Qual é a relação entre o petróleo e o papel geopolítico do Oriente Médio?

Nos últimos meses, o preço do barril do petróleo tem se movimentado de forma extremamente incerta em função dos desdobramentos da Guerra entre Rússia e Ucrânia. Essas inflexões no preço ocorrem não apenas pela ação dos protagonistas da guerra, mas principalmente pelo comportamento de outras nações que estão “no entorno” do conflito. A elevada repercussão dessa guerra poderia sugerir que esse episódio é excepcional, mas um olhar mais atento aos movimentos recentes do preço do petróleo mostra que há uma profunda relação entre o valor do “ouro negro” e os conflitos militares que ocorrem em diferentes lugares do mundo.

Desde que os EUA iniciaram sua estratégia de “guerra global ao terrorismo”, os conflitos ao redor do mundo se aceleraram e, com eles, a produção de petróleo em vários lugares foram afetados, assim como o preço do barril. Evidentemente, outros fatores contribuíram para a mudança dos preços e até de forma mais importante em alguns momentos, como a crise internacional de 2008, a aproximação da Opep com a Rússia, a financeirização dos preços, o boom económico global puxado pela China na primeira década deste século, a expansão da produção do tight oil americano etc. Todavia, é impressionante observar como após dos ataques do 11 de setembro de 2001, a lógica de “reajuste” dos preços se alterou significativamente. Essa é mais uma razão para constatar que, enquanto persistir a guerra entre os dois países do leste europeu, há uma grande tendência de o preço do barril continuar instável.

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Logo após o início dos ataques de Moscou à Kiev, os países do Ocidente impuseram grandes sanções ao comércio do petróleo russo, impulsionando uma alta dos preços do barril do petróleo. Do dia 24 de fevereiro, quando Putin anunciou os primeiros ataques, até o dia 08 de março, o preço do petróleo Brent cresceu 31%, com o barril saindo de US$ 101,29 para US$ 133,18.

Qual é a relação entre o petróleo e o papel geopolítico do Oriente Médio?

Foto: Terry McGraw / Pixabay.

Com os preços em alta e o boicote realizado por Europa e EUA, a Rússia adotou a estratégia de oferecer descontos para vender o seu petróleo a outros destinos, principalmente para China e Índia, mas não só. Outros países asiáticos, da América do Sul e do leste europeu também elevaram suas compras de petróleo e derivados da Rússia.

A ameaça de uma volta ao rigoroso confinamento da China, por conta de um surto de Covid no país asiático, e a inflação e retração econômica nos EUA fizeram o preço dar uma trégua no início de maio, chegando ao valor de US$ 102,61, mas ainda um pouco acima do dia que se iniciou a guerra.

Entretanto, com a flexibilização do confinamento chinês e o aumento das restrições da compra de petróleo russo pela Europa – foram proibidas as passagens do petróleo pela costa dos países da União Europeia –, o preço voltou a decolar. Em 13 de junho, já estava no patamar US$ 128,47.

Com isso, a Rússia conseguiu manter, agora com mais agressividade, sua estratégia de venda de petróleo com desconto para outros locais que não a Europa e os EUA. Mesmo com uma nova queda de preços do Brent em agosto – voltou a ficar próximo a US$ 100 –, por conta dos sinais de recessão econômica nos EUA e os efeitos da guerra para a Europa, a Rússia conseguiu manter uma certa estabilidade nos seus preços, entre US$ 65 e US$ 70.

Em função dos efeitos inócuos do boicote ao petróleo russo e com a inflação em alta, no início de setembro, os países europeus e os EUA realizaram uma nova ofensiva ao governo russo. Capitaneado pelo FMI, surgiu a ideia de se criar um “teto” forçado para negociar o petróleo Brent e WTI. Os países que não seguissem esse teto não poderiam contar os seguros de transporte do petróleo fornecido, na sua grande maioria, por empresas americanas e europeias.

A ameaça surtiu efeito. De US$ 100,31 no dia 05 de agosto, o preço do barril Brent desabou para US$ 82,55 em 26 de setembro, uma queda de 18%. Com esse valor, a estratégia russa de “venda com desconto” começou a ficar seriamente ameaçada. Todavia, essa ação dos países ocidentais não afetou apenas a Rússia. Em primeiro lugar, atingiu o Oriente Médio que perdeu receitas de exportações de petróleo e, segundo lugar, gerou um certo receio nos países asiáticos de que o movimento do “corte” de seguros atingisse os mercados compradores de petróleo russo. Logo na sequência, a Opep+ contra-atacou anunciando um corte de 2 milhões de barris diários da sua produção. Isso permitiu que o preço do barril Brent subisse novamente atingindo o valor de US$ 98,88 em 07 de outubro.

Independentemente dos movimentos ocorridos, fica claro que a flutuação do barril nesse ano obedeceu basicamente as ações dos países em relação à guerra da Ucrânia. Em que pese a importância de outras variáveis, a expansão da quantidade de conflitos militares no atual século, principalmente em países que são grandes produtores de petróleo, passou a ter uma influência maior na determinação dos preços do petróleo.

