Por quê estão chamando o rodrigo de rodriguetes

Por quê estão chamando o rodrigo de rodriguetes

07 Apr, 2021

Por que eu odiaria Vinícius Júnior? Garoto do bem, talentoso, esportista, simpático, humilde e sem histórico de problemas ou confusões. Eu nunca tive contato direto com ele até hoje, não tenho nenhuma frustração por isso, mas acho que poderíamos sim nos dar bem em alguma resenha.   

Por que eu torceria contra o Vini? Ele joga no time espanhol da minha família, afinal meu saudoso avô galego tinha simpatia pelo Celta, mas gostava mesmo do Real Madrid por representar muito bem a Espanha. Não sou “pacheco” para defender jogadores brasileiros só pela nacionalidade, é verdade, só que igualmente não torço contra os meus conterrâneos no exterior.   

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Vinicius Jr. comemora após marcar para o Real Madrid sobre o Liverpool EFE/JuanJo Martín

Neste 7 de abril, Dia do Jornalista, é bom lembrar que o espírito crítico faz parte da minha profissão. Apontar as deficiências de jogadores está no meu pacote, não estou na mídia para passar pano para ninguém. E, sabidamente, Vinícius Júnior vinha sendo criticado por mim (e por boa parte da imprensa mundial) pela sua dificuldade em finalizar bem as jogadas. Não porque quero seu mal.

Da mesma forma, destaco e elogio as boas atuações dele e dos demais atletas. Contra o Liverpool, jogo de ida das quartas de final da Champions League, Vinícius Júnior foi decisivo, inclusive no seu ponto fraco: a conclusão. Em 85 minutos, deu quatro finalizações e fez dois gols, coisa que não conseguia fazer na carreira desde abril de 2018, quando ainda defendia o Flamengo (pode ter gente que, por clubismo, torça contra Vini, mas não é meu caso).

Rodrigo Bueno esclarece que não torce contra Vinicius Jr., elogia 'jogo emblemático' e se defende: 'O tempo me deu razão'

Não dá para alguém imaginar que vai ser atacante do Real Madrid, a excelência do futebol mundial, e não vai ser cobrado na mesma medida. Não é nem pelo preço que ele custou (€45 milhões) quando era adolescente. A questão é que ele está inserido hoje na elite do esporte. O Real não é historicamente um lugar para jogadores evoluírem, o maior clube do mundo costuma exibir para o mundo craques já prontos.

Vinícius Júnior tem apenas 20 anos, muita gente lembra isso com certa razão. Mas Haaland e Mbappé, para ficar em outros destaques da atualidade, também são jovens. Grandes craques, de hoje e do passado, mostraram valor e talento ainda cedo. O Real Madrid tem sido até muito paciente com Vini, até porque muito dinheiro está sendo investido na reforma do Santiago Bernabéu e poucos caras consagrados foram contratados recentemente (Hazard foi uma exceção e quase não sai do departamento médico).

Zidane conhece muito de bola e gerencia bem o vestiário merengue. Ele acertou em cheio na escalação de Vini como titular contra o Liverpool. Havia a possibilidade de fazer linha de cinco na defesa, usando Marcelo, até pelos muitos desfalques na retaguarda. O técnico francês, o mais bem-sucedido na Champions após 50 jogos (são 31 vitórias, além dos três títulos), alterna bastante sua equipe titular e muitas vezes deixa o Garoto do Ninho no banco. Sinal de que o brasileiro precisa mesmo se firmar.

Em 106 partidas no Real Madrid, Vinícius Júnior tem 14 gols e 22 assistências. Nesta temporada, ele está mais artilheiro, embora ainda com números relativamente discretos. Na temporada de estreia, foi mais assistente, algo compreensível. Assim como ele foi eficiente contra o Liverpool, deve ser muito útil ao gigante espanhol em todas as competições, pois tem muita habilidade e velocidade, pode quebrar linhas, definir jogos. Foi para isso que ele foi contratado, é por isso que ele é cobrado.

Quando Vini foi negociado com o Real Madrid, com poucos jogos como profissional, eu destaquei a incrível qualidade técnica dele e sua capacidade de driblar, mas alertei que ele precisava evoluir bastante taticamente e na conclusão das jogadas. Eu o chamei, assim como outros craques brasileiros (Garrincha e Ronaldinho Gaúcho inclusive), de “peladeiro”, algo que repercutiu logo na Espanha. Não quis usar o termo de forma pejorativa, apenas mostrar que ele precisava melhorar.

No dia em que foi, sem dúvida, o melhor jogador da Champions League, Vinícius Júnior fez breve desabafo. “Trabalho muito aqui. Sonhava em jogar no Real Madrid e com os melhores jogadores, é por isso que trabalho tanto no treino e em casa. As pessoas de fora podem falar o quanto quiserem, mas eu sempre me dediquei”.

Pois bem, eu estou de fora, reconheço a dedicação do Vini, curto vê-lo realizar seus sonhos, mas continuarei falando o que eu quiser, criticando e elogiando quando eu achar necessário, pois esse é o meu trabalho. Que ele e outros entendam isso. Com muito orgulho, eu sou um jornalista independente, não puxo o saco de ninguém para ter algum tipo de vantagem (uma entrevista, uma camisa, um autógrafo, mais seguidores ou seja lá o que for). E, de boa, também não odeio nenhum jogador de futebol.

Parabéns, Vini! Hala Madrid!

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Rodrigo Bueno14 Oct, 2022

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EUROPA LEAGUE | UEL | LIGA EUROPA | 2022-2023 ESPN

Na temporada europeia passada, vimos a estreia da Uefa Europa Conference League e, na reta final, essa competição pareceu ser tão forte e atrativa quanto a Europa League

Pelo jeito e pelos resultados até aqui, a edição desta temporada da Europa League será tão forte e atrativa quanto a Champions League. Devemos ter na disputa pelo título simplesmente os 'tubarões' Ajax, Atlético de Madri, Barcelona, Juventus, Milan, Sevilla, Shakhtar Donetsk e Sporting. Essa turma não vem bem na atual Champions e corre sério risco de ser “rebaixada” para a Europa League, torneio que já conta com Arsenal, Betis, Fenerbahce, Feyenoord, Lazio, PSV, Manchester United, Real Sociedad e a Romade José Mourinho, que deu outra polêmica entrevista chamando os times que virão da Champions para a Europa League de “tubarões fracassados”.

De fato é um fracasso para o Milan (sete vezes campeão da Europa), para o Barcelona (cinco vezes dono do Velho Continente) e para a Juventus (duas vezes senhora da Copa dos Campeões/Champions) “cair” para a Europa League. O atual detentor do scudetto ainda tem razoável chance de avançar às oitavas da Champions, mas o retrato do momento mostra o Milan em terceiro lugar no Grupo E atrás do Red Bull Salzburg  após levar duas pauladas do Chelsea. 

