Em que condição se encontrava o Brasil em 2015 em relação a produção de alimentos

O ano de 2015 na economia foi dominado por números negativos na grande maioria dos indicadores. Passou a ser comum cada nova divulgação de queda, perda, retração ou expectativa vir acompanhada também da informação de que se tratava do pior resultado em alguma quantidade de anos ou desde alguma data longínqua.

Mas, afinal, quantos anos recuamos em 2015? A resposta não é simples, uma vez que não existe um "recuômetro" ou indicador oficial para esse tipo de análise.

Em termos de Produto Interno Bruto (PIB), a retração da economia brasileira em 2015 (estimada pelo mercado em 3,62%) será o pior resultado em 25 anos, ou seja, desde 1990 – quando houve retração de 4,35%.

Em termos de atividade econômica, porém, os setores foram afetados de maneira distinta, com a indústria sendo a mais impactada em termos de recuo da produção e corte de empregos formais.

Para mostrar o quanto o país recuou em 2015, o G1 reuniu indicadores do nível de atividade nos principais setores da economia. Confira a seguir:

Indústria opera no nível mais baixo em 10 anos
O setor industrial está operando no nível mais baixo desde 2005, segundo levantamento da Tendências Consultoria Integrada, a partir de números do IBGE. Entre janeiro e outubro, o nível de produção da indústria de transformação ficou em 90,27 em número índice – pior patamar desde 2005, quando registrou nível de 89,35. O pico da série iniciada em 2002 foi registrado em 2013, quando chegou a 102,81 pontos.

PRODUÇÃO INDUSTRIAL

Indústria de transformação, em número índice

Fonte: IBGE e Tendências Consultoria Integrada

A produção industrial acumula queda de 7,8% no ano, até outubro (últimos dados divulgados pelo IBGE). Na indústria de transformação (máquinas e bens de consumo), considerada a mais importante pelo efeito multiplicador na economia e por empregar o maior número de mão de obra formal e especializada, a queda no ano é de 9,6%.

Já no segmento de bens de capital, que inclui máquinas e equipamentos e que funciona como uma espécie de termômetro dos investimentos no país, o encolhimento é ainda mais profundo, de 24,5% – o maior da série histórica, iniciada em 2002.

Com a contração de 2015, a indústria encolheu para uma mínima histórica em termos de participação no PIB. No acumulado no ano até o 3º trimestre, a participação da indústria de transformação na composição total do PIB caiu para 11,4%, ante uma fatia de 11,7% em 2014, segundo a Tendências.

Os números do IBGE mostram que a crise na indústria é generalizada. Dos 26 ramos industriais analisados, apenas o das indústrias extrativas (mineração e petróleo) não registrou queda em 2015. Mas a alta de 6,3% na produção veio acompanhada de uma forte queda nos preços internacionais do minério de ferro e do petróleo.

Os setores mais atingidos foram os de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-29,2%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-24,6%), produtos têxteis (-13,7%), máquinas e equipamentos (13,6), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-13,3%), móveis (-13,2%) produtos de metal (-11,2%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-11,0%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (-10,1%).

Vendas do comércio recuam a níveis de 2012
No comércio varejista, as vendas recuaram no ano a níveis de 2012, segundo os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em outubro, foi registrada alta de 0,6%, interrompendo 8 meses seguidos de queda. Mesmo assim, o índice de nível de volume de vendas pemanece em patamares de meados de 2012.

VENDAS DO COMÉRCIO

Acumulado em 2015, até outubro, em %

Fonte: IBGE

Entre os ramos do comércio, o que teve a maior queda foi o de veículos, motos, partes e peças, com recuo de 16,9% no acumulado no ano até outubro. Em número de carros vendidos, por exemplo, o Brasil recuou a níveis de 2007, segundo a associação das concessionárias (Fenabrave).

Na sequência, os setores que mais sentiram foram os de móveis (-15,5%) e eletrodomésticos (-12,3%). Veja gráfico ao lado

No caso de produtos como televisores e microondas, o recuo nas vendas chegou a 32% e 27%, respectivamente, até outubro, na comparação com 2014, segundo dados da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros).

"Foi um ano muito difícil, de queda de margem, de participação, de tudo. 2015 tem que ter sido o fundo do poço", diz Lourival Kiçula, presidente da Eletros.

