Minayo O Desafio do conhecimento pdf

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Publicado em: 2020-04-09

Minayo O Desafio do conhecimento pdf
DE MARIA CECÍLIA DE SOUZA MINAYO, NA EDITORA HUCITEC
Limites da Exclusão Social: Meninos eMeninas de Rua no Brasil
(organizadora)
Os Muitos Brasis: Saúde e População na Década de 80
(organizadora)
Tratado de Saúde Coletiva
(organizadora, com Gastão Wagner de Sousa Campos,
Marco Akerman, Marcos Drumond Jr. & Yara Maria de Carvalho)
MARIA CECÍLIA DE SOUZA MINAYO
O DESAFIO DO CONHECIMENTO
Pesquisa Qualitativa em Saúde
DÉCIMA QUARTA EDIÇÃO
HUCITEC EDITORA
São Paulo, 2014
80 teoria, epistemologia e métodos: caminhos do pensamento
do estão comprometidas com posturas concretas na prática
teórica e política. Chamo atenção, no entanto, para o fato de
que a lógica do capitalismo contemporâneo, marcado princi-
palmente pelas transformações nas formas e fundamentos da
comunicação e da informação, traz à tona as noções de rede e
de sistemas para explicar a dinâmica da realidade atual. Embo-
ra desenvolvidas inicialmente pela biologia e pela cibernética,
as correntes de "pensamento sistêmico" vêm assumindo, aos
poucos, um lugar também nas ciências sociais e nos estudos
que compõem a área da saúde.
Em 1983, García já advertia que nenhuma das correntes de
pensamento desconhece a vinculação da medicina com a es-
trutura social, no entanto, suas diferenciações se explicitam na
interpretação de como se dá essa vinculação e em que grau de
autonomia ou dependência se situa o fenômeno saúde-doen-
ça como manifestação biológico-social. As diferentes visões
de mundo presentes nas interpretações da realidade refletem
a dificuldade do pensamento de apreender e compreender o
objeto "social" e, em conseqüência, a "saúde" em toda a sua
complexidade e articulações.
Esta parte contém dois capítulos fundamentais. O primei-
ro se compõe da introdução às principais correntes de pensa-
mento sociológicas que têm influência na teoria e na prática
da saúde: o positivismo, o compreensivismo, o marxismo e o
pensamento sistêmico. No segundo, apresento algumas abor-
dagens compreensivas com suas potencialidades de aplicação
para estudos e investigações do setor.
Capítulo 4
CORRENTES DE PENSAMENTO
Positivismo sociológico
Ü POSITIVISMO CONSTITUI a corrente filosófica que man-
tém o domínio intelectual no seio das Ciências Sociais e tam-
bém na relação entre Ciências Sociais, Medicina e Saúde. As
teses básicas do positivismo podem ser assim resumidas: (1)
a realidade se constitui essencialmente naquilo que os senti-
dos podem perceber; (2) as Ciências Sociais e as Ciências Na-
turais compartilham de um mesmo fundamento lógico e me-
todológico: elas se distinguem apenas no objeto de estudo;
(3) existe uma distinção fundamental entre fato e valor: a ciên-
cia se ocupa do fato e deve buscar livrar-se do valor.
A hipótese central do positivismo sociológico é de que a
sociedade humana é regulada por leis naturais que atingem o
funcionamento da vida social, econômica, política e cultural
de seus membros. Portanto, os cientistas sociais quando ana-
lisam determinado grupo ou comunidade têm de descobrir
as leis invariáveis e independentes de seu funcionamento.
Daí decorre que os métodos e técnicas para se conhecer
uma sociedade ou determinado segmento dela devam ser da
mesma natureza que os empregados nas ciências naturais. E
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ainda mais, da mesma forma que as ciências naturais propug-
nam um conhecimento objetivo, neutro, livre de juízo de va-
lor, de implicações político-sociais (o que se pode pôr tam-
bém em questão) também as ciências sociais devem buscar,
para sua cientificidade, este "conhecimento objetivo". Nou-
tras palavras, dentro da filosofia positivista, o cientista social
deve comportar-se ante seu objeto de estudo - a sociedade,
qualquer segmento ou setor dela - livre de juízo de valor,
tentando neutralizar qualquer interveniência que possa lesar
a sua objetividade na explicação dos fenômenos.
A postura positivista advoga uma ciência social desvincu-
lada da posição de classe, de valores morais e de posição polí-
tica dos cientistas. Denomina "pré-juízos", "pré-conceitos",
"pré-noções" ao senso comum sobre os assuntos estudados