A situação do Barça é bem mais desesperadora no Grupo C após levar desvantagem no confronto direto com a Inter (o Bayern já se garantiu nas oitavas). A Juventus então, após a derrota para o Maccabi Haifa, ficou bem atrás de Paris Saint-Germain e Benfica e pode terminar a fase de grupos em quarto lugar, o que não lhe daria nem Europa League.

Meu querido Ajax (quatro vezes o maioral da Europa) sucumbiu duas vezes diante do embalado Napoli e vai ser outro “tubarão” na Europa League, quase que seguramente. Lembro que os terceiros dos grupos da Champions fazem um playoff logo de cara com os segundos colocados dos grupos da Europa League. Então podemos ter um Barcelona x Manchester United, um Milan x PSV, um Ajax x Roma ou um Juventus x Feyenoord ainda antes das oitavas de final. 

São confrontos com cara de Champions. 

Por isso talvez Mourinho tenha reclamado do regulamento do torneio, que permite uma espécie de segunda chance continental na temporada para clubes que não foram bem nas competições originais. Só que Mourinho já disse que, se sua Roma não pegar uma vaga na próxima fase da Europa League, vai feliz da vida também em busca do bicampeonato da Conference League (os terceiros dos grupos da Europa League também desfrutam da possibilidade de sucesso na disputa continental que vem abaixo).  

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Lewandowski deve jogar nesta temporada a Liga Europa, que namora com o Barcelona pelo segundo ano consecutivo EFE/Román Ríos

Na temporada passada, quando o Barcelona ficou atrás do Benfica na Champions e “caiu” para a Liga Europa, foi logo apontado por muitos como o grande favorito ao título. Só que o time de Xavi foi engolido, dentro e fora de campo, pelo Eintracht Frankfurt, que viria a ser o campeão da Europa League. Desta vez, mesmo mais fortalecido, contando até com Lewandowski, o Barça chegaria mais bem acompanhado por clubes históricos e renomados para o segundo torneio continental da Uefa. 

Pelos vários clubes de peso que devem jogar a Europa League, fica difícil imaginar uma surpresa como o Rangers, que foi à final passada e só perdeu a decisão na disputa de pênaltis. Aliás quem conhece muito de final de Europa League é o Sevilla, o Mister Europa League que está praticamente condenado na Champions a ser terceiro colocado e ser “forçado” assim a lutar pelo que seria o seu sétimo título da Liga Europa.  

Alguém pode dizer que eu estou aqui supervalorizando a Liga Europa porque sou comentarista da ESPN, canal que transmite o torneio. Não vou ser louco de dizer nunca que a Liga Europa está maior do que a Champions League, apenas estou constatando uma mudança, mesmo que sazonal, do perfil do torneio. Alguma coisa parecida tem acontecido na América do Sul, com vários clubes de muita camisa disputando com bastante vontade a Copa Sul-Americana, casos neste ano de 2022 de São Paulo, Santos, Internacional, Fluminense, Independiente, Racing, Nacional, Olimpia, Colo Colo e LDU. Isso reflete em grande parte a fase não tão boa desses clubes históricos, que acabam ficando alijados do principal torneio internacional de seu continente, seja porque não fizeram um bom campeonato nacional seja porque foram mal na fase de grupos da mais nobre competição de sua região.

Ainda teremos duas rodadas da fase de grupos da Champions League e da Liga Europa pela frente. Embora muita coisa já esteja definida (Bayern, Brugge, Manchester City, Napoli e Real Madrid já estão classificados para as oitavas da Champions), uma ou outra surpresa ainda pode pintar, mas a tendência é que tenhamos mesmo o mais concorrido sorteio da história da Liga Europa em breve. Eu arrisco dizer que teremos ao menos um confronto do segundo torneio da Uefa atraindo mais atenção do do que alguns das oitavas da Champions. Afinal um Brugge x Napoli nunca vai ser mais notícia do que um Barcelona x Manchester United. A Europa League não é a “Liga das Estrelas”, mas ao menos nesta temporada é a Liga de Cristiano Ronaldo e de Lewa. Alto nível!   

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Rodrigo Bueno08 Oct, 2022

Talvez a grande notícia desta última semana no futebol brasileiro tenha sido a tão esperada estreia do atacante Endrick no time principal do Palmeiras, mas isso ficou pequeno para mim diante da linda história de luta de sua família, muito bem retratada no choro de seu pai na arquibancada. Torcedores de vários times, imprensa, empresários, clubes europeus, e amantes do futebol de todo tipo aguardavam curiosos pelo debut do garoto de 16 anos que dá show no sub-20. Muito se discutiu se o inteligente Abel Ferreira estava fazendo o certo ou se estava sendo injusto ao mostrar cautela desde o Mundial de Clubes com aquela que talvez seja mesmo a maior promessa já revelada pelo Verdão na história.   

Endrick já tinha ficado no banco em partidas anteriores deste Campeonato Brasileiro que já está encaminhado para o Palmeiras há mais de um mês, antes mesmo de eu sair de férias (volto só agora a escrever no blog por isso). Havia um clamor generalizado pela utilização do mais novo fenômeno do futebol nacional e a chance veio contra o Coritiba, no segundo tempo, quando a vitória do time da casa já estava consolidada. As imagens de Endrick entrando em campo, desperdiçando duas oportunidades (em uma delas não passando a bola para companheiros que estavam em melhor condição) tomaram conta dos programas esportivos. Talvez rodem o mundo quando ele completar 18 anos e for negociado com algum gigante do futebol europeu. Quem esteve no Allianz Parque nesse jogo jamais vai esquecer a euforia quando ele foi chamado para entrar na partida. Diria que é bem grande chance de no futuro milhares de palmeirenses dizerem com orgulho que estavam no estádio na goleada contra o Coritiba. Isso porque a história de Endrick é infinitamente maior do que essa partida que ampliou ainda mais a liderança alviverde no Brasileiro. Ninguém sabe aonde pode chegar no futebol esse talentoso jogador, mas todos já sabem do seu passado de fome.

Douglas, o pai de Endrick, estava emocionado demais com a estreia de seu filho no time principal do Palmeiras. Isso é normal para qualquer pai que vê a realização de sua cria. Mas imagina o filme todo que passou ali na cabeça de Douglas e de outros integrantes de sua família. O pai de Endrick jogou bola  e ganhou algum troco dessa forma para conseguir comprar cestas básicas, para pagar uma conta de água, para comprar um gás e para dar um sustento à sua família, como ele já declarou em entrevistas. O pai de Endrick é um guerreiro, como outros milhões neste país que tentam sair da linha da pobreza, que lutam para dar comida a seus filhos. Ele não teve o raro talento do filho para jogar bola e por isso não foi muito longe em sua carreira profissional. Mas ele ama futebol e foi dessa forma que que ele viu uma possibilidade de tirar sua família da miséria. Quantos não usam o futebol no Brasil para ascender socialmente, para conseguir independência financeira?

Em um certo dia, Endrick disse que estava com fome e pediu comida ao pai, mas infelizmente não tinha nada na geladeira nem no armário. O garoto falou então que iria ser jogador do futebol para mudar a situação da família. Basicamente, Endrick pensou exatamente como seu pai, só que sua qualidade absurda para jogar futebol o colocou ainda muito cedo em uma condição de estrela, coisa que Douglas passou longe de ser. 

