir a demanda interna. Essas variáveis também estão expressas nas economias centrais, porém de forma distinta.

No caso das economias centrais, embora as exportações sejam relevante componente de renda nacional, há outros fatores responsáveis pelo crescimento econômico desses países, como as variáveis internas, pautadas principalmente no desenvolvimento tecnológico. Deste modo, compreende-se que as exportações não são componentes exclusivos, a união delas com a variável endógena é que permite que “o aproveitamento do mercado externo se dê concomitantemente à diversificação e integração da produção interna” (TAVARES, 2000, p.220). Já na América Latina, as exportações eram quase que exclusivamente o componente de crescimento de renda dos países, além da atividade representar o centro dinâmico da economia da região.

A difusão da atividade exportadora na economia dos países latino-americanos dependia de seus processos produtivos de bens primários e suas capacidades de distribuição de renda. Dentro do modelo exportador, foi estabelecido um processo de urbanização, no qual indústrias de bens de consumo interno se desenvolviam com baixo nível de produtividade e, desse modo, mesmo unidas ao setor agrícola, eram insuficientes para a manutenção das atividades econômicas nacionais. Deste modo, o crescimento econômico dos países latino-americanos era pautado na demanda externa por produtos primários, o que refletia o grau de dependência da região.

Em relação ao papel das importações nesses países, era qualitativamente distinto das economias dos países centrais, uma vez que, enquanto os últimos importavam matéria-prima e alimentos, os países da América Latina importavam categorias inteiras de bens de consumo e, segundo Tavares, praticamente o total dos bens de capital necessários ao processo de investimento induzido pelo crescimento exógeno da renda (TAVARES, 2000, p.221).

Devido à situação supracitada, pode-se dizer que o setor externo atua como um mecanismo de ajuste entre demanda e produção interna, além de ser responsável por grande parte da mudança do modelo desenvolvimentista.

O problema central do crescimento pautado na dependência de “processos externos” está vinculado à divisão internacional do trabalho. Essa foi instaurada durante o processo de desenvolvimento das economias centrais e abrangeu as economias periféricas, porém as últimas vivenciam as consequências desse processo de maneira distinta.

Enquanto não havia, nos países desenvolvidos, clara separação entre produção para mercado externo e interno, uma vez que as manufaturas produzidas atendiam ambos mercados e a especialização no mercado externo era pautada por diferenciação de produtos, não por setores produtivos diferentes, na América Latina ocorria o contrário. Os países latino-americanos possuíam uma divisão clara da produção destinada para mercado externo e interno. Esse último setor era pautado pela produção de itens de subsistência, no entanto, devido à baixa produtividade e desigualdade econômica, não conseguia atender a demanda interna em sua totalidade.

Já o setor de exportação, tinha, e ainda tem, um papel bem definido nas economias da região. Segundo o texto supracitado de Tavares[1], o setor possui alta rentabilidade econômica e, normalmente, é especializado em um ou poucos produtos. Além disso, o setor externo é marcado pela alta concentração de propriedades, o que resulta em alta concentração de renda, uma vez que esse é o setor mais produtivo do país.

Como resultado da distribuição de renda desigual, a maioria dos cidadãos acaba permanecendo à margem do mercado, enquanto a minoria, os capitalistas, “apresentam níveis e padrões de consumo similares aos dos grandes centros europeus e em grande parte atendidos por importações” (TAVARES, 2000, p. 222)

Desse modo, a divisão internacional do trabalho e a extrema desigualdade na distribuição de renda compõem a base da disparidade existente entre produção para comércio exterior e composição da demanda interna. Essa dualidade é uma das principais características do modelo primário-exportador.

Nas economias em que há essa estrutura dualista, pode-se dizer que ocorre o fenômeno do subdesenvolvimento contemporâneo. Segundo Celso Furtado, “o subdesenvolvimento é, portanto, um processo histórico autônomo, e não uma etapa pela qual tenham, necessariamente, passado as economias que já alcançaram grau superior de desenvolvimento” (FURTADO, 2000, p.253)³

Revisado por: Júlia Moreno

Referências

[1] TAVARES, M. d. C; Cinqüenta anos de pensamento na CEPAL: Processo e substituição do processo de substituição de importações no Brasil. Edição. Rio de Janeiro: Record / CEPAL, 2000. p. 217-237.

[2] TAVARES, M. d. C; Cinqüenta anos de pensamento na CEPAL: Processo e substituição do processo de substituição de importações no Brasil. Edição. Rio de Janeiro: Record / CEPAL, 2000. p. 217-237.

[3] FURTADO, Celso; Cinqüenta anos de pensamento na CEPAL: Desenvolvimento e Subdesenvolvimento. Edição. Rio de Janeiro: Record/CEPAL, 2000. p. 217-237.

Como ocorreu o processo de industrialização dos países da América Latina?

A Crise de 1929 contribuiu também para o processo de industrialização da América Latina. Com a queda da economia norte-america, os países latinos, com grande dependência econômica em relação aos Estados Unidos, deixaram de receber capitais da venda de produtos agrícolas e matérias-primas.

Qual o continente que iniciou o processo de industrialização?

A industrialização é um processo desencadeado pelo desenvolvimento de indústrias em um determinado espaço geográfico. Tal processo foi iniciado na Inglaterra, no século XVIII, por meio da Primeira Revolução Industrial.

Como foi o processo de industrialização dos Estados Unidos?

A expansão da industrialização norte-americana ocorreu após a vitória da burguesia do Norte, no final da Guerra de Secessão. Com o interesse de aumentar o mercado consumidor para as ofertas de produtos que aumentavam cada vez mais, a burguesia do Norte ofereceu vantagens para a imigração.

Quais foram os fatores que contribuíram para o processo de industrialização dos Estados Unidos?

A existência de recursos naturais, notadamente a jazida de minério de ferro nos Grandes Lagos, o que atraiu o desenvolvimento de indústrias siderúrgicas, automobilísticas e ferroviárias - e as jazidas de carvão mineral dos Montes Apalaches, localizadas mais ao sul e de fácil exploração.