e ao conjunto de valores e opções político-ideológicas dopes-
quisador. Na proposta positivista, o cientista sempre deve ul-
trapassar os limites de sua subjetividade (Durkheim, 1978).
A ciência positivista tem raízes na filosofia das luzes no
século XVIII (Lowy, 1986). Para Lowy, o pai do positivismo é
Condorcet, um enciclopedista que formulou de forma clara e
precisa a idéia de que a ciência da sociedade deveria ser uma
Matemática Social baseada em estudos quantitativos rigoro-
sos e probabilísticos. Condorcet considerava que, da mesma
forma que nas ciências físicas e matemáticas, os interesses e as
paixões não deveriam perturbar e nem influenciar os estudos
das ciências sociais. Por isso atribuía as dificuldades no pro-
gresso do conhecimento da realidade ao fato de que o social
era, no seu tempo, objeto de interesses religiosos e políticos.
Daí que a meta dos estudiosos deveria ser conseguir uma ela-
boração "livre de preconceitos" (Condorcet, in: Mora, 1982).
Condorcet poderia ser considerado um crítico avançado para
sua época, tendo em vista que a realidade social era então
interpretada pelos códigos da religião católica e pela autori-
dade do Estado oligárquico. Esse pensador acenava para a
necessidade de romper com esse monopólio autoritário do
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pensamento, livrando as ciências do social dos interesses e
paixões das classes feudais, das doutrinas teológicas, dos ar-
gumentos de autoridade da Igreja e de todos os dogmas fos-
silizados.
Lowy inclui entre os discípulos de Condorcet e defensor
de suas idéias, o socialista utópico Saint-Simon (Lowy, 1986),
para quem a ciência da sociedade consistia numa "fisiologia
social", cuja dinâmica tem dois movimentos históricos: as épo-
cas críticas que conseguem eliminar as fossilizações sociais; e
as épocas orgânicas que se caracterizam pela estabilidade e
reprodução das estruturas. Saint-Simon ressaltava que, em sua
época, havia duas classes parasitas do organismo social: o cle-
ro e a aristocracia. E, portanto, seria preciso que essas fossili-
zações dessem lugar a uma nova forma de organização do
corpo social. Para isso apresentava um projeto novo de socie-
dade, baseado não na igualdade, mas numa pirâmide de clas-
ses, visando a elevar a capacidade produtiva das pessoas a um
grau máximo de desenvolvimento. Segundo Saint-Simon, a
moral e as idéias têm de ser distintas para as distintas classes
fundamentais, a fim de que a sociedade seja livre e dedicada à
produção. Propunha que a igreja fosse substituída pela fábri-
ca (Saint-Simon, in: Mora, 1982).
Tanto a proposta da matemática social de Condorcet, como
as teorias "fisiológicas da sociedade" de Saint-Simon faziam
uma dura crítica social de seu tempo. Nomeavam quais eram
as classes dominantes e opressoras e propunham mudanças
condizentes com a nova sociedade industrial que se agiganta-
va. Até o início do século XIX, o positivismo desenhado por
esses precursores constituiu uma visão social-utópica-crítica
do mundo de seu tempo.1
O mesmo não se poderia dizer das
1
Uso aqui o termo utópico no mesmo sentido de Karl Mannheim em Ideologia
e Utopia (1968). Mannheim distingue os conceitos de ideologia e utopia. A primeira
seria constituída por concepções, idéias, representações e teorias que se orientam para
a estabilização, legitimação e reprodução da ordem vigente. Ideologias seriam o con-
junto das doutrinas e teorias de caráter conservador, isto é, servem para a manuten-
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teorias de Augusto Comte, embora este autor se considerasse
herdeiro dos dois primeiros.
Para Comte, o pensamento teria de ser totalmente positi-
vo. Isto é, dele deveria ser eliminado todo o conteúdo crítico
para que os cientistas descobrissem as leis da sociedade. Seu
"método positivo", propunha que o cientista social se consa-
grasse teórica e praticamente à defesa da ordem e fosse con-
trário ao que considerava "«negativismo» perigoso das dou-
trinas críticas, destrutivas, subversivas e revolucionárias da
Revolução Francesa e do Socialismo" (Comte, 1978, p. 44).
Sua teoria social, inicialmente, foi chamada por ele próprio
como Física Social e assim definida: "A Física Social é uma ciên-
