Quais são o papel e os limites da escola na promoção da saúde mental dos estudantes?

por André Martin Marquez Ventura

André Martin Marquez Ventura – Psicólogo, Logoterapeuta, Orientador Profissional e de Carreira e Especialista em Psicologia Fenomenológica e Existencial.

Para falar de saúde mental nas escolas, primeiramente, convido-os a uma reflexão, ou melhor, uma provocação: transmite-lhe mais segurança saber que a escola em que seus filhos, netos, sobrinhos estudam possui projetos e ações voltadas a questões psicológicas e emocionais que mais preocupam os alunos, pais, professores e profissionais da educação?

Se a resposta for “sim”, continue comigo… Vamos pensar… Quais seriam essas questões, esses temas, que afetam a saúde mental ou angustiam as crianças e adolescentes nos tempos atuais? São muitos, certo?

Vamos focar aqui em três desses temas, que percebo estar entre os principais:

  1. a prevenção à Depressão, e, como consequência, a questão do suicídio;
  2. a atenção ao Bullying, que pode afetar, significativamente, a vida das crianças e adolescentes;
  3. o processo de Escolha Profissional, que gera muita angústia, principalmente nos adolescentes do ensino médio.

Para simplificar, vamos entender aqui a saúde mental como o bem-estar psicológico de nossas crianças e adolescentes, que significa saber lidar com as inevitáveis adversidades e pressões que a vida impõe, com as próprias emoções, com a capacidade de reconhecer e aceitar limites e saber buscar ajuda quando necessário.

Importante ressaltar também que, independentemente de ser ou não uma obrigação legal, a escola tem o dever moral de não permitir condições que favoreçam o surgimento de prejuízos psicológicos, por exemplo: discriminações, competitividade desnecessária e/ou pressões excessivas ou desproporcionais aos alunos.

Vamos tratar primeiro da problemática da Depressão, que afeta um em cada quatro jovens no mundo, sendo que esta estatística leva em consideração sintomas de depressão clinicamente elevados (CNN Brasil, 2021a).

Para a criança, ou o adolescente, num primeiro momento, surge como um sofrimento, que, por vezes, pode parecer insuportável, depois chega aos pais, gerando aflição e angústia, e podendo chegar, de forma tardia, a um profissional ou serviço de saúde mental.

Para os pais, ter um filho com depressão pode ser algo profundamente ameaçador, que mexe com suas emoções e medos, ativando vários mecanismos de defesa psicológicos a fim lidar com essa situação da melhor forma possível.

A instituição escolar, conhecendo essa dinâmica, tem total condição de atuar de forma preventiva e assertiva, por isso, uma das primeiras e mais importantes iniciativas é a Capacitação de toda a equipe, e não apenas dos professores, mas de todos os envolvidos no processo educacional, para que possam saber identificar, agir e intervir nesses casos por meio de um protocolo de ação e intervenção, em que se possa também mapear e construir possibilidades concretas de combate a este grave problema.

Outra iniciativa importante é promover Ações com os alunos, que podem ser no formato de palestras, dinâmicas, rodas de conversa, ou outros expedientes, porém, que seja de forma estratégica, com conteúdo e abordagens específicas para cada faixa etária, com utilização de dados teóricos e metodologias que abarquem o conteúdo necessário para prevenção, avaliação, manejo dos casos de depressão.

Envolver os pais e familiares também é uma das principais iniciativas. É muito importante que saibam identificar e atuar de forma assertiva, bem como saber encaminhar, quando for necessário, aos cuidados profissionais. Isso pode ser feito por meio de reuniões mensais, grupos específicos ou palestras de conscientização.

Dessa forma, quando falamos em uma articulação de estratégias que conecte todos os envolvidos (alunos, profissionais da educação e pais), estamos falando em criar uma Rede de Proteção que abrange todas as esferas do cuidado, em que os alunos possam se expressar sem medos, falar sobre suas angústias e ansiedades, que a escola possa acolher cada história de maneira individual e que pais e familiares consigam também compreender, dar o suporte e intervir para evitar danos maiores.

Em relação ao Bullying, também é um daqueles temas que tiram o sono de muita gente. Em pesquisa recente, realizada pela Universidade de São Paulo (USP), verificou-se que 28,7% dos adolescentes já foram vítimas desse assédio (CNN Brasil, 2021b).

É preciso que as instituições de ensino tomem providências para que nossas crianças compreendam a gravidade dessa ação e que possam ser agentes transformadores, desenvolvendo virtudes como tolerância, paciência, respeito e resiliência, bem como promovendo Inclusão e Diversidade nas escolas.

