O que e o conceito de aldeia global?

Rafaela L�bo

O termo Aldeia Global foi usado pela primeira vez pelo literato e fil�sofo canadense Marshal McLuhan, ainda nos anos 1960. N�o se sabe ao certo em que ele se baseou para criar esse conceito. Alguns dizem que a origem foi a express�o “urban and orbal” encontrada na obra de James Joyce, autor por quem o fil�sofo tinha predile��o. Outros dizem que se baseou no conceito de noosfera. H�, ainda, aqueles que defendem que Marshal se inspirou em um pensamento do escritor Wyndham Lewis, que mencionava o planeta Terra como uma grande aldeia.

Independentemente da origem, fato � que, indiscutivelmente, com uma forma��o basicamente liter�ria e com recursos parcos (se comparados aos que existem hoje), somente um vision�rio poderia pensar na exist�ncia de uma grande “teia” gerida por uma “alma suprapessoal”, sem destinos ou lugares r�gidos. No m�nimo, o autor previu a internet. Mas como conseguiu?

McLuhan acreditava que os homens, devido ao surgimento da imprensa, estavam isolados, isso porque cada um era capaz de analisar, pensar e viver solitariamente. No entanto, afirmava que devido ao que classificou como “civiliza��o da eletricidade”, tudo mudaria e voltar�amos ao passado na medida em que os homens viveriam novamente em grupo – a diferen�a � que isso seria facilitado por uma estrutura virtual. Na �poca, novas formas de contato midi�tico surgiam (telefone, televis�o) e, al�m disso, por ser professor universit�rio, ele sentia a diferen�a entre as gera��es. Foi nessas circunst�ncias que imaginou uma nova forma de m�dia. Para ele, a chegada de uma estrutura tecnol�gica possibilitaria o fim de um mundo linear.

Amado por uns, que o consideram pensador genial, odiado por outros, que entendem que suas an�lises eram superficiais, insisto: McLuhan era um vision�rio. Ao se referir � Aldeia Global, o fil�sofo cita um espa�o de converg�ncia, em que haveria “redes virtuais”, as no��es de sentido se perderiam e as ideias estariam em dire��es ca�ticas. Para ele, haveria um mundo unificado, uma malha global, algo como uma grande teia democr�tica que abrigaria todos.

� fant�stico pensar que hoje n�o h� mais locais fixos. Com o advento da internet, uma pessoa, sem sair de casa, � capaz de conhecer o mundo, visitar pa�ses, cidades, bibliotecas...

As popula��es se conectam, ou, ao menos, t�m no��o umas das outras. Ocidentais e orientais partilham descobertas e nem mesmo a China, com todas as restri��es ao uso da internet, consegue se manter isolada. A Primavera �rabe n�o � fruto do mero acaso; as manifesta��es no Brasil tamb�m n�o. Tudo poss�vel porque as redes sociais promovem encontros e dissipam culturas e diversidades. Vivemos numa Aldeia Global.

Logo, poder�amos pensar que as teorias apresentadas na d�cada de 1960 s�o perfeitas. Ser�? A quest�o � que se Marshal foi um “Nostradamus real”, haver� erros e acertos em suas teorias. Nesse sentido, o grande pensamento que se apresenta n�o � a previs�o feita em rela��o � Aldeia Global, mas ao fato de isso remeter � alma suprapessoal.

Mesmo em aldeias, h� manipuladores, poderosos, aqueles que definem como a sociedade funcionar�. In�meras pessoas usam as redes sociais visando � manipula��o. In�meras? Quero dizer, as pessoas usam as redes com fins, no m�nimo, de autopromo��o e disseminam apenas os conhecimentos que desejam. Essa � a realidade. Isso ocorre porque na rede se � quem se deseja ser, podemos criar personagens, esconder, enganar, tudo � poss�vel. Pais se preocupam, jovens e imaturos se arriscam.

Como explicou McLuhan, os meios s�o extens�es dos sentidos dos humanos. Assim, o telefone amplia a fala; as rodas de um carro ou as asas de um avi�o permitem que a pessoa viaje; o computador e a televis�o n�o s�o simplesmente m�quinas, mas conceituam a realidade de uma forma ou de outra. Ser�, ent�o, a internet uma extens�o de nossos pensamentos e desejos? Uma extens�o do que somos e daquilo que acreditamos que somos? Ser� ela gerida por algo superior a todos n�s? Ou somos os gestores de tudo isso?
A Aldeia Global � uma realidade. Us�-la para o bem ou para o mal ser� uma escolha humana.

. Rafaela L�bo � mestre em lingu�stica e professora do Centro Universit�rio UNA

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Comunica��o
de massas

Herbert Marshall McLuhan (1911-1980) se tornou conhecido por seus estudos sobre a comunica��o de massas, em que focalizava o impacto das tecnologias – sobretudo a TV, nos anos 1950/1960 – sobre a cultura e a sociedade. Entre seus livros est�o A gal�xia de Gutemberg (1962), Os meios de comunica��o como extens�es do homem (1964) e Guerra e paz na Aldeia Global (1968).