As palavras havia e dizia são hiatos por quê

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o número já importante das palavras que possuíam duas 
vogais em hiato. Estes “encontros vocálicos” resultam da queda de várias 
consoantes: queda de -g- em maestre, meestre (< magister), em leer (< legere) 
e suas diversas formas — leerei, leeria, etc.; queda de -d- em seer (< sedere), 
em creer (< credere), em traedor, treedor (< traditore). A queda do -l- 
intervocálico, da qual se tratou no capítulo anterior, explica um forte 
contingente desses encontros; por exemplo: mao (< malu-), maa (< mala-), 
soo (< solu-), coor (< colore-), coorar (< coborare), coobra (< *colŏbra), diaboo 
(diabolu-), etc. Os encontros vocálicos que resultam das desnasalizações 
descritas no parágrafo anterior só fizeram, então, aumentar a amplitude de 
um fenômeno já considerável. O galego-português passou a ter, assim, um 
número muito maior de palavras que comportavam vogais em hiato. Por 
vezes as duas vogais são diferentes (ex.: moesteiro), mas, não raro, colidem 
também duas vogais idênticas (ex.: maa, seer, viir, soo, nuu). Estes grupos 
vocálicos podem incluir o acento tônico (é o caso dos cinco exemplos 
precedentes), mas podem também achar-se em posição pretônica (moesteiro, 
coorar) ou postônica (diaboo). Nos textos dos Cancioneiros, a escansão dos 
versos, repetimo-lo, garante que nesses grupos as duas vogais em contato se 
encontram em sílabas diferentes. Dizia-se então te-er; so-o, so-idade, co-oral; 
vi-ir, etc., do que resultava, por exemplo, que acha-ar, “estender no chão”, 
derivado de chã-o (< planu-) não se confundia com achar, “encontrar”. 
Documentam-se também nos Cancioneiros casos em que as duas 
vogais em contato devem ser contadas numa só sílaba. Por vezes a própria 
grafia sugere a crase; ex.: seredes por seeredes (futuro de seer). 
Inversamente, encontram-se grafias como ataa por atá (“até”), que só podem 
representar a vogal tônica singela, ou seja, uma pro núncia dissilábica da 
palavra: a-tá. Vemos, pois, que já na época do galego-português se iniciam 
as evoluções que, ulteriormente, terão como efeito eliminar em português a 
maioria dos encontros vocálicos. 
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Morfologia e sintaxe 
Selecionaremos aqui apenas alguns pontos que apresentam um 
interesse particular, seja porque distinguem o galego-português do conjunto 
hispânico, seja porque caracterizam um estado de língua diferente do 
português moderno. 
 
1 — Morfologia do nome e do adjetivo — A queda do -l- e do -n- 
intervocálicos tivera conseqüências importantes nos paradigmas: 
a) Plural dos nomes e adjetivos terminados por -l-. O -l- mantém-se no 
singular mas cai no plural. 
Temos, por exemplo: 
 
Singular Plural 
 
sinal sinaes (isto é, sina-es) 
cruel cruees (isto é, crue-es) 
 
b) Morfologia dos nomes e adjetivos em -ão, -an e -on. Aqui é a queda 
do -n- intervocálico que explica as formas galego-português. 
Os nomes provindos do latim -anus (ex.: manus, “mão”), -anis (ex.: 
canis, “cão”) e -o, -onis (ex.: leo, leonis, “leão”) tinham dado, a partir do 
acusativo, as formas esperadas: 
 
Singular Plural 
manu- > mano > mão *manos > mãos 
cane- > can(e) > can canes > cães 
leone- > leon(e) > leon leones > leões 
 
Advirta-se que, no singular, cane e leone perderam cedo o -e final. 
Quando os -n- intervocálicos caíram, havia muito tempo que se dizia can e 
leon: o -n- não era mais intervocálico, mas final, razão por que não caiu. No 
singular mano e nos três plurais, ao contrário, o -n- era intervocálico: caiu, 
então, depois de ter nasalizado a vogal anterior. Em galego-português os 
grupos ão, ãe e õe que daí resultaram foram primeiro bissilábicos. Dizia-se, 
pois, mã-o, mã-os, cã-es, leõ-es. Da mesma maneira, os adjetivos que em 
latim terminavam em -anus (ex.: sanus) apresentam as seguintes formas: 
 
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Singular 
Plural 
masculino: sanu- > sano > são sanos > sãos 
feminino: sana > sãa sanas > sãas 
(pronunciar sã-o, sã-os, sã-a, sã-as) 
 
2 — Possessivos — Existia para o feminino de meu, teu, seu uma 
forma átona distinta da forma tônica: 
 
Masculino Feminino 
 Tônica Átona 
meu mia, mĩa, minha mia, mha, ma 
teu tua ta 
seu sua sa 
 
3 — Dêiticos — Os dêiticos (demonstrativos e advérbios de lugar) 
organizavam-se de acordo com o seguinte sistema14. 
 
este esse 
Demonstrativos 
 
aqueste aquel(e) 
aqui ali 
acá alá 
Advérbios de 
lugar 
 
acó aló 
 
 
O sistema ternário do português moderno já estava, portanto, 
constituído para os demonstrativos: este (1ª pessoa), esse (2ª pessoa) e 
aquel(e) (3ª pessoa), com uma forma aqueste, “reforçada” de este. Já no que 
se refere aos advérbios de lugar só havia oposições binárias entre morfemas 
em -i, em -á e em -o, sendo de notar que acó-aló eram de emprego mais raro 
que aqui-ali e acá-alá. 
 