cia que tem por objetivo o estudo dos fenômenos sociais,
considerados no mesmo espírito que os fenômenos astronô-
micos, físicos, químicos e fisiológicos" (1978, p. 13).
Dizia Comte que há uma ordem interna que rege a socie-
dade da mesma forma que essa ordem existe na natureza. Toda
sociedade caminharia para a harmonia, o desenvolvimento e
a prosperidade. Ao cientista social caberia descobrir essa or-
dem e explicitá-la aos leitores para que, com base em sua com-
preensão, a estabilidade social fosse mantida.
Comte considerava importante que os sociólogos expli-
cassem aos proletários a lei que rege a distribuição de rique-
zas, a concentração de poder econômico e o seu lugar na so-
ciedade. Ao fazê-lo estariam cumprindo o papel pedagógico
de ensinar que os lugares que os trabalhadores ocupam são
resultantes da própria natureza da organização social que tem
suas leis invariantes. Segundo esse pensador, graças ao positi-
vismo, os trabalhadores reconheceriam as vantagens da sub-
missão e do fato de que não teriam de se preocupar com o
ção do sistema social de forma geral. Pelo contrário, as Utopias seriam as representa-
ções, idéias e teorias que têm em vista uma realidade ainda inexistente. Trazem no seu
bojo uma dimensão crítica, de negação, ruptura e possibilidade de superação do statu
quo. É nesse sentido que se pode falar dos "elementos utópicos" no positivismo de
Condorcet e Saint-Simon.
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governo da sociedade e, sim, entregá-lo a outras mãos mais
sábias e mais poderosas. Dessa forma, o positivismo como
"ciência livre de juízo de valor e neutra" se propunha a não
amaldiçoar os fatos políticos tais quais se apresentam, mas a
aceitá-los e a legitimá-los. Eis as palavras do autor:
O positivismo tende, poderosamente, pela sua pró-
pria natureza, a considerar a ordem pública pelo desen-
volvimento de uma sábia resignação. Porque não pode
existir uma verdadeira resignação, isto é, uma disposição
permanente a suportar com constância e sem nenhuma
esperança de mudança os males inevitáveis que regem to-
dos os fenômenos naturais, senão através do profundo
sentimento dessas leis inevitáveis. A filosofia positiva, que
cria essa disposição, se aplica a todos os campos, inclusive
aos males políticos (1978, p. 70).
Segundo Comte, os elementos distintivos do espírito po-
sitivista seriam o senso de realidade, a utilidade, a certeza, a
aptidão orgânica e o bom senso prático.
Não há dúvidas de que o positivismo clássico combina
com todo o conservadorismo político e legitimador de situa-
ções vigentes e o fundamenta. Não é ocioso lembrar que o
lema da bandeira nacional republicana brasileira "Ordem e
Progresso" tem sua inspiração na doutrina positivista, em sua
filosofia social e em sua ideologia política.
No campo das ciências sociais propriamente ditas, foi
Durkheim quem primeiro fundamentou teórica e metodolo-
gicamente o positivismo que existia como doutrina, trazen-
do-o para a compreensão da sociedade. Esse autor seminal,
para divulgar a nova ciência a que denominou "sociologia" e
classificou como disciplina científica, criou a mais antiga revis-
ta da área denominada L'Année Sociologique, cujo centenário
se comemorou em 1998 e reuniu em torno de si um grupo
importante e influente de pensadores.
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Reconhecendo-se discípulo de Comte, Durkheim se apli-
cou a pensar a especificidade do objeto da sociologia, relacio-
ná-la com as outras ciências e lançar os fundamentos de um
método para pesquisa social. Para ele, o escopo da sociedade
é estudar fatos que obedecem a leis invariáveis, de forma ob-
jetiva e neutra. Os "pré-juízos" e as "pré-noções" provenien-
tes da ideologia e da visão de mundo do sociólogo teriam de
ser eliminados das investigações por meio das regras do mé-
todo científico: "a sociologia não é nem individualista e nem
socialista", dizia ele (1978, p. 27).
No prefácio da segunda edição de As Regras do Método So-
ciológico, escrito em 1901, Durkheim refuta críticas a sua pro-
posta dizendo que "os fatos sociais devem ser tratados como
coisas" e que quando diz isso significa que "coisa" se opõe a
"idéia" no sentido de que são externas aos indivíduos. Por