As escolas devem atuar diretamente com os alunos, seja por meio de leitura de textos, discussões de casos ou atividades lúdicas, oferecendo-lhes uma abordagem direta e compreensiva, e, ao mesmo tempo, ensinando a lidar com os vários problemas comportamentais e atitudes dos que intimidam e buscam causar medo nos demais. Se possível, a implementação de acompanhamento individualizado a cada faixa etária, promovendo a compreensão e mudança de pensamento acerca desse fenômeno, também é uma estratégia de alta eficácia.

Outro tema que gera bastante angústia nos jovens em ambiente escolar é a questão da Escolha Profissional. É óbvio que há múltiplos fatores que estão presentes no processo de escolha pelo aluno, a ponto de, raramente, a escola ter pouca influência. Mas o fato é que, na maioria das vezes, a escola exerce, sim, forte influência no processo decisório, uma vez que é o ambiente em que o jovem está inserido e exposto, por tempo prolongado, às principais áreas do conhecimento, a diferentes métodos e didáticas, aos amigos etc. Dessa forma, a escola pode, sim, contribuir muito nesse processo e reduzir as angústias, tensões e os medos.

A escola pode atuar implementando Iniciativas e Projetos que possam munir os jovens de informações relevantes para a escolha profissional, desenvolver competências, promover autoconhecimento que resulta em maior segurança para a escolha, ajudá-los a conhecerem seus perfis psicológicos, tendências e preferências, e como estas se alinham com as profissões existentes.

Essas iniciativas e projetos podem se desenvolver em Encontros Periódicos, em que profissionais treinados possam aplicar jogos e dinâmicas, realizar exercícios individuais e coletivos, aplicar testes psicológicos, dar devolutivas individuais, entre outras ações.

Envolver os pais também é vital nesse processo, por meio de palestras de conscientização, munindo-os de informações acerca das características do mundo do trabalho atual, e dos fatores que exercem influências e que podem facilitar o momento da escolha profissional de seus filhos.

Não pode haver uma ingenuidade quanto ao papel e as obrigações de uma escola. Sabemos, por exemplo, que ela não é uma clínica, tampouco uma consultoria especializada, mas também sabemos que há inúmeros benefícios na implementação dessas ações, não só para os estudantes, mas também para todos os envolvidos e a própria instituição.

Criar espaços, ter iniciativas e projetos para que o estudante não se sinta diferente dos demais por apresentar algum quadro de desequilíbrio emocional, sempre será um diferencial, seja competitivo ou de desenvolvimento pessoal e profissional para os envolvidos, bem como reduzindo as pressões sociais e familiares, consequentemente os níveis de ansiedade, o que pode aumentar a autoestima, sentimentos de propósitos de vida, melhora no rendimento escolar do aluno e engajamento em projetos da escola.

Com o propósito de difundir conhecimento, contribuindo para uma sociedade mais responsável, a Vetor Editora, por intermédio de sua área de serviços, oferece projetos que atendem a essas necessidades com soluções customizadas, uma equipe especializada e preparada para atuar com o público infantojuvenil.

Referências

CNN Brasil (2021a). Depressão e ansiedade entre jovens dobraram durante a pandemia, revela pesquisa. CNN Brasil. Recuperado de https://www.cnnbrasil.com.br/saude/depressao-e-ansiedade-entre-jovens-dobraram-durante-a-pandemia-revela-pesquisa/

CNN Brasil (2021b). Dez anos após Realengo, bullying nas escolas está longe de ser superado. CNN Brasil. Recuperado de https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/dez-anos-apos-realengo-bullying-nas-escolas-esta-longe-de-ser-superado

Como a escola pode contribuir para a saúde mental de seus alunos?

Oferecer ajuda especializada. Talvez essa seja a iniciativa mais importante para os alunos que enfrentam problemas de saúde mental, como surtos de estresse, transtornos de ansiedade, automutilação, depressão, pensamentos suicidas ou mesmo problemas de socialização.

Qual é o papel da educação escolar na prevenção e promoção de saúde mental de crianças e jovens brasileiros?

A educação para a saúde mental supõe, necessariamente, a intenção de que seja propiciada às crianças uma boa educação, isto é, que lhes sejam transmitidos conhecimentos psicológicos capazes de produzir uma boa saúde mental Ora, tanto o conceito de boa educação quanto o de saúde mental são apropriados individualmente e ...

Quais fatores são necessários para que a escola promova a saúde mental dos alunos?

Como trabalhar a saúde mental na escola?.
Monte uma roda de conversa. ... .
Fortaleça o senso de comunidade e pertencimento. ... .
Atue para desfazer estigmas. ... .
Favoreça o desenvolvimento socioemocional. ... .
Busque o apoio de profissionais especializados..

Qual a importância de falar sobre saúde mental na escola?

Trabalhar a saúde mental na escola é uma forma de promovê-la e prevenir transtornos mentais, pois todos estamos suscetíveis a um desequilíbrio mental, inclusive crianças e adolescentes, bem como a equipe escolar.