Qual a importância da Geografia para a história do povoamento do continente americano?

Mestre em História Comparada (UFRJ, 2020)
Bacharel em História (UFRJ, 2018)

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As primeiras sociedades do continente americano, também chamadas pré-colombianas, são propriamente aquelas que ocuparam e desenvolveram-se nesta região no período anterior à chegada dos europeus. É importante ressaltar a diversidade desses povos, para que sejam compreendidas as diferentes características e formas de organização de cada grupo. As distintas realidades ambientais, sobretudo, condicionaram os modos de vida dessas sociedades.

A teorias acerca do povoamento da América relacionam-se à ideia de que esses primeiros habitantes seriam nômades, isto é, deslocavam-se de um lugar para o outro caçando grandes manadas de animais.

A teoria cientificamente mais aceita é de que, por conta do fenômeno da glaciação, houve a possibilidade de imigração entre os continentes asiático e americano. Os povos teriam chegado à América do Norte por meio de uma ponte natural formada de gelo, no Estreito de Bering (entre a Sibéria e os EUA).

A arqueologia foi fundamental para que o acesso a artefatos e vestígios (datados de 11.500 a 12 mil anos) fosse possível. Estudiosos traçaram, por meio destes artefatos, semelhanças entre os habitantes das américas e os da ásia. Há, no entanto, outra teoria, a partir de vestígios encontrados no Brasil e na América do Sul, de que teriam ocorrido diversas ondas migratórias no processo de povoação da América vindas da África e da Oceania. Povos teriam migrado gradativamente em direção à América do Sul utilizando embarcações, por volta de 30 mil anos atrás.

Em 1975, na região brasileira de Lagoa Santa (MG), arqueólogos encontraram um fóssil que foi batizado de Luzia, datado de mais de 12 mil anos. Este fóssil permitiu o desenvolvimento da segunda teoria, visto que a presença de traços negróides, indicava a possibilidade de ocupação africana e australiana nas américas, para além da colonização asiática advinda do estreito de Bering. Na imagem abaixo pode-se ver o crânio de Luzia, exposto no Museu Nacional, antes do incêndio ocorrido em 2018.

Muitos desses grupos humanos desenvolveram-se em sociedades complexas e grandes impérios, como os Astecas e os Incas. Estes povos indígenas, assim como vários outros espalhados pelo continente, foram dizimados e encurralados em decorrência do processo colonizador iniciado com a chegada dos europeus no século XV. No entanto, a herança cultural indígena permanece caracterizando os países americanos até o tempo presente.

O historiador Ciro Flamarion Cardoso sinaliza “não ser possível para qualquer período pré-colombiano a construção de um saber histórico comparável ao que possuímos acerca da Grécia ou Roma antigas, já que estas são civilizações para as quais podemos dispor de documentação escrita”, o que possibilita a uma compreensão mais detalhada dos processos históricos.

Muitos dos documentos anteriores à colonização europeia foram destruídos, e os relatos que chegaram até nossos tempos são fundamentalmente de origem europeia. Apesar disso, tem-se observado um esforço cada vez mais crescente da arqueologia em pesquisas que busquem preencher as lacunas em relação à cultura dos primeiros habitantes da América.

Leia também:

  • América pré-colombiana
  • Primeiros povos da África
  • Primeiros povos da Ásia
  • Primeiros povos da Europa

Referências:

CARDOSO, Ciro Flamarion. América pré-colombiana. Coleção Tudo é história, 1ª edição. Brasiliense. São Paulo, 1981.

Fragmentos do Crânio de Luzia são encontrados em escombros do Museu Nacional. Redação Nacional Geographic Brasil. Publicado em: 19 de outubro de 2018. Disponível em:

https://www.nationalgeographicbrasil.com/museu-nacional-do-rio-de-janeiro/2018/10/fragmentos-cranio-de-luzia-encontrado-escombros-museu-nacional-depois-incendio-rio-de-janeiro

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/primeiros-povos-da-america/

Os primeiros povos da América se referem àqueles que viviam na América antes da chegada do europeu.

Também são chamados de pré-colombianos, pois são situados no período anterior ao desembarque de Cristóvão Colombo, em 1492.

Exemplos de povos pré-colombianos são os incas, astecas, maias, guaranis, tupinambás, tupis, apaches, shawees, navajos, inuítes e muitos outros.

Estreito de Bering

O continente americano já era ocupado por diversos povos há cerca de 10 mil anos, como demonstram evidências arqueológicas.

