Por que a distribuição das indústrias na Região Sudeste é tão desigual?

1Olhar para o território hoje e perceber as várias indústrias dispersas nele é atentar-se para uma expressão física da atual estrutura produtiva que a sociedade consolidou em seu desenvolvimento. É compreender os vários esforços técnico-científicos aplicados em cada organização e divisão do trabalho dessa sociedade. É preocupar-se com o fato de que antigamente o homem controlava seu tempo e hoje, ver que o tempo controla o homem. Talvez seja confirmar o êxito do sistema capitalista de produção sobre os demais sistemas que existiram, que sucumbiram às crises. Mas é essencial refletir a quem de fato essa organização espacial interessa, se as grandes corporações financeiras, ao Estado ou a sociedade.

2Os estudos mais recentes sobre desenvolvimento econômico enfatizam a dinâmica desse crescimento relacionando-o ao processo de industrialização, o qual acarreta mudanças estruturais, através de sua expansão por diversos canais, com efeitos finais sobre todo o sistema econômico (KON, 1994).

3Ao discutir o desenvolvimento recente do estado do Paraná o IPARDES (2004, p. 4), comenta que o mesmo:

[...] tem a marca da intensa modernização da base produtiva e da sua concentração em alguns pólos regionais, definindo os contornos dessas disparidades tanto entre regiões como internamente às mesmas. Disparidades que se revelam nos movimentos da população e nos indicadores econômicos e sociais, frutos da capacidade de superação de obstáculos naturais, enfrentamento de crises e otimização de recursos para inserção na dinâmica produtiva paranaense.

4Dessa maneira, vale discutir as transformações industriais ocorridas pós década de 1990, sabendo que este é um período marcante por novas estratégias de acumulação do capital, que possibilitaram uma maior facilidade de deslocamento das indústrias pelo território, conduzindo a uma expressiva distinção industrial e econômica entre as regiões paranaenses.

5A partir das questões apontadas nossas perguntas de investigação são: por que o crescimento industrial paranaense nos anos recentes apresentou-se desigual regionalmente? Qual a participação das condições gerais de produção nesse processo?

  • 1 A metodologia utilizada para a classificação das indústrias conforme a intensidade tecnológica enco (...)

6Tal problemática levou a discussão dos vários processos que contribuíram para o desenvolvimento de tão acentuada distinção, objetivando, principalmente, verificar o crescimento industrial paranaense a partir da década de 1990 e as desigualdades regionais no mesmo. Para tanto buscou-se analisar o comportamento do pessoal ocupado, número de estabelecimentos e valor adicionado, conforme a intensidade tecnológica dos ramos industriais1 e conforme as mesorregiões geográficas paranaenses (mapa 1).

7Utilizou-se como principais fontes a base de dados do Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS – Relação Anual de Informações Sociais), que divulga informação sobre o emprego formal no Brasil, assim como coleta de dados estatísticos junto a BDEweb – Base de Dados do Estado do Paraná, disponível no Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social – IPARDES.

8Portanto, na perspectiva de que as recentes transformações ocorridas na estrutura produtiva do Paraná modelaram o espaço geográfico do estado, em que, poucas regiões destacam-se por polarizarem investimentos, os quais refletem na organização e na gestão de políticas de desenvolvimento regional, espera-se, que este trabalho possa gerar um maior conhecimento sobre a produção do espaço no território paranaense, assim como contribuir para subsidiar as políticas públicas a serem propostas para o mesmo.

Região, reestruturação e condições gerais de produção

9O recorte espacial do presente trabalho é o estado do Paraná que, segundo dados do IBGE (2011), abrigava no último recenseamento realizado em 2010, 10.444.526 habitantes, contendo uma área total de 199.316,694 km², com 399 municípios, os quais estão agrupados em dez Mesorregiões Geográficas (mapa 1).

Região

10A divisão regional do Brasil em micro e mesorregiões geográficas foi estabelecida no ano de 1989 e veio substituir a antiga divisão em micro e mesorregiões homogêneas, estabelecida em 1969.

11Em síntese, entende-se por mesorregião geográfica

[...] uma área individualizada em uma Unidade da Federação, que apresente formas de organização espacial definidas pelas seguintes dimensões: o processo social, como determinante, o quadro natural, como condicionante e, a rede de comunicações e de lugares, como elemento da articulação espacial. Estas três dimensões possibilitam que o espaço delimitado como mesorregião tenha uma identidade regional. Esta identidade é uma realidade construída ao longo do tempo pela sociedade que aí se formou (IBGE, 1990, p.8).

Mapa 1 – Mesorregiões Geográficas do Estado do Paraná

Por que a distribuição das indústrias na Região Sudeste é tão desigual?

Fonte: IPARDES, 2014. Org.: Autores

12Optou-se em desenvolver os estudos considerando o recorte territorial das mesorregiões geográficas por se concordar com o IPARDES (2004, p. 3), quando afirma que:

[...] estes recortes visam traduzir, ainda que de maneira sintética, as diferenças na organização do território nacional quanto às questões sociais e políticas. Oferecem possibilidades de agregação das informações do âmbito dos municípios para unidades maiores. As mesorregiões geográficas, cujos limites se mantêm praticamente inalterados, a despeito da dinâmica de emancipação de municípios, possibilitam a recomposição de séries históricas [...].

13A respeito da importância de se trabalhar com os conceitos de regionalização e região, concordamos com as afirmativas de Duarte (1980, p. 25), ao dizer que:

[...] regionalização é um método para a identificação de espaços que são as regiões. [...] Região são espaços em que existe uma sociedade que realmente dirige e organiza aquele espaço. Que tem atuação sobre o mesmo, ainda que seja uma atuação associada à interesses de outros espaços ou de certos grupos sociais, ou mesmo de capital externo à formação social. Identificar espaços, que funcionam como região, permite entender as relações espaciais em uma sociedade. Sua identificação e análise pode mostrar a essência das relações sociais e sua dimensão espacial.