Quantos Endricks temos no Brasil? Pensando em craques, eles são cada vez mais raros. Quantos Douglas nós revelamos neste país? Vários, infelizmente. São mais de 30 milhões de pessoas que vivem na pobreza no Brasil atualmente. E, infelizmente, não tem time de futebol para todo esse povo no mundo. Aliás poucos são os times de futebol no país que têm boa condição financeira. O pai de Endrick teve muitas dificuldades para ficar em São Paulo e contou com a ajuda de Jailson, ex-goleiro palmeirense, para segurar o filho no Verdão, um caso raro hoje de clube nacional endinheirado.

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O talentoso atacante Endrick, hoje com 16 anos, tirou sua família da miséria antes de estrear no profissional do Palmeiras Fabio Menotti / Palmeiras

Endrick já está dando ao seu irmão mais novo tudo o que ele não teve. Agora, ninguém passará mais fome e aperto na família. Por isso o choro também de Douglas enquanto filmava com seu celular a entrada em campo de Endrick contra o Coritiba. Não era apenas um pai ali festejando seu filho virando jogador de futebol. Aliás é nessas horas que a gente vê que “não é só futebol”. Desde já há uma torcida enorme para o sucesso de Endrick e de sua família. O garoto perdeu ainda recentemente o avô e lamentou emocionado que não conseguiu dar a ele a alegria de vê-lo jogar no time principal. Infelizmente, a vida é curta e é sofrida demais para tanta gente. Só quem passou fome sabe o que é isso.

Carrasco do Brasil na Copa de 2006, o elegante atacante francês Henry disse naquela época que “os jogadores não estudam” ao explicar por que apareciam tantos craques brasileiros. “No Brasil, nascem com uma bola nos pés. Na praia, na rua, na escola, onde se olha estão jogando futebol. Quando eu era criança, pedia à minha mãe se eu podia brincar, e ela muitas vezes negava. Eu estudava das 7h às 17h. No Brasil, as crianças jogam das 8h às 18h. Basta ver aquelas cinco estrelas na camisa deles para perceber que o futebol faz parte de sua identidade. Gostam de tal forma do jogo que só querem levar a bola para o ataque. Sempre foi assim e vai continuar sendo sempre”, afirmou Henry, que despertou algumas críticas com essa análise do futebol brasileiro.     

Impossível não pensar em Endrick ao resgatar as frases do Henry. Não sei exatamente como foi a vida escolar do jovem craque do Palmeiras, mas sei que ele precisava arrumar dinheiro e comida para sua família, mesmo sendo ainda uma criança. O futebol não é só parte da identidade do Brasil, ele é uma rara salvação para alguns saírem das classes mais baixas da sociedade. Em alguns casos, é quase a única esperança de sobrevivência. A humildade de Endrick e de sua família encantam quase tanto quanto o seu futebol, bastante ofensivo como também cantou a bola o Henry. Não vai dar para Endrick na Copa do Mundo deste ano no Qatar (há uma discussão agora se ele deve ou não servir a seleção sub-17, que parece pouca coisa para ele e todo o seu talento), mas muito possivelmente em 2026, no Mundial na América do Norte, ele deverá estar no radar da seleção principal. Muitas reportagens mundo afora vão lembrar desta estreia de Endrick contra o Coritiba e do sofrimento  da superação de sua família.

Isso é o puro suco do futebol brasileiro, o puro suco do Brasil.

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Rodrigo Bueno01 Sep, 2022

Teremos mais uma final brasileira na Libertadores. O que muita gente imaginava foi confirmado após os 4 a 0 do Flamengo no Vélez Sarsfieldna Argentina. Se o português Vítor Pereira, o técnico do Corinthians, disse que houve um choque de realidade após ser derrotado em casa pelo Flamengo, imagine o choque de realidade que os argentinos e os demais vizinhos sul-americanos estão encarando diante do poderio econômico atual do futebol brasileiro em termos continentais. Será o quarto campeão seguido de Libertadores com passaporte brasileiro: Flamengo (2019), Palmeiras (2020 e 2021) e Athletico-PR/Flamengo/Palmeiras (2022). É uma sequência recorde para o país, igualando a série de taças de Internacional (2010), Santos (2011), Corinthians (2012) e Atlético-MG (2013). E a tendência para os próximos anos é de um domínio ainda maior dos brasileiros, a série recorde deverá aumentar.

Veremos neste ano pela terceira vez consecutiva uma final brasileira. Foi Palmeiras x Santos em 2020 no Maracanã, Flamengo x Palmeiras em 2021 em Montevidéu e agora em Guayaquil talvez a repetição da decisão do ano passado, o que seria algo inédito (já tivemos mais de uma final Boca Juniorsx Santos e Estudiantes x Nacional, mas não em anos seguidos). Talvez o Athletico Paranaense se torne neste ano o 11º clube brasileiro campeão da Libertadores, o que simbolizaria ainda mais o domínio nacional no continente (seria o primeiro título de um time que não está entre os chamados 12 grandes do Brasil no mais nobre torneio da Conmebol). A Argentina tem “apenas” oito clubes campeões da Libertadores, os cinco considerados grandes mais Argentinos Juniors, Estudiantes e Vélez Sarsfield. Na lista total de títulos da Libertadores, os argentinos estacionaram em 25 taças, e os brasileiros já computam agora 22 troféus. Essa troca de bastão no topo parece questão de pouco tempo. Se contarmos os títulos por país desde 1992, quando o São Paulo de Telê abriu uma nova era na Libertadores para o Brasil, que passou então a valorizar mais a competição continental, vemos 17 conquistas brasileiras e 14 de todos os outros países juntos. Os uruguaios, outrora competitivos, não conquistaram mais nenhum título.  

Na temporada passada, também houve final brasileira na Copa Sudamericana. O Athletico ganhou seu segundo título do torneio ao superar Bragantino, uma decisão com dois times que viraram símbolo de boas administrações nos últimos anos. Neste ano, o São Paulo pode conquistar seu bicampeonato da Sudamericana ou podemos ver ainda um título inédito do Atlético-GO. A final em Córdoba no dia 1 de outubro deve ser contra o Independiente del Valle, clube que fez 3 a 0 na semifinal de ida contra o Melgar e que jogará fora de casa na prática na final, especialmente se a decisão for contra o São Paulo, cuja torcida deve promover uma invasão à Argentina (mais uma vez o fator econômico pesa nisso). São nove times brasileiros, muito possivelmente, na próxima edição da Libertadores. Quase metade dos clubes da Série A do Brasil disputam o principal título da América. Outros seis clubes do país jogam a Sudamericana na condição de fortes candidatos. A melhor campanha da fase de grupos da atual Sudamericana foi do Ceará, que deixou o “Rey de Copas” Independientefora do caminho. O Dragão eliminou dois tricampeões da Libertadores na sua jornada até a semifinal da Sudamericana: Olimpia e Nacional.

