Quais foram os motivos que incentivaram a expansão das ferrovias no Estado de São Paulo?

Durante o Segundo Reinado, houve a conjugação das ferrovias e o café, auxiliando na modernização e crescimento econômico do país.

Durante o reinado de D. Pedro II, o Brasil conheceu o início de seu processo de modernização econômica e social, principalmente impulsionado pelos grandes ganhos auferidos com a exportação do café. Foi a produção cafeeira que também proporcionou o surgimento de um dos principais símbolos da modernização do período: as ferrovias.

A primeira ferrovia foi inaugurada no Brasil em 1854, ligando o porto de Mauá, na Baía de Guanabara, à Serra da Estrela, com o objetivo de chegar a Petrópolis e ao Vale do Paraíba. Essa foi uma das iniciativas de um dos principais empresário brasileiros do Império, o Barão de Mauá. Mas economicamente essa ferrovia não gerou muitos resultados positivos.

O objetivo de construção das ferrovias era agilizar o escoamento da produção de café, diminuindo o tempo de transporte entre os locais de produção e os portos de onde a mercadoria era exportada. As ferrovias eram uma das condições gerais de produção necessárias ao crescimento econômico do país. Por isso, atraíram uma grande quantidade de capital estrangeiro para suas construções, principalmente inglês.

Em 1864, foi inaugurada a Ferrovia Pedro II, depois chamada de Central do Brasil, que pretendia também ligar o Rio de Janeiro a São Paulo, através do Vale do Paraíba, região produtora de café. Mas o maior número de ferrovias construídas ocorreu no estado de São Paulo, seguindo a expansão da lavoura cafeeira para o Oeste paulista.

A primeira ferrovia paulista foi a Santos-Jundiaí, também conhecida como São Paulo Railway, inaugurada em 1867 e que contribuiu para diminuir em um terço os custos com o transporte do café. Sua construção foi extremamente difícil do ponto de vista técnico, principalmente no trecho da Serra do Mar. A partir da década de 1870, outras ferrovias surgiram em São Paulo, como a Paulista, a Mogiana e a Sorocabana, sendo boa parte delas financiada e propriedade dos grandes fazendeiros de café do estado.

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Mas as ferrovias não impactaram apenas no aspecto econômico do transporte do café. A ferrovia Mogiana, por exemplo, estendeu-se para além das fronteiras do estado de São Paulo, integrando comercialmente o Triângulo Mineiro ao mercado paulista. As ferrovias mudaram a paisagem natural dos locais em que foram implantadas, integrando territorialmente diversas regiões.

Além disso, a construção de ferrovias colocou a população em contato com as inovações técnicas desenvolvidas pelo capitalismo durante o século XIX. Novos estilos arquitetônicos foram utilizados principalmente na construção das estações, mudando em muitos casos as formas de construção anteriormente adotadas. As cidades em que estavam localizadas as estações foram transformadas, bem como algumas foram construídas em função dessas ferrovias.

A integração entre a cafeicultura e as ferrovias auxiliou ainda na constituição das bases da industrialização do estado de São Paulo, em razão principalmente do desenvolvimento comercial e da acumulação de capital conseguido com o aumento da produtividade.

Apesar de os grandes investimentos em ferrovias terem sido há muito tempo abandonados, até hoje em algumas cidades e regiões, as ferrovias, ou o que sobrou delas, comportam uma relevância histórica, memorial e simbólica muito importante, sendo significativas na formação das identidades culturais das populações dessas regiões.

O primeiro sistema de transporte que utilizou um mecanismo de carris que se movimentam por trilhos foi criado na Grécia Antiga, por volta de 600 A. C., na estrada de Diolkos, região de Corinto. Com um percurso de aproximadamente 8 km, a estrada serviu para transportar embarcações e outras benfeitorias com o uso da força de animais e dos escravos.

No início do século XVI foi desenvolvido na Alemanha um sistema de transporte formado a partir de trilhos de madeira e puxado por tração animal, que ficou conhecido como wagon ways (caminhos de vagões). Na Alemanha, esse tipo de transporte era muito utilizado em locais de extração de minérios, e até hoje é muito comum nas minas de todo o mundo a utilização de carris para o transporte dos minérios e para a retirada da água do fundo das minas.

Por volta do ano de 1776 os trilhos de madeira começaram a ser trocados por trilhos de ferro, o que caracterizou a rail way, ou seja, a linha férrea, termo que acabou sendo difundido mais tarde, no século XIX. Foi no ano de 1804 que surgiu a primeira locomotiva movida com um motor a vapor, inovação criada pelo engenheiro britânico Richard Trevithick. Esse evento histórico ocorreu na cidade inglesa de South Wales, quando foram carregadas 18 toneladas de ferro e 70 homens por 14 km. Quando a velocidade chegou aos 8 km/h os trilhos não resistiram e quebraram.