14Uma pergunta que poderia ser feita mediante as profundas transformações atuais seria a pertinência da escala de análise regional. Conforme aponta Lencioni (1999, p.188),

[...] com o processo de globalização, essa reestruturação traz à tona o questionamento da pertinência da escala de análise regional e, também, o esclarecimento de sua relevância como instância particular de análise que se situa entre o local e o global.

15A mesma autora argumenta que a noção de região é fundamental na análise espacial. Para sustentar tal afirmação concorda com Corrêa (1986, p.46), quando diz que a região

é a realização de um processo geral, universal, em um quadro territorial menor, onde se combinam o geral – o modo dominante de produção, o capitalismo, elemento uniformizador – e o particular – as determinações já efetivadas, elemento de diferenciação.

16Conclui a argumentação afirmando que

as diferenças emergem e se contrapõem ao processo ou tende a anulá-las. Daí a análise regional que, voltando para as particularidades, pode revelar aspectos da realidade que seriam mais difíceis de serem percebidos e analisados se considerados apenas do ponto de vista global (Lencioni, 1999, p.192).

A lógica da reestruturação

17A organização geográfica do mundo moderno, segundo Moreira (2006), baseia-se em três parâmetros essenciais: a política, a técnica (e seu correlato, o meio ambiente) e a cultura, as quais andam ao lado dos paradigmas, que esgotariam suas formas históricas e entrariam em fase de redefinição, chamado por ele de “reestruturação”, a partir do ano de 1970.

18Moreira (2006, p. 133), cita em seu trabalho, o exemplo de reestruturação do Estado Keynesiano na década de 1930, em que o mesmo consiste numa organização político-econômica oposta às concepções neoliberalistas, fundamentada na afirmação do Estado como agente indispensável de controle da economia, com objetivo de conduzir a um sistema de pleno emprego. Desde então o Estado cuida da montagem, de um lado

[...] de uma infraestrutura social que contemple as necessidades e exigências da ação organizada dos trabalhadores urbanos, e, de outro, de uma infraestrutura espacial que contemple as necessidades do capital, como estradas, vias de comunicação, redes de transmissão de energia. São duas formas de infraestrutura balizadoras do papel e da função do Estado que agora passam a ser revistas (Moreira, 2006, p. 133).

19O Estado keynesiano se expande para muitos países, com a indústria crescendo e se consolidando em cada um deles, beneficiada pela implementação da infraestrutura socioespacial que o Estado institui como norma de ação, tornando-se esta base, um fenômeno de expressão mundial. Seria a partir destes pontos de dispersão e difusão, que esta forma de Estado esgotaria a sua função na história, iniciando assim, uma “reforma que o esvaziará justamente dessas funções para as quais a internacionalização da indústria e das relações do mercado o chamara. É a reestruturação neoliberal” (MOREIRA, 2006, p. 134).

20Em outras palavras, Moreira (2006) expressa que para a propagação pelo mundo a indústria necessitou do Estado, principalmente para que o mesmo criasse a infraestrutura desejada para sua instalação. Mas por volta dos anos de 1970, passa-se a condenar o Estado interventor, exigindo a transferência das funções e do capital acumulado como patrimônio público nas mãos do Estado no decorrer desses anos. Desta maneira, o Estado capitalista é reestruturado pelas reformas neoliberais: redução fiscal, privatização, despatrimonialização e desregulamentação, em que, a velha estrutura (Keyneisiana) do Estado, dá lugar a uma nova, a do Neoliberalismo.

21Sobre esta nova reestruturação, muitos autores a tratam como uma nova fase de acumulação de capital (período contemporâneo), denominado-a de acumulação flexível, mundialização do capital ou globalização, em que esta última, para Santos e Silveira (2006), seria a fase em que a divisão territorial do trabalho ganha novos dinamismos, sobretudo nos países subdesenvolvidos. Sabido que, anteriormente, a instalação ou localização de empresas, eram ditadas por fatores como: recursos naturais ou infraestruturais ou sociopolíticos, e que em todos os casos as normas estabelecidas pelo Estado, como: tarifas, impostos, financiamentos, créditos, salário etc., acabavam tendo um papel de regulação a qual as empresas interessadas deveriam adaptar-se.

22Já a lógica desta nova fase, consiste que as grandes empresas, internacionais ou nacionais, contribuem em um dado da produção da política interna e da política internacional de cada país, visto que essas empresas têm uma lógica internacional fundada nas regras de competitividade derivadas do respectivo produto. A partir de tais regras, essas empresas buscam, em cada território nacional, a localização que melhor lhes convêm, podendo esta localização já estar “pronta”, se todas as condições requeridas ali se encontrarem presentes, ou pode ser preparada, acrescentando-se a lugares escolhidos os requisitos exigidos para que a ação empresarial seja rentável, “[...] pois tais firmas não hesitam em trocar de sítio quando aquele em que se encontram deixa de oferecer vantagens para o exercício de sua própria competitividade” (SANTOS; SILVEIRA, 2006, p. 256).

23Conforme Spósito (2001, p.625), no Brasil, o conjunto de mudanças ocorreu principalmente a partir do começo da década de 1990 e, entre outras, pode ser resumida pelas seguintes dinâmicas: ampliação da importância das grandes metrópoles, com o aumento dos papéis de gestão empresarial e financeira do capital; descentralização da atividade industrial produtiva, aumentando os papéis de muitas cidades grandes e médias, e centralização das decisões, como conseqüência da concentração dos capitais; crescimento do emprego informal e do desemprego, como conseqüência da flexibilização do sistema produtivo, mas também do aumento da participação da tecnologia na produção; crescimento das disparidades no interior das cidades.

