Japão retira rede globo do ar

Uma publicação no Facebook afirma que o Japão deixou de fazer emissões do canal brasileiro Globo, por este ser "um mau exemplo para futuras gerações. A publicação é falsa.

A frase

"Parabéns ao Japão por esta iniciativa que merece a partilha. Espero que outros países cheguem a esta conclusão também."

— Utilizador de Facebook, 18 novembro 2022

Japão retira rede globo do ar

Errado

Uma publicação nas redes sociais afirma que no Japão as emissões do canal brasileiro Globo foram interrompidas, por alegadamente serem vistas como “um mau exemplo para futuras gerações”. É falso.

Japão retira rede globo do ar

“Parabéns ao Japão por esta iniciativa”, diz o utilizador do Facebook que partilha o link de um artigo em que se coloca precisamente a questão tratada nesta verificação de factos: “A Globo foi expulsa do Japão por ser um mau exemplo para as futuras gerações?”, refere o título do artigo partilhado.

Essa notícia tem origem na plataforma brasileira E-farsas, que se dedica a desmentir notícias falsas. A notícia em questão é de 2019, altura em que a plataforma desmentiu o mesmo tipo de afirmações. 

De facto, a Globo deixou de ser transmitida no Japão em março 2019. À data, a rede IPC World, dona do canal japonês que era parceiro da Globo, anunciou que uma mudança no modelo de negócios estaria na origem da decisão de suspender a emissão naquele país. A decisão de terminar a ligação entre as duas empresas acabou por partir da própria Globo.

O boato volta a surgir em 2022, ano das eleições brasileiras que colocaram Jair Bolsonaro e Lula da Silva frente a frente. Mas, durante o seu mandato, o ainda presidente do Brasil fez inúmeros ataques à comunicação social brasileira, incluindo a Globo. As críticas bolsonaristas — que começaram a ser repetidas pelos apoiantes do presidente —  assentam na alegada falta de imparcialidade e na acusação de que vários meios de comunicação social do Brasil se dedicariam a publicar notícias falas visando Bolsonaro.

Conclusão

Uma publicação de Facebook parabeniza o Japão por ter deixado de transmitir o canal brasileiro Globo, por alegadamente ser “um mau exemplo para futuras gerações”. Contudo, a partilha é de uma notícia de uma plataforma de verificação de notícias que desmente a própria afirmação. Alegações falsas como esta apareceram nas redes sociais já em 2019, altura em que o canal deixou de ser transmitido no Japão. Mas não por ser considerado “um mau exemplo”. A decisão teve por base um reposicionamento do canal parceiro da Globo, que mudou o seu modelo de negócio, e a empresa brasileira acabou por optar pelo fim das transmissões.

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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Japão retira rede globo do ar

Um vídeo que circula no TikTok e no Instagram engana ao dizer que a "Rede Globo deixará a Europa". Em menos de um minuto, um homem afirma que a Globo não será mais transmitida em 43 países europeus por estar em crise. De fato, o sinal internacional da emissora será desligado de operadoras de TV paga da maior parte do continente no fim do ano. Mas o vídeo não explica que o canal continuará a ser transmitido na Europa, por streaming, na plataforma Globoplay.

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No dia 22 de novembro, a Rede Globo informou que o canal internacional será desligado das operadoras de TV europeias no dia 31 de dezembro. A emissora fará o desligamento para investir na Globoplay Internacional, que chegou ao continente em outubro. Dos países europeus, apenas as TVs de Portugal continuarão a receber normalmente o sinal da Globo Internacional.

Na conta oficial da emissora no Instagram há três posts que tratam do assunto. O primeiro foi feito há uma semana, em 22 de novembro: "Fique ligado: ? o Canal internacional da Globo será desligado das operadoras de TV na Europa, com exceção de Portugal, em 31 de dezembro de 2021. Os conteúdos Globo ficarão disponíveis apenas no @globoplayinternacional por EUR9,99", diz a legenda. Na cotação desta sexta-feira, 3, o valor da assinatura equivale a R$ 63,44.

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Rede Globo anunciou desligamento pelo Instagram. 

O segundo post sobre o assunto foi feito no dia 26 de novembro. Na imagem, aparece a mensagem: "Fique ligado. A partir do dia 31/12, o canal Internacional da Globo será desativado na Europa e estará disponível exclusivamente para os assinantes do Globoplay!".

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Segundo post, em 26 de novembro. 

O mais recente é desta terça-feira, 1º, e novamente a legenda informa que o canal internacional será desligado na Europa, mas que o assinante Globoplay Internacional terá acesso a "séries exclusivas, novelas, filmes, canais ao vivo e mais".

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Canal Internacional

A história da Globo Internacional começou em agosto de 1999. Dos 77 país onde a emissora tem sinal de TV atualmente, 46 são na Europa. A partir de 1º de janeiro de 2022, contudo, apenas o sinal de Portugal continuará ligado.

Lá, a primeira novela da Globo foi transmitida em 1977 - Gabriela passava no canal RTB (Rádio e Televisão Portuguesa). A partir de 1992, mais novelas passaram a ser transmitidas, até o lançamento do primeiro canal por assinatura da Globo no país, em 2007.

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Em nota, a Globo Internacional informou que o desligamento do canal nos operadores de TV paga na Europa, com exceção de Portugal, "faz parte das mudanças que visam a transformar o modelo operacional da companhia, que terá uma atuação com foco no atendimento direto ao consumidor neste território".

A divisão internacional da emissora afirmou que os pacotes do Globoplay na Europa incluem "a transmissão de sete canais ao vivo, incluindo o canal internacional da Globo, além de mais de 1.000 títulos no catálogo". Também estão disponíveis "conteúdos originais, novelas, séries, documentários e filmes".

Audiência da emissora

No vídeo verificado, o autor afirma que a audiência da Rede Globo vem caindo por culpa da própria emissora e lista notícias publicadas em outros veículos sobre supostas ações do governo Bolsonaro que "certamente não passaram na Globo".

O homem menciona a implantação do Pix, a inflação global, repasses para segurança pública e a capacidade instalada de energia solar no País. Embora nem todos os temas mencionados sejam realmente ações do governo federal, todos os assuntos foram tratados em um ou mais veículos do grupo Globo (1, 2, 3, 4, 5).

De acordo com ranking semanal da Kantar Ibope Media, a audiência da Rede Globo sofreu uma queda considerável no horário nobre na semana entre 8 e 14 de novembro. Nas semanas anteriores, o ranking dos 20 programas com mais audiência na semana tinham entre sete e oito atrações globais, mas o número caiu para quatro na 45ª semana do ano.

Nas semanas seguintes, a audiência teve uma leve alta e, depois, caiu ligeiramente. Mesmo assim, as atrações da emissora ainda são as que têm maior audiência e a pontuação da Globo segue acima das concorrentes.

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Globo e Bolsonaro

Desde o início do mandato, o presidente Jair Bolsonaro (PL) faz ataques constantes ao trabalho da imprensa e a veículos de comunicação, inclusive à Rede Globo. No ano passado, circularam peças de desinformação nas quais se afirmava que Bolsonaro iria tirar a Globo do ar no dia 21 de abril de 2020.

O Estadão Verifica mostrou que o presidente da República não tinha, sozinho, o poder de cassar uma concessão pública de rádio ou de TV - segundo a Constituição Federal, cancelamentos deste tipo dependem de uma decisão judicial. A concessão da Rede Globo vence no dia 5 de outubro de 2022 - foi renovada por 15 anos em 5 de outubro de 2007.


Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.