Por que Darcy Ribeiro considerava o povo brasileiro como um povo novo?

20 anos de O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro

15/07/2015

Publicado no Socialista Morena 

“Nosso destino é nos unificarmos com todos os latino-americanos por nossa oposição comum ao mesmo antagonista, que é a América anglo-saxônica, para fundarmos, tal como ocorre na comunidade européia, a Nação Latino-Americana sonhada por Bolívar. Hoje, somos 500 milhões, amanhã seremos 1 bilhão. Vale dizer, um contingente humano com magnitude suficiente para encarnar a latinidade em face dos blocos chineses, eslavos, árabes e neobritânicos, na humanidade futura.

Somos povos novos ainda na luta para nos fazermos a nós mesmos como um gênero humano novo que nunca existiu antes. Tarefa muito mais difícil e penosa, mas também muito mais bela e desafiante.

Na verdade das coisas, o que somos é a nova Roma. Uma Roma tardia e tropical. O Brasil é já a maior das nações neolatinas, pela magnitude populacional, e começa a sê-lo também por sua criatividade artística e cultura. Precisa agora sê-lo no domínio da tecnologia da futura civilização para se fazer uma potência econômica, de progresso auto-sustentado. Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas as raças e todas as culturas e por que assentada na mais bela e luminosa província da Terra.”

Esta não é a primeira vez que cito O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, nem será a última. Considero uma obra fundamental para compreender o nosso País e para conscientizar os jovens sobre o sofrimento dos negros e dos índios em sua formação, para perceber o tamanho da dívida que temos para com eles e entender as desigualdades que sempre existiram. Nosso parto como Nação foi doloroso e ainda é. Darcy mostra isso.

Vinte anos atrás, em fevereiro de 1995, internado em um hospital para tratar um câncer do pulmão, Darcy Ribeiro decidiu fugir e ir para sua casa em Maricá terminar aquele que considerava o grande livro de sua vida: justamente O Povo Brasileiro. “Não poderia deixar de terminá-lo”, declarou então. Em maio daquele ano o livro seria lançado e Darcy morreria dois anos depois. O Povo Brasileiro se tornou um clássico instantâneo e permanece absurdamente atual.

Em uma lista recente de livros para conhecer o Brasil que elaborou, o crítico literário Antonio Candido, que considera Darcy “um dos maiores intelectuais que o Brasil já teve”, situa O Povo Brasileiro como o que deve vir antes de qualquer outro. “Como introdução geral não vejo nenhum melhor do que O povo brasileiro (1995), de Darcy Ribeiro, livro trepidante, cheio de ideias originais, que esclarece num estilo movimentado e atraente o objetivo expresso no subtítulo: ‘A formação e o sentido do Brasil'”.

Para lembrar o aniversário e para espalhar O Povo Brasileiro país afora, o Socialista Morena se junta à livraria Outras Palavras em uma promoção: 15% de desconto na compra do livro. Clique AQUI para comprar. E boa leitura. 

