Introdução Show Aproximadamente um terço da produção mundial de alimentos se perde antes de chegar à mesa do consumidor. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a diminuição da diferença entre a procura e a oferta de alimentos passa, necessariamente, pela redução de suas perdas. Além disso, o processo de globalização tem favorecido a propagação de doenças transmitidas por alimentos. Por conseguinte, tratamentos capazes de estender a vida útil e garantir a segurança de produtos alimentícios poderiam se constituir em valiosos auxiliares para minimizar tais problemas. As autoridades de vigilância sanitária e de segurança alimentar de 37 países já aprovaram a irradiação de 40 tipos distintos de alimentos, os quais englobam especiarias, grãos, carnes, frutos e legumes, sendo que vinte e quatro desses países utilizam-na para fins comerciais. Na preservação de alimentos, a irradiação tem se mostrado como uma ferramenta eficaz para aumentar significativamente a vida útil dos alimentos, reduzir perdas, garantir a segurança alimentar e aumentar a oferta do alimento ao consumidor. A irradiação elimina (ou inativa) larvas de insetos, parasitas, fungos e bactérias presentes nos alimentos, os quais poderiam transmitir doenças. Além disso, ela permite inibir ou retardar alguns processos fisiológicos, como o brotamento e o amadurecimento. Tendo em vista que a deterioração precoce dos alimentos se deve à ação dos insetos, micro-organismos e enzimas de degradação neles presentes, o tratamento é capaz de aumentar significativamente a vida útil dos produtos. Por conseguinte, o consumidor põe na sua mesa um alimento melhor conservado e higienicamente mais seguro. Além disso, a irradiação já é reconhecida como um tratamento quarentenário, o qual pode substituir o banho térmico das frutas, por exemplo, ajudando a vencer barreiras fito ou zoo-sanitárias, aumentando a competitividade e viabilizando a exportação de novos produtos. Por sua eficácia e segurança, o processo também é recomendado sem restrições pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e pela FAO (Organização para Alimentos e Agricultura das Nações Unidas). A atual legislação brasileira autoriza o uso do tratamento para qualquer alimento, de acordo com as normas de boas práticas aplicáveis, não estabelecendo limites quantitativos, "desde que a dose mínima absorvida (quantidade de energia absorvida por unidade de massa) seja suficiente para alcançar a finalidade pretendida; e a máxima seja inferior àquela que comprometeria as propriedades funcionais e/ou os atributos sensoriais do alimento". Ao tomar conhecimento do processo, a maior preocupação do consumidor é saber se os alimentos podem se tornar radioativos quando são irradiados. Isso seguramente não ocorre, da mesma forma que as pessoas que se submetem a exames de raios X não ficam radioativas. Dependendo da dose aplicada, os alimentos podem ser tratados para redução da microbiota, eliminação de patógenos ou mesmo esterilização completa, conforme ilustra adiante a tabela de classificação da dose de irradiação. As doses de irradiação são geralmente expressas em kGy que é “quilo Gray”. São vários os tratamentos proporcionados pela irradiação. O uso de baixas doses (até 1 kGy) permite eliminar insetos, ovos e larvas (desinfestação), podendo prolongar em anos a vida útil de grãos e farináceos na condição em que são irradiados (se processados nas embalagens plásticas utilizadas no varejo). Essa aplicação é também uma eficaz alternativa ao perigoso uso da fumigação com brometo de metila. Além disso, mesmo doses da ordem de 0,1 kGy são capazes de inibir a ação de enzimas responsáveis por alguns processos fisiológicos, permitindo estender em vários meses o tempo de conservação de bulbos e tubérculos por inibição do brotamento; e de frutas (em algumas semanas), por retardo do amadurecimento (banana, mamão, manga, goiaba, melão etc). Doses intermediárias (entre 1 e 10 kGy) promovem a melhoria da qualidade higiênica e a extensão da vida útil (tipicamente, em algumas semanas) de vários produtos (ex.: morango e carnes), seja por redução da carga microbiana; inativação de fungos (ex: amendoim) ou eliminação completa de bactérias patogênicas em alimentos vulneráveis à contaminação por Salmonella spp.; E. coli OH:157; Staphylococcus aureus e Listeria monocytogenes, dentre várias outras bactérias perigosas. Exemplos de alimentos tratados com doses entre 2 e 7 kGy são: carnes bovina e suína, frangos, frutos do mar e crustáceos. Tais doses permitem descontaminar os produtos sujeitos ao ataque de vários tipos de agentes patogênicos (inclusive o vibrião da cólera); melhora a qualidade sanitária, reduzindo a microbiota deteriorante e viabiliza a armazenagem de peixes, sem escamar nem estripar, por mais de 30 dias sob refrigeração, sem a necessidade do uso do congelamento. Algumas bebidas também podem ser envelhecidas com o uso de doses intermediárias de irradiação. Alimentos crus, prontos para o consumo e minimamente processados constituem ótimos exemplos de candidatos ao tratamento por irradiação, visando à garantia da segurança alimentar. Por fim, doses elevadas (iguais ou superiores a 10 kGy) são usadas na descontaminação de especiarias e condimentos, como por exemplo, a pimenta do reino, na esterilização de rações especiais para militares e pacientes imuno-deprimidos, ou no tratamento de rações animais. Esporos das bactérias Clostridiumbotulinum e Bacillus cereus podem ser completamente inativados pela aplicação de doses (12D10) iguais a 31 kGy e 46 kGy, respectivamente. Os astronautas da NASA, por exemplo, consomem refeições esterilizadas por radiação gama, as quais, mantidas em embalagens apropriadas, continuam frescas, saborosas e apropriadas para o consumo por um período de até cinco anos à temperatura ambiente. Tabela 1. Efeitos da radiação gama em alimentos tratados no CTEx (RJ).
