Célebre retrato de Sartre caminhando nas dunas de
Nida, na Lituânia, em 1965. Na imagem, vemos o filósofo projetando a sua sombra nas areias, representando a ideia existencialista de que é o homem, através da projeção da sua vontade no mundo, que constrói a si mesmo e o seu próprio caminho. Foto: Antanas Sutkus Um dos conceitos fundamentais da filosofia existencialista sartriana é o de liberdade, uma vez que, para o filósofo, o homem está condenado a ser livre e toda a sua existência decorre desta condição. Assim, frente a uma decisão, o homem percebe o seu total desamparo, já que não há nada que possa salvá-lo da tarefa de escolher; em suma, nada pode salvá-lo de si mesmo – diria Jean-Paul Sartre. Show Desse modo, o ser humano, fundamentando-se na sua estrita liberdade, vê-se a todo instante compelido a se inventar, posto que são suas escolhas que constroem a sua essência. Diante desta condição, cabe somente a ele estabelecer, através de suas ações concretas, os critérios que servirão de norte para as suas decisões, explica Sartre.
Frente a esta falta de fundamentos prontos, o homem angustia-se diante da responsabilidade de escolher, visto que a escolha é ao mesmo tempo afirmação do valor daquilo que se escolhe, trazendo consigo, assim, o peso da responsabilidade. Desse modo, ao escolher algo e, consequentemente, afirmar o seu valor, estamos ao mesmo tempo comunicando a todos o caráter benéfico daquela escolha, já que não há ninguém que possa escolher o mal para si. Desse ponto de vista, nos tornamos responsáveis não só por nós, mas por toda a humanidade. O Existencialismo é um Humanismo, de Jean-Paul Sartre. Clique na imagem e adquira o livro! Quando Jean-Paul Sartre diz que “nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos”, ele quer dizer, precisamente, que ao escolhermos algo, estamos optando por uma alternativa que, dentro das condições de existência nas quais estamos inseridos, seria a melhor opção e, por ser a melhor, todos também poderiam optar pela mesma. Assim, ao escolher algo, o homem cria um modelo de homem que outros podem seguir; daí a sua responsabilidade diante da humanidade. O existencialismo de Sartre, ao contrário das filosofias contemplativas, caracteriza-se por ser uma doutrina de ação, colocando sempre o compromisso como fator indispensável para a existência humana, uma vez que, sem compromisso, não há projeto de ser e, sem projeto de ser, o homem torna-se incapaz de conferir qualquer sentido à existência. Se a intencionalidade é a característica fundamental da consciência, ser livre é engajar-se, comprometer-se e, enfim, responsabilizar-se. Portanto, concluímos que não há nada que possa eximir o homem da sua condição de ser livre e, consequentemente, da sua condição de responsabilidade diante de seus atos. Barreiras psicológicas, históricas ou socioeconômicas não são capazes de ofuscar a liberdade a qual Sartre se refere, pois estas nada mais são do que as condições de existência que possibilitam escolher por A ou B; sem tais condições, a escolha seria impossível; mais do que isso: toda a existência seria impossível. Toda condição é, por sua natureza, uma limitação; contudo, é também o que possibilita a existência de algo. Logo, para que a liberdade exista, é necessário que existam as condições que possibilitem a sua existência, isto é, que possibilitem o ato da escolher, mas que também, por outro lado e ao mesmo tempo, limitem as possibilidades dessa escolha.
Diante dessa constante tarefa de fazer-se, do desamparo, da falta de fundamentos prontos e da responsabilidade que carrega diante de si e da humanidade, a liberdade traz ao sujeito a angústia existencial, a qual emerge no momento da decisão. Angustia-se, pois não é capaz de alterar as condições de existência que se lhe apresentam, tendo de escolher, por vezes, entre o ruim e o pior e tendo de arcar com as consequências dessa escolha; mais que isso, também não é capaz de não realizar essa escolha; e por fim, tem a incontornável tarefa de buscar, em sua subjetividade imanente, ou seja, na sua pura liberdade, os princípios que regerão sua escolha; isto é, terá de estar diante de seu próprio nada; eis o princípio da angústia.