A teoria mais aceita entre os cientistas é a de que a povoação do continente americano ocorreu pela travessia do Estreito de Bering. Perseguindo os animais, os caçadores acabaram atravessar o estreito e se estabelecerem ali.

Qual a importância da Geografia para a história do povoamento do continente americano?

Entretanto, há provas que apontam a existência de seres humanos nessa parte do globo, mesmo antes das incursões pelo Estreito de Bering por rotas alternativas ou pela navegação.

Embora tenham sido influenciados pela colonização europeia, há povos que ainda hoje mantêm suas tradições de seus antepassados e as transmitem para as novas gerações.

Características dos primeiros povos da América

Os primeiros povos da América eram nômades, caçadores e coletores. Segundo os estudos arqueológicos, suas características físicas têm traços semelhantes aos dos povos da África, Austrália e de povos mongóis.

Essa teoria é apoiada por pesquisas genéticas, que apontam um paralelo entre o DNA dos índios americanos e dos povos citados.

Esses povos caçavam como mastodontes, preguiça-gigante, tigre dente de sabre e o tatu gigante.

O extrativismo, contudo, não era a única maneira de subsistência dos povos. Há 7 mil anos, as nações americanas já dominavam a agricultura e plantavam abóbora, batata, milho, feijão e mandioca. Da mesma forma domesticaram pequenos animais.

O continente americano estava inteiramente povoado na época da chegada de Cristóvão Colombo. Além de coletores, divididos em vários povos e espalhados por todo o continente, havia civilizações organizadas em imponentes impérios, como é o caso dos Maias, dos Astecas e dos Incas.

Essas civilizações não eram melhores nem piores que os europeus em muitos aspectos, mas tinham ritos e sacrifícios extremamente chocantes para os europeus.

Do mesmo modo, havia costumes da Europa que pareciam estranhos aos nativos. O problema foi a força desproporcional que foi usada pelos europeus ao invadir a América, fazendo desaparecer povos inteiros.

América Central

Na região que compreende a América Central – do México até a Costa Rica – vivia um conjunto de sociedades estratificadas, com um complexo sistema de exploração agrário e que compartilhavam crenças, tecnologia, a arte e a arquitetura.

As estimativas arqueológicas apontam que o desenvolvimento da complexidade dessas culturas tenha começado entre 1800 a.C. e 300 a.C.

Sua tecnologia permitiu a construção de templos e realização de pesquisas nas áreas de astronomia, medicina, escrita, artes plásticas, engenharia, arquitetura e matemática.

As cidades eram importantes centros de comércio na região hoje ocupada pelo México. Essas civilizações foram praticamente extintas pelos povos colonizadores e o que sobrou foram evidências históricas de sua organização e modo de vida.

Astecas

Os astecas viveram na região que hoje corresponde ao México. Tinham uma organização rígida, extremamente estratificada, com um imperador que era considerado uma semi-dividade e chefe do exército.

Eram um povo guerreiro, que viveu seu apogeu entre os séculos XV e XVI. No entanto, não se descuidaram da agricultura. Deste modo, desenvolveram o cultivo de através de plataformas a fim de aproveitar o máximo o espaço e terras agricultáveis.

O império asteca era formado por quase 500 cidades num delicado equilíbrio de alianças e rivalidades. O navegador Hernán Cortez aproveitou-se desta situação para conquistá-los.

Maias

Qual a importância da Geografia para a história do povoamento do continente americano?
Pirâmide de Chichén-Itzá onde os maias realizavam sacrifícios aos seus deuses. Observem as esculturas em volta do complexo

Os maias viviam na região que hoje corresponde à Guatemala, Honduras, Belize, El Salvador e Península de Yucatán. Formavam um conglomerado de cidades-estados que estava em constantes guerras entre si.

Quando os colonizadores chegaram, havia pelo menos seis milhões de maias na região que foram dizimados.

Eram hábeis escultores e fizeram verdadeiras obras de artes em materiais duros como o jade. Avançaram os cálculos matemáticos e possuíam um calendário com 365 dias do ano.

Igualmente, levantaram grandes pirâmides, muitas das quais podem ser visitadas até hoje.

Era um povo politeísta e ofereciam sacrifícios humanos e de animais aos deuses. Assim como a religiosidade medieval estimulava práticas de jejum e autoflagelação, os maias também incluíam o auto-sacrifício e ofereciam seu próprio sangue aos deuses.

América do Sul

A América do Sul estava povoada por várias tribos que se organizavam de maneira distinta. Temos a civilização inca que se estendeu seguindo a cordilheira dos Andes, bem como os mapuches no sul do Chile e da Argentina.