Nunca a América viu um Flamengo e um Palmeiras tão fortes. O rubro-negro, dono da maior torcida e do maior faturamento do país mais rico da América do Sul, está na sua terceira final de Libertadores em quatro anos. O Palmeiras, que vive talvez a sua era mais dourada e endinheirada, estabeleceu o recorde de partidas sem derrota na Libertadores (18 jogos, empatado com o Atlético-MG, que também lucra com seu momento de maior investimento) e também a maior série sem perder como visitante (completou 20 jogos e, agora, caiu enfim na Arena da Baixada). Flamengo e Palmeiras tinham apenas um título da Libertadores até poucos anos, mas agora ameaçam criar uma hegemonia no torneio que ameaça os maiores campeões da história (o Boca Juniors tem sido sistematicamente eliminado por brasileiros e já não ganha a Libertadores desde 2007). O River Platede Marcelo Gallardo, o melhor clube da América na década passada, não consegue competir financeiramente com os times mais poderosos do Brasil. Na final de 2019, o então presidente do River Plate, Rodolfo D’Onofrio, destacou que o Flamengo faturava dez mais vezes de TV do que seu clube. O abismo no continente é real!

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Pedro, artilheiro da atual Libertadores, comemora com Gabigol, que vai ser o brasileiro com mais gols na história da Libertadores em breve Buda Mendes/Getty Images

Agora que está bem claro o domínio dos clubes brasileiros na América do Sul, vamos mudar o foco para outros continentes. No momento, nenhum outro país do mundo possui uma hegemonia como a brasileira em sua região. Na Concacaf, após 16 anos de domínio mexicano na Concachampions, o Seattle Soundersficou com o título e vai jogar o Mundial de Clubes. Já na África, o Wydad, tradicional time marroquino de Casablanca, acabou com o império doAh Ahly, popular clube egípcio que é o maior campeão africano. Na Ásia, os últimos três campeões são de três países diferentes: Japão, Coreia do Sul e Arábia Saudita. O Urawa Red Diamonds já está na final, onde talvez não esteja o campeão vigente da disputa: o saudita Al Hilal. Na Oceania, o detentor do título no momento é o de quase sempre, o Auckland City, da Nova Zelândia. Mas o campeão anterior era o Hienghène Sport, da Nova Caledônia. Nos dois últimos, a pandemia parou a bola lá.

Se formos para a Europa, onde o futebol tem seu maior nível e onde é mais díficil exercer um domínio por muito tempo, temos três países diferentes vencendo a principal taça nos últimos três anos. Alemanha (Bayern de Munique-2020), Inglaterra (Chelsea-2021) e Espanha (Real Madrid-2022) venceram a Champions League recentemente. Na Liga Europa, os espanhóis vinham doutrinando em termos de títulos, notadamente com o Sevilla, mas o Eintracht Frankfurt, da Alemanha, ganhou a última final em cima do Rangers, da Escócia. Ingleses endinheirados ficaram com os títulos do torneio em 2013 (Chelsea), 2017 (Manchester United) e 2019 (Chelsea). A primeira edição da Conference League foi vencida pela Roma de José Mourinho. Um clube italiano não vencia um torneio oficial da Uefa desde 2010, quando a Inter de Milão de Mourinho conquistou a Champions. Ou seja, estamos vendo na Europa muita disputa em todos os torneios, com clubes de vários países sonhando com o sucesso maior. Alguns times com muito investimento, casos de Manchester City e Paris Saint-Germain, ainda não conseguiram o troféu dos sonhos mesmo com toda a gastança recente. O dinheiro faz diferença em qualquer parte do mundo, mas é na América do Sul que o abismo econômico está levando cada vez mais a um “clubinho privê” de campeões.   

Eu sairei de férias neste setembro e vou dar uma parada nesse período com o blog. Já viajarei sabendo que o campeão da Libertadores será de novo brasileiro. Resta saber se o campeão da Copa Sudamericana também será do nosso país. E se o Brasil conseguirá estender esse domínio na América do Sul para a Copa do Mundo no final do ano e para o Mundial de Clubes em 2023.

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Rodrigo Bueno23 Aug, 2022

O Campeonato Ucraniano não está entre os melhores do mundo, mas ele vai ganhar agora muito mais holofotes, além de sirenes, bombardeios e operações de guerra. O torneio foi retomado oito meses e meio depois. A última partida tinha sido no dia 12 de dezembro de 2021, quando o Kolos Kovalivka venceu o Mynai por 2 a 1 pela 18ª rodada do campeonato 2021/2022. Isso foi antes da tradicional parada de inverno e da invasão russa ao território ucraniano. Os jogos foram paralisados, e o campeonato foi dado como terminado. Ele volta agora em data simbólica para a Ucrânia, o Dia da Bandeira, véspera da Independência do país.

A disputa acontece com a ameaça de ataques aéreos. Um jogo de juniores entre Chornomorets e Veres já teve que ser paralisado após sirenes alertarem para a iminência de bombardeio. Os alarmes tocam de forma contínua por 30 segundos e, pelo protocolo, os times deixam o jogo correndo para abrigo que fica a cerca de 500 metros do campo. Essa partida foi retomada 25 minutos depois quando havia um pouco mais de segurança. Todos os jogos são disputados com portões fechados

Basicamente, as partidas acontecem no oeste do país, onde a Rússia ainda não controla o território. Além do futebol profissional estar de volta, foram retomados na Ucrânia os confrontos entre times de base e também de futebol feminino. A decisão de voltar foi dada há um mês por Vadym Gutzeit, ministro da Juventude e dos Desportos.

Quase todas as equipes do Campeonato Ucraniano indicaram dois ou três estádios para jogar. A liga nacional ainda não aprovou todos os locais. O caso mais delicado é o do Kryvbas, de Kryvyi Rih, que fica a apenas 40 km da zona de conflito. Olexandria e Inhulets, de Petrove, indicaram estádios de suas cidades, mas as autoridades devem vetar jogos nesses lugares por questões de segurança e logística. Os deslocamentos internos na Ucrânia continuam complicados. A capital Kiev deve receber assim a maior parte dos jogos, divididos em três estádios. Os times do país que jogam competições internacionais, incluindo o Dinamo de Kiev, podem jogar em Lviv, cidade no extremo oeste da Ucrânia que tem acesso mais fácil para quem vem do exterior.  

Não houve campeão nem rebaixados no Ucraniano 2021/2022. Porém dois times que estavam na disputa não jogarão na edição que começa agora por conta da invasão russa: Mariupol e Desna. Eles serão substituídos por Metalist Kharkiv e Kryvbas, que eram os líderes da Segundona quando houve a paralisação. A primeira rodada inicia com apenas cinco jogos porque Dinamo de Kiev e Dnipro têm duelos internacionais, contra Benfica e AEK Larnaca, respectivamente. Outro jogo adiado é o do Mynai-Lviv, pois o estádio de sua cidade, que também deve ser usado pelo Vorskla, não está pronto. O Veres vai jogar como visitante em todas as primeiras rodadas até que seu estádio em Rivne fique disponível.

