O que aconteceu com o desmatamento na Amazônia entre os anos de 2010?

18 novembro 2021

O que aconteceu com o desmatamento na Amazônia entre os anos de 2010?

Crédito, Reuters

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Foto de setembro mostra área desmatada em Rondônia

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), órgão do governo federal, anunciou nesta quinta-feira (18/11) que a taxa de desmatamento na Amazônia Legal Brasileira teve um aumento de 21,97% em um ano.

O valor de corte raso foi estimado em 13.235 km² no período entre 1° de agosto de 2020 e 31 de julho de 2021. Esse é o maior número desde o ano de 2006 segundo as medições dos satélites do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes).

A maior variação percentual entre os 9 estados da Amazônia Legal foi no Amapá, com 62,5%, que passou de 24 km² desmatados para 39 km². Mas, proporcionalmente, o aumento mais expressivo foi no Amazonas: variação de 55,22%, com área total derrubada de 2.347 km² em um ano. O levantamento é preliminar e será confirmado no primeiro semestre de 2022.

Na COP26, a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, o Brasil assinou um acordo sobre florestas que prevê zerar o desmatamento até 2030.

Suely Araujo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima e ex-presidente do Ibama, observa que "o Amazonas passou Mato Grosso, que tradicionalmente fica à frente.

Há alguns anos tem se intensificado o desmatamento no sul do Amazonas. É uma espécie de área sem lei, sem dono, sem governo. O número do estado chama a atenção porque quase tudo está concentrado nessa região sul".

Araujo também destaca o índice alto no Pará (5.257 km²), Estado que permanece em primeiro lugar na lista e é responsável por quase 40% do desmatamento na Amazônia Legal, além de índices expressivos em Roraima (386 km²), onde ela cita problemas com a indústria madeireira local.

Compromissos do Brasil na COP26

Na cúpula realizada em Glasgow no começo deste mês, perguntado pela BBC News Brasil se o governo reconhece erros na política ambiental, o ministro Joaquim Leite se limitou a responder que o "desmatamento é um desafio" e que "todos os países têm desafios" na área do meio ambiente.

Leite também não respondeu se o governo vai retirar apoio a uma série de projetos de lei no Congresso que prejudicam compromissos de redução do desmatamento assumidos pelo Brasil na COP26.

Uma das propostas é o PL 191/20, de autoria do governo Bolsonaro, que autoriza mineração em terras indígenas; uma outra é o PL 510/21, que regulariza invasões ilegais de terras ocorridas até 2011; e o PL 490/2007, do chamado "Marco Temporal", só permite demarcação de terras ocupadas por povos indígenas até 1988.

Crédito, REUTERS/Adriano Machado

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Perguntado sobre gestão ambiental do governo, ministro Joaquim Leite respondeu que 'todos os países têm desafios' nesta área

"O governo vai atuar para incentivar uma nova economia verde. Mineração, quando bem feita, pode proteger florestas. Você pega vários exemplos de mineração sustentável em que não existe desmatamento ilegal. Tem projetos de mineração que protegem floresta", disse o ministro do Meio Ambiente.

A associação de produtos do agronegócio brasileiro ao desmatamento já estaria prejudicando negócios no exterior. O Itamaraty atua para convencer o governo de que uma guinada na visão ambiental seria necessária para viabilizar parcerias econômicas internacionais, como o acordo de comércio entre Mercosul e União Europeia.

Área disponível para desmatamento

Segundo um estudo da organização WWF (World Wide Fund for Nature), 70 milhões de hectares estão "disponíveis" hoje no Brasil para desmatamento de forma legal.

Se essas áreas forem destruídas, haverá o lançamento adicional de 5,8 bilhões de toneladas de CO2, o que colocaria em xeque a meta assumida pelo Brasil na cúpula do clima de reduzir em 50% suas emissões de gases do efeito estufa até 2030, na comparação com 2005.

A pesquisa mostra ainda que 3,25 milhões de hectares de florestas, que armazenam 152,8 milhões de toneladas de CO2, estão atualmente sob forte pressão de serem exploradas para agropecuária, por estarem próximas a estruturas de transporte e armazenamento de grãos.