« Voltar

Abstract, Resumo, Résumé Colonialist Miscegenation or the Coloniality of Gilberto Freyre in the Coloniality of Brazil This study attempts to advance a critique of the coloniality of Gilberto Freyre (GF). In fact, GF was widely criticized for both mitigating the discrimination aimed at blacks and indigenous populations in Brazil as well as being more of an aestheticized essayist than a field sociologist. However, little attention has been paid to the fact that GF was not only in favour of the Portuguese colonization in Africa, but he was also in favour of colonizing Brazil! The continued expansion of Brazil in the twentieth century held a perfectly colonial dimension, but seems to have been ignored because it remained within its international-recognized borders: yet this does not change anything of the social aspects of this expansion. The thesis of “internal colonialism”, originating in Mexico, is entirely Eurocentric from this point of view: based on the fact of “international” recognition of the borders of the country, territorial expansion is not considered as other types of colonization. But for the indigenous populations affected, it is! Indeed, GF also wrote in support of continuing this expansion, as if these lands were “empty”. The herald of miscegenation reveals here to what extent this was used as a tool to whiten the country and to "Lusitanize" these new conquests. One will wonder, later, why it is that this aspect of the work of GF was, until today, so overlooke. Actually, the coloniality of GF and that of Brazil remain inherently linke... A mestiçagem colonialista, ou a colonialidade de Gilberto Freyre na colonialidade do Brasil Este estudo tem como objetivo avançar uma crítica da colonialidade de Gilberto Freyre (GF). Com efeito, GF foi largamente criticado por suavizar a discriminação, de que foram alvo os negros e indígenas no Brasil, e por ter sido um ensaísta estetizante mais do que um sociólogo de terreno. Mas pouca atenção foi prestada ao fato de que GF era não só a favor da colonização portuguesa em África, mas a favor da colonização do Brasil! A dimensão perfeitamente colonial da continuação da expansão brasileira no século XX parece ter sido ignorada, porque teve lugar dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas do país: mas isso não mudou a natureza social dessa expansão. A tese do “colonialismo interno”, de origem mexicana, é deste ponto de vista totalmente eurocêntrica: baseada no reconhecimento “internacional” das fronteiras do país, considera que a expansão territorial não é uma colonização como qualquer outra. Mas para os indígenas considerados, é! Ora, GF também escreveu textos para apoiar a continuação dessa expansão, como se essas terras estivessem “vazias”. O arauto da mestiçagem revela aqui o quão esta era uma ferramenta para branquear o país e lusitanizar as novas conquistas. Poder-se-á perguntar, pois, porque é que este aspeto da obra de GF foi, até hoje, pouco analisado. É que a colonialidade de GF e a colonialidade do Brasil, até a atualidade, continuam totalmente ligadas... Le métissage colonialiste, ou la colonialité de Gilberto Freyre dans la colonialité du Brésil Cette étude propose une critique de la colonialité de Gilberto Freyre (GF). En effet, GF fut amplement critiqué pour avoir adouci la discrimination dont ont été victimes les Noirs et les Indiens, et pour avoir été un essayiste esthétisant plus qu’un sociologue de terrain. Mais peu d’attention a été portée au fait que GF était non seulement en faveur de la colonisation portugaise en Afrique, mais aussi en faveur de la colonisation du Brésil ! La dimension parfaitement coloniale de la continuation de l’expansion brésilienne au cours du xxe siècle semble avoir été ignorée, puisque se produisant au sein des frontières internationalement reconnues du pays : pourtant, ceci n’a rien changé à la nature sociale de cette expansion. La thèse du « colonialisme interne », d’origine mexicaine, est de ce point de vue totalement eurocentrique : fondée sur le fait de la reconnaissance « internationale » des frontières du pays, elle considère que cette expansion territoriale n’est pas une colonisation comme tout autre. Mais pour les Indiens concernés, elle l’est ! Or GF a aussi écrit des textes pour appuyer la poursuite de cette expansion, comme si ces terres étaient « vides ». Le héraut du métissage révèle ici que ce dernier est un outil pour blanchir le pays et lusitaniser les nouvelles conquêtes. On pourra, alors, se demander, pourquoi cet aspect de l’œuvre de GF a été, jusqu’à aujourd’hui, peu analysé. C’est que la colonialité de GF et la colonialité du Brésil demeurent, jusqu’à nos jours, inséparables...

Por que Darcy Ribeiro classifica o Brasil como pertencente ao grupo de povos novos?

Os povos-novos, dentre os quais se inclui o Brasil, originaram-se da conjunção de matrizes étnicas diferenciadas como o colonizador ibérico, indígenas de nível tribal e escravos africanos, imposta por empreendimentos coloniais-escravistas, seguida da deculturação destas matrizes, do caldeamento racial de seus ...

Como Darcy Ribeiro considerava o Brasil?

Darcy Ribeiro considerava o Brasil uma espécie de nova Roma, tropical e mestiça, por ele denominada a mais bela e luminosa província da Terra.

Qual o conceito central presente na obra O Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro?

A obra, para Ribeiro, tinha o objetivo de entender o porquê o Brasil não deu certo, tendo a oportunidade de ser um país criado de acordo com a vontade de seu povo miscigenado. Afinal, uma identidade não definida permite que um país se invente.