A decisão da Fifa de autorizar os jogadores estrangeiros que atuam na Ucrânia a sair do país e acertar com outros clubes esvaziou bastante o Campeonato Ucraniano atual. Todos os atletas brasileiros do Shakhtar, por exemplo, deixaram a equipe. Mas o ala-direito paulista Lucas Taylor chegou agora para o time por empréstimo (estava no PAOK). Com o mercado aberto até o final do mês, é bem possível que os clubes ucranianos tentem contratar às pressas alguns outros jogadores estrangeiros. Na temporada passada, havia 98 atletas estrangeiros inscritos no Campeonato Ucraniano. Esse número caiu para 45 agora. 

O Shakhtar foi o time que mais sofreu com o êxodo: tinha 14 “gringos” em seu elenco há um ano, mas agora conta só com três.

Militares serão os únicos que estarão nas imediações dos estádios. São 16 times na disputa, e o Dinamo de Kiev defende o título que foi conquistado na temporada 2020/2021. O campeonato atual é visto como uma forma de mostrar resistência aos russos, uma prova de nacionalismo ucraniano em meio ao conflito, que começou para valer no dia 24 de fevereiro com a invasão russa. Os efeitos da crise entre Ucrânia e Rússia no futebol já vêm de longa data. Um exemplo disso é o que aconteceu com o Zorya, que mudou em 2014 de Lugansk para Zaporijia após a anexação da Crimeia e o conflito na região de Donbass. O time agora vai mandar seus jogos em Uzhgorod. O Shakhtar teve o seu estádio bombardeado e teve que se mudar de Donetsk para Lviv e Kharkiv antes de se transferir definitivamente para a capital Kiev. O Tavriya Simferopol sofreu muito após a anexação da Crimeia pela Rússia. Ele teve que mudar seu nome para TSK Simferopol para competir entre os russos. Depois, tentou jogar na segunda divisão ucraniana com o nome original, porém a ocupação russa em Kherson acabou decretando o fim definitivo da equipe.

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Shakhtar Donetsk, que contava com legião de brasileiros, voltará a jogar após paralização do Campeonato Ucraniano ARIS MESSINIS/AFP/Getty Images | GENYA S

Um atração do novo Campeonato Ucraniano é o Kryvbass, time da cidade do presidente Volodymyr Zelesnky. O técnico da equipe é Yuriy Vernydub, ex-treinador do Sheriff que renunciou ao comando do clube para se incorporar ao exército ucraniano. Ele teve autorização do Ministério da Defesa para conciliar os treinamentos do time com a sua atividade militar. 

“Trata-se de uma iniciativa única na história. Futebol contra a guerra em ambiente de guerra. Futebol pela paz”, afirmou Andriy Pavelko, o presidente da federação ucraniana de futebol. “Atráves do futebol poderemos agradecer tudo que os soldados ucranianos têm feito por nós”, disse, por sua vez, Igor Jovicevic, técnico do Shakhtar.

Há ainda uma guerra comercial também em torno da liga ucraniana. Com todos os jogos sem torcida, os direitos de TV da competição foram negociados com a Setanta Sports, que exibiria todas as partidas em TV aberta, mas a 1+1 anunciou que vai transmitir as partidas dos clubes com quem já tinha contrato: Dinamo de Kiev, Dnipro, Zorya e Metalist Kharkiv. A liga ucraniana entrou com recurso na Justiça. Mas esse é um problema muito menor diante de tudo o que está acontecendo na Ucrânia.

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Rodrigo Bueno19 Aug, 2022

Muitos são-paulinos, eufóricos com a presença de seu time nas semifinais de dois importantes torneios, estão me chamando de clubista porque eu disse no Linha de Passe que o São Paulo é o mais fraco dos quatro sobreviventes na Copa do Brasil. Estão dizendo que sou corintiano e flamenguista, o que não é verdade, eu juro. Vou mostrar aqui meus argumentos e explicar melhor por que acho o São Paulo o favorito para ganhar a Copa Sul-Americana e o menos forte dos times envolvidos ainda no maior mata-mata nacional.  No fim, deixarei mais claro ainda outra coisa.

Primeiro, vamos ver a tabela do Campeonato Brasileiro. Após 22 rodadas, o Flamengo é o vice-líder e está em grande momento com Dorival Júnior, com muitas de suas estrelas jogando em alto nível, inclusive Pedro, que deve ir para a Copa do Mundo. O Corinthians tem os mesmos 39 pontos do Flamengo e ocupa a terceira colocação, renasceu no torneio após conseguir uma virada incontestável (com goleada) sobre o Atlético-GO, semifinalista da Copa Sul-Americana. O Fluminense tem apenas um ponto a menos do que Flamengo e Corinthians e fecha o G4, tendo produzido nos últimos meses um futebol vistoso muito pelas mãos de Fernando Diniz e dos pés do Ganso, figuras que o são-paulino conhece bem. O sofrido e apaixonado torcedor são-paulino, que tem dado show e demonstração de apoio no Morumbi e fora de casa, pode dizer e se orgulhar que eliminou da Copa do Brasil o líder do Brasileiro, o rival Palmeiras, mas isso não dá garantia nenhuma de que vai deixar para trás agora os outros três times do G4.  

Vamos falar agora de finanças e elenco. O Flamengo sobra na turma, aliás esbanja craques e boa saúde financeira, tanto que agora cogita até fazer um estádio com capacidade para mais de 100 mil pessoas. Esse momento de solidez rubro-negra o coloca como grande favorito na Copa do Brasil. Venceu os últimos quatro jogos que disputou contra o São Paulo até com certa tranquilidade (5 a 1, 4 a 0, 3 a 1 e, mais recentemente, um 2 a 0 no Morumbi preservando alguns titulares). Se historicamente o Tricolor do Morumbi leva boa vantagem sobre o Flamengo, o momento pesa muito a favor do clube carioca. No Maracanã ou no Morumbi, é o mais cotado para vencer na atual conjuntura.

O Corinthians possui, sim, problemas financeiros como o São Paulo, ainda tem um estádio para pagar (embora, após acordo, isso seja feito em muitas prestações camaradas), mas investiu nos últimos meses em vários jogadores de bom nível e em um técnico estrangeiro com bom currículo. Por ter trazido nomes como Renato Augusto, Roger Guedes, Willian, Paulinho e Giuliano, o clube alvinegro inspirou Rogério Ceni e Muricy Ramalho a cobrarem da diretoria tricolor a contratação de reforços, caso contrário o time brigaria contra o rebaixamento mais uma vez (aliás não passei a classificação do Tricolor no Brasileiro: 11º lugar, nove pontos atrás do G4 e seis acima da zona da degola). O Corinthians tem ainda o seu melhor goleiro da história, Cássio, e outros jogadores históricos do clube, como Fagner e Gil. Trouxe mais recentemente Yuri Alberto, que demorou a desencantar mas que já fez o seu tradicional hat-trick. O Corinthians não venceu ainda o São Paulo nesta década, isso é verdade, mas o Tricolor ainda não sabe o que é ganhar uma partida em Itaquera ainda.    