Esses territórios, diz a WWF, muito possivelmente serão desmatados até 2025, se não houver um compromisso de zerar a destruição de florestas.

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O que aconteceu com o desmatamento na Amazônia entre os anos de 2010?

Estudo mapeou principais causas de desmatamento na floresta amazônica

Um estudo inédito realizado em nove países sul-americanos revela que, entre 2000 e 2010, a Amazônia perdeu 240 mil quilômetros quadrados de floresta, 3% de sua área total, o equivalente ao território da Grã-Bretanha.

Coordenado pela Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg), que congrega 11 ONGs e institutos de pesquisa regionais, o atlas "Amazônia Sob Pressão" mediu, com base em imagens de satélite, o desmatamento entre 2000 e 2010 em todos os países que abrigam a floresta, além de mapear as principais ameaças ao ambiente e à população local.

"É importante manter em evidência uma visão geral sobre o que está acontecendo na Amazônia", disse à BBC Brasil Beto Ricardo, coordenador-geral do estudo e membro do ISA (Instituto Socioambiental), uma das principais organizações ambientalistas do Brasil.

Ele explica que, embora haja muitos estudos sobre o desmatamento na Amazônia brasileira, ainda não haviam sido feitas avaliações que incorporassem as porções andina e guianense da floresta.

Para o Brasil, acrescenta Ricardo, trata-se de um estudo especialmente importante porque boa parte das cabeceiras dos grandes rios amazônicos que cortam o país está em nações vizinhas, sobretudo as andinas, como Colômbia e Peru.

"O que acontece lá nas nascentes afeta todo mundo aqui rio abaixo", afirmou.

Segundo o levantamento, entre 2000 e 2010, 80,4% do desmatamento da Amazônia ocorreu no Brasil, país que abriga 58,1% da floresta.

Dono da segunda maior porção de cobertura florestal, com 13,1%, o Peru foi responsável por 6,2% do desmatamento no período, seguido pela Colômbia, que possui 8% da floresta e desmatou 5%.

A pesquisa mostra, porém, que o ritmo de desflorestamento no Brasil e na maioria dos países sul-americanos tem se reduzido desde 2005.

Na última semana, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, anunciou a menor taxa anual de destruição da Amazônia no Brasil desde 1988.

Na ocasião, ela afirmou que o país também deverá cumprir a meta de baixar o desmatamento ao limite de 3.925 quilômetros quadrados de floresta ao ano em 2020.

Para Ricardo, mesmo que se atinja tal objetivo, esses níveis de desmatamento "resultarão na morte lenta da Amazônia".

O estudo revela ainda que, apesar de ter caído em termos gerais, a taxa de desmatamento tem se mantido estável no Peru e aumentado na Colômbia e na Guiana Francesa.

Estradas transnacionais

O que aconteceu com o desmatamento na Amazônia entre os anos de 2010?

Hidréletricas, como a de Belo Monte, aceleram o desmatamento da Amazônia

Embora aponte para uma redução nos índices de desmatamento, a pesquisa mostra que, se todos os projetos de exploração econômica na região saírem do papel, a Amazônia poderá perder até a metade de sua cobertura florestal.

O estudo considera como principais pressões sofridas pela floresta as estradas, a exploração de petróleo e gás, a mineração, hidrelétricas, focos de calor e o desmatamento.

De acordo com o estudo, a presença de estradas na Amazônia está associada à exploração ilegal de madeira, ao avanço de atividades agropastoris e a grandes projetos de infraestrutura e urbanização.

A Raisg diz que a pressão exercida por estradas na Amazônia aumenta à medida que avança a IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana), empreendimento conjunto de governos da região.

Parte das iniciativas busca ligar áreas habitadas da Amazônia brasileira a portos no Pacífico, facilitando o escoamento de produtos.

A expansão da pecuária e da produção agrícola, informa a Raisg, também está entre as maiores ameaças à floresta e a seus habitantes.

