Onde ocorreu a confederação do equador

Criada como uma reação liberal radical ao centralismo do governo de Dom Pedro I, a Confederação do Equador foi um dos movimentos separatistas no Império brasileiro.

Logo após a dissolução da constituinte e da promulgação da Constituição de 1824, o reinado de D. Pedro I teve que enfrentar uma revolta separatista no Nordeste do território imperial. A Confederação do Equador, iniciada em 02 de julho de 1824, propunha a formação de uma república nos moldes dos EUA, aglutinando as províncias de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí. Seu nome decorria do fato das províncias rebeldes localizarem-se na Linha do Equador.

A Confederação do Equador foi certamente uma continuidade da Insurreição Pernambucana ocorrida em 1817. Os motivos de sua eclosão estavam relacionados à crise econômica da região, em decorrência da queda na venda do açúcar e do algodão, e também à insatisfação política com a centralização do poder político do Império, na figura de D. Pedro I.

Como na maioria dos conflitos sociais, essas insatisfações eclodem quando surge alguma ação que se torna a gota d‘água. No caso da Confederação do Equador, o estopim foi a nomeação de um presidente para a província de Pernambuco que não agradava grande parte da população. O governador deposto, Manuel de Carvalho Paes de Andrade, liderou o movimento republicano contra o Império. Os liberais radicais conseguiram o apoio da aristocracia rural, que estava em crise, além de angariar apoio popular e urbano para a República, adotando provisoriamente a Constituição da Colômbia.

A imprensa local cumpriu importante papel na divulgação dos objetivos do movimento republicano. Cipriano Barata, veterano de lutas contra os portugueses nas insurreições da Bahia, de 1798, e em Pernambuco, em 1817, dirigia vários jornais na região, principalmente o Sentinela da Liberdade. Joaquim do Amor Divino Rebelo, conhecido como Frei Caneca, divulgava suas ideias no Tifis Pernambucano.

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Porém, a diversidade social dos membros que compunham o movimento republicano contribuiu para sua derrota. A Confederação do Equador extinguiu o tráfico negreiro em Pernambuco, descontentando a elite rural. A participação das massas populares também deixava temerosa a elite, não apenas nos territórios da Confederação. A radicalidade do movimento se traduzia ainda nas propostas de revolução similares à ocorrida no Haiti, no fim do século XIX, como as defendidas pelo major Emiliano Munducuru. Esses posicionamentos enfraqueciam a unidade dos envolvidos na revolta.

A reação de D. Pedro I foi violenta. Com empréstimo da Inglaterra para armar as tropas comandadas por Francisco Lima e Silva, conseguiu conter a revolta. Mesmo os ataques por mar e por terra deflagrados pelos confederados não foram capazes de manter a república.

D. Pedro I instaurou um tribunal para julgar e condenar os participantes da Confederação do Equador. Vários dos líderes foram condenados à morte. Frei Caneca havia sido condenado à morte por enforcamento, mas sua popularidade impedia que os responsáveis por sua execução a realizasse, mesmo sob torturas e ameaças. A solução encontrada pelos carrascos foi a execução por fuzilamento, pondo fim à Confederação do Equador.

A Confederação do Equador foi um movimento político ocorrido em 1824 no nordeste brasileiro. Começando em Pernambuco, ampliou-se rapidamente para outras províncias da região, como Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Em síntese, a Confederação do Equador - que ganhou esse nome em referência à proximidade do centro do conflito com a linha do Equador - foi um movimento contrário à centralização do poder imperial. Daí, portanto, seu caráter revolucionário e, no extremo, seu aspecto independentista com relação ao Brasil.

O movimento tinha ligações com outros dois episódios importantes ocorridos na mesma região, embora destes não fosse mero reflexo: a

Revolução Pernambucana de 1817

e o Movimento Constitucionalista de 1821. Juntos, os dois haviam ajudado a concretizar em práticas políticas e sociais o ideário liberal - que se contrapunha à centralização do poder imperial - e a luta pela independência, num contraponto ao domínio exercido pelo Rio de Janeiro sobre as demais províncias.

Contra a centralização e o autoritarismo

Naquele início de século 19, Pernambuco expressava bem os interesses político-econômicos ligados, de um lado, à manutenção da influência portuguesa sobre o Brasil, e, de outro, ao afastamento do segundo em relação ao primeiro.

A elite agrária produtora de cana-de-açúcar, por exemplo, queria garantir a continuidade das relações com

Portugal

. Em contraste, a aristocracia rural, ligada ao cultivo do algodão e articulada ao processo da

Revolução Industrial

, era favorável às medidas liberalizantes. A

transferência da Corte para o Brasil

, em 1808, e as medidas tomadas a partir de então, favoreceram esse segundo grupo.

O ponto alto dessa separação entre Brasil e Portugal foi a declaração da

Independência

, em 1822. Contudo, o processo de elaboração da primeira constituição brasileira mostrou não apenas a grande influência que os portugueses ainda tinham sobre a vida política brasileira - a começar pelo fato de o primeiro imperador ser português - como também revelou a tendência à centralização do poder, ao invés de sua partilha. O ideário liberal perdia espaço. O

fechamento da Assembleia Nacional Constituinte

e a outorga da Carta Magna de 1824 por D. Pedro 1° foram expressões desse processo.

Logo após a Independência, formou-se um novo governo em Pernambuco, chamado de "Junta dos Matutos", que contava com a participação dos dois grupos da elite rural pernambucana.

Após a dissolução da Assembleia Constituinte, um dos membros da Junta, Francisco Paes Barreto, foi nomeado pelo imperador para o cargo de governador. Ocorre que outro político, Manuel Carvalho Pais de Andrade, já havia sido eleito pela província. Estava aberto, assim, o conflito entre o Império e Pernambuco.

Ampliação e derrota do movimento

A revolta explodiu depois de sucessivos episódios ocorridos após a outorga da Constituição, em março de 1824. Em julho do mesmo ano, Pais de Andrade lançou um manifesto de caráter revolucionário. Em Pernambuco, o movimento teve um aspecto popular e fundamentalmente urbano. Contou também com o apoio da intelectualidade local.

As ideias e propostas expressas pelo movimento logo ganharam apoio de outras províncias do Nordeste, inseridas, por sua vez, num quadro político-social muito semelhante ao de Pernambuco. A Confederação do Equador se formou quando aos pernambucanos se juntaram as províncias do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Entre as medidas tomadas pela Confederação do Equador estava a convocação de uma Assembleia Constituinte, a elaboração de um projeto constitucional com base na Carta colombiana (então considerada uma das mais liberais da região), a proposta de extinção do tráfico negreiro e a organização de forças populares de resistência à repressão imperial.

A formação de um governo independente expressava o descontentamento com o centralismo nos primeiros anos pós-Independência. As medidas tomadas pela Confederação, contudo, acabaram levando à divisão do próprio movimento.

Por outro lado, a dura repressão articulada pelo poder central foi decisiva para que o movimento tivesse vida curta. Vários líderes da Confederação do Equador foram condenados ao fuzilamento - caso de

Frei Caneca

. Outros, como

Cipriano Barata

, continuaram presos durante algum tempo.

Ainda assim, a Confederação do Equador foi um movimento importante na história do Brasil, pois extrapolou a simples conspiração, existindo concretamente (ainda que por pouco tempo), e se diferenciou dos outros movimentos independentistas da época pela ampla participação popular que registrou.