O quê Pero Vaz de Caminha diz não compreender sobre os indígenas ao enviar a carta ao rei de Portugal?

Criado em 19/04/13 10h58 e atualizado em 22/04/13 13h30
Por Amanda Cieglinski Fonte:Portal EBC

Escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, Pero Vaz de Caminha foi o autor do primeiro relato sobre a chegada dos portugueses ao Brasil. No documento, ele narra ao Rei D. Manuel a viagem das naus portuguesas desde a saída da cidade de Belém, até avistarem o Monte Pascoal, na Bahia, em 22 de abril de 1500.

Saiba mais:

Confira no mapa o trajeto da viagem de Cabral

A Carta de Pero Vaz de Caminha: conheça o primeiro documento dos portugueses sobre o Brasil

Em 14 páginas, Caminha faz um relato detalhado do que os portugueses encontram no litoral da Bahia: uma mata exuberante, água em abundância, pássaros coloridos e, é claro, os índios que habitavam a região. Diante do desconhecido, surge uma descrição curiosa sobre os hábitos daquele povo  e suas feições.

O documento histórico está guardado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa (Portugal). Fica dentro de um cofre e só fica exposto ao público em ocasiões especiais. Mas a Direção-Geral de Arquivos do governo português disponibiliza uma versão digitalizada da carta, que pode ser acessada pela internet.

Acesse aqui a carta de Caminha em versão digital

A grafia e o português antigo de Caminha dificultam a compreensão. Muitas palavras caíram em desuso, outras tiveram a grafia alterada com o passar do tempo. Para ler a “tradução” da carta para o português atual, clique aqui. 

Creative Commons - CC BY 3.0 -

Creative Commons - CC BY 3.0

A “Carta de Pero Vaz de Caminha” ou “Carta a el-Rei Dom Manoel sobre o achamento do Brasil” foi um documento escrito pelo escrivão português Pero Vaz de Caminha.

Redigido em 1.º de maio de 1500, em Porto Seguro, Bahia, foi levado para Lisboa sob os cuidados de Gaspar de Lemos, considerado um dos maiores navegadores de seu tempo.

Apesar de ter sido escrita no século XVI, a Carta foi descoberta muitos anos depois, no século XVIII por José de Seabra da Silva (1732-1813). Ele era estadista, ministro e guarda-mor da Torre do Tombo.

Sua aparição oficial e acadêmica é obra do filósofo e historiador espanhol Juan Bautista Munoz (1745-1799).

No Brasil, sua primeira publicação foi em 1817, na obra “Corografia Brasilica”.

Provavelmente, a primeira versão editada no Brasil foi do Padre Manuel Aires de Casal (1754-1821). Ele era geógrafo, historiador e sacerdote português que viveu boa parte de sua vida em território brasileiro.

Importante notar que a Carta de Caminha é considerada o primeiro documento redigido no Brasil e, por esse motivo, é o marco literário do País. Ele faz parte da primeira manifestação literária pertencente ao movimento do Quinhentismo.

Resumo da Carta

O quê Pero Vaz de Caminha diz não compreender sobre os indígenas ao enviar a carta ao rei de Portugal?
O Manuscrito da Carta de Pero Vaz de Caminha

Composição da Carta

Iniciada como um processo epistolar de praxe, a Carta, após desenvolver os primeiros parágrafos, realizando toda a reverência ao monarca D. Manuel I (1469-1521), irá continuar como um diário comum.

Sobre sua composição, foi escrita em sete folhas, cada qual dividida em quatro páginas. Da conotação fonética das marcas ortográficas, vale citar que Caminha reproduz o estilo de época típico dos textos portugueses até o século XV.

Sua periodização torna o manuscrito um produto organizado e bastante ordenado cronologicamente.

O escrivão pontua seu texto de modo a provocar um efeito expressivo capaz de prender a atenção do leitor. Além de garantir que a leitura do manuscrito seja bastante simples.

Conteúdo da Carta

Sobre o seu conteúdo, foi uma carta redigida para o rei, de modo a comunicar-lhe o descobrimento das novas terras.