24Como se verá mais à frente, no que se refere ao terceiro aspecto levantado pela autora, em especial durante os primeiros anos do século XXI, há uma retomada do crescimento do emprego formal no país. Particularmente no que se refere ao emprego no setor industrial, o estado do Paraná teve crescimento significativo, embora bastante desigual em termos regionais. Se isso foi realidade, a partir de 2015-2016, parece necessário complementar com uma avaliação da situação atual.

25Este crescimento desigual se explica por um lado em função das condições gerais de produção diferenciais entre as regiões e, por outro lado, pela atuação do Estado.

O papel das condições gerais de produção

26Caracterizando uma nova estratégia de acumulação do capital, o Paraná passou por processos de reestruturação econômica e reajustamento produtivo, social e político. Diante dessas circunstâncias as indústrias passaram a se “deslocar” com maior facilidade no espaço, produzindo profundas transformações urbanas. Um conceito importante para o entendimento dessa mobilidade geográfica das indústrias é o de condições gerais de produção.

27Lencioni (2007), em trabalho desenvolvido acerca do conceito de condições gerais de produção, discute a importância desse conceito e a necessidade de recuperá-lo nas análises geográficas.

Nosso entendimento é que a discussão sobre localização industrial tendo como referência as condições gerais de produção nos conduz a perceber que essas condições não determinam, em si, nada. Elas possibilitam a localização. [...] Do mesmo modo, as condições gerais de produção criam possibilidades para a reprodução do capital, mas não são as causas da reprodução do capital porque o que determina a reprodução do capital são as relações sociais de produção. Diferença aparentemente sutil, mas que supera a coisificação implícita que se faz presente em muitas abordagens sobre os fatores de localização industrial.

28Embora haja muita discussão e controvérsias a respeito da problemática, há um certo consenso ao dizer que as relações capitalistas não se prendem mais só às plantas das unidades industriais. Nesse aspecto, Bragueto (2007), em síntese da concepção de Lojkine, diz que os capitalistas não mais exigem somente estradas ou instrumentos de telecomunicação para instalarem suas unidades de produção, de gestão, de pesquisa ou de direção, mas necessitam agora também, de conjuntos habitacionais, escolas, universidades, centros de pesquisa etc.

29Ainda sobre a questão Lencioni (2007), diz que:

[...] as indústrias de alta tecnologia necessitam de determinadas condições gerais de produção que se desenvolvem seletivamente no espaço produzindo um novo tipo de desigualdade regional, quer no Brasil, quer nos países mais industrializados da América Latina.

30Em trabalho realizado por Bragueto (2007, p. 132), o autor alerta para a necessidade de analisar o nível tecnológico da indústria, pois ele aponta que o estado do Paraná,

[…] entre 1992 e 2004, apresentou uma redução na participação do PIB industrial e, por outro lado, uma elevação na participação do pessoal ocupado. Esse fato indica que na análise da desconcentração regional da indústria no Brasil nos anos recentes, outros instrumentos de análise devem ser levados em consideração.

31Assim, considera-se que as indústrias com níveis menores de tecnologia, deslocam-se com maior facilidade no território, enquanto que as com maior nível tecnológico tendem a se manter concentradas pelo tipo de condições gerais de produção a que estão atreladas. Algo que explicaria a redução da participação do Paraná no PIB nacional, uma vez que, indústrias mais intensivas em tecnologia relativamente baixo o número de pessoal ocupado, enquanto indústrias com menores níveis de tecnologia são mais intensivas quanto ao uso de mão de obra.

32No que diz respeito ao desenvolvimento regional da indústria paranaense, Bragueto (2007, p.162), em seu trabalho sobre a dinâmica territorial da indústria do estado do Paraná no período de 1985 a 2004, constatou que, “[…] as condições históricas estabelecidas e a atuação do Estado, através dos instrumentos de atração de investimentos, caracterizaram no período recente um desenvolvimento regional da indústria bastante polarizado”, no qual houve regiões:

[…] que tiveram crescimento na participação em relação ao total do estado no que se refere ao valor adicionado, perdendo posição em termos de estabelecimentos e pessoal ocupado e, por outro lado, regiões que tiveram decréscimos na participação quanto ao valor adicionado, aumentando a participação no número de estabelecimentos e pessoal ocupado ($$$ Autor, 2007, p. 163).

33Em síntese, no estado do Paraná, enquanto a indústria de menor intensidade tecnológica apresenta uma certa dispersão espacial, a indústria de maior intensidade tecnológica é bastante concentrada espacialmente, como veremos nos itens seguintes.

34Acho necessário uma complementação Bibliográfica mais recente, assim como, uma atualização das análises comtemplando os últimos anos e, não apenas até 2004, sobretudo quanto cita AUTOR, 2007. 2016-07-02T14:39:00HT

Primeiras indústrias e formação das condições gerais de produção

35A industrialização do território paranaense se deu por um processo lento e bastante descontínuo. Em seus primórdios a indústria paranaense esteve ligada aos recursos naturais como a erva-mate e a madeira, ambos voltados para o mercado externo.

36O resultado desse processo foi a instalação de uma indústria de erva-mate, que funcionava no Litoral e no Primeiro Planalto. Na década de 1930, a indústria do mate entra em crise por inúmeros fatores, tendo como os principais: o cultivo do mate na Argentina em 1913, a Primeira Grande Guerra, os problemas com a qualidade do mate paranaense etc., dando lugar a madeira e o café, como ícones da economia paranaense.