isso, ratifica sua concepção da sociedade como um fenôme-
no moral, uma vez que os modos coletivos de pensar, perce-
ber, sentir e agir incluem elementos de coerção e obrigação,
constituindo assim uma consciência coletiva que se expres-
sa na religião, na divisão do trabalho e nas instituições. Mas
esse fenômeno moral, diz ele, precisa ser olhado objetivamen-
te, "como uma coisa", para ser devidamente explicado. Para
isso, Durkheim criou um método para apreensão e explica-
ção da realidade social, cabendo ao cientista: (a) descrever as
características dos fatos: tudo o que se afirma de uma ação
concreta, seus graus de adequação e sentido, sua explicação
compreensiva e causal, deveria ser alvo de verificação; (b) de-
monstrar como os fatos vêm a existir; (c) relacioná-los en-
tre si; (d) encontrar sua organicidade; (e) tentar separar o que
são "representações" e o que são fatos propriamente ditos,
"coisa-real" (1978). Em seu método, Durkheim distingue a
categoria "senso comum", como uma criação cultural dos
membros de uma sociedade para explicar e descrever o mun-
do em que vivem, dos "conceitos científicos", que consti-
tuem elaborações teóricas que permitem descrever, classificar,
correntes de pensamento 87
explicar, organizar e correlacionar os "fatos sociais" de forma
"objetiva".
Respondendo ao espírito de seu tempo, uma época his-
tórica marcada pelo poder político e religioso da Igreja, Durk-
heim insistiu, categoricamente, que as causas dos fatos sociais
devem ser buscadas em outros fatos sociais e não na teologia
ou nos indivíduos. Portanto, os sociólogos deveriam descre-
vê-los, classificá-los com precisão e de forma independente,
até mesmo, de suas próprias idéias sobre a realidade. Esse fun-
dador da sociologia ensinava que, certamente, um cientista
social tem suas preferências políticas, simpatiza com os ope-
rários ou com os patrões, é liberal ou é socialista, mas, no
exercício de sua ciência, precisa fazer calar suas paixões. Só
nesse silêncio deve iniciar seu estudo (1978). Essa extemali-
dade do observador quanto ao que deve ser observado no
social é a essência de seu método.
Diante das críticas que recebeu, Durkheim sempre reafir-
mou seus princípios teóricos: a existência da coação social que
se reafirma nas instituições e em seu funcionamento; a idéia
do fato social que depende de interações individuais, mas re-
sultam em crenças e modos de comportamento da coletivida-
de; na tese de que a realidade é socialmente construída e que
existe uma realidade objetiva dos fatos sociais que é diferente
dos fenômenos que dizem respeito ao indivíduo em suas emo-
ções e fisiologia. Esses deveriam ser estudados pela psicologia
e pela biologia, respectivamente.
Uma das principais influências do positivismo nas ciên-
cias sociais é a prática da pesquisa empírica. Metodologica-
mente, até hoje, sob a ótica positivista, isso significa a desco-
berta das características de regularidades e invariâncias nos fatos
sociais, entendidos por Durkheim como "toda maneira de
fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo
uma coação exterior" ou ainda "o que é geral no conjunto de
uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existên-
cia própria, independente das manifestações individuais"
88 correntes de pensamento
(1978, p. 92). Para descobrir as regularidades, Durkheim e os
positivistas em geral invocam a imagem do organismo hu-
mano, enfatizando os termos estrutura e função, morfologia e
fisiologia, numa clara apropriação dos termos do organis-
mo biológico como referência da sociedade e de sua dinâmica
interna.
Embora o positivismo sociológico domine nas Ciências
Sociais, ainda hoje é alvo de muitas críticas. A mais forte res-
trição a essa corrente vem da constatação de que os seres
humanos não são simples forma, tamanho e movimentos:
possuem uma vida interior que escapa à observação primá-
ria e que, em si, constitui uma realidade passível de análi-
se. Daí derivam várias controvérsias. A primeira diz respeito à
questão da "neutralidade" e da "objetividade" que, segundo
Durkheim, poderiam ser mantidas, uma vez que ao cientista
social caberia observar manifestações comportamentais ex-
teriores a ele próprio. Ora, esse argumento não leva em conta
