O que é artigo de opinião e qual sua estrutura?

O artigo de opinião é um texto do domínio jornalístico, que apresenta a posição do autor sobre um tema de relevância política, social ou cultural. Para isso, utiliza a estrutura dissertativo-argumentativa. Nele, apresenta-se uma tese, que vai ser confirmada ou refutada (negada) por argumentos. Na conclusão, o autor faz uma retomada do assunto e apresenta mais fortemente seu posicionamento.

O artigo é um texto assinado. Isso quer dizer que o autor dá sua opinião, assume as consequências das informações apresentadas e, por isso, pode escrever em primeira pessoa. Além disso, para atrair o leitor e facilitar sua localização no jornal ou na revista (impressos ou on-line), sempre apresenta um título atrativo.

Características do artigo de opinião

  • texto do domínio jornalístico
  • estrutura dissertativo-argumentativa
  • escrito em primeira ou em terceira pessoa
  • desenvolve um tema importante para a sociedade
  • traz a opinião do autor
  • apresenta título que atrai a atenção do leitor

A língua sem erros

Marcos Bagno*

Nossa tradição escolar sempre desprezou a língua viva, falada no dia a dia, como se fosse toda errada, uma forma corrompida de falar “a língua de Camões”. Havia (e há) a crença forte de que é missão da escola “consertar” a língua dos alunos, principalmente dos que vêm de grupos sociais desprestigiados, como a maioria dos que frequentam a escola pública. Com isso, abriu-se um abismo profundo entre a língua (e a cultura) própria dos alunos e a língua (e a cultura) própria da escola, uma instituição comprometida com os valores e ideologias dominantes. Felizmente, nos últimos 20 e poucos anos, essa postura sofreu muitas críticas e cada vez mais se aceita que é preciso levar em conta o saber prévio dos estudantes, sua língua familiar e sua cultura característica, para, a partir daí, ampliar seu repertório linguístico e cultural.

Por isso, em vez de reprimir e proibir o uso, na escola, da linguagem dos jovens, há muito mais vantagens em dar espaço para ela na sala de aula, promover algum tipo de trabalho que tenha como objeto essa linguagem. Por exemplo, trazer para a sala de aula a produção escrita ou musical desses jovens – grafites, fanzines, raps –, examinar os traços linguísticos mais interessantes, os tipos de construção sintática mais frequentes, a pronúncia, o vocabulário, sem erguer barreiras preconceituosas contra as gírias e expressões consideradas “vulgares”. Sugerir atividades lúdicas como “traduzir” um poema clássico para a linguagem dos guetos, das favelas, das periferias.

É urgente reconhecer que todas as formas de expressão são válidas e constituem a identidade individual e coletiva dos membros de múltiplas comunidades que compõem a nossa sociedade. Que a formação do cidadão também passa pela admissão, no convívio social, de todas as formas de falar e de escrever. Que é preciso levar o estudante a se apoderar de recursos linguísticos mais amplos, para que se possa inserir (se quiser) na cultura letrada, isso não deve passar pela supressão nem pela substituição de outros modos de falar, de amar, de ser.

*Marcos Bagno é escritor, tradutor, linguista e professor da Universidade de Brasília.

Estrutura do artigo de opinião

O artigo é composto de três partes, que normalmente se dividem entre três ou mais parágrafos. A seguir, são apresentados os conceitos de cada uma dessas partes e como isso foi organizado no exemplo acima.

1ª parte - Introdução

Nessa parte, contextualiza-se o leitor. Por isso, é importante a apresentação do tema e do posicionamento do autor, que se dá por meio de uma tese. Geralmente, a introdução é composta de um parágrafo.

No artigo de Marcos Bagno, a contextualização acontece em duas partes: na primeira, ele apresenta a tradição escolar de desprezar a língua viva. Na segunda, mostra que nos últimos anos essa postura tem mudado. A importância dessa mudança é a tese que Bagno defende ao longo do texto.

2ª parte - Desenvolvimento

Nessa parte, o autor apresenta argumentos que justifiquem, comprovem ou neguem a tese apresentada. Normalmente, usam-se dois ou três parágrafos no desenvolvimento, um para cada argumento que se pretende defender.

O texto de Marcos Bagno é curto e o desenvolvimento acontece em um único parágrafo. Nele, o autor lista a importância de levar a linguagem dos jovens para a sala de aula e explorá-la, promovendo uma relação mais eficiente entre a norma-padrão e a língua usada em situações reais de comunicação.