O Fluminense tem uma ótima espinha dorsal em seu time, com o experiente goleiro Fábio (os são-paulinos pouco confiam em seus arqueiros, nenhum deles chegou para ser titular), com o zagueiro Nino, com o volante André, com o meia Ganso e com o atacante Cano, que tem feito muito mais gols do que Calleri. Assim como o São Paulo, o Tricolor das Laranjeiras vive muito nos últimos anos de sua base, que exporta bons jogadores e mantém o clube vivo financeiramente. Se não nada em dinheiro, parece que o Flu não está em “colapso financeiro”, como Rogério Ceni descreveu administrativamente seu clube. Em um confronto recente no Morumbi, vimos um bom empate em 2 a 2, com Fernando Diniz cobrando seu time por ter perdido dois pontos fora de casa, prova da ambição da equipe carioca e especialmente de seu treinador diferenciado (para os padrões brasileiros). O Fluminense talvez não tenha um elenco melhor do que o São Paulo, porém seu desempenho em campo tem sido bem superior. A equipe de Rogério Ceni oscila mais e tem avançado nas copas com sofrimento, às vezes nas disputas de pênalti (casos de Ceará e Palmeiras), e às vezes com o time levando sufoco no fim, como foi contra o América-MG, sobretudo após a expulsão de Miranda.     

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Os técnicos Rogério Ceni e Dorival Junior Rubens Chiri/saopaulofc.net | Ricardo Mo

Agora, é hora de analisar o calendário. Flamengo e São Paulo ainda estão em duas copas, mas o elenco rubro-negro tira isso de letra, uma vez que possui um time reserva melhor do que muitos outras equipes da Série A, inclusive o Tricolor do Morumbi. O Fluminense e o Corinthians estão muito focados na Copa do Brasil, devem poupar jogadores no Brasileiro para concentrar forças no mata-mata nacional. Enquanto isso, o São Paulo estará dividido com a Copa Sudamericana, competição que tem reais chances de ser campeão mais uma vez (venceu o torneio em 2012, uma rara conquista do clube desde a última era dourada em 2008).  O departamento médico do São Paulo, onde estará ainda por um bom tempo Arboleda, costuma ficar cheio, e a maratona de jogos do clube só tende a complicar mais a situação. A equipe está no limite e precisa jogar no limite para competir com os mais fortes.   

Se o São Paulo é para mim a quarta força da Copa do Brasil dentre os semifinalistas (confira nas casas de apostas quem é o menos cotado para ser campeão do torneio e veja se estou mentindo), entendo que o time é o grande favorito para ganhar a Copa Sudamericana. Vai enfrentar na semifinal, decidindo no Morumbi, o Atlético-GO, que luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro e que tem levado algumas goleadas recentemente (4 a 1 Corinthians, 4 a 1 Flamengo e 4 a 1 Athletico). Com Jorginho no olho do furacão por conta de seus ataques a Abel Ferreira, a situação é mais favorável ao São Paulo, que neste Brasileiro já venceu o Dragão fora de casa (2 a 1). Em uma hipotética final em Córdoba, na Argentina, certamente haverá uma invasão são-paulina para lotar os mais de 50 mil lugares do estádio Mario Kempes. O adversário terá muito possivelmente pouca torcida na decisão, seja ele o Independiente del Valle ou o Melgar, o grande azarão do torneio. O São Paulo fez a segunda melhor campanha no torneio até as quartas de final, quando eliminou o time de melhor campanha, o Ceará. O elenco tricolor é bem mais caro e melhor do que os dos outros três semifinalistas. Eu não queria dizer que agora é uma obrigação para o São Paulo ganhar a Copa Sudamericana, mas é quase isso.  

Assim como não tenho medo de afirmar que o São Paulo é quem mais corre muito por fora na Copa do Brasil (é o único dos semifinalistas que ainda não possui esse título, tem mais esse tabu e esse peso para carregar), não tenho receio nenhum em dizer que o São Paulo deve ser o campeão da Copa Sudamericana, o que seria o 13º título internacional oficial do clube, sendo que já é o recordista brasileiro nesse quesito. O título da Sudamericana valeria ainda vaga direta na fase de grupos da Libertadores (o que parece quase impossível via Brasileiro), e a chance de disputar a Recopa contra o campeão da América deste ano. Talvez resgatem até a antiga Copa Suruga/Levain Cup, que não teve suas duas últimas edições por conta da pandemia e da Olimpíada de Tóquio.

Imagino que os são-paulinos até prefiram neste momento o título da Copa do Brasil, por ser inédito e por dar R$ 60 milhões ao seu campeão, mas também porque é mais difícil mesmo. Imagina o que significaria para o São Paulo, nesta fase de vacas magras, conquistar a primeira Copa do Brasil em cima do maior rival (Corinthians) após ter eliminado o Palmeiras (segundo maior rival) e o poderoso Flamengo. Sonhar não custa nada, e o papel do torcedor é pensar de forma positiva mesmo. Só que minha análise é mais fria e técnica: as chances são-paulinas nas duas copas que disputa são completamente diferentes. Respeito demais o São Paulo e sua história, mas isso não me impede de mostrar as dificuldades que o clube e sua torcida têm enfrentado nos últimos anos. Eu tenho dito, já faz algum tempo, que a melhor coisa do São Paulo tem sido seu cada vez mais fervoroso e presente torcedor. E eu me identifico bastante com essa turma, embora eu seja um torcedor mais das antigas, das épocas mais gloriosas. Para quem não sabe, eu costumo torcer em cada país para o time de maior tradição internacional, e no Brasil não é diferente.   

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Rodrigo Bueno11 Aug, 2022

“Nunca dê por morto um gigante. Dissemos isso na ida e agora na volta”, disse comentarista da ESPN argentina antes do pênalti que selou a épica classificação do Palmeiras para as semifinais da Conmebol Libertadores. A narração internacional mostra bem o que o time de Abel Ferreira virou no nosso continente. Grande o Palmeiras sempre foi, mas gigante na América mesmo virou nesta incrível passagem do técnico português pelo clube. São 18 jogos sem perder de forma consecutiva no nobre torneio da Conmebol, igualando o recorde do Atlético-MG, mais uma vez vítima do alviverde imponente. São 20 partidas sem perder na Libertadores atuando como visitante, pulverizando o recorde que era do ótimo River Plate de Marcelo Gallardo. O Palmeiras deixou bem para trás todos os outros brasileiros na tabela histórica de pontos da Libertadores, sendo superado apenas de clubes tradicionais que jogaram a competição inúmeras vezes desde os primórdios: River Plate, Nacional, Boca Juniors, Peñarol, Olimpia e Cerro Porteño.    

