Observe a linguagem utilizada que variedade linguística foi empregada

O ser humano adora conversar! O tempo todo estamos falando com alguém nas mais diversas situações comunicacionais. Quando utilizamos o código, que é a língua portuguesa, envolvemos inúmeras operações mentais que nos levam a escolher o vocabulário e até mesmo um jeito mais apropriado de falar, e esse jeito pode variar de acordo com a situação na qual estamos envolvidos.

Somos poliglotas, mesmo quando dominamos uma única língua. Isso acontece porque os falantes possuem uma grande capacidade de adaptarem-se em diferentes contextos, fazendo usos diferentes de um mesmo idioma. Na escola, conversando com os amigos, fazemos uso de uma determinada linguagem; quando falamos com a professora ou com o professor, a linguagem sofre algumas modificações, ficando mais formal e até mais respeitosa. Essa capacidade de “falar diferente” é chamada de adequação linguística. Mas será que você sabe o que é adequação linguística?

Observe a linguagem utilizada que variedade linguística foi empregada

Nossa fala comporta-se de maneiras diferentes: com nossos amigos, usamos a linguagem coloquial. Em situações formais, preferimos a linguagem padrão

A adequação linguística é a habilidade que os falantes possuem de adaptar a linguagem de acordo com a necessidade do momento. Podemos optar por dois diferentes registros da língua portuguesa: a variedade padrão ou a variedade popular, também conhecida como linguagem coloquial. Cada uma dessas variedades deve ser empregada em situações específicas, e ambas, sem distinção, funcionam bem, cumprindo papéis específicos na comunicação. Observe um exemplo de adequação linguística que foi questão de prova do Exame Nacional do Ensino Médio no ano de 2009:

Gerente: — Boa tarde. Em que eu posso ajudá-lo?

Cliente: — Estou interessado em financiamento para compra de veículo.

Gerente: — Nós dispomos de várias modalidades de crédito. O senhor é nosso cliente?

Cliente: — Sou Júlio César Fontoura, também sou funcionário do banco.

Gerente: — Julinho, é você, cara? Aqui é a Helena! Cê tá em Brasília? Pensei que você inda tivesse na agência de Uberlândia! Passa aqui pra gente conversar com calma.

BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna.
São Paulo: Parábola, 2004 (adaptado).

Você observou que a maneira de falar da gerente sofreu uma grande alteração quando ela reconheceu no cliente um amigo? Antes de saber que falava com o colega, ela adotou a variedade padrão, registro que apresenta um discurso mais formal, próprio das relações profissionais e de momentos em que não conhecemos bem nosso interlocutor. Contudo, depois que o amigo se identificou, ela alterou o registro, preferindo a linguagem coloquial, cuja principal característica é a descontração e a informalidade. Agora, observe o que pode acontecer quando não adequamos a linguagem à situação comunicacional:

Observe a linguagem utilizada que variedade linguística foi empregada

Para sermos poliglotas em nossa própria língua, é preciso ficar atento à adequação linguística

Observando o diálogo entre Calvin e a mãe, podemos dizer que ele fez uso da adequação linguística? Certamente não! O uso de uma linguagem formal e cheia de palavras “difíceis” contribuiu para o efeito de humor da tirinha, exemplificando bem que para cada momento existe uma maneira mais adequada de falar. Na nossa casa, com nossa família, ou na escola, com nossos amigos, é normal que a coloquialidade seja adotada no discurso. No entanto, em situações que exigem um discurso mais formal, devemos abrir mão de gírias e outras expressões próprias da coloquialidade, preferindo a variedade padrão. Portanto, fique atento, comunique-se com eficiência e adequação!


Por Luana Castro
Graduada em Letras

Com estes exercícios a respeito da linguagem coloquial, você pode testar seus conhecimentos sobre a linguagem empregada em situações informais de interlocução.

Publicado por: Luciana Kuchenbecker Araújo em Exercícios de Gramática

Questão 1

(SEPLAG - Polícia Militar/MG-2012 - Assistente administrativo)

− Ã-hã, quer entrar, pode entrar... Mecê sabia que eu moro aqui? Como é que sabia? Hum, hum...Cavalo seu é esse só? Ixe! Cavalo tá manco, aguado. Presta mais não.

