O solo é um ecossistema complexo e muito rico. É a base de sustentabilidade da vida no planeta. Após os incêndios florestais que devastam muitos hectares de área florestal do país, o solo sofre inevitavelmente alterações. Muda não só a disponibilidade de nutrientes, a estrutura, mas também a diversidade de espécies que dele dependem. Maria Amélia Martins-Loução, presidente da Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO), explicou algumas das alterações que do solo após os incêndios:
Os micro e macro invertebrados são os primeiros a desaparecer porque são queimados ou ficam sem habitat. A diversidade de microflora em termos de número de bactérias e fungos diminui, embora a diversidade funcional possa manter-se elevada permitindo um aumento dos processos de reciclagem de nutrientes e o restabelecimento da estrutura do solo e a disponibilidade de matéria orgânica.
O que podemos fazer para evitar a erosão?Uma das principais consequências dos incêndios florestais está relacionado com a erosão do solo que se encontra desprotegido durante a época de chuvas. Nesse sentido, é essencial que se implementem medidas adequadas para prevenir ou minimizar os efeitos de erosão e perca de solo. Os riscos de erosão depois de um fogo dependem essencialmente de três fatores:
A intensidade das primeiras chuvas de Inverno é determinante nos efeitos erosivos ao nível do solo. Muita precipitação inicial tem efeitos catastróficos. Por outro lado, uma pluviosidade menos intensa favorecerá o estabelecimento de uma primeira vegetação de cobertura que diminuirá o efeito da erosão. A LPN – Liga para a Proteção da Natureza apresenta algumas soluções:Boas Práticas FlorestaisA primeira intervenção é o corte da madeira queimada. No entanto, devem-se ter alguns cuidados:
*No caso de árvores folhosas (carvalho, bétulas, choupo, amieiros, azinheira, sobreiro, etc.), não se deve abater nenhuma árvore. Deve-se primeiro deixar passar a primavera para um diagnóstico mais rigoroso sobre o estado das árvores. *O medronheiro por exemplo regenera facilmente, nesse sentido, deve-se cortar apenas os troncos queimados para proteger a rebentação na primavera. *Relativamente às árvores resinosas, devem ser cortadas apenas as árvores cuja copa se encontre completamente afetada. Criação de barreiras com a vegetaçãoA vegetação queimada que após o corte é deixada no terreno pode ser aproveitada para a criação de barreiras ao escoamento da água. Abertura de valas de retençãoAs valas devem ser recobertas com pedras ou restos de material vegetal queimado de modo a aumentar o atrito, reduzindo assim a velocidade de escoamento da água e, logo, o seu efeito de erosão. A dimensão deve ser relacionada com o grau de pluviosidade prevista para a área. Construção de açudes de retençãoO sistema de valas pode ser desenhado de modo a desaguar em pequenos açudes de retenção. Nestes pequenos charcos a água acumulada terá possibilidade de se infiltrar no solo. A taxa de infiltração de água poderá ser grandemente aumentada com a plantação de espécies adaptadas a zonas húmidas. Nas valas abertas para drenagem podem ser espaçadamente construídas barragens de correção torrencial de construção básica, (ex: toros de suporte e tábuas para barrento do curso de água). O objetivo não é barrar todo o escorrimento da água mas sim, retardar no tempo esse escorrimento evitando caudais tumultuosos e mantendo um fluxo de água mais ou menos regular. Semear com a chegada das primeiras águasEfetuar, se possível, uma sementeira de pasto às primeiras chuvas, espalhando as sementes na zona afetada pelos fogos. O pasto, que rapidamente crescerá, ajudará a consolidar o solo.
Especialistas em recuperação de áreas ardidas, afirmam que mexer nas zonas ardidas pode ser ainda pior que os incêndios. Se o solo fragilizado ficar totalmente nu provocará uma maior erosão dos solos. Francisco Moreira, investigador do Instituto Superior de Agronomia e do CIBIO do Porto, refere que “do ponto de vista ecológico, isto não é uma catástrofe, as plantas estão adaptadas ao fogo e a maioria vai regenerar. O eucalipto irá recuperar e os pinheiros, se estiverem em idade adulta, terão armazenado sementes que depois germinarão. As nativas estão também habituadas ao fogo que sempre fez parte dos ecossistemas mediterrânicos.” O perigo está nas espécies invasoras (ex: acácias (mimosas) e as Hakeas). Estas espécies gostam de fogo, competindo com as espécies nativas. Normalmente as espécies invasoras prevalecem pois são muito difíceis de irradicar. O que é fundamental, é cortar as árvores que estão em perigo de cair, usar os troncos para fazer de mini barreiras nas encostas e evitar a perda de solo e criar mini-habitats. Depois é esperar pela Primavera, afirma o investigador. |