No caso da Amazônia brasileira, 93% das terras exploradas pela agropecuária são ocupadas por fazendas de gado com pastagens onde se cria, em média, 0,9 boi por hectare, quando técnicas intensivas permitem elevar tal proporção a até dez bois por hectare.

Petróleo e mineração

Outras atividades que ameaçam a floresta, segundo o estudo, são a exploração de petróleo e gás e a mineração.

Segundo a Raisg, entre os principais impactos ligados à extração de petróleo estão a poluição da água e do ar, a contaminação do solo e a destruição de ecossistemas naturais.

A organização avalia que há 327 lotes com potencial de exploração de petróleo e gás em toda a floresta, que ocupam 15% de sua área.

Cerca de 80% dos lotes se encontram na Amazônia Andina, onde vive metade dos 385 povos indígenas da região.

No Brasil, os lotes ocupam 3% da porção nacional da floresta.

O estudo aponta que, no Acre, estão em curso estudos para a exploração de petróleo ou gás em áreas próximas a nove territórios indígenas e seis unidades de conservação.

Já uma porção ainda maior da Amazônia – 21% – é considerada área de interesse para a mineração.

O que aconteceu com o desmatamento na Amazônia entre os anos de 2010?

Extração de madeira ilegal é outro vilão do deflorestamento

Em metade desse território, exploradores aguardam licença para operar, enquanto em 30,8% das terras já existem trabalhos em curso.

A Raisg afirma ainda que, no Brasil, dois fatores podem "incentivar" a mineração na Amazônia: a eventual aprovação de um projeto de lei que autorizaria a exploração em terras indígenas e a construção de hidrelétricas em rios da região.

As hidrelétricas, aliás, são apontadas pelo estudo como outra grande ameaça à região. Segundo a entidade, há em toda a Amazônia 171 hidrelétricas em operação ou construção e 246 planejadas ou em estudo.

Panorama

Segundo a Raisg, a Amazônia é habitada por cerca de 33 milhões de pessoas, espalhadas por 1.497 municípios. As maiores porções da floresta se encontram no Brasil (58,1%), Peru (13,1%) e Colômbia (8%), seguidos por Venezuela (6,9%), Bolívia (5,7%), Guiana (2,6%), Suriname (2,4%), Equador (1,7%) e Guiana Francesa (1,5%).

A pesquisa estima que, hoje, 45% da Amazônia é ocupada por terras indígenas (TI) ou áreas nacionais de proteção (ANP). Nesses locais, a Raisg diz que os níveis de desmatamento e outros impactos ambientais são expressivamente menores.

"Os resultados apresentados sustentam o importante papel que as ANP e TI vêm cumprindo como desaceleradores ou contentores dos processos de perda de floresta em cada país e na Amazônia em conjunto".

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O que aconteceu com o desmatamento na Amazônia entre os anos de 2010 a 2012?

A perda foi acelerada entre 1990 e 2000, com média de 18,6 mil quilômetros quadrados desmatados por ano, e entre 2000 e 2010, com 19,1 mil quilômetros perdidos anualmente e 6 mil km quadrados entre 2012 e 2017.

O que aconteceu com o desmatamento na Amazônia entre os anos de?

O desmatamento na Amazônia em 2021 foi o pior em 10 anos, de acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Os dados apontam que mais de 10 mil quilômetros de mata nativa foram destruídos no ano passado — um crescimento de 29% em relação a 2020.
Entre 2009 e 2011, cerca de 70% do desmatamento observado no período se concentrou nos estados do Pará e Mato Grosso. O primeiro tem se situado como o estado de maior desmatamento desde 2005, posto ocupado até então pelo estado do Mato Grosso.

O que aconteceu com o desmatamento na Amazônia entre os anos de 2009 e 2019?

A maior taxa na série histórica foi registrada em 2004, quando 27 mil km² de área desmatada foram registradas pelo sistema. No entanto, de 2009 a 2014, a taxa de desmatamento caiu de 7,4 mil km² para 5 mil km², seu nível mais baixo. Desde 2015 a área desmatada aumentou, chegando a 10.129km² em 2019 e 10.851km² em 2020.