(ROSA, João Guimarães. Estas estórias: Meu tio o Iauaretê. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969, p.126)

Observando-se a variedade linguística de que se vale o falante do trecho acima, percebe-se uso de:

a) linguagem marcada por construções sintáticas complexas e inapropriadas para o contexto, responsáveis por truncar a comunicação e dificultar o entendimento.

b) linguagem formal, utilizada pelas pessoas que dominam o nível culto da linguagem, sendo, portanto, adequada à situação em que o falante se encontra.

c) gírias e interjeições, como ixe e aguado, prioritariamente utilizadas entre os jovens, sendo assim, incompatíveis com a situação em que o falante se encontra.

d) coloquialismos e linguagem informal, como mecê e tá, apropriados para a situação de informalidade em que o falante se encontra.

Questão 2

(FUNRIO – Ministério da Justiça - 2009 - Analista técnico administrativo)

Reunião sobre clima termina com racha

A penúltima reunião de negociação antes da conferência do clima de Copenhague terminou ontem em Bancoc, Tailândia, com duas promessas: uma dos países desenvolvidos, de que vão acabar com o Protocolo de Kyoto em favor de um acordo do clima único para ricos e pobres. A outra, dos países em desenvolvimento, de que não deixarão isso acontecer. "O Grupo da África se opõe à substituição do Protocolo de Kyoto por quaisquer outros acordos. Vou repetir: o Grupo da África se opõe à substituição do Protocolo de Kyoto por quaisquer outros acordos", declarou o representante da Argélia numa das plenárias finais do encontro, ontem de manhã. Foi apoiado por todo o G7, o grupo dos países em desenvolvimento, que o Brasil integra.

O título da notícia jornalística “Reunião sobre clima termina com racha” apresenta marca de variação linguística própria

a) da expressão retórica no nível lexical.

b) do registro informal no nível semântico.

c) do estilo jornalístico no nível sintático.

d) da fala popular no nível mórfico.

e) do texto formal, no nível fonético.

Questão 3

Leia o texto a seguir e assinale a alternativa incorreta:

Duzentas gramas

Tenho um amigo que fica indignado quando peço na padaria “duzentas” gramas de presunto – já que a forma correta, insiste ele, é duzentos gramas. Sempre discutimos sobre os diferentes modos de falar. Ele argumenta que as regras de pronúncia e de ortografia, já que existem, devem ser obedecidas, e que os mais cultos (como eu, um cara que traduz livros) devem insistir na forma correta, a fim de esclarecer e encaminhar gente menos iluminada.

Eu sempre argumento que, quando ele diz que só existe uma forma correta de falar, está usurpando um termo de outro ramo, que está tentando aplicar a ética à gramática, como se falar corretamente implicasse algum grau de correção moral, como se dizer “duzentas” significasse incorrer numa falha de caráter, e dizer duzentos gramas fosse prova de virtude e integridade. Ele vem então com aquela de que se pode desculpar a moça da padaria quando fala “duzentas”, pois ela desconhece a norma culta, mas quanto a mim, que a domino, demonstro uma falha de caráter ao ignorá-la em benefício dos outros – só para evitar o constrangimento de falar diferente. “Quem sabe fazer o bem e não o faz comete pecado” – parece concluir.

Eu reconheço, sim, que falo de forma diferente dependendo de quem seja meu interlocutor. Às vezes uso deliberadamente formas como “tentêmo” ou “vou ir”. Pelo mesmo motivo, todas as gírias e dialetos locais me interessam. Não que – por exemplo – a decisão de dizer “duzentas” gramas seja consciente, uma premeditação em favor da inclusão social. É que, algumas vezes, a coisa certa a se fazer – sobretudo na linguagem falada – é ignorar a norma, ou pervertê-la. Quando peço “duzentas gramas de presunto, por favor”, a moça da padaria invariavelmente repete, como que para extorquir minha profissão de fé à norma inculta:

− DUZENTAS?

− Duzentas, confirmo eu, já meio arrependido, mas caindo, ainda assim, em tentação.