37A extração de madeira no Paraná, segundo Oliveira (2001), ao longo de sua história sempre contou com expressiva variedade em flora, tanto na Mata Atlântica, como na Mata de Araucária, contendo quase todos os tipos de árvores conhecidas no Brasil, inclusive as de grande valor econômico. Logo,

[...] as indústrias correlatas, como papel, papelão, mobiliária, etc., passaram a fazer parte da paisagem econômica de grande número de municípios paranaenses, ao mesmo tempo que disseminavam a industrialização pelo interior do Estado. Mais ainda, à medida que iam sendo colonizadas as terras do Norte e Sudoeste do Paraná (Oliveira, 2001, p. 30).

38No entanto, com a escassez deste recurso natural, em consequência do corte desenfreado e pela construção de casas do tipo alvenaria (requerendo pouca demanda de madeira),a cultura do café passa a ser a principal atividade econômica do norte paranaense, e do estado do Paraná.

39Como dito, o café foi a atividade com maior importância para o norte do Paraná, no início do século passado, sendo responsável pela ocupação dessa e, até os anos de 1960, foi a principal atividade econômica no estado.

40Todavia, a expansão da cafeicultura estava mais vinculada à economia paulista do que à paranaense, o que causava preocupações aos governantes, pois, além do escoamento de divisas para São Paulo, havia na visão do governo, o risco da quebra da integração do território. O estado do Paraná mantinha-se, extremamente, carente de infraestrutura "dada a precariedade das vias de comunicação, baixíssima produção de energia elétrica, a falta de armazéns e silos, o total desaparelhamento dos seus portos e, sobretudo, a insignificância do setor secundário da economia" (Padis,1981, p. 194).

41Esta situação começou a se alterar a partir do início da década de 1960, quando o ciclo do café dava sinais de esgotamento e novas culturas agrícolas são iniciadas, as quais estavam mais vinculadas às atividades agroindustriais.

42Segundo Migliorini (2006, p. 66), surge no início da década de 1960, o Projeto de Desenvolvimento Industrial do Paraná, que possibilitou a criação de:

[...] um aparato de empresas estaduais destinadas a atuar em diversos setores como economia e finanças, energia elétrica, telecomunicações, serviços públicos. Entre as empresas criadas nessa época pelo Estado, conforme Milward (1999, p.08), podemos citar: Banco do Estado do Paraná (BANESTADO); Companhia de Desenvolvimento do Paraná (CODEPAR); que foi transformada, posteriormente, em Banco de Desenvolvimento do Paraná (BADEP); Companhia Paranaense de Silos e Armazéns (COPASA); Companhia Agropecuária de Fomento Econômico; Companhia Paranaense de Eletricidade (COPEL); A Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR); Companhia de Informática do Paraná (CELEPAR), Companhia de Telecomunicações do Paraná (TELEPAR); Fundo de Desenvolvimento Educacional (FUNDEPAR); Companhia de Habitação Paranaense (COHAPAR), além de outras. Também foi instituído na década de 1960 o principal mecanismo de financiamentos do desenvolvimento industrial do Estado: o Fundo de Desenvolvimento Estadual (FDE), gerido pela CODEPAR.

43A Companhia de Desenvolvimento do Paraná (CODEPAR) teve papel fundamental na implantação das condições gerais de produção no estado, em especial na ampliação das rodovias, acarretando uma integração territorial, ligando as regiões do interior com a capital do estado e com o porto de Paranaguá. Nos primeiros anos de funcionamento a companhia também adotou uma clara prioridade de investimentos na produção e distribuição de energia elétrica.

44No que se refere aos financiamentos concedidos pela CODEPAR, acabaram por privilegiar as indústrias de bens de consumo imediato, principalmente as indústrias ligadas à transformação de produtos agropecuários. Após a transformação da CODEPAR em Banco de Desenvolvimento do Estado do Paraná (BADEP), em 1968, ocorreu uma reorientação dos financiamentos destinados à industrialização do Estado, privilegiando o financiamento de indústrias de maior porte.

45Portanto, pode-se afirmar que o governo do estado, movido pela ideologia desenvolvimentista da época, toma para si a responsabilidade de promover a industrialização no Paraná. Após a década de 1960 foi viabilizado os recursos físicos e financeiros para a construção da infraestrutura básica do estado.

46Na década de 1970, o governo federal deu continuidade ao processo de substituição de importação e os setores industriais priorizados foram justamente os setores de bens de capital e bens intermediários. Nessa década, segundo Migliorini (2006), a economia paranaense observou forte dinamismo e diversificação de sua base produtiva, através da modernização do setor agropecuário e da atração de plantas industriais de outros estados do país, juntamente com a consolidação da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) no primeiro lustro (utilizaria a palavra quinquênio pois, é mais conhecida) da década de 1970. Obteve uma maior integração econômica de suas regiões na economia do estado e da mesma forma, ocorreu uma maior integração da economia estadual na economia nacional, elevando as taxas de investimentos ao nível nacional.

47Segundo Milward (1999, p.15), o início da década de 1970, dava sequência ao grande impulso do processo de transnacionalização da produção iniciada nos anos de 1950, com a localização de plantas industriais fora dos países desenvolvidos, buscando atender aos mercados mundiais e recuperar a margem de lucro, fugindo de altos salários e legislações ambientais, por exemplo.

Assim, como o estado do Paraná, no início da década de 1970 já estava dotado de um bom aparato tecnológico e infra-estrutural, [...] e apresentava relativa proximidade geográfica com os grandes centros do País, especialmente com o estado de São Paulo, e ainda, o governo estadual vinha trabalhando no sentido de atrair novos investimentos através de incentivos fiscais e governamentais, se deslocou para o Estado, principalmente para o município de Curitiba, grandes indústrias internacionais, como a New Holland (colheitadeiras e tratores), Phillip Morris (fumo), a Robert Bosch (injetores e diesel), e a Volvo (ônibus e caminhões), entre outras. E, além da chegada das indústrias de capital e de consumo duráveis no Estado durante a década de 1970 ocorreu, ainda, o avanço da indústria de papel e celulose e a constituição de um parque cimenteiro (Migliorini, 2006, p. 70).

