Mano brown quem é

Quando Mano Brown abre a boca, sempre dá o que falar. Desde 1988, o rapper do Racionais MC’s conquistou uma legião de fãs e tornou-se ídolo de uma geração falando sobre a realidade da periferia. Aos 51 anos, ele continua influenciando com seu papo reto. Agora, abordando uma gama ainda maior de assuntos no podcast “Mano a mano”, que estreia segunda temporada na próxima quinta-feira, dia 24, no Spotify. A primeira leva de episódios foi sucesso, e agora o paulistano promete tocar em assuntos delicados como segurança pública. Aqui, o artista faz um balanço desse seu novo lado que mostrou ao público e desabafa sobre a desconfiança de parte dos brasileiros, que o consideravam marginal e ignorante. Confira:

De rapper a entrevistador

“Saí da zona de conforto. Estou me expondo e mostrando fragilidades. Tenho que ter uma certa frieza também e me resguardar ao que tenho que fazer, não focar em mim ou no meu ego. Administro meus medos: de errar, de não ser interessante, de não fazer uma pergunta que interessa. Tento criar um clima de amizade, para que a pessoa não se sinta acuada ou intimidada. Ficamos de igual para igual”.

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Sucesso do podcast

“Associo o sucesso à minha equipe. Não é a carreira do Mano Brown. Julgo ser algo maior que minha vida particular. Talvez as pessoas tenham se interessado por causa das perguntas de um cara comum, leigo, conversando com pessoas entendidas dos assuntos que falam. Prefiro me colocar no lugar do cara que sabe menos, que sabe pouco. Mesmo quando são assuntos complexos, tento deixar mais informal. Quero que uma pessoa que trabalha descarregando um caminhão ouça, entenda e se reconheça. Quero falar com todos, não só com os entendidos no assunto”.

Possíveis convidados

“Já chamamos Pelé, mas ele estava doente, e estávamos na pandemia, mas ele ainda está no nosso projeto. Dilma está no radar também. Acho que ela é uma das mulheres mais injustiçadas da história do Brasil. Seu Jorge é outro que está no radar, já é o próximo a ser gravado. Ele tem muito a acrescentar em relação a cinema e à vida dos brasileiros, principalmente os negros, fora do Brasil. Já gravamos com Emicida e foi sensacional. Parece que ele tem 80 anos e eu só 51, pela experiência de vida que ele tem”.

Mano brown quem é
Mano Brown Foto: Pedro Dimitrow

De geração em geração

“Acho legal o lance de ter 51 anos e ainda estar fazendo rap. Tenho um diálogo legal com os jovens e com caras mais velhos do que eu. São poucas coisas que conseguem fazer isso, talvez só o futebol (risos). O legado é falar com os jovens sempre. Se eles não entenderem você, se faça entender. É necessário transparência, simplicidade, um coração mais aberto. As convicções existem para serem questionadas. Não vou chegando com o pé na porta, bem louco, empoderado de Racionais e sem ouvir ninguém. O Racionais não é assim, e o Mano Brown também não é”.

Assuntos sensíveis

“Temos que falar de assuntos como armas, drogas, maioridade penal de uma forma direta, simples, numa abordagem que seja prática para a vida do cara, com urgência. Segurança pública (abordada em um dos episódios da segunda temporada do podcast) é um dos temas mais sensíveis para mim. É um monte de questionamento que vem quando você pensa. Falar disso é delicado, já que você pode entrar em conflito com os seus”.

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Metamorfose ambulante

“Eu pago o preço quando me coloco na dúvida. O público se questiona: ‘Cadê aquela convicção do Mano Brown que abracei?' Se questione também! A gente é uma metamorfose ambulante, como dizia o poeta. Com 20 anos você é uma coisa, aos 30 outra e assim o homem vai evoluindo e se aperfeiçoando. Ou não. Não é porque vai ficando mais velho que fica melhor. Tem gente que piora. Mas sou feliz, transparente, não minto para meus irmãos, não vendo uma coisa que não sou. Unanimidade não existe mesmo... Lula é um exemplo. O cara teve 80% de aprovação em seu governo e depois foi preso. Era o herói do povo e passou a ser bandido. Esse é o Brasil”.

Marginalizado

“Sinceramente, uma coisa que me perturbava, não vou mentir, era as pessoas me colocarem num lugar de marginal, uma pessoa ignorante e intransigente. Nunca fui nem um nem outro. Tive que aprender a conviver com essa desconfiança da minha intelectualidade quando quis aprender as coisas. Acham que rapper é rockstar, artista, que faz loucuras. Eu era obrigado a conviver com a alcunha de ser um burro. Até quem acha que sou um pensador acha que sou num segmento só”.

Surpresa dos fãs

“Muita gente ficou surpresa comigo. Uma pessoa me disse: ‘Nunca imaginei que Mano Brown acreditasse em signo’. Onde você vive, parceiro? Você acha que só por que eu canto rap eu vivo onde? Tenho que saber de mim mesmo. Sou taurino, tenho fome o dia inteiro, preguiça, gosto de conforto, roupa boa, perfume, boa música e boas amizades. Sou teimoso. Conhece-te a ti mesmo e a verdade vos libertará. Já aviso logo, se for me convidar para algo, tem que ter comida, um sofá da hora para eu ficar ouvindo um som. Não me deixa em pé com fome que estragou o rolê! (risos)’’.

Mano brown quem é
Mano Brown Foto: Pedro Dimitrow

Qual história do Mano Brown?

Brown é filho de dona Ana, falecida em 16/12/2016, cresceu na periferia da cidade no bairro do Capão Redondo (Parque Santo Antonio), extremo sul de São Paulo. Mano Brown nunca conheceu seu pai, porém uma publicação revelou que seu pai possuía origens italianas. Quanto a dona Ana, Brown a homenageia em letras suas.

O que o Mano Brown faz hoje?

Agora que Caetano vira black bloc, Mano Brown atua como animador de “playboy”.