(Paulo Brabo. A bacia das almas.)

a) Em situações formais de interação verbal/interlocução, é recomendável que seja utilizada a linguagem culta (norma-padrão da língua portuguesa).

b) Mesmo dominando a linguagem culta (norma-padrão), os usuários das línguas devem selecionar os níveis de linguagem considerando o contexto discursivo e o nível de formalidade entre os interlocutores.

c) A linguagem coloquial é empregada em situações informais, com os amigos, familiares e em ambientes e/ou situações em que o uso da norma culta da língua possa ser dispensado.

d) A linguagem coloquial é mais utilizada oralmente e, pelo fato de ser utilizada em nosso dia a dia, não requer a perfeição em termos gramaticais.

e) A existência de diferentes níveis de linguagem não significa que podemos utilizar sempre a linguagem coloquial, já que sempre prevalecerá a língua padrão em quaisquer situações comunicativas.

Questão 4

Leia o trecho de um texto publicado no livro Educação em língua materna:

Gerente – Boa tarde. Em que eu posso ajudá-lo?

Cliente – Estou interessado em financiamento para compra de veículo.

Gerente – Nós dispomos de várias modalidades de crédito. O senhor é nosso cliente?

Cliente – Sou Júlio César Fontoura, também sou funcionário do banco.

Gerente – Julinho, é você, cara? Aqui é a Helena! Cê tá em Brasília? Pensei que você inda tivesse na agência de Uberlândia! Passa aqui pra gente conversar com calma.

(BORTONI, Ricardo, S. M. Educação em língua materna. São Paulo: Parábola, 2004.)

Com relação ao contexto discursivo e aos níveis de linguagem empregados, julgue qual das alternativas a seguir está correta:

a) Na terceira e última fala do “Gerente”, ocorre um desvio de nível de linguagem que impede a compreensão do enunciado por parte do “Cliente”.

b) Devido à diferença de níveis de linguagem no diálogo entre Gerente e Cliente, é possível dizer que o nível de formalidade entre os interlocutores é muito alto.

c) Mesmo sendo “Gerente” e “Cliente”, aparentemente, próximos/conhecidos, devemos sempre utilizar a linguagem culta com quaisquer interlocutores em sinal de respeito.

d) A flexão do verbo “dispor” (“Nós dispomos”) está incorreta e, dessa forma, podemos afirmar que a linguagem coloquial é predominante no trecho do livro de Ricardo Bortoni.

e) O “Gerente” adequou o nível de linguagem no decorrer do diálogo porque considerou o contexto discursivo e o nível de formalidade com seu “Cliente”.

Questão 5

Ao fazerem uso da linguagem coloquial, os falantes utilizam:

    a) linguagem formal/padrão da língua, porém, escrita da mesma forma como é pronunciada pelos falantes.

    b) linguagem informal, neologismos, siglas e gestos.

    c) linguagem informal, gírias, estrangeirismos, abreviações e palavras que não se relacionam à norma culta da Língua

    d) linguagem não verbal, como gestos, mímicas e desenhos.

    e) linguagem verbal escrita a partir de siglas e abreviações.

    Questão 6

    Leia um trecho do poema “A terra é naturá”:

    A terra é naturá

    Iscute o que tô dizendo,
    Seu dotô, seu coroné:
    De fome tão padecendo
    Meus fio e minha muié.
    Sem briga, questão nem guerra,
    Meça desta grande terra
    Umas tarefas pra eu!
    Tenha pena do agregado
    Não me dexê deserdado

    (PATATIVA DO ASSARÉ. A terra é naturá. In: Cordéis e outros poemas. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2008.)

    Com relação ao nível de linguagem empregado no poema, é possível afirmar que:

    a) A linguagem muito coloquial compromete a leitura do poema e, dessa forma, impede que o leitor compreenda seu conteúdo e sentido.

    b) As palavras “dotô”, “conoré” e “muié” revelam uma característica exclusiva do dialeto nordestino da língua portuguesa brasileira.

    c) A linguagem empregada no poema é padrão, embora haja poucas palavras, como “dotô”, “conoré”, “muié” e “dexê”, que são utilizadas na linguagem coloquial.

    d) A linguagem do poema é coloquial, já que é construído a partir da reprodução fiel da fala de algum nativo da língua portuguesa.

    e) A linguagem empregada no poema é padrão. O que ocorre é que as palavras “dotô”, “conoré” e “muié” eram assim escritas antigamente.