48A década de 1970 pode ser considerada como um marco na mudança da base econômica do Paraná e a época em que começa a se consolidar o processo de industrialização contemporânea do estado, com o incipiente desenvolvimento de setores dinâmicos amplamente articulados à economia nacional e mundial. Segundo Diniz Filho (2000, p. 69), desenvolvido o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), implantado entre 1975 e 1979, foi estabelecido, pelos governos militares, estratégias de integração e ocupação do território nacional como forma de direcionar o crescimento, expandir a fronteira econômica e consolidar novos núcleos dinâmicos da indústria.

49E na concepção de Milward (1999), os novos centros visados para a instalação das indústrias, eram os que apresentavam as economias de aglomeração: mão-de-obra barata e abundante, proximidades do mercado fornecedor e consumidor, facilidade de comunicação e bom acesso de transporte, disponibilidade de energia etc. Dessa forma, a implantação da refinaria de petróleo na cidade de Araucária, localizada na Região Metropolitana de Curitiba, foi outro importante fator para o crescimento industrial do estado ocorrido na década de 1970.

50A década de 1980 pode ser caracterizada como um período de crise. Nessa década, também chamada de "década perdida", pelo fato do Brasil ter vivido uma das maiores crises econômicas, o ritmo de crescimento estadual diminuiu em relação à década anterior.Segundo Brum (2000), não teve uma única causa e sim um encadeamento de fatores, tais como: esgotamento do processo da matriz industrial, esgotamento do processo de substituição de importação; crise da dívida; redirecionamento do capital internacional para os países centrais, devidoao endividamento dos países em desenvolvimento e falência financeira do Estado brasileiro.

51Em síntese, conforme dados extraídos do Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS), o setor industrial paranaense no final da década de 1980, era caracterizado por uma forte concentração de indústrias e pessoal ocupado em apenas duas regiões: Região Metropolitana de Curitiba com 37,6% do número de estabelecimentos e 45% do total de pessoal ocupado, seguida da Mesorregião Norte Central Paranaense com 21,2% do número de estabelecimentos e 19,4% do pessoal ocupado, concentrando, em conjunto, 58,8% e 64,4% respectivamente (Mapa 2). Destacava-se três ramos industriais, sendo os mesmos desempenhados com nível de pouca complexidade do processo produtivo e menor intensidade tecnológica: a indústria da madeira e do mobiliário representava 23% do total de estabelecimentos e empregava 20,5% do pessoal ocupado no setor industrial do estado, a indústria de produtos alimentícios, com 15,2% dos estabelecimentos e 19,6% do pessoal ocupado. Em seguida aparecia a indústria têxtil e do vestuário com 12,1% dos estabelecimentos e 9,4% do pessoal ocupado.

Por que a distribuição das indústrias na Região Sudeste é tão desigual?

A industrialização paranaense após 1990: novas perspectivas

52Sob o cenário de uma globalização em ascensão, sob moldes de políticas neoliberais, uma infraestrutura em certos aspectos consolidada e por um novo processo reestruturante, abre-se uma nova perspectiva para indústria paranaense e ao desenvolvimento do estado.

53Segundo Migliorini (2006, p. 73), “a partir da década de 1990, a economia paranaense atravessou um processo intenso de diversificação e modernização de sua base produtiva. Com a estabilidade monetária pós-1994 e o retorno do crescimento da economia brasileira”.

54Nessa perspectiva, segue a análise da indústria paranaense a partir da década de 1990 e suas configurações no mercado de trabalho, assim como alguns aspectos relacionados às condições gerais de produção conforme as Mesorregiões Geográficas do Paraná.

55No que se refere à concentração de infraestruturas públicas, mais especificamente, rede de esgoto, água encanada e consumo de energia elétrica (tabela 1), assim como quanto ao número de alunos matriculados no ensino superior, fatores indispensáveis para reprodução da mão-de-obra e para a produção, observou-se que há destaque para Mesorregião Metropolitana de Curitiba, a qual atingiu em todo o período analisado (1980-2010) índices superiores a 35% em rede de esgoto, água encanada e energia elétrica. Há de se destacar outras três mesorregiões: a Mesorregião Norte Central Paranaense com índices, que a partir da década de 1990 tornaram-se superiores a 17%, seguida da Mesorregião Oeste Paranaense que apresentou índices, a partir do ano de 2000, superiores a 8,5%, e a Mesorregião Centro-Oriental com índices entre 6% e 12%. É importante destacar que estas quatro mesorregiões juntas concentraram em 2010 mais de 81% da rede de esgoto do estado, 75,3% de água encanada e apresentou consumo de energia elétrica superior a 79% do total (tabela 1), enquanto em conjunto concentravam pouco mais de 71% da população.

56Sabendo-se que a construção do conhecimento está intimamente ligada ao desenvolvimento tecnológico, e que as inovações tecnológicas vêm modificando significativamente as relações de trabalho, visto que em cada ciclo e segmento social, encontramos a presença de instrumentos tecnológicos que evoluíram a partir da construção do conhecimento científico, tais inovações tecnológicas sempre são buscadas pelo setor industrial pois tornam-se meios de competitividade, minimização de custos e alta lucratividade.

Tabela 1 – Participação (%) das Mesorregiões na Disponibilidade de Infraestrutura Pública – 1980-2010

Por que a distribuição das indústrias na Região Sudeste é tão desigual?

Fonte: IPARDES (2014), Org.: Autores

57Assim, percebe-se que o acesso ao conhecimento pode apresentar diferenças, as quais possibilitam o maior ou menor desenvolvimento, conforme cita Tilly (2006) a respeito da ideia de Kofi Annan, o qual diz que:

A distribuição desigual da atividade científica gera sérios problemas não só para a comunidade científica dos países em desenvolvimento, mas para o próprio desenvolvimento. Ela acelera a disparidade entre países avançados e em desenvolvimento, criando dificuldades sociais e econômicas no plano nacional e internacional.