o fato de que tudo o que é feito pelos humanos (portanto,
por qualquer cientista) passa por sua subjetividade, sendo to-
talmente impossível se falar em "objetividade" em seu senti-
do pleno.
. . A história do positivismo revela que a concepção de obje-
tividade e de neutralidade se confunde com a execução de
estudos de cunho quantitativo. Hoje há um desenvolvimen-
to extremamente rápido de métodos de pesquisa de base es-
tatística, reproduzindo não só um método científico mas, com
certeza, uma doutrina que tem, em sua base, idéias bem esta-
belecidas e conservadoras. Muitas pesquisas (não todas) exi-
mem-se até de análise contextual, temendo contaminar a pu-
reza dos "dados"2
e exalar algum juízo de valor.
2
Na conc.epç~o dest~ u:abalho, não se aceita a idéia de que um dado seja "puro"
e se.m contamma:ao subjetiva, pois quem escolhe a pergunta por meio da qual se
obtem u~ dado e um ser humano marcado por sua história e por seus interesses. E
mats~ a ngor•.não existe nada "dado" em pesquisa: tudo é construído e construído por
alguem que e SUJeito, tem mteresses e ideologia.
correntes de pensamento 89
A força do positivismo associa-se a sua funcionalidade para
o poder, sobrevalorizando-se a tendência de usar instrumen-
tos de análise como se eles falassem por si mesmos, na ilusão
de que nada há além deles. A inspiração desse comportamen-
to vem de Durkheim, no Prefácio à primeira edição das Regras
do Método Sociológico:
Não podemos cair na tentação de ultrapassar os fatos,
quer para explicá-los, quer para explicar o seu curso. [...]
Se eles são inteiramente inteligíveis, então bastam tanto à
ciência, porque, neste caso, não há motivo para procurar
fora deles próprios a sua razão de ser; e a prática, porque
o seu valor útil é uma das suas razões (1978, p. 74).
Hoje existe um consenso entre os que adotam os princí-
pios positivistas de que os dados são objetivos (passíveis de
erros calculáveis), quando produzidos por instrumentos pa-
dronizados, visando a eliminar fontes de propensão de to-
dos os tipos e apresentar uma semântica observacional neu-
tra. A linguagem das variáveis representaria a possibilidade de
expressar generalizações com objetividade e precisão.
As questões aqui levantadas ultrapassam os limites do
debate sobre técnicas de pesquisa. Não pretendo demonizar
ou negar o papel, a importância e o sentido das tecnologias
quantitativas. O problema apresentado pela crítica teórica é a
produção de uma verdadeira reificação do método que pre-
cisa ser criticada pelo menos em dois pontos: o primeiro é
epistemológico e diz respeito à pretensão de os dados obser-
váveis explicar a realidade, restringindo-a ao quantificável. O
segundo é de ordem moral. Sobre os dois aspectos vale a pe-
na rememorar os sábios pensamentos de Wright Mills (1952)
que, desde os anos 1950, questiona a sociologia positivista
americana.
Segundo esse autor, o papel do cientista social deveria ser
o de tornar evidente, para seus contemporâneos, a dinâmica
90 correntes de pensamento
da sociedade em que vive e o sentido de sua participação es-
pecífica. A utilidade das ciências sociais seria dada pela sua
capacidade de transformar os grandes problemas vividos pelo
povo em questões públicas, em favor de mudanças sociais,
tomando os cidadãos capazes de saírem de seus li...

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Comentários para: MINAYO. O Desafio do Conhecimento - Pesquisa Qualitativa em Saúde

O que é metodologia de acordo com Minayo?

Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Neste sentido, a metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e está sempre referida a elas.

O que é análise de conteúdo Segundo Minayo?

O objetivo da análise de conteúdo é “[...] ultrapassar o nível do senso comum e do subjetivismo na interpretação e alcançar uma vigilância crítica frente à comunicação de documentos, textos literários, biografias, entrevistas ou observação.” (MINAYO; 2002; p. 203; grifo nosso).

O que é pesquisa qualitativa em saúde?

Na comunicação científica, e aqui nos referimos ao campo da pesquisa qualitativa em saúde, é comum adotar a metodologia como forma de organização dos estudos - metodologia compreendida tanto como forma de levantamento quanto análise da informação, uma dimensão técnica.