    Questão 7

    (ENEM-2001) Murilo Mendes, em um de seus poemas, dialoga com a carta de Pero Vaz de Caminha:

    “A terra é mui graciosa,
    Tão fértil eu nunca vi.
    A gente vai passear,
    No chão espeta um caniço,
    No dia seguinte nasce
    Bengala de castão de oiro.
    Tem goiabas, melancias,
    Banana que nem chuchu.
    Quanto aos bichos, tem-nos muito
    De plumagens mui vistosas.
    Tem macaco até demais
    Diamantes tem à vontade
    Esmeralda é para os trouxas.
    Reforçai, Senhor, a arca,
    Cruzados não faltarão,
    Vossa perna encanareis,
    Salvo o devido respeito.
    Ficarei muito saudoso
    Se for embora daqui”.

    (MENDES, Murilo. Murilo Mendes - poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.)

    → Arcaísmos e termos coloquiais misturam-se nesse poema, criando um efeito de contraste, como ocorre em:

    a) A terra é mui graciosa / Tem macaco até demais

    b) Salvo o devido respeito / Reforçai, Senhor, a arca

    c) A gente vai passear / Ficarei muito saudoso

    d) De plumagens mui vistosas / Bengala de castão de oiro

    e) No chão espeta um caniço / Diamantes tem à vontade

    Respostas

    Resposta Questão 1

    Letra D: A linguagem coloquial é empregada em situações informais, com os amigos, familiares e em ambientes e/ou situações em que o uso da norma culta da língua possa ser dispensado.

    Resposta Questão 2

    Letra B: A palavra “racha” foi empregada coloquialmente no sentido de “rachar, repartir, dividir” opiniões entre os líderes mundiais a respeito do clima. Embora o jornal impresso seja um suporte de comunicação formal, que requer a utilização da norma-padrão da língua portuguesa, a utilização de uma palavra própria da linguagem coloquial reforça os efeitos de sentido com relação ao conteúdo do artigo/texto/notícia.

    Resposta Questão 3

    Letra E: Embora haja certa valorização histórico-cultural da linguagem culta em detrimento da linguagem coloquial, não é possível afirmar que a primeira é ou deve ser mais utilizada do que a segunda, já que a opção pelo nível de linguagem depende do contexto discursivo e da relação estabelecida entre os interlocutores do discurso.

    Resposta Questão 4

    Letra E: Mesmo dominando a linguagem culta, os usuários das línguas devem selecionar os níveis de linguagem considerando o contexto discursivo e o nível de formalidade entre os interlocutores.

    Resposta Questão 5

    Letra C: A linguagem coloquial, também chamada de informal ou popular, encontra fluidez na oralidade e é utilizada pelos falantes cotidianamente. Pelo fato de ser utilizada em nosso dia a dia, a linguagem coloquial não requer a perfeição em termos gramaticais. Dessa forma, é comum empregarmos gírias, estrangeirismos, abreviações e palavras que não se relacionam à norma culta da língua.

    Resposta Questão 6

    Letra D: O poema é todo construído a partir da linguagem coloquial ao reproduzir fielmente a fala do eu lírico.

    Resposta Questão 7

    Letra A: Na oração “A terra é mui graciosa”, o advérbio “muito” sofreu uma apócope. Embora essa apócope seja considerada como “arcaísmo”, algumas pessoas ainda a utilizam. Já na oração “Tem macaco até demais”, é possível observarmos o emprego do verbo “ter” no lugar do verbo “haver” e também o uso da locução adverbial “até demais”, exemplos de registros em linguagem coloquial da língua portuguesa.


    Qual é a variedade linguística empregada?

    Variação linguística é uma expressão empregada para denominar como os indivíduos que compartilham a mesma língua têm diferentes formas de utilizá-la.

    Quais são os tipos de variação linguística resposta?

    As variações linguísticas diferenciam-se em quatros grupos: sociais (diastráticas), regionais (diatópicas), históricas (diacrônicas) e estilísticas (diafásicas).

    Que tipo de linguagem foi empregada na entrevista?

    Resposta verificada por especialistas. O tipo de linguagem utilizado em uma entrevista é a linguagem formal.

    Quais são os tipos de variação linguística explique?

    Existem quatro tipos de variantes linguísticas: as variações diatópicas (geográficas), variações diacrônicas (históricas), variações diastráticas (grupos sociais), variações diafásicas (formal x informal). São as variações relacionadas ao espaço geográfico em que estão inseridas.