58Dessa forma, concorda-se em dizer que o acesso ao conhecimento, sendo o mesmo disseminado por instituições de ensino, gera oportunidade de desenvolvimento não só a países, mas entre regiões, sendo este, um dos motivos de competitividade entre as mesmas.

59Neste sentido, levando-se em consideração apenas o ensino superior, atualmente fator fundamental na qualificação da mão de obra, verifica-se uma concentração dos alunos matriculados em três mesorregiões. De um total de pouco mais de trezentos e trinta e cinco mil alunos matriculados no ano de 2010, a Mesorregião Metropolitana de Curitiba concentrava quase 41%, enquanto a Norte Central quase 23% e o Oeste Paranaense, quase 13%. Portanto, as três Mesorregiões em conjunto concentravam 76% dos alunos de cursos superiores do estado do Paraná no ano de 2010 (Mapa 03).

60Como visto anteriormente, a disposição de infraestrutura básica, fator importante para a força de trabalho e para a produção, apresentou-se de forma desigual no território paranaense, em que algumas mesorregiões tiveram maiores índices de concentração, o que possibilitou uma maior aglomeração de pessoas nessas regiões. Dentre as mesmas, destacam-se a Mesorregião Metropolitana de Curitiba, com crescimento populacional superior a 50% no período de 1991 a 2010, conforme dados do Censo Demográfico (IPARDES, 2014), e população acima de 3 milhões de habitantes em 2010, seguida da Mesorregião Norte Central Paranaense com crescimento superior a 24% e população de pouco mais de 2 milhões, as quais, juntamente com a Mesorregião Oeste Paranaense (com crescimento de 20% e 1.219.558 de habitantes, no mesmo período), concentravam em 2010 cerca de 64,3% da população do estado (Mapa 4).

Por que a distribuição das indústrias na Região Sudeste é tão desigual?

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Por que a distribuição das indústrias na Região Sudeste é tão desigual?

62Por outro lado, conforme o mapa 4, há também, regiões como a Mesorregião Centro-Ocidental Paranaense e a Mesorregião Norte Pioneiro Paranaense que apresentam baixa concentração populacional e, no período de 1991 a 2010, saldos migratórios negativos bastante elevados e, consequentemente, tiveram taxas de crescimento populacional negativas.

63Sem dúvida o componente migratório, nesse cenário demográfico, está relacionado às transformações modernizantes das atividades agrícolas, em que o campo passou a disponibilizar menos emprego, produzindo um excedente de mão-de-obra, que buscou oportunidades de emprego no meio urbano das regiões que mais ofertassem emprego e infraestrutura pública.

64Outro aspecto relevante no processo migratório é a expectativa da melhoria de vida por parte do individuo, que migra na busca por regiões prosperas que ofereçam oportunidades de trabalho e qualidade de vida. Neste sentido a análise do o PIB per capta por mesorregião é reveladora, sendo um fator importante no processo de migração. Conforme dados do IPARDES (2014), verificou-se que no ano de 2010 o maior destaque foi a Mesorregião Metropolitana de Curitiba, que apresentava um PIB per capita de mais de vinte de três mil reais, bem acima da média estadual (R$ 16.928,00), principalmente se atentarmos para o fato de que esta região concentra o maior número de habitantes do estado.

65Dentre as regiões destacadas anteriormente, vale salientar que a Mesorregião Metropolitana de Curitiba, atingiu o maior índice de crescimento e o maior número de habitantes, principalmente, por ter desfrutado de políticas desenvolvimentistas por parte do Estado, investindo muito em infraestrutura. Destaque também para a Mesorregião Norte Central Paranaense, em que boa parte da sua infraestrutura foi implementada nos períodos em que concentrava a cafeicultura paranaense e no período em que esta atividade era a mais importante economicamente do estado do Paraná. Posteriormente passando pela fase de tecnificação e modernização do campo, transformando-o em agronegócio, associado à indústria. A Mesorregião Oeste Paranaense rapidamente integrou-se ao movimento mais amplo de expansão da agricultura moderna que se instaura no Paraná, marcada pela introdução maciça, no campo, de avançadas tecnologias de cultivo, de substituição de culturas. Neste último aspecto, destaca-se a criação de um “complexo soja” regional, com a produção de insumos para a indústria de rações que, ao lado da produção de milho, criaram as bases para a produção e industrialização de carne de pequenos animais.

66Essas três mesorregiões contemplam os três “espaços relevantes” discutidos no trabalho de Moura; Silva; Barion; Cardoso; Libardi (2008) os quais destacam-se em uma espacialidade máxima de relevância, concentração e desigualdade. Nesta interpretação, há o predomínio do “1º espaço relevante” que corresponde à Mesorregião Metropolitana de Curitiba. Este espaço participaria de forma mais integrada, nacional e internacionalmente, na divisão social do trabalho a partir do desempenho de um conjunto de atividades econômicas diversificadas, concentrando os principais constitutivos da sociedade paranaense, no que refere ao poder econômico, político e ideológico.

67O “2º espaço relevante” estaria contido na Mesorregião Norte Central Paranaense que historicamente sustenta uma matriz produtiva diversificada, que se assemelha a do 1º espaço, mantendo, contudo, uma grande distância nos volumes de geração de riqueza, ativos institucionais e na diversidade de opções produtivas. Outra distinção é que as atividades agropecuárias ainda mantêm participação significativa no total de sua produção.