A liberdade, porém, não possui uma realidade concreta; não possui uma essência, uma vez que ela própria é o fundamento de toda a essência humana na medida em que fundamenta o agir, possibilitando a projeção da vontade do homem na existência e, por fim, a construção do seu ser, tendo em vista que, segundo a máxima sartriana, a existência precede a essência; isto é, primeiramente o homem é lançado na existência e, só depois, por meio de suas ações, este homem pode representar-se como sendo alguma coisa, pois, a priori, não era nada. Como vimos, não há determinismos que possam eximir o homem da sua condição ontológica de liberdade. Contudo, na tentativa de livrar-se da angústia trazida pela responsabilidade que a liberdade carrega consigo, o homem refugia-se na má-fé. Sartre admite que a má-fé pode ser compreendida como o ato de mentir para si mesmo, mas um mentir que não comporta a dualidade do enganador e do enganado, pois, aqui, aquele que é enganado é também consciente da verdade que deseja suprimir. Porém, a má-fé tem por sua natureza mesma a característica de negar-se como má-fé, sendo um processo de constante e frustrado esforço, uma vez que, para que se possa fugir de algo que se faz presente na própria consciência, é necessário que se pense constantemente nesse algo; isto é, o projeto da má-fé consiste em encarar certo aspecto do ser com a pretensão de dele fugir, num só movimento; obviamente, na consciência, tal objetivo é impossível de ser realizado e, por ser impossível, a má-fé nunca se encerra em seu objetivo. Basicamente, podemos compreender a má-fé como a tentativa de transferir responsabilidades que concernem unicamente ao indivíduo; ou seja, ao atribuir exclusivamente a fatores sociais, metafísicos, históricos ou até inconscientes o fundamento e as responsabilidades de sua escolha, o indivíduo se encontra no estado de má-fé, pois tais fatores exercem influência na sua decisão ao determinarem as possibilidades de escolha; contudo, cabe somente a ele optar, por meio de sua liberdade, por qual possibilidade lhe é mais adequada. Aqui, não há como fugir; só há espaço para a subjetividade do sujeito, ou seja, para o seu próprio nada de ser, e qualquer tentativa de preencher este espaço vazio será aqui denominada de má-fé. Referências[1] SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Voltar ao texto ↑. [2] SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Voltar ao texto ↑. [3] SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Voltar ao texto ↑. [4] SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Voltar ao texto ↑. Entre em nosso canal no telegram: https://t.me/colunastortas. O Colunas Tortas é uma proto-revista eletrônica cujo objetivo é promover a divulgação e a popularização de autores de filosofia e sociologia contemporânea, sempre buscando manter um debate de alto nível – e em uma linguagem acessível – com os leitores. Nietzsche, Foucault, Cioran, Marx, Bourdieu, Deleuze, Bauman: sempre procuramos tratar de autores contemporâneos e seus influenciadores, levando-os para fora da academia, a fim de que possamos pensar melhor o nosso presente e entendê-lo. RelacionadoQual o pensamento de JeanPara Sartre, a existência do homem precede sua essência, o que significa dizer que o ser humano se determina, se constrói, se inventa enquanto age no mundo. O existencialismo de Sartre se diferencia do existencialismo cristão, que tem que carregar de como seu principal expoente.
O que JeanViver é uma escolha: são as escolhas de cada homem que definirão a sua essência. E mais: essas escolhas podem afetar, de forma irreversível, o próprio mundo. A angústia, portanto, vem da própria consciência da liberdade e da responsabilidade em usá-la de forma adequada: “O homem está condenado a ser livre”.
Qual a relação humana Segundo Sartre natureza humana?Os existencialistas, como Sartre, negam que haja a natureza humana – uma espécie de essência universal compartilhada pelos homens –, ou que esta essência seja influenciada pela vontade de Deus ou criada como seu atributo. Uma vez que a existência precede a essência, não somos definidos por uma natureza ou por Deus.
Como Sartre determina a condição humana?Sartre afirma que se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, o homem. Primeiro ele existe, se descobre, surge no mundo e só depois irá se definir, ou seja, primeiramente ele é “nada”, só depois será e o será conforme se fizer, de acordo com o que tiver projetado.
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