3ª parte - Conclusão

Nessa parte, o autor faz uma retomada das ideias trabalhadas e apresenta um comentário mais pessoal, ou uma proposta de solução para o assunto. Geralmente, também é composta de um parágrafo. Na conclusão é comum fazer referência ao título do texto, retomando-o ou explicando-o.

Bagno reforça seu ponto de vista e o apresenta como uma urgência para o sistema educacional. Na primeira frase também retoma o título “A língua sem erros”, já que considera válidas todas as formas de expressão linguística. Em seguida, aponta motivos que justificam essa urgência, retomando os elementos que foram defendidos ao longo do texto.

Como construir um artigo de opinião

Escrever um artigo de opinião pode parecer difícil. No entanto, é importante entender que escrever é, antes de tudo, uma questão de prática: quanto mais uma pessoa escreve, mais fluido se torna esse processo. A organização também é um elemento capaz de ajudar a desenvolver o texto. Uma estratégia adotada por diversos autores é ter à mão sempre um lugar em que possa fazer anotações (pode ser o bloco de textos do celular), para escrever as ideias que surgirem. Além disso, é importante conhecer o tema sobre o qual se escreve, por isso deve-se pesquisar sobre ele. O seguinte passo a passo traz ideias que ajudam na elaboração de um artigo:

  • Pesquisar sobre o tema em diversas fontes.
  • Fazer anotações, procurando também assinalar avaliações e opiniões sobre o tema.
  • Organizar as ideias, colocando próximas aquelas que são semelhantes. Isso facilita a coerência e a coesão.
  • Explicar no texto o raciocínio que levou a uma reflexão. Muitas vezes, problemas de coerência acontecem porque o autor deu um salto no raciocínio, sem explicitá-lo, e o leitor não conseguiu acompanhar.
  • Escrever tendo em vista que a primeira versão não é a melhor. É mais interessante colocar todas as ideias relacionadas ao assunto no primeiro rascunho e depois ir retirando e acertando, até ter o texto definitivo.
  • Reler o texto, se possível alguns dias depois de ter escrito a primeira versão. Isso permitirá a identificação de problemas que não tinham sido vistos antes. Pedir a outra pessoa para ler, apontando elementos fortes e fracos, também pode ser uma boa estratégia.
  • Reescrever quantas vezes forem necessárias. É muito provável que sejam feitas três ou quatro versões antes do texto final.
  • Encontrar um título criativo e que tenha relação com o assunto tratado ao longo do texto. Títulos como “A fome” ou “Problemas brasileiros” são muito genéricos: não trazem informações interessantes sobre o texto nem despertam a curiosidade do leitor.

Como fazer a introdução

A introdução é o primeiro contato do leitor com o tema que será desenvolvido ao longo do texto. Por isso, é importante que o autor o contextualize, escrevendo uma tese, ou seja, apresentando o recorte abordado e o posicionamento que vai adotar na discussão. Normalmente, essa tese é apresentada em um tópico-frasal, estrutura composta de uma ou duas frases que identificam o tema.

O nome de cada um dos tipos de introdução tem relação com o tópico-frasal desenvolvido nela. Entre esses tipos, podem-se destacar:

  • Introdução por declaração inicial
  • Introdução por definição
  • Introdução por alusão histórica
  • Introdução por interrogação

Introdução por declaração inicial: faz uma afirmação para depois fundamentá-la. É o tipo mais comum de introdução.

Exemplo: “Vivemos numa época de ímpetos.”

Introdução por definição: apresenta uma definição ou um conceito. Esse método é comum em textos que têm objetivo didático.

Exemplo: “Estilo é a expressão literária de ideias ou sentimentos.”

Introdução por alusão histórica: cita fatos históricos, lendas ou tradições que tenham relevância para o tema abordado.

Exemplo: "Conta uma tradição cara ao povo americano que o Sino da Liberdade, cujos sons anunciaram, em Filadélfia, o nascimento dos Estados Unidos, inopinadamente se fendeu, estalando, pelo passamento de Marshall."

Introdução por interrogação: faz uma pergunta, que será discutida e à qual se tentará responder durante o desenvolvimento.

Exemplo: "Sabe você o que é manhosando?"

Como fazer o desenvolvimento

Como o próprio nome indica, no desenvolvimento será feita a explanação do tema do texto. Para isso, são utilizados argumentos: frases e ideias que têm por objetivo defender a tese apresentada. Normalmente, escreve-se um argumento por parágrafo e usa-se uma estratégia argumentativa para defendê-lo. Para que o texto seja coeso, é necessário estabelecer relações entre esses parágrafos, por meio da reunião de ideias semelhantes ou do uso de conectivos.