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Com mais força e velocidade, as máquinas foram substituindo os cavalos, proporcionando o aumento do número de vagões e da quantidade de carga transportada pelas composições. A partir dessa época foram ocorrendo diversas melhorias técnicas nos trilhos e nas locomotivas. As ferrovias estabeleceram uma perspectiva diferente sobre a ideia de transporte de cargas mais pesadas e por longas distâncias.Em razão das possibilidades de mobilidadetambém no meio urbano, as linhas férreas passaram a ser uma opção para o transporte de passageiros. Nesse sentido, a Inglaterra tomou a frente no que corresponde a essa modalidade, inaugurando em 1812 na cidade de Leeds a primeira composição para transportar exclusivamente passageiros.

O ano de 1830 ficou marcado como o início da Era das Ferrovias, quando foi inaugurada a primeira linha férrea de longa distância para passageiros em escala comercial e com horários regulares, entre as cidades inglesas de Liverpool e Manchester. No primeiro ano de funcionamento, a linha entre essas duas cidades transportou 460.000 passageiros. Em 1863 a Inglaterra criou a primeira linha subterrânea, integrando um sistema de transporte metropolitano e que mais adiante foi chamado de metroway.

Entre o final da década de 1870 e início da década de 1880 foram desenvolvidos os primeiros sistemas férreos movidos a eletricidade, criado por engenheiros alemães. A primeira linha férrea usando eletricidade conduzida por cabos suspensos foi no ano de 1883, entre as cidades de Mödling e Hinterbrühl Tram na Áustria.

Ao final do século XIX ocorreu o processo histórico conhecido como neocolonialismo, quando as nações europeias expandiram suas explorações coloniais. Ao contrário das nações ricas, onde as ferrovias foram construídas de maneira a integrar seus territórios, as ferrovias estabelecidas nos países explorados tiveram sua estrutura projetada para interligar as áreas produtoras de matérias-primas em direção dos portos, para facilitar o escoamento desses produtos.

No Brasil, as linhas férreas também tiveram essa característica, principalmente por conta do ciclo do café, principal produto de exportação do país durante a segunda metade do século XIX e início do século XX. A primeira ferrovia brasileira foi inaugurada em 1854, entre o Porto de Mauá e a cidade de Fragoso, no Rio de Janeiro, sendo idealizada pelo empresário e banqueiro Irineu Evangelista de Souza, muito conhecido pelo título de Barão de Mauá.  

Os Estados Unidos utilizaram as ferrovias para completar o seu processo de ocupação em direção ao oeste e à costa do Pacífico. Na primeira década do século XX os Estados Unidos já contavam com aproximadamente 200 mil quilômetros de linhas férreas. O Brasil, que possui uma área territorial semelhante à dos Estados Unidos, mal chegou aos 40 mil quilômetros de ferrovias construídas.

Um novo impulso para o segmento foi o desenvolvimento dos trens de alta velocidade. O primeiro modelo desenvolvido foi o Shinkasen, lançado no Japão em 1964 e que alcançou a marca de 200 km/h. Desde a década de 1970 começaram na Inglaterra e na França o desenvolvimento dos trens de alta velocidade, capazes de alcançar velocidades acima dos 200 km/h. Em 1997 o Japão lançou o Magnalev, tecnologia baseada em supercondutores, onde não existe atrito entre o trem e os trilhos, e que logo no lançamento alcançou a marca de 550 km/h. Além do Japão, Alemanha e China possuem linhas comerciais para passageiros que utilizam a tecnologia da supercondutividade.

Curiosidades: O trem bala francês TGV mantém o recorde mundial de velocidade em trilhos convencionais, com 574,8 km/h. O trem japonês JR-Maglev detém o recorde mundial de velocidade utilizando supercondutores, que chegou aos 582 km/h.


Júlio César Lázaro da Silva
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP
Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP

Qual o principal motivo para a instalação de um sistema ferroviário no interior de São Paulo no século XIX?

O objetivo de construção das ferrovias era agilizar o escoamento da produção de café, diminuindo o tempo de transporte entre os locais de produção e os portos de onde a mercadoria era exportada.

Por que ocorreu a expansão das ferrovias?

O mais determinante para que ocorra a expansão ferroviária é a necessidade de ampliar o escoamento de produtos relacionados ao agronegócio, principal produtor de insumos para exportação do país.

O que motivou a expansão das ferrovias brasileiras a partir do século 19?

No Brasil, as linhas férreas também tiveram essa característica, principalmente por conta do ciclo do café, principal produto de exportação do país durante a segunda metade do século XIX e início do século XX.

Como ocorreu a expansão das ferrovias no Brasil?

A partir do final da década de 1940, começou a ser criado um novo modelo de negócios ferroviários no Brasil, fundamentado na estatização do sistema. E esta malha férrea seguiu estatizada até a década de 1990, quando, por meio de novas concessões, os serviços ferroviários voltaram ao controle privado.