Quem é o ministro edson fachin

Nesta terça-feira (22), toma posse como presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Edson Fachin. Ele já é ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) desde 16 de junho de 2015 e membro titular do TSE desde 16 de agosto de 2018.

O novo presidente da Corte nasceu em Rondinha, no Rio Grande do Sul. Professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná), o magistrado, que atuou como advogado por 35 anos, foi indicado ao STF pela ex-presidente Dilma Rousseff. Fachin já publicou mais de 20 livros sobre direito e ficou conhecido por ter sido designado, em razão da morte de Teori Zavaski, relator das ações ligadas à operação Lava Jato na Suprema Corte.

O presidente do TSE é responsável por comandar a realização das eleições em todo o país desde o período pré-eleitoral até o pós-eleitoral. O ocupante do cargo fica responsável tanto pelas demandas jurídicas quanto pela logística, distribuição de urnas e contagem de votos, por exemplo. É o presidente do TSE quem decide a pauta do tribunal, isto é, quando cada ação vai ser julgada pelo plenário.

 A advogada Andrea Costa, especializada em direito eleitoral, destaca que o papel do presidente do TSE é fundamental para assegurar a lisura, a segurança e a transparência do sistema eleitoral. “Numa eleição em que não sabemos o que esperar, com novas regras que incluem a federação partidária, uma parte dos eleitores extremamente polarizada, com um "nós contra eles", insistindo em questionar as urnas eletrônicas e, muito provavelmente, os resultados, se forem a eles desfavoráveis, o presidente do TSE e a própria Justiça Eleitoral desempenham o papel principal para evitar abusos, permitindo ao eleitor que exerça a sua cidadania e assegurando que o resultado da vontade do povo seja cumprida", explica a especialista.

Com a ministra Cármen Lúcia, Fachin foi voto vencido no STF na ação que deu aval à continuidade do repasse das chamadas emendas de relator do Orçamento federal. Para o ministro, as transferências deveriam continuar suspensas até que o Congresso Nacional garantisse a transparência das indicações dos recursos.

Na Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.357/DF, da qual foi relator, Fachin votou pela improcedência da ação. No processo, a Confenem (Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino) argumentava que as escolas privadas não eram obrigadas a se adaptar para receber pessoas com deficiência. O relatório foi acatado na íntegra pelos ministros, com exceção de Marco Aurélio Mello, que discordou parcialmente.

O entendimento do ministro Fachin de que seria inconstitucional a inclusão de “jabutis” em projetos de conversão de medidas provisórias — como são conhecidas as matérias estranhas ao tema original — sobressaiu à opinião da relatora da Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.127/DF, Rosa Weber. O ministro entendeu que, como a medida provisória tinha critérios temáticos de urgência e relevância, as emendas a ela até poderiam acontecer, mas não a inserção de matérias estranhas ao texto original, prática que, até então, era comum no Congresso.

Na Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.540/MG, o ministro Fachin decidiu que não havia obrigatoriedade de autorização prévia da assembleia legislativa do estado para o recebimento de denúncia e a instauração de ação penal contra governador de estado por crime comum. De acordo com o voto do ministro, que prevaleceu, o próprio STJ (Superior Tribunal de Justiça) poderia receber o inquérito e, inclusive, tomar medidas cautelares, como o afastamento do cargo.

A Rede Sustentabilidade, na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 527/DF, queria que fosse declarada inconstitucional a abertura de inquérito de ofício pelo próprio STF para investigar ataques à democracia e à Corte por meio de notícias falsas — fake news, em inglês. De acordo com o voto do ministro, que prevaleceu, a possibilidade de abertura de inquérito de ofício, prevista pelo Regimento Interno do STF, é “regra excepcional que confere ao Judiciário função atípica na seara da investigação, de modo que, a fim de preservar preceitos fundamentais, dentro os quais, o princípio da separação dos poderes”.