68Já o “3º espaço relevante” em grau de importância, tem maior proximidade de igualdade com o 2º espaço, diferenciando-se no fato de que sua divisão social do trabalho se dá a partir de um número menor de atividades, ligadas, fundamentalmente, à produção agroindustrial, assim como os serviços, no qual sua posição fronteiriça assegura-lhe o desempenho de funções importantes nas relações internacionais e no comércio, elevando seu peso na geração de riquezas e estreitando vínculos do Paraná com os países do Mercosul.

69Como já citado, as regiões que mais cresceram são as que ofertaram historicamente uma infraestrutura básica, que ao longo do tempo foram se tornando mais complexas, viabilizando a formação das condições gerais de produção, as quais possibilitaram não só maior reprodução da mão-de-obra, mas também do capital, principalmente com a expansão do setor industrial paranaense. Tal situação é retratada no mapa 5, o qual expressa a concentração de estabelecimentos e pessoal ocupado na indústria, no ano de 2013, conforme as Mesorregiões Geográficas do estado do Paraná.

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Por que a distribuição das indústrias na Região Sudeste é tão desigual?

71Considerando o total de 35.057 estabelecimentos e 717.059 pessoas ocupadas na indústria em 2013, destacaram-se a Mesorregião Metropolitana de Curitiba, Norte Central, Oeste e Noroeste paranaense, que, em conjunto, concentraram em torno de 77% dos estabelecimentos e pessoal ocupado no setor industrial. Em especial destacam-se a Mesorregião Metropolitana de Curitiba com participação superior a 30% e o Norte Central, com índices superiores a 23%; comparando com 1989 percebe-se uma perda de importância relativa da Mesorregião Metropolitana de Curitiba

72Nesse mesmo ano, analisou-se a intensidade tecnológica da indústria por mesorregião, seguindo a classificação apresentada por Bragueto (2007, p. 5). A análise conforme a intensidade tecnológica da indústria é importante, pois,

[...] aceitar a existência de transformações estruturais é aceitar a coexistência de diferentes padrões simultâneos de desenvolvimento industrial (essas transformações não atingem todos os setores igualmente). Coexistem o padrão antigo, proveniente ainda da II Revolução Industrial, fordista, com forte ênfase em recursos naturais e/ou intensivos em trabalho, e o padrão novo, pós fordista, da III Revolução industrial, intensivo em capital e em conhecimento, os setores de alta tecnologia (TINOCO, 2001, p.52).

73Verificou-se que há um amplo predomínio no estado da indústria de menor intensidade tecnológica, a qual representa quase 82% do total de estabelecimentos e pouco mais de 73% do pessoal ocupado. Este tipo de indústria apresenta-se mais dispersa pelo estado, destacando-se, além da Região Metropolitana de Curitiba, que também tem sua importância, o Norte Central, Oeste e Noroeste paranaense. A indústria de maior intensidade tecnológica, ao contrário, mostra-se bastante concentrada, localizando-se principalmente na Região Metropolitana de Curitiba, a qual concentra quase 42% do número de estabelecimentos e 56,76% do pessoal ocupado. As demais mesorregiões apresentam participação muito pequena, sendo a mais representativa o Norte Central Paranaense, porém concentrando quase 26% do número de estabelecimentos e apenas pouco mais de 18% do pessoal ocupado (Mapas 6).

Por que a distribuição das indústrias na Região Sudeste é tão desigual?

74A análise quanto ao valor adicionado é outro indicador importante no que se refere à concentração espacial da indústria. Conforme o mapa 7 verifica-se que a Região Metropolitana de Curitiba gerava 85% do valor adicionado pela indústria de maior intensidade tecnológica, no ano de 2013. Por outro lado, no que se refere à indústria de menor intensidade tecnológica, gerava quase 34% do valor, seguida pela Mesorregião do Norte Central com 18,4% e Centro Oriental com 16%.

75Como tratado anteriormente, a indústria de maior intensidade tecnológica envolve grande complexidade no seu processo produtivo e exige determinadas e específicas condições gerais de produção, que por um lado não estão presentes em todas as regiões e, por outro lado, quando das políticas de atração de investimentos, também privilegiaram determinadas regiões.

Por que a distribuição das indústrias na Região Sudeste é tão desigual?

76Duas políticas governamentais de atração de investimento foram fundamentais para esta concentração da indústria de maior intensidade tecnológica na Mesorregião Metropolitana de Curitiba. A criação da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) e o Programa Paraná Mais Empregos.

77Segundo Lima (2006), políticos e empresários se unem no início da década de 1970 para a criação do projeto da Cidade Industrial de Curitiba - CIC, que tem sua implementação a partir de 1975. A CIC representou o primeiro grande projeto de desenvolvimento do estado, que uniu interesses da classe política dirigente e do empresariado local. Concentrando na cidade industrial de Curitiba gêneros ligados ao transporte, comunicação, eletroeletrônica e outros ramos industriais com maior intensidade tecnológica, ficando em segundo plano outros ramos ligados à agricultura com menor intensidade tecnológica.

78Dessa forma, segundo Firkowisk (2004, p. 1),

[...] a ação do Estado foi decisiva, e devem ser interpretadas à luz do crescente processo de internacionalização da economia brasileira. Tanto é verdade que a intenção primeira da CIC era promover a industrialização a partir da atração de capitais externos, fato que novamente volta a ocorrer na década de noventa com intensidade capaz de alterar a estrutura produtiva industrial da metrópole, que já se esboçava desde a década de setenta.

79A respeito da implantação no estado do Paraná, em meados dos anos de 1990, do programa denominado Paraná Mais Empregos, Firkowisk (2004, p. 1), afirma que o programa era “voltado ao estímulo à implantação de unidades industriais, através da dilação do prazo de recolhimento do ICMS”.