As estratégias argumentativas mais comuns no artigo de opinião são:

  • Desenvolvimento por enumeração
  • Desenvolvimento por confronto
  • Desenvolvimento por analogia ou comparação
  • Desenvolvimento por exemplificação
  • Desenvolvimento por causa e consequência
  • Desenvolvimento por dados estatísticos
  • Desenvolvimento por argumento de autoridade

Desenvolvimento por enumeração: lista – e discute brevemente – os principais pontos para defender um tema. É uma estratégia argumentativa bastante utilizada.

Exemplo: "Até mesmo as pessoas que seguiram carreira técnico-científica não entendem a racionalidade da ciência. Consomem toneladas de pseudomedicamentos sem nenhum efeito positivo para o organismo. Engolem comprimidos de vitaminas que serão eliminadas na urina. Consomem extratos de plantas com substâncias tóxicas e abandonam o tratamento médico."

Neste parágrafo, as atitudes “consomem toneladas de pseudomedicamentos”, “engolem comprimidos de vitaminas” e “consomem extratos de plantas” são listadas para comprovar o argumento de que “até mesmo as pessoas que seguiram carreira técnico-científica não entendem a racionalidade da ciência”.

Desenvolvimento por confronto: apresenta as diferenças existentes entre dois elementos, com o objetivo de defender um deles.

Exemplo: "Numa sociedade em que a ciência expandiu a longevidade do homem, não oferecemos à maioria da população segurança física nem acesso ao que a medicina moderna pode oferecer – nem mesmo a garantia de teto e comida."

Neste parágrafo, confronta-se a dificuldade de garantir direitos básicos aos indivíduos com as descobertas científicas que aumentaram a expectativa de vida do ser humano.

Desenvolvimento por analogia ou comparação: introduz elementos semelhantes, com o objetivo de reforçar uma ideia por meio do realce das semelhanças que há entre eles.

Exemplo: "As mulheres indígenas que morrem por aborto inseguro no México são muito parecidas às mães que choram por seus filhos negros mortos pela violência policial nas favelas do Rio de Janeiro. Elas são também parecidas às mulheres não brancas que a elegeram para a presidência dos Estados Unidos."

Neste parágrafo, assemelham-se os problemas de mulheres indígenas e negras para reforçar o argumento de que as mulheres não brancas se identificam com a vice-presidenta dos Estados Unidos, Kamala Harris.

Desenvolvimento por exemplificação: dá exemplos concretos daquilo que se pretende defender. É uma estratégia muito usada em textos didáticos, por ser de fácil compreensão.

Exemplo: "Muitos experimentos de alto impacto podem ser realizados com materiais simples, em sala de aula ou em casa. Os norte-americanos, por exemplo, transformaram as garagens de suas casas em laboratórios no final do século XIX e início do século XX."

Neste parágrafo, usa-se o exemplo de laboratórios construídos em garagens para defender o argumento de que experimentos podem ser feitos com materiais simples.

Desenvolvimento por causa e consequência: discute detalhadamente as razões e os desdobramentos de um problema. Normalmente, dedica-se um parágrafo à causa e outro à consequência.

Exemplo: "Quando uma menina fica grávida, seu presente e futuro se alteram, pois sua educação pode ser interrompida, suas perspectivas de emprego diminuem e suas vulnerabilidades à pobreza, à exclusão e à dependência se multiplicam."

Neste parágrafo, a gravidez na adolescência é uma causa, que tem como consequência a interrupção da educação. A interrupção da educação, por sua vez, também é uma causa, que tem como consequências a redução das perspectivas de emprego, a pobreza, a exclusão e a dependência.

Desenvolvimento por dados estatísticos: mostra dados percentuais ou informações numéricas para reforçar a ideia que se pretende defender. Para que essa estratégia seja realmente convincente, é importante que os dados sejam analisados e que o autor os relacione às outras ideias desenvolvidas no texto.

Exemplo: "São, ao todo, 27 milhões de eleitores nessa situação no cadastro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Desses, 8 milhões são analfabetos e 19 milhões declararam saber ler e escrever, mas nunca estiveram numa sala de aula. No total, há 135,8 milhões de eleitores no país em 2010."

Neste parágrafo, apresentam-se números que mostram o montante de pessoas analfabetas ou semialfabetizadas em relação ao número total de eleitores no Brasil.