Segundo a entidade, será o terceiro ano seguido de queda nas vendas dos itens da chamada linha branca (fogões, lavadoras e refrigeradores), que acumulam no ano tombo de 14%. A única exceção de alta no ano na lista de eletrodomésticos mais relevantes, segundo a Eletros, foi o ar condicionado, favorecido pela onda de calor intenso em 2015. Mesmo assim, só cresceram as vendas de ar condicionado do modelo janela (os mais baratos), com alta de 14%. Já as vendas do modelo split caíram 13%.

Mesmo o ramo de supermercados, alimentos e bebidas – o que mais pesa sobre o desempenho do varejo e que historicamente sempre cresceu – passou a cair em 2015, acumulando baixa de 2,1% até setembro, afetado, principalmente, pelo aumento do desemprego e encolhimento da massa salarial.

Segundo dados do Ministério do Trabalho, o comércio fechou mais de 239 mil vagas de trabalho no acumulado até outubro de 2015 e deve registrar a primeira queda anual no estoque de trabalhadores empregados desde 2002.

Setor de serviços recua recua 3 anos
O setor de prestação de serviços, que detém a maior participação no PIB (quase 70%) e concentra o maior número de empregos formais, também não ficou imune à crise. O índice do volume de serviços, segundo o IBGE, recuou a patamares de 3 anos atrás.

VOLUME DE SERVIÇOS

Acumulado no ano até outubro, em %

Fonte: IBGE

Em outubro (último dado divulgado), a queda no setor (-5,8%) foi a maior já registrada na série iniciada em 2012. O volume de serviços, medido pela receita descontada a inflação, recuou ao menor patamar para o mês desde outubro de 2012.

No acumulado no ano, a queda no setor de serviços é de 3,1%, impulsionada principalmente pela redução do poder aquisitivo da população.

O segmento de serviços prestados às famílias (restaurante, hotel, salão de beleza, etc.), por exemplo, recuou 5% até outubro, afetado principalmente pelos cortes de gastos como os de alimentação fora de casa. 

A maior queda foi no ramo de transporte, armazenagem e correio, que registrou recuo de 5,8% no acumulado até o 3º trimestre, refletindo a queda nos investimentos em infraestrutura e logística no país.

O setor de serviços perdeu 76 mil vagas de trabalho em 2015, no acumulado até outubro, o que representa o pior resultado da série histórica do Ministério do Trabalho, iniciada em 2002. Confirmada a tendência, será também a primeira vez em 14 anos em que as demissões irão superar as contratações no setor. Somente em 2014, foram adicionadas 487 mil postos de trabalho no país nessa categoria.

Exportações da agropecuária encolhem a valores de 2011
Em meio a retração da economia brasileira, o setor agropecuário também ficou menor em 2014, afetado principalmente pela queda dos preços de commodities no mundo e do valor arrecadado com as exportações. Somente o café não sofreu redução nos preços em dólar.

VENDAS DO AGRONEGÓCIO

Exportações, em US$ bilhões

Fonte: Ministério da Agricultura e CNA

As exportações do setor cresceram 8,12%, em volume, nos primeiros nove meses do ano, mas a receita foi menor, recuando a níveis de 4 anos atrás.

No acumulado de janeiro a outubro, as exportações do agronegócio brasileiro somaram US$ 74,73 bilhões, o que corresponde a uma queda de 11% na comparação com o mesmo período do ano passado (US$ 83,9 bilhões).

A Confederação da Agricultura e Pecuária o Brasil (CNA) estima que as exportações totais do setor devam atingir a marca de US$ 89 bilhões em 2015 - o que será a menor receita desde 2011.

Em volume, entretando, o país deve fechar o ano em 165 milhões de toneladas, o que corresponderá a um crescimento de 17% e a um novo recorde. Parte desse aumento, entretanto, é decorrente da desvalorização do real frente ao dólar, o que ajuda a tornar o produto brasileiro mais competitivo no mercado externo.

Outro fator que favoreceu as exportações no período foi a maior oferta brasileira de grãos, que cresceu e deverá alcançar novo recorde anual (o 6º consecutivo, segundo o IBGE), somando 210,3 milhões de toneladas – volume 8,1% maior do que a obtida em 2014 (194,6 milhões de toneladas). Os destaques de alta no ano foram: soja (11,7%), milho (7,3%) e arroz (1,2%). Juntos, os três produtos representamram 92,8% da estimativa da produção.

A CNA projeta que o PIB do agronegócio irá cair 0,6% em 2015. Para a entidade, o resultado pode ser considerado positivo, já que o recuo será menor que o da economia do país, o que acabará por elevar a participação do agronegócio no PIB nacional de 21,4% para algo em torno de 23%.