'Nunca dê por morto um gigante!': A narração de Palmeiras x Atlético-MG na ESPN Argentina

São 10 semifinais agora para o Palmeiras na Libertadores, igualando as marcas de Grêmio e São Paulo, outros tricampeões do torneio. Os dois tricolores vêm logo abaixo do Verdão na tabela histórica de pontos da principal competição da América. Foi nesta era Abel que o Palmeiras passou e abriu frente sobre esses dois tradicionais adversários. Um bicampeonato seguido da Libertadores já colocaria por si só o atual no Palmeiras em uma prateleira de times históricos, algo que pode ser maximizado com um tri genuíno, algo que apenas Estudiantes (1968/1969/1970) e Independiente (1972/1973/1974/1975) conseguiram. Já podemos comparar o Palmeiras atual com vitoriosos esquadrões que marcaram época, como o Boca de Bianchi e do São Paulo de Telê. Quem pensa assim é Sergio Levinsky, experiente jornalista argentino que hoje é correspondente na Espanha sem deixar de falar e escrever bastante sobre as competições sul-americanas.  

“O Palmeiras é um dos times mais fortes da era moderna. Dos times com ciclos vencedores, é o São Paulo de Telê, depois o Boca de Bianchi e depois vejo o Palmeiras. Dos últimos 30 anos, vejo o Palmeiras como um dos três ou quatro mais fortes. Faltou um pouco de continuidade e mais títulos ao River de Gallardo. Me parece que os três mais fortes foram o São Paulo de Telê, o Boca de Bianchi e o Palmeiras de agora. Contra o Atlético-MG, perdia por 2 a 0 e outra equipe ali normalmente perderia. E ele empatou no final. O Palmeiras tem o caráter necessário, a mente aberta para ganhar. Como já ganhou muito, tem essa fortaleza.  O Boca de Bianchi tinha muita força mental”, afirmou Levinsky.

Segundo ele, houve um crescimento natural do time nos últimos dois anos. “Me parece que o Palmeiras de Abel teve uma evolução muito grande. Na primeira Libertadores que ganhou, foi muito conservador, com muita gente atrás e se aproveitando cada erro dos adversários. Esteve muito perto de ser eliminado pelo River em São Paulo na semifinal. Depois, melhorou. Parece que tirou um peso após ganhar a primeira Libertadores. Começou a jogar melhor e o vejo como um time muito seguro, tem bons jogadores que sabem muito bem o que fazer. Perdeu alguns jogadores, mas trouxe outros, alguns de Argentina. Há alguns desequilibrantes, como Veiga, Scarpa, Rony... Gustavo Gómez atrás. Eu o vejo como o principal candidato a ganhar a Libertadores. É o melhor time desta edição. Me surpreendeu o limite que alcançou contra o Atlético-MG, na ida e na volta.”  

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Abel Ferreira, técnico que disputa sua terceira Libertadores pelo Palmeiras e pode ganhar um tricampeonato dizimando recordes da América Ricardo Moraes/Getty Images

Para Sergio Levinsky, o Flamengo de hoje também goza de muito respeito na Argentina, mas mais pelo individualismo. “Palmeiras e Flamengo são respeitados hoje na Argentina de forma quase igual. Há uma ideia de pensamento mais coletivista, de mais conjunto, e esses respeitam mais o Palmeiras. Mas tem outro grupo que pensa mais nos jogadores, esses respeitam muito o Flamengo pelo individual. A ideia na Argentina é que o elenco do Flamengo é mais poderoso, futebolisticamente falando, possui jogadores mais capazes, tem um grupo milionário. A sensação que o Palmeiras passa é de mais estrutura, mais equipe, mais coletivo. Creio que é um duelo parelho entre eles, cada um com suas virtudes. Na Argentina, a maioria das pessoas acredita em mais uma final entre eles”, afirmou o jornalista argentino ao blog.    

Caso o Flamengo, que pega o Vélez Sarsfield na semifinal, seja campeão, entrará para o clube dos tricampeões da América. Já o Palmeiras, se for tetra, ficará atrás em número de títulos apenas de Independiente, Boca Juniors e Peñarol. A escalada do futebol brasileiro nos torneios da Conmebol passa muito pelo maior poderio financeiro dos times do país. Flamengo e Palmeiras se organizaram melhor administrativamente e hoje fazem um verdadeiro clássico continental. Já tivemos finais repetidas na história da Libertadores (Boca x Santos e Estudiantes x Nacional), mas nunca houve finais repetidas em anos consecutivos. A América contempla agora e reverencia o gigante Palmeiras, bicampeão vigente, mas o Flamengo também está crescendo e busca fazer uma hegemonia como outros times lendários fizeram.

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Rodrigo Bueno06 Aug, 2022

Há paixões que perduram com o tempo e geram uma crise de abstinência quando ficam um tempo 'congeladas'. A Premier League é assim no Brasil: quando chega a última rodada, muita gente já fica saudosa do campeonato nacional mais badalado do planeta, e quando o Inglês volta, como agora, há uma sensação de felicidade e satisfação, como se tivéssemos mesmo reencontrando um grande amor que marcou tanto a nossa história. Eu já curtia futebol inglês mesmo antes da Premier League, mas tive a honra de comentar o campeonato desde o início regular das transmissões nos canais ESPN. São quase 20 temporadas comentando a PL desde aquela façanha do Arsenal campeão invicto em 2003/2004.

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O lendário Arsenal campeão invicto em 2003/2004, temporada em que começou de forma regular a transmissão da Premier League na ESPN no Brasil Matthew Ashton/EMPICS via Getty Images

Vemos cada vez mais no Brasil o impacto da Premier League nas novas gerações. Acabei de ver em rede social um garoto que de fato se chama Dydye Drogba Bageston dos Santos, que é um atleta jovem do Náutico. Nos últimos anos, tenho dado entrevistas para vários perfis que tratam do Campeonato Inglês e para alguns estudantes que se aprofundaram na análise da popularização da Premier League no Brasil neste século. Fiz matéria na Folha quando começou para valer a febre d0 Campeonato Inglês no Brasil. As mídias sociais ainda estavam engatinhando. Alguns dos perfis de torcidas de times ingleses tinham poucos seguidores na época, mas isso se multiplicou de tal forma que hoje o mercado já se preocupa com a adoração nacional pelos clubes da terra da rainha. Pesquisa recente sobre torcidas no Brasil ignorou esse pequeno percentual que escolhe torcer um por um time estrangeiro. Mas quem lida com transmissões de futebol há muito tempo e frequenta mídias sociais sabe que já temos um número bem expressivo de adoradores de verdade dos times de fora.

Liverpool busca empate contra Fulham em sua estreia na Premier League com golaço de letra de Darwin Núñez; veja os melhores momentos

Nesta temporada, que promete uma nova briga de título entre Manchester City e Liverpool, há uma briga considerável na parte de cima da tabela entre Chelsea, Tottenham, Arsenal e Manchester United, todos com boas novidades nesta janela de transferências. Meu primeiro jogo comentando será o duelo entre o Everton, bom time que não figura no chamado Big 6, contra os Blues, que passaram na temporada passada por um turbilhão com a saída de Roman Abramovich do comando do clube - o duelo começa às 13h30 (horário de Brasília) deste sábado (6), com transmissão ao vivo pela ESPN no Star+. Ele tinha estreado como manda-chuva do Chelsea justamente na temporada 2003/2004, a primeira que comentei de cabo a rabo na ESPN. Para quem é da velha guarda, há uma novidade e tanto nesta edição do Inglês. O Nottingham Forest, tradicional time que é bicampeão europeu, está de volta. Isso por si só já dá uma cara mais Old School para esta Premier League, se bem que praticamente todos os times na Inglaterra são muito tradicionais, uma vez que estamos falando da pátria-mãe do futebol.