80Conforme as análises precedentes, no que se refere ao anunciado objetivo de permitir a desconcentração regional da indústria, as políticas adotadas tiveram efeito contrário, pois, verificou-se uma clara concentração industrial na Região Metropolitana de Curitiba, em especial a indústria de maior intensidade tecnológica. Mais que isso, claramente as melhores condições gerais de produção produzidas historicamente e as políticas de atração de investimentos adotas nas últimas décadas têm aumentado a concentração da indústria de maior intensidade tecnológica na Região Metropolitana de Curitiba. Conforme o mapa 08 constata-se que 48,4% do crescimento do pessoal ocupado neste tipo de indústria entre os anos de 1990 e 2013 ocorreu naquela região.

Por que a distribuição das indústrias na Região Sudeste é tão desigual?

Considerações finais

81A respeito dos fatores que contribuíram para a dispersão das indústrias pelo território paranaense, ficou evidente a importância do contexto histórico, a ocupação de cada região, dando destaque para as particularidades de cada uma delas, principalmente pelas atividades econômicas, as quais possibilitaram a ascendência ou a retração do desenvolvimento, condicionando a formação de infraestruturas, que posteriormente seriam utilizadas pelo capital, reestruturando o setor produtivo do estado.

82Nesse contexto, a partir do início da década de 1990, sob processos de reestruturação produtiva, vale enfatizar a busca de indústrias por regiões que melhor ofertassem as condições gerais de produção, as quais possibilitaram que determinadas regiões se tornassem aptas a receber investimentos industriais de grandes corporações. Este cenário foi incentivado pela participação do Estado, em especial, ao assumir uma estratégia de atração de capitais e corporações com base em concessões de incentivos fiscais, alimentando a guerra fiscal e acirrando a competição entre as regiões e, em muitos casos, cumprindo o papel de financiador, com a criação de planos e instrumentos de investimento. Assim, atuou de forma decisiva na organização da estrutura produtiva do Paraná.

83O resultado de todos esses fatores foi a grande disparidade e desigualdade regional identificada entre as mesorregiões do estado do Paraná, em que, poucas regiões, principalmente a Mesorregião Metropolitana de Curitiba, se destacaram por polarizarem investimentos, os quais refletiram na organização e na gestão de políticas de desenvolvimento regional, produzindo tão acentuada disparidade e desigualdade. Na maioria das mesorregiões prevaleceu a indústria de menor intensidade tecnológica, condicionada pelo nível de investimento alcançado por essas regiões e as consequentes e proporcionais implantação das condições gerais de produção.

84O desenvolvimento industrial desigual também relaciona-se com o crescimento demográfico, no qual constatou-se expressivos fluxos migratórios das regiões com menor diversidade de atividades econômicas e que passaram por transformações importantes do espaço agrário, apresentando perda de população para regiões que apresentaram maiores índices econômicos, como pode ser visto com a Mesorregião Metropolitana de Curitiba, que apresentou o maior crescimento populacional do estado, sendo superior a 50%.

85Portanto, as desigualdades territoriais do desenvolvimento industrial paranaense estão vinculadas aos processos históricos da formação das condições gerais de produção, as quais tornam as regiões mais ou menos atrativas para o capital, em especial, num período de reestruturação produtiva, em que a indústria almeja maior lucratividade, menores gastos, mão-de-obra barata e qualificada.

86Sendo assim, constatou-se uma concentração industrial mais expressiva em regiões que melhor ofertaram as condições gerais de produção, principalmente para a indústria de maior intensidade tecnológica, como é o caso da Região Metropolitana de Curitiba, que de uma forma mais especifica ofertou as condições necessárias a este tipo de indústria. Outras regiões, com infraestrutura mais precária e com menor oferta de outras condições gerais de produção, apresentaram menor capacidade de atração de investimentos, consequentemente continuam a apresentar pequena participação no setor industrial. Soma-se a isto o papel do Estado que, embora tenha anunciado o Programa Paraná Mais Empregos como uma política de desconcentração industrial, na prática teve um efeito concentrador. Diante destas constatações, fica evidente a necessidade de políticas de desenvolvimento que assegurem um planejamento e uma gestão mais equilibrada, que contribuam para o desenvolvimento pleno de todas as regiões paranaenses.

87Dessa forma, espera-se que este trabalho possa ter contribuído para o campo da Geografia Econômica, tendo gerado um maior conhecimento sobre a produção do espaço no território paranaense, assim como contribuir para subsidiar as políticas públicas a serem propostas para o mesmo. Não gosto desses finais gerais que poderiam caber em qualquer trabalho. Creio ser essencial ao pesquisador propor mais do que constatações desse tipo “espera-se que este trabalho” e “assim como contribuir para subsidiar”; diga como contribuiu e como pensar contribuir para as políticas públicas.

Por que as indústrias saíram da região Sudeste?

Essa queda se deve, principalmente, à redução dos preços médios do petróleo e gás natural, setor que representa 88% da indústria extrativa fluminense. Mesmo com uma perda de 3,85 pontos percentuais em dez anos, o Sudeste ainda é responsável por 75,54% da indústria extrativa do país.

Por que houve uma dispersão das indústrias do Sudeste nessas últimas décadas?

Em termos de distribuição espacial, houve uma grande concentração das indústrias no país, fruto, principalmente, do aproveitamento das infraestruturas previamente existentes na economia cafeeira da região Sudeste do país.

Por que a região Sudeste é a região mais industrializada do país?

Industrialização. Com grande número de mão de obra e dinheiro em caixa, lucro da cafeicultura, a Região Sudeste tornou-se logo a área mais industrializada e de maior concentração de população do país.

Por que o desenvolvimento industrial no Brasil aconteceu de forma desigual entre suas regiões?

O êxodo rural foi um fenômeno resultante, dentre outros fatores, do processo de industrialização brasileiro, uma vez que a população do campo emigrava para as cidades em busca de melhores condições de emprego e renda nas indústrias.