A Segunda Guerra Mundial fez ressurgir no cenário da economia brasileira a produção da borracha, fazendo da Amazônia a maior produtora de “látex” novamente. Os Aliados (Inglaterra, França, Estados Unidos e Rússia) ficaram preocupados com a possibilidade de acabarem seus estoques, pois para eles venceria a guerra àquele que tivesse a maior quantidade de borracha. A borracha era o “nervo da guerra”. Dessa forma o Governo
Norte-Americano procurou o Governo Brasileiro para garantir que suas necessidades de utilização da borracha fossem supridas, enquanto os seringais ingleses estivessem sob domínio do Eixo. O Governo Brasileiro para atender suas responsabilidades previstas no acordo criou órgãos responsáveis pelo arregimento da mão-de-obra e organização dos seringais. Os trabalhadores recrutados para produção gumífera nesse contexto ficaram conhecidos como Soldados da Borracha. Muitos desses imigrantes, a grande
maioria nordestinos, fugiam da guerra e da seca.
Como CitarPontes, C. J. F. (2015). A GUERRA NO INFERNO VERDE: Segundo Ciclo da borracha, o front da Amazônia e os Soldados da Borracha. South American Journal of Basic Education, Technical and Technological, 2(1). Recuperado de https://periodicos.ufac.br/index.php/SAJEBTT/article/view/218 Artigos de Revisão Entrevista feita pelo jornalista Laécio Ricardo, publicada em 24/06/2007 no Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste Cativos da Amazônia ´Soldados da Borracha´, livro de María Verónica Secreto, recapitula a saga dos nordestinos que migraram para o Norte e encontraram a escravidão nos seringais. A política ambígua de Vargas na II Guerra Mundial teve como conseqüência o ingresso tardio do Brasil no conflito. À sua maneira, o presidente se beneficiava da competição entre as potências ocidentais pelo fornecimento de matérias-primas e a formação de alianças. Até o início da Guerra, os alemães pareciam levar vantagem na disputa pelo apoio brasileiro. Tal esfera de influência, contudo, foi gradualmente ocupada pela chancelaria dos EUA: Vargas liberou o uso de bases pelos aliados e, posteriormente, acenou com o envio de tropas para o conflito – a chamada “Força Expedicionária Brasileira” (FEB). Porém, um dos episódio mais polêmicos relacionados à participação nacional na Guerra ocorreu longe do front e teve como locus os seringais da Amazônia. Para assegurar o êxito do esforço aliado, Vargas estimulou o recrutamento de mão-de-obra nordestina – cearense principalmente – para a extração do látex, insumo em escassez no mercado. Tal “convocação” era amparada por promessas de prosperidade. Contudo, no solo inóspito da Amazônia, os nordestinos enfrentaram o trabalho escravo e péssimas condições de moradia. Esta saga é revisitada pela historiadora argentina María Verónica Secreto, no livro “Soldados da Borracha” (Perseu Abramo). A obra analisa o recrutamento dos trabalhadores, destacando a política oficial de povoamento da Amazônia e a propaganda responsável pela mobilização dos migrantes. Sem fuzil ou munição, milhares de nordestinos travaram no Norte uma guerra silenciosa. Grande parte pereceu na selva, vitimados pelas enfermidades da Região e os rigores do clima; no outro extremo, a exploração sem freios dos “aviadores”, comerciantes que mantinham os trabalhadores em situação de escravidão por dívidas, foi responsável pela expiação definitiva dos seringueiros. MARÍA VERÓNICA SECRETO – professora universitária Borracha e escravidão nos seringais da Amazônia Um dos episódios mais contraditórios protagonizado pelos brasileiros na “II Guerra Mundial” não se deu no front, mas nos seringais da Amazônia. Trata-se do recrutamento massivo de mão-de-obra nordestina – cearense principalmente – para o trabalho de extração do látex, matéria-prima fundamental para o esforço aliado na Europa. A “convocação” dos “soldados da borracha” contou com os auspícios do governo Vargas – era alavancada por promessas de prosperidade no ermo Norte . No entanto, em vez do eldorado, os nordestinos encontraram o inferno: enfrentaram o trabalho escravo, duras jornadas e péssimas condições de moradia. O episódio em questão, que atiça a verve da academia, é analisado pela historiadora argentina María Verónica Secreto no livro “Soldados da Borracha” (Editora Perseu Abramo), lançado recentemente. Professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Verónica Secreto se interessou pelo tema quando lecionou no Departamento de História da UFC, na condição de docente visitante. Abaixo, confira entrevista com a pesquisadora.
FIQUE POR DENTRO
Como eram recrutados os soldados da borracha?A borracha era enviada aos Estados Unidos e usada nos equipamentos dos Aliados para a guerra contra as forças do Eixo. Os trabalhadores foram recrutados pelo Semta (Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia), com promessas de melhoria de vida.
Como eram chamados os trabalhadores que foram para os seringais durante a Segunda Guerra Mundial?Os recém-chegados à região recebiam alcunhas pejorativas. Eram chamados de 'brabos' (aqueles que ainda não sabiam cortar seringa) ou de 'caga-navio', por enfrentarem infecções intestinais intensas provocadas pela má alimentação servida no trajeto até os seringais.
Como era a relação de trabalho dos seringueiros com os seringalistas?Entre o seringalista e o seringueiro formava-se um subcontrato do mesmo gênero, comprometendo-se o trabalhador a cortar seringa em uma das estradas do seringalista, e ao fim da safra, entregar-lhe a produção, por um determinado preço.
Quem eram os trabalhadores dos seringais?Os seringueiros são trabalhadores que vivem da extração de látex das seringueiras, árvores com ocorrência principalmente na floresta amazônica. Possuem um modo de vida integrado à natureza, dependendo dela não apenas para exercício de sua atividade produtiva, mas para sua subsistência como um todo.
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