O deslumbramento dos europeus em relação à descoberta do "Novo Mundo" é bem evidente nos registros feitos por Caminha. Na Carta ele descreve suas impressões sobre o território que viria a ser chamado de Brasil.

Ele documenta a composição física à primeira vista do território. Além disso, narra o episódio do desembarque dos portugueses na praia, o primeiro encontro entre os índios e os colonizadores, e a primeira missa realizada no Brasil.

Curiosidade

O termo “descobrimento” é muito combatido atualmente pelos estudiosos brasileiros. Isso porque deixa à margem os povos indígenas que habitavam o território no momento da chegada dos “descobridores”.

Trechos da Carta

"Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma."

"Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos."

"Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali.

Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele.

Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como espantados.

Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora.

Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais.

Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora.

Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo."

Confira a obra na íntegra, fazendo o download do PDF aqui: A Carta de Pero Vaz de Caminha.

Quem foi Pero Vaz de Caminha?

O quê Pero Vaz de Caminha diz não compreender sobre os indígenas ao enviar a carta ao rei de Portugal?
Retrato de Pero Vaz de Caminha

Pero Vaz de Caminha nasceu na cidade do Porto (Portugal) em 1450 e faleceu na cidade de Calicute (Índia) em 15 de dezembro de 1500.

Seu pai era o Duque de Bragança e, portanto, teve uma educação sólida. Trabalhou como tesoureiro e escrivão na Casa da Moeda. Além disso, ocupou o cargo de vereador da cidade do Porto, em Portugal.

Em 1500 Caminha acompanhou a frota de Pedro Álvares Cabral ao Brasil sendo responsável por escrever sobre as impressões da terra avistada. Sem dúvida, esse foi o maior feito de Caminha e que o imortalizou.

Caiu no Enem!

(Enem-2013) De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares [...]. Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente.

Carta de Pero Vaz de Caminha. In: MARQUES, A.; BERUTTI, F.; FARIA, R. História moderna através de textos. São Paulo: Contexto, 2001.

A carta de Pero Vaz de Caminha permite entender o projeto colonizador para a nova terra. Nesse trecho, o relato enfatiza o seguinte objetivo:

a) Valorizar a catequese a ser realizada sobre os povos nativos.
b) Descrever a cultura local para enaltecer a prosperidade portuguesa.
c) Transmitir o conhecimento dos indígenas sobre o potencial econômico existente.
d) Realçar a pobreza dos habitantes nativos para demarcar a superioridade europeia.
e) Criticar o modo de vida dos povos autóctones para evidenciar a ausência de trabalho.

Ver Resposta

Alternativa a) Valorizar a catequese a ser realizada sobre os povos nativos.

Leia também:

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  • Descobrimento do Brasil
  • Chegada dos portugueses ao Brasil
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O quê Pero Vaz de Caminha diz não compreender sobre os indígenas ao enviar a carta ao rei de Portugal?

Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.

O quê Pero Vaz de Caminha escreveu sobre não compreender sobre os indígenas?

Pero Vaz de Caminha descreve como é a relação entre esses dois povos de costumes tão diferentes: os índios não entendem o motivo pelo qual os portugueses apreciam o sabor do vinho; por outro lado, os portugueses não entendem a cultura e a forma como os índios usam seus adereços.

Como Pero Vaz de Caminha descreveu os indígenas em sua carta?

Caminha descreve os nativos: “eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas”. Mas estavam armados: “nas mãos traziam arcos com suas setas”. Segue uma troca de objetos, o que já revela estranhamento mútuo.

O que dizia a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal?

Conteúdo da Carta Ele documenta a composição física à primeira vista do território. Além disso, narra o episódio do desembarque dos portugueses na praia, o primeiro encontro entre os índios e os colonizadores, e a primeira missa realizada no Brasil.

Qual era a finalidade da carta de Pero Vaz de Caminha?

A carta foi redigida pelo escrivão Pero Vaz de Caminha em forma de diário, com o propósito de contar ao rei D. Manuel as primeiras impressões dos portugueses recém-chegados sobre a terra descoberta e seus habitantes.