A última reportagem com novas revelações de bastidores da Lava Jato -- de Veja e The Intercept -- entre outros diálogos, evidenciou uma mensagem enviada pelo procurador do Ministério Público Federal (MPF) e chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol, a outros procuradores em um grupo de Telegram:

“Caros, conversei 45 m com o Fachin. Aha uhu o Fachin é nosso”, comemorou Dallagnol, em 13 de julho de 2015, após reunir-se com o ministro Edson Fachin, responsável pela relatoria dos processos da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). 

Por conta da citação de Fachin, um juiz que supostamente deveria ser isento, como um aliado do grupo da Lava Jato, o Brasil de Fato republica um perfil que conta a história do ministro de 61 anos, escolhido por Dilma Rousseff (PT) para uma cadeira no STF em 2015. O texto foi publicado originalmente em 2018.

Leia a seguir:

“Apoiamos Dilma para prosseguirmos juntos na construção de um país capaz de um crescimento econômico que signifique desenvolvimento para todos, que preserve os bens naturais. Um país socialmente justo que continue acelerando a inclusão social e que consolide, soberano, sua nova posição no cenário internacional. Um país que priorize a educação, a cultura, a sustentabilidade e a erradicação da miséria. Um país que preserve sua dignidade reconquistada. O governo que queremos é o governo que preservou as instituições democráticas e jamais transigiu com o autoritarismo”. 

As palavras são do então professor da Universidade Federal do Paraná, Edson Fachin, durante um ato de campanha para a primeira eleição de Dilma Rousseff à presidência da República, em 2010, no Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Fachin havia liderado um grupo de juristas que apoiaram a candidatura petista.

Na época, o jurista era autor de importantes defesas na garantia dos direitos humanos. Em 2008, ele assinou um manifesto de apoio ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no qual afirmava que as ocupações de terras eram "atos legítimos" de caráter reivindicatório, como lembra Ney Strozake, advogado do movimento. 

“Eu o conheci por força da militância no MST, na área dos direitos humanos, por volta de 1994, 1995. Ele sempre foi muito amigo do MST, escreveu alguns livros sobre a questão agrária e a função social da terra, defendendo sempre que a posse em razão da atividade agrícola deve se sobrepor à propriedade como direito”. 

Em 2015, Fachin foi nomeado pela então presidenta Dilma para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), aberta depois da aposentadoria voluntária do ministro Joaquim Barbosa. 

“Eu pessoalmente não o conhecia. Conhecia a reputação que ele tinha, uma pessoa vinculada aos movimentos sociais, à igreja, e tinha, nesse sentido, muita gente que gostava muito dele. E ao mesmo tempo, sabíamos que ele tinha um enorme know-how acadêmico, uma ação de defesa dos movimentos sociais. De modo que quando ele foi indicado, ele teve muito apoio de pessoas que achavam que ele ia ser uma voz importante dentro do Supremo”, destaca o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão. 

A relação de Fachin com os movimentos sociais, principalmente aqueles ligados à disputa pela terra, gerou, na época, forte resistência de setores políticos do Congresso Nacional. A sabatina que aprovou a indicação de Fachin à posição de ministro durou mais de 12 horas e foi considerada uma das mais difíceis, devido à forte oposição dos ruralistas e da bancada evangélica.

Hoje, Aragão se diz surpreso pela atuação de Fachin à frente da relatoria dos processos da Operação Lava Jato no STF. “É assustador. Isso ninguém podia imaginar. A atuação dele me surpreendeu muito. Até hoje eu continuo sem entender certas posições, que não condizem com o passado dele”, opina.

Para Strozake, as contradições de Fachin têm origem numa articulação entre Ministério Público, Poder Judiciário e meios de comunicação para definir, sem passar pelo voto popular, os rumos da política no país.