Desenvolvimento por argumento de autoridade: cita a fala de especialistas no assunto para defender um ponto de vista. Assim como o uso de dados estatísticos, só apresentar o argumento não basta: é importante que o autor o analise e o relacione às outras ideias presentes no artigo.

Exemplo: "'A definição proposta se aplica não só para o ambiente doméstico, mas também para os demais cuidadores de crianças e adolescentes – na escola, nos abrigos, nas unidades de internação. O projeto busca uma mudança cultural', diz a subsecretária nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Carmen Oliveira."

Neste parágrafo, a fala da subsecretária nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente reforça o argumento de que a violência física não é adequada para a educação de crianças e adolescentes.

Como fazer a conclusão

A conclusão é o momento de "amarração" do texto. Ou seja, é nela que o autor vai retomar os principais pontos apresentados, manifestando mais claramente sua posição sobre o assunto. Embora existam muitas formas de escrevê-la, uma estratégia pode ajudar: começar o parágrafo apresentando um conectivo que sugira a finalização do texto ("dessa forma", "assim", "em resumo"), depois a retomada da tese e, no trecho final do parágrafo, um comentário.

Os tipos mais comuns de conclusão são:

  • Conclusão proposta
  • Conclusão resumo
  • Conclusão surpresa

Conclusão proposta: aponta soluções para os problemas levantados ao longo do texto. É importante que as soluções estejam relacionadas aos argumentos que foram tratados, pois isso favorece a coerência. É o tipo de conclusão exigido no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

Exemplo: "Como se nota pela dimensão do problema, algumas medidas fazem-se urgentes: é necessário investir em projetos de recuperação dos rios, tal como se fez na Inglaterra com o rio Tamisa; por outro lado, devem-se desenvolver projetos que visem ao reaproveitamento dos esgotos. Ao lado, disso, devem-se fazer maciças campanhas educativas para a população."

Neste trecho, o autor sugere duas medidas: investir em projetos de recuperação dos rios e desenvolver projetos que reaproveitem a água dos esgotos.

Conclusão resumo: retoma os aspectos discutidos ao longo do texto, com o objetivo de reforçar a tese apresentada.

Exemplo: "Dessa maneira, observamos que o problema da poluição nos rios envolve uma série de variáveis que incluem a população, as indústrias e o Estado."

Neste trecho, retoma-se o tema (poluição nos rios) e os argumentos usados (série de variáveis).

Conclusão surpresa: usa uma construção inusitada, uma citação, uma anedota ou um fato curioso para surpreender o leitor.

Exemplo: "E não me faça bocejar de tédio dizendo que sou preconceituoso. 'É sobre' saber do que se está falando por ter estudado muito o assunto, não 'se tratam de' pitacos improvisados. Mas nem por isso deixa de ser, também, uma tomada de posição ideológica explícita."

Neste trecho, o autor supõe um pensamento do leitor ("sou preconceituoso") e usa as construções que critica ao longo do texto (“é sobre” e “se tratam de”) para finalizar o artigo, tentando mostrar que elas o empobrecem.

Referências bibliográficas

BAGNO, Marcos. A língua sem erros. Revista Carta na Escola, São Paulo, [2018], p. 66.

O que é artigo de opinião e qual sua estrutura?

Escritora, revisora e tradutora graduada pela UFMG. Trabalha com produção de conteúdos desde 2016.

O que é artigo de opinião e quais são suas características?

O artigo de opinião é um gênero textual pertencente ao tipo argumentativo e tem como intencionalidade apresentar o ponto de vista do(a) articulista — locutor(a) do texto — acerca de algum assunto relevante socialmente.

O que é artigo de opinião 9 ano?

O artigo de opinião é um gênero textual utilizado para expressar um posicionamento sobre algum assunto do momento. Utiliza-se esse texto para expressar-se indignação, críticas e também sugestões a respeito de algum problema. Por conta dessa defesa de opinião, esse texto é chamado de argumentativo.

Qual é a função de um artigo de opinião?

O artigo de opinião é um dos gêneros mais comuns no cotidiano das cidades. Publicado normalmente em jornais, revistas e blogs, esse tipo de texto tem como função apresentar e defender um ponto de vista sobre algum assunto relevante para a sociedade.

O que é um artigo de opinião Brainly?

Resposta verificada por especialistas Um artigo de opinião compreende um gênero de texto opinativo, em que os autores expressam suas opiniões sobre determinadas temáticas em um tipo de linguagem mais informal, porém coerente.