Igualmente, o futuro território brasileiro estava ocupado com dezenas de povos como os tupis, os tamoios, aimorés, tupiniquins, guaranis e muitos outros que foram perdendo seu espaço à medida que avançava a colonização portuguesa.

Incas

Os incas habitaram o Equador, o sul da Colômbia, o Peru e a Bolívia. Ao menos 700 idiomas eram falados no Império Inca que, como os demais, foi conquistado e destruído pelos espanhóis.

Embora não dominassem a escrita, este povo criou um sistema de contagem, o quipo, e o aplicavam para a cobrança de impostos. Além de terem desenvolvido um método de cálculo que utilizava um instrumento semelhante ao ábaco.

Consideravam-se filhos do sol, eram politeístas e tinham o seu chefe Inca adorado como um deus. As famílias deveriam entregar ao menos uma filha para servir ao inca por certo período de tempo.

Povos indígenas no Brasil

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Mamelucos conduzindo prisioneiros índios, obra de Jean-Baptiste Debret

A região que hoje é ocupada pelo Brasil era habitada por cerca de 4 milhões de índios quando a esquadra de Pedro Álvares Cabral aportou. A maioria era constituída por coletores e caçadores.

Hoje, mesmo após a redução do território indígena, há 240 povos indígenas no Brasil que falam até 150 dialetos. As principais causas da redução da população foram a pressão colonizadora e as doenças trazidas pelos portugueses.

Os remanescentes de povos indígenas brasileiros ainda vivem em constante disputa por território e são alvo de doenças e vivem, a maioria, em extrema pobreza.

Entre esses povos está o Guarani-caiuá, que vive na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. O assassinato de líderes indígenas e a ocupação de terras são constantemente divulgados pela mídia.

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América do Norte

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Aspecto do interior de uma tenda da tribo Apache

Os primeiros assentamentos humanos da América estão registrados no atual Alasca (EUA). Ali, o povo inuit ocupou áreas do Canadá e Groenlândia.

À chegada dos europeus, os povos nativos da América do Norte eram tribos de comportamento seminômades, além de caçadores-coletores; e outros eram povos sedentários que viviam da atividade agrícola.

Entre eles estão incluídos os Apache, os Shawee, os Navajos, os Creek, os Cherokee, os Sioux e muitos outros.

Sua religiosidade era politeísta com o culto especial ao espírito dos antepassados e animais. No entanto, em algumas tribos se registra o culto teísta onde havia uma entidade maior que as outras.

De todas as formas, os indígenas americanos tinham uma cosmovisão peculiar onde os humanos, a mãe terra e o pai céu são apenas um.

Com a Marcha para o Oeste, os indígenas foram expulsos sistematicamente da suas terras. Morriam nos campos de batalha, de doenças e também de fome, pois com a ocupação da terra os animais foram se extinguindo.

A indústria cinematográfica americana transformou a colonização em direção ao Pacífico como um evento espetacular, onde os indígenas eram tratados de forma estereotipada e violenta.

Entre os últimos acontecimentos está o massacre dos Sioux, em 1890, quando a cavalaria dos EUA executou 150 indígenas, entre homens, mulheres e crianças. Os corpos foram jogados em uma cova coletiva.

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Qual a importância da Geografia para a história do povoamento do continente americano?

Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.

Qual a importância da geografia para o povoamento do continente americano?

Um ótimo exemplo disso é o estudo do mapa que ilustra a extensão da Beríngia, uma enorme placa de gelo formada com a última glaciação e que facilitou a passagem, migração e povoamento de povos da Ásia para o continente americano pelo atual estreito de Bering.

Como foi o povoamento do continente americano?

Segundo a teoria de Bering, a chegada do homem ao continente americano ocorreu há, aproximadamente, 50 mil anos, quando nômades asiáticos atravessaram o Estreito de Bering; que nesse período encontrava-se congelado em razão da era glacial, formando assim uma ponte natural entre os dois pontos.

Quais os motivos que levaram o povoamento da América?

O povoamento da América ocorreu graças às migrações de nômades asiáticos, que cruzaram os dois continentes por meio do estreito de Bering (de acordo com uma das hipóteses mais aceitas).

Qual e a hipótese mais aceita sobre o povoamento do continente americano?

De acordo com a teoria de Bering, o homem teria chegado à América através do Estreito de Bering, localizado entre o extremo leste do continente asiático e o extremo oeste do continente americano, os dois pontos se encontram separados por 85 km.