Um recente estudo do “Journal of International Affairs”, realizado por Amy Jaffe e Jarrer Elass, destaca que há um processo histórico de relação entre as guerras e os ciclos do preço do petróleo. Analisando os movimentos do preço do petróleo ao longo da história, os autores observam que o aumento de recursos causados pelas altas de preços, em geral, é convertido em aquisição de armas e patrocínio de novos conflitos. Tais armas, muitas vezes, são utilizadas em períodos de baixa de redução de preços, quando a redução da renda petrolífera provoca queda do crescimento económico e instabilidade financeira e social que, muitas vezes, desembocam em guerras civis ou conflitos militares entre diferentes nações.

“Desta forma, o mundo experimenta a perpetuação de padrões de conflito militar, seguido de crises de abastecimento de petróleo, e acompanhado de instabilidade financeira e social (…). A corrida armamentista que acompanhou o aumento dos preços do petróleo nos anos 2000 não foi exceção e agora é ainda mais complicada devido à participação violenta de grupos subnacionais radicalizados que são menos suscetíveis a pressões ou iniciativas diplomáticas. Neste contexto geopolítico emergente, a ascensão de grupos subnacionais violentos como ISIS e Al-Qaeda estão colocando cada vez mais em risco a infraestrutura petrolífera, lançando as bases para uma futura crise petrolífera que pode se revelar mais difícil de resolver do que no passado”, mencionam os autores, incorporando um elemento adicional na discussão: que um dos alvos preferenciais de várias dessas guerras é a infraestrutura da indústria petrolífera.

Com efeito, “a corrida armamentista regional que acompanha os altos preços do petróleo impulsiona não apenas os arsenais de países-chave no Oriente Médio, mas também seus substitutos subnacionais e até mesmo organizações terroristas que surgem para desafiar o status quo. Ironicamente, o fluxo de armas impulsionado pelo boom dos preços do petróleo aumenta então o risco geopolítico para a produção de petróleo, mais uma vez lançando as bases para um futuro aumento dos preços do petróleo à medida que crescem os temores de que o conflito militar perturbe mais uma vez o abastecimento”. Ou seja, os ciclos altistas acabam tendo um papel preponderante para o financiamento de armas e equipamentos militares que, depois, quando os preços seguem para uma fase “baixista”, em geral, há instabilidades e conflitos nos quais essas armas são utilizadas.

Durante o atual século, como lembra o professor da UFRJ, José Luis Fiori, houve uma intensificação dos conflitos militares, principalmente após o ataque de 11 de setembro de 2001 realizado em Nova Iorque. “(…) a intensidade das guerras aumentou depois dos atentando do 11 de setembro de 2001, quando o governo americano declarou sua “guerra global ao terrorismo”, seguida do ataque e da invasão do Afeganistão e do Iraque. E depois disto, foram 20 anos de guerra que destruíram literalmente sete países, mataram ou feriram mais de um milhão de pessoas, e jogaram nas fronteiras da Europa mais de cinco milhões de refugiados, predominantemente islâmicos”.

Coincidência ou não, desde o ataque de 11 de setembro de 2001, as oscilações do preço do barril do petróleo foram significativamente maiores e, em média, ficaram num patamar muito mais elevado em relação ao período anterior. De maio de 1987 a agosto de 2001, o preço do barril do petróleo Brent foi, em média, de USU$ 19,17 com um desvio padrão de US$ 4,85 – que representou cerca de 25% da média. De setembro 2001 a dezembro 2015, a média do preço foi de US$ 70,59 e o desvio padrão de US$ 31,75 – que representou 45% na média. Ou seja, desde 2001, quando os conflitos militares se expandiram significativamente em relação ao período anterior, principalmente em localidades produtoras de petróleo, os preços do barril oscilaram muito mais e se situaram num patamar bem mais elevado.

Como já mencionado, outros fatores tiveram um efeito decisivo para essa tendência. No entanto, parece inconteste que a dinâmica das guerras está fortemente atrelada à evolução do preço do petróleo. Não por o acaso, enquanto o petróleo permanecer como a principal fonte energética global, os grandes produtores da commodity estarão envoltos por instabilidades sociais e económicas, conflitos militares e outras perturbações.

Por isso, enquanto a guerra da Ucrânia durar apenas uma coisa é certa: oscilações frequentes e grandes variações, tanto para cima, quanto para baixa devem dar tônica do preço do barril do petróleo.


Artigo publicado originalmente no Broadcast Energia.

Qual é a relação entre o petróleo e o papel geopolítico do Oriente Médio?

O petróleo é uma das maiores economias do mundo, sendo assim, ela gera muito conflitos e disputas em territórios onde ela existe. Principalmente no oriente médio, onde há uma grande quantidade desse recurso e historicamente muitos conflitos no local.

Qual a relação do petróleo com o Oriente Médio?

A economia dos países que compõem o Oriente Médio está vinculada diretamente com a extração e o refino do petróleo. Às vezes, essa é praticamente a única fonte de receita para determinados países.

Qual a importância geográfica e geopolítica do Oriente Médio?

A região é responsável por mais da metade de toda a produção mundial de petróleo, portanto, apresenta uma grande importância em termos econômicos e geopolíticos para o mundo. Os principais países exportadores de petróleo são: Arábia Saudita. Irã

Porque o petróleo causa conflito no Oriente Médio?

Dados demonstram que a região do Oriente Médio conta com 5% da população mundial e 1% da quantidade de água, ao passo que é a zona de maior produção de petróleo do mundo. Tal realidade contribuiu para que esses recursos naturais formassem o pano de fundo de intensos conflitos nessa região.