Fonte: URBAN, W. M. Food irradiation. Academic Press, INC. 1986. 351 p. Comparada com outros tratamentos, a irradiação de alimentos ainda é pouco conhecida e divulgada. Inúmeras pesquisas têm demonstrado que a primeira reação do consumidor em relação ao processo é de ceticismo, principalmente devido à desinformação e aos preconceitos oriundos da associação indevida à tecnologia nuclear. No entanto, depois de ser devidamente esclarecido com relação às vantagens do processo e de poder comprová-las na prática, sua reação passa a ser favorável a ela. A propaganda de produtos irradiados deve ser feita de forma bastante meticulosa e criteriosa. É necessário informar ao consumidor que o alimento tratado por irradiação não fica radioativo e que, em relação ao seu similar não irradiado, ele apresenta uma melhor qualidade sanitária e que por isso seu consumo é mais seguro. Além disso, em geral, pode ser ressaltado que o alimento continuará saboroso, nutritivo e apropriado para o consumo por um período significativamente mais longo. A Figura 1 ilustra os efeitos da radiação gama em alimentos tratados no Centro Tecnológico do Exército (RJ) com um irradiador com fonte de césio-137, cuja atividade e taxa de dose atuais são respectivamente: 46 kCi (quilo Curie) e 1,8 kGy/h. Ela mostra a inibição do brotamento de batatas; o retardo de amadurecimento de mangas e a eliminação de fungos em tomates e laranjas.
Uma importante aliada, em potencial, no combate contra o desperdício e a fome, a irradiação constitui um atraente processo alternativo, seguro e eficiente, embora ainda muito subutilizado no Brasil. O tratamento é capaz de prolongar a vida útil e melhorar a qualidade de vários alimentos e apresenta-se como uma boa opção para, aliado à adoção mais efetiva das boas práticas de manuseio, ajudar na redução de perdas pós-colheita e aumentar a qualidade higiênica e a competitividade de nossos produtos agropecuários no mercado internacional. Sendo um tema muito interessante e fértil, ainda muito aberto à pesquisa, o processo de irradiação ainda demanda muitas investigações científicas para determinação da viabilidade e das condições ideais de irradiação de vários produtos típicos da dieta brasileira, além do aperfeiçoamento dos métodos de identificação de alimentos irradiados. Faz-se também necessária uma maior divulgação de sua tecnologia, seja por meio de testes de mercado, ou por esclarecimento direto aos consumidores, para que a irradiação seja mais amplamente aceita e utilizada. O que diferencia a irradiação?A diferença entre radiação e irradiação é bem simples: radiação é transmissão de energia através do espaço, já irradiação é exposição à radiação. A radiação é, na verdade, a propagação ou condução do calor a uma certa velocidade.
Como é o processo de irradiação?A irradiação é o processo de transferência de calor através de ondas eletromagnéticas, chamadas ondas de calor ou calor radiante. Enquanto a condução e a convecção ocorrem somente em meios materiais, a irradiação ocorre também no vácuo.
O que diferencia a irradiação dos processos de convecção é?A irradiação é a propagação de ondas eletromagnéticas que não precisam de meio para se propagar, enquanto que a condução e a convecção são processos de transferência que necessitam de um meio material para se propagar.
O que é irradiação é um exemplo?A irradiação térmica é uma das formas de propagação do calor. Ela acontece por meio das ondas eletromagnéticas. Principalmente pela radiação infravermelha. Além disso, é por meio dela que o Sol aquece nosso planeta.
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