“A partir das mobilizações da direita no mês de junho de 2013, quando os Estados Unidos e outros países injetaram muito dinheiro para viabilizar as organizações, especialmente o MBL, e eles conseguiram levar, via Rede Globo, muita gente para as ruas, se iniciou um processo de convencimento das autoridades de estado, especialmente do Poder Judiciário. Eles criaram uma teoria, uma construção de interpretação que vai no sentido de que o Ministério Público Federal e o Poder Judiciário, aliados aos meios de comunicação, podem mudar o país”. 

Na última sexta-feira (22), Fachin voltou a surpreender ao mandar arquivar um novo pedido de liberdade da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba desde o dia 7 de abril. A decisão do ministro ocorreu a apenas quatro dias do julgamento que analisaria o pedido. O magistrado entendeu prejudicado o requerimento da defesa depois que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) decidiu negar a remissão do recurso à corte.

Entre a garantia de direitos e a punição a todo custo

Strozake, que acompanhou de perto a contundente defesa de Fachin aos direitos fundamentais, considera "vergonhosa" sua atuação no STF, baseada em um punitivismo deliberado, sob a máscara do combate à corrupção.

“O Fachin e todos que votaram pelo fim da presunção da inocência são carcereiros do STF. Não é o papel do STF mandar prender ou soltar. E o Fachin se apodera desse papel de forma vergonhosa. Ele é o carcereiro da Lava Jato e do STF. O que é uma vergonha, maior ainda para uma pessoa que defendia os direitos humanos”, disse. 

Mas há que se dizer que a posição de Fachin, embora tenha ganhado força na corte suprema, sofre resistência de alguns ministros. Na última sexta-feira (22), em entrevista à emissora de TV portuguesa RTP, o ministro Marco Aurélio Mello, vice-decano da corte, afirmou que a prisão do ex-presidente Lula, após condenação em segunda instância, "viola a Constituição brasileira".

Mello é um dos ministros com posições consideradas garantistas dentro do STF, mas ele pertence à primeira turma, ou seja, só participa dos debates envolvendo a Operação Lava Jato, caso eles sejam levados ao plenário.

“Eu não concebo, tendo em conta a minha formação jurídica, tendo em conta a minha experiência judicante, eu não concebo essa espécie de execução”, reforçou Mello, durante a entrevista.

Para Eugênio Aragão, a posição do ministro Marco Aurélio representa uma resistência ao punitivismo predominante na máxima corte do país.

“Há duas frentes dentro do STF. Uma que é mais garantista e uma outra mais punitivista, na linha do que o Ministério Público tem conseguido explorar. E o ministro Marco Aurélio tem sido, principalmente na primeira turma, um estranho no ninho lá dentro”.

Ainda durante a entrevista ao canal português, o ministro Marco Aurélio atribui a manutenção da ilegalidade à negativa reiterada da presidente da corte, a ministra Cármen Lúcia, de levar ao plenário duas Ações Diretas de Constitucionalidade (ADCs), que questionam a antecipação do cumprimento da pena, em face ao princípio da presunção da inocência, e das quais Mello é relator.

Edição: Rodrigo Chagas


O que faz o ministro Fachin?

Fachin atuou como advogado desde 1980, quando fundou o escritório Fachin Advogados Associados, até 2015, quando foi indicado ao cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal. Em seu escritório, trabalhou principalmente em casos de conflitos empresariais, sucessórios, ambientais, agrários e imobiliários.

Quem indicou o ministro Edson Fachin ao Supremo?

A presidenta Dilma Rousseff indicou nesta terça-feira, 14 de abril, o advogado Luiz Edson Fachin para compor o quadro de ministros do STF, ocupando a vaga aberta com a aposentadoria do ministro Joaquim Barbosa.

Onde nasceu o juiz Fachin?

Rondinha, Rio Grande do Sul, BrasilEdson Fachin / Local de nascimentonull

Qual ministro do STF não é casado?

José Antonio Dias Toffoli GOMA (Marília, 15 de novembro de 1967) é um jurista e magistrado brasileiro, atual ministro do Supremo Tribunal Federal, do qual foi presidente de 2018 a 2020.