Como os índios vêem a natureza?

Tradição e respeito à natureza são celebrados na união das tochas indígena e olímpica

Secom/MT

Campo Novo dos Parecis, MT – Com as bênçãos dos espíritos Enore e da união dos elementos da natureza – fogo, terra, água e ar –, fundamentais em todas as culturas e reverenciados com muito respeito pelos povos indígenas, o cacique dos caciques da etnia paresí, João Aizomaré emocionou todos os presentes no ritual da celebração do Fogo Ancestral Indígena quando invocou a proteção à natureza. O ritual celebrou a chegada da Tocha do Pan-Rio 2007 em Campo Novo dos Parecis, cidade escolhida para acolher a cerimônia de homenagem a todos os povos indígenas da América e sagrada para os paresí por aqui ser considerado o local onde surgiram os primeiros habitantes da região. A cerimônia de chegada da tocha olímpica às terras paresí foi acompanhada pelo governador Blairo Maggi, o prefeito Sérgio Stefanelo recepcionados pelo conselho de líderes da etnia à entrada da aldeia Quatro Cachoeiras. Com as bênçãos evocadas pelo sábio João Aizomaré às margens do belo e preservado rio Sacre, que corta a terra indígena Utiriati, índios de nove etnias de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul celebraram o ritual do Fogo Ancestral, elemento fundamental na sobrevivência de todos os povos e sagrado para nações e povos indígenas que tem no fogo a força de vida, de luta, de vigor para buscar a preservação das tradições e da cultura. Preservação e integração Na consideração do governador Blairo Maggi, a relação mantida entre os povos indígenas de Mato Grosso, a sociedade não-índia e governos pode ser demonstrada com celebrações como a ocorrida nesta quarta-feira. “Com a manutenção de tradições seculares que procuram sem respeitadas e mantidas com relações de cordialidade e respeito, é que o povo mato-grossense vem conduzindo a convivência com os povos indígenas, povos que sempre tiveram nosso respeito e amizade. Por isso sempre fiz questão de participar e apreciar os rituais sagrados que demonstram o respeito de todos com a história”, declarou Maggi ao participar da celebração. Acompanhada por autoridades estaduais e municipais, a celebração dos fogos olímpico e indígena uniu na cerimônia o fogo aceso pela milenar tradição de fricção dos gravetos, pelos povos manoki e nhambikwara, a embaixadora da Tocha do Pan em Campo Novo dos Parecis, a atleta Neiva Maria dos Santos e a índia paresí Jaqueline Oloizomaerocê. Juntos, índios e não-índios acenderam a pira indígena marcando a celebração da tradição e da união de culturas. A pira desenhada pelo índio Carlos Terena foi confeccionada em bambu com a representação dos quatro elementos da natureza, que simbolizando Mbira-sil, o guardião das matas e florestas. E pela união das culturas é que o cacique João pediu a continuidade das tradições por meio da preservação das terras indígenas. “Só preservando é que o homem tem espaço para ver a tradição, ver seus filhos continuarem a história de pais e avós. A preservação da terra, da água, do ar é que nos dá isso”, afirmou, emocionado, o líder maior da etnia paresí. Encerrando o ritual, o povo terena apresentou a Dança do Kohixoti Kipaé, ou Dança da Ema, celebração tradicional conduzida somente pelos homens da etnia sul-matogrossense.


Criado em 30/07/15 11h46 e atualizado em 30/07/15 12h02
Por Turminha do MPF

Os povos indígenas têm um vínculo de amor muito forte com a terra. Por isso, escolhemos as belas palavras do chefe indígena Seattle para ensinar às crianças porque é tão importante proteger a natureza. Ele escreveu esta carta ao presidente dos EUA, em 1850, quando o governo norte-americano propôs comprar as terras de seu povo:

"Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da Terra? Essa idéia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?

Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.

Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela Terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da Terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem – todos pertencem à mesma família.

Portanto, quando o Grande Chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós. O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos.

Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós.

Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.

Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicaram a qualquer irmão.

Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção da terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.

Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda.

Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas talvez seja porque sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos. E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.

O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro – o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém. O vento que deu a nosso avô seu primeiro inspirar também recebe seu último suspiro. Se lhe vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.

Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco debe tratar os animais desta terra como seus irmãos.

Sou um selvagem e não compreendo nenhuma outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecer vivos.

O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontecerá com o homem. Há uma ligação em tudo.

Vocês devem ensinar as suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem as suas crianças o que ensinamos às nossas: que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da Terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.

Isto sabemos: a Terra não pertence ao homem; o homem pertence à Terra. Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo. O que ocorrer com a Terra recairá sobre os filhos da Terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo. Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos – e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar que O possuem, como desejam possuir nossa terra; mas não é possível. Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A Terra lhe é preciosa, e feri-la é desprezar seu criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo que todas as outras tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos.

Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente iluminados pela força de Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam domados, os recantos secretos da floresta densa impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onda está á águia? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência."

Creative Commons - CC BY 3.0

Como a natureza é vista pelos indígenas?

Os povos indígenas se veem ligados à natureza e como parte do mesmo sistema que o ambiente em que vivem. Eles adaptaram seus estilos de vida para se adequar e respeitar seus ambientes.

O que é a natureza para os índios?

Os povos indígenas, desde os primórdios, tem uma forte relação com a natureza. Isto porque a consideram sagrada e se sentem parte integrante dela. Também, por ela ser o meio de onde tiram o seu sustento – os alimentos e a água necessários para a sua sobrevivência.

Como os índios vêem a terra?

Quando um índio diz que a própria terra é `sagrada¿, não é força de expressão. Muitos povos indígenas acreditam em deuses e seres mitológicos ligados a elementos da natureza, e o território é o espaço físico onde essas divindades se manifestam. Ou seja: a terra não é apenas o lugar onde os índios moram.

Como os indígenas manejam a floresta?

Restauração de florestas e recursos naturais Comunidades de pastores indígenas, por exemplo, cuidam das pastagens e do cultivo preservando fauna e flora. Nas montanhas, os sistemas de gestão preservam o solo, conservam a água e diminuem o risco de desastres.