4 — Os anafóricos (h)i e ende-en — Estas palavras tinham a mesma 
origem, o mesmo sentido e os mesmos empregos que y e en do francês em 
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enunciados do tipo “j’y suis”, “j’y pense”, “j’en viens”, “j’en veux”. Ex.: “A 
Santa Maria das Leiras / irei, velida, se i ven meu amigo15” — de uma 
cantiga d’amigo; “ca de tal guisa se foi a perder / que non podemos en novas 
aver”16 — de uma cantiga d’escarnho e mal dizer. Estes anafóricos (h)i e 
ende-en encontram-se a cada instante nos textos em galego-português 
medieval. 
 
5 — Morfologia do verbo — O sistema dos modos e tempos já é o do 
português moderno. Contém um mais-que-perfeito simples, diretamente 
herdado do latim; ex.: amara (< amaram < amaueram), empregado no 
sentido de temporal (“tinha amado”) ou modal (“amaria”), e um futuro do 
subjuntivo (amar, fezer). Notaremos em particular os pontos seguintes: 
a) O infinitivo flexionado ou “pessoal” — Trata-se de um infinitivo que 
possui as desinências pessoais (teer, teeres, teer, teermos, teerdes, teeren). 
Este tempo, atesta do já nos textos mais antigos, é um traço específico do 
galego e do português, sendo desconhecido do leonês e do castelhano. Ex.: 
“Guardade-vos de seerdes escatimoso ponteiro”17 — poema satírico de 
Afonso X. 
b) Formas arcaicas da primeira pessoa do singular de alguns verbos — 
Citem-se, por exemplo, senço (hoje sinto), menço (hoje minto), arço (hoje 
ardo), perço (hoje perco), moiro (hoje morro), paresco (hoje pareço), etc. 
c) Na segunda pessoa do plural, as formas etimológicas com -d- são 
todas conservadas; ex.: amades, vendedes, partídes, seeredes (futuro), 
leixedes (subjuntivo), etc. 
d) Nos perfeitos fortes encontram-se lado a lado, na terceira pessoa, 
fizo e fez (de fazer), disso-dixo e disse (de dizer), poso e pôs (de põer), etc. 
e) Os verbos da segunda conjugação (-er) formam geralmente o seu 
particípio passado em -udo; ex.: avudo (aver), creúdo (creer), conhoçudo 
(conhocer), perdudo (perder), sabudo (saber), vençudo (vencer), apareçudo 
(aparecer), etc. 
f) O “tratamento” — As duas únicas maneiras de diri gir-se a um 
interlocutor (tratamento) são o tuteamento familiar (tu) e o voseamento 
deferente (vós). Desconhecem-se ainda as fórmulas de tratamento que levam 
o verbo à terceira pessoa. 
O vocabulário 
1 — Empréstimos do francês e do provençal — A in fluência da língua 
d’oïl e da língua d’oc é muito forte durante o período do galego-português, e 
explica-se por uma série de causas convergentes: presença da dinastia de 
Borgonha, implantação das Ordens de Cluny e de Cister, chegada a Portugal 
de numerosos franceses do Norte e do Sul, influência direta da literatura 
provençal, etc. Daí os numerosos empréstimos vocabulares, de que damos 
alguns exemplos: 
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a) Empréstimos do francês — Dama (< dame), daian (< francês antigo 
deiien, hoje “doyen”), preste (< francês antigo prestre), sage, maison, etc. 
b) Empréstimos do provençal — Assaz (< assatz),

Porque as palavras são hiato?

Porque é uma conjunção subordinativa causal ou explicativa, unindo duas orações que dependem uma da outra para ter sentido completo. Quando usar por que? Por que (separado e sem acento) pode ser usado para introduzir uma pergunta ou para estabelecer uma relação com um termo anterior da oração.

O que é um hiato exemplo?

Encontro de duas vogais em sílabas opostas De acordo com a linguística, é o encontro de duas vogais na palavra, mas na separação silábica elas ficam separadas. De acordo com a reforma ortográfica não se acentua mais o hiato oo(s) no final das palavras. Exemplo: voo(s), perdoo, abençoo.

Como saber se a palavra é um hiato?

Hiato é o encontro de duas vogais numa palavra, cada uma pertencendo a uma sílaba diferente, por exemplo: saúde (sa-ú-de), moeda (mo-e-da), saída (sa-í-da), coelho (co-e-lho).