A Inglaterra está cada vez mais respirando futebol, vem de um vice-campeonato europeu da seleção masculina e de um título continental no feminino, duas decisões que lotaram e mexeram com Wembley. As ligas nacionais inglesa, tanto no masculino quanto no feminino, são referências e modelo para todo o planeta. O Real Madrid pode ter sido campeão da Europa mais uma vez e o Paris Saint-Germain pode continuar montando uma constelação de craques, mas a Premier League se impõe mundo afora também pela competitividade, por um certo equilíbrio de forças, por reunir tantas equipes de alto nível. Fora isso, tem aquela atmosfera quase que única dos estádios ingleses e a tradicional intensidade dentro de campo que falta em tantas partidas de outros países. Por todo esse cenário, eu costumo dizer há alguns anos que a Premier League é o mais próximo que o futebol chega do videogame.

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Alf-Inge Haaland, pai da nova estrela do Manchester City, já jogou no campeonato pelo time azul do filho e por Nottingham Forest e Leeds Reprodução ESPN

Há pelo menos uns quatro jogos bem bacanas no Campeonato Inglês por rodada e hoje, com o streaming, é possível acompanhar de verdade todas as partidas da competição. Isso é um sonho para a turma da minha geração, que esperava um único jogo por domingo do Italiano para ver o que tinha de melhor no futebol mundial. Era a época em que o Calcio posava de Eldorado da bola, ostentando os melhores jogadores e a melhor liga nacional do mundo. Essa honraria mudou de mãos faz um bom tempo e, por mais que LaLiga e Bundesliga se esforcem, é muito difícil atingir o nível da Premier League, que ainda vê seus clubes atraindo legião de torcedores em partidas de pré-temporada na Ásia, na Oceania e na América do Norte. Não dá para calcular direito o número de torcedores mesmo dos times ingleses mundo afora. Se no passado isso se dava bastante pelo antigo domínio do império britânico em alguns países, agora não há mais fronteiras e idiomas que impeçam o futebol inglês de roubar a cena em visibilidade.  

Como costumo dizer, a Premier League não é para os fracos. Bola que quase não para durante o jogo, atletas que se matam mesmo em campo de forma leal e pouco simulam, técnicos de diversas nacionalidades que produzem um mix sensacional de estilos e personalidades, torcidas que amam de verdade suas camisas seculares e que hoje não são mais sinônimo de hooliganismo. Eu poderia escrever aqui mais um monte de coisas positivas sobre o Campeonato Inglês e oferecer mais argumentos para você curtir esta temporada que está começando, mas creio que isso não é mais necessário. A galera que curte a Premier League não precisa de um Haaland ou de um Conte para se sentir atraída pela disputa. Hoje, há amor de verdade pelos clubes envolvidos, tendo ou não jogadores brasileiros, estando ou não vivendo uma grande fase.

Resumindo, começou o mais diferenciado de todos os campeonatos nacionais. Curta a Premier League adoidado!

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Rodrigo Bueno29 Jul, 2022

Euro feminina: Com golaços, Inglaterra quebra tabu, goleia a Suécia e crava vaga na final

A Fifa elegeu Rinus Michels como o melhor técnico do século passado. O genial mentor do Carrossel Holandês ajudou a revolucionar o esporte com o chamado futebol total, que influencia desde os anos 70 até hoje quase todos os grandes times do planeta. E o mundo pode consagrar de vez agora a holandesa Sarina Wiegman como a melhor técnica de futebol. Campeã europeia em 2017 da Eurocopa com a Holanda, um título inédito para a seleção laranja, ela pode dar neste final de semana o primeiro título europeu da Inglaterra em uma final em Wembley que vai entrar para a história com recorde de público e de audiência. A rival Alemanha tem oito títulos europeus no futebol feminino e é uma das potências da modalidade, mas a campanha da Inglaterra de Sarina impressiona, com 20 gols marcados e apenas um sofrido (nas quartas de final, da Espanha). E tem a vantagem de jogar em casa, a vantagem que a Inglaterra tinha sobre a Alemanha na polêmica final da Copa de 1966. 

Em 2016 (ou seja, outro dia), Sarina completou sua licença de técnica e virou a primeira holandesa a trabalhar no futebol profissional em seu país como treinadora. Mas ela já completará no ano que vem duas décadas estudando e trabalhando em comissões técnicas. A ascensão dela foi meteórica e elogiável em todos os sentidos, aliando resultados rápidos e muito desempenho. Além do título europeu conquistado após seis meses apenas de trabalho na seleção holandesa, Sarina ficou famosa por promover o jogo ofensivo, vistoso, algo muito valorizado na Holanda. E o mesmo ela faz agora na seleção da Inglaterra, que não só vence mas encanta. Rinus Michels foi muito eleito o melhor técnico do século 20 porque criou um sistema inovador e ofensivo, um jeito cativante e revolucionário de jogar futebol. É uma lenda do futebol holandês, mas Sarina trilha já esse mesmo caminho, tanto que já tem merecida estátua na federação holandesa de futebol.

Antes de Sarina assumir a Holanda, a equipe tinha quatro derrotas em cinco jogos. O time mudou completamente em pouco tempo de trabalho com a genial treinadora, que deu força psicológica para o time também, outro ponto forte de seus serviços. Foi campeã da Euro em 2017 com um delicioso 4 a 2 na Dinamarca na final. Foi eleita naquele ano pela primeira vez a melhor técnica do mundo, algo que se repetiria em 2020 e que deve acontecer de novo nesta temporada, especialmente se ela vencer a final deste domingo contra a Alemanha, histórica rival para os holandeses. Apenas Rinus Michels, campeão da Eurocopa de 1988, e Sarina Wiegman levaram a seleção da Holanda a um troféu de primeiro nível. O genial treinador ajudou a mudar a história do Barcelona, levando nos anos 70 para o time catalão o estilo holandês de jogo que continua até hoje no clube, muito por conta da influência de Cruyff, o símbolo maior em campo do Carrossel Holandês. Sarina tem tudo para mudar a história do futebol feminino inglês com a campanha atual na Eurocopa. A liga inglesa já é uma das melhores do planeta, mas a seleção ainda não tem uma conquista relevante. Isso está prestes a mudar. E com um jogo bonito.

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A holandesa Sarina Wiegman, que já foi eleita duas vezes a melhor técnica do mundo, pode dar título europeu inédito para a Inglaterra, repetindo o que fez na Holanda Getty

Na Copa do Mundo feminina de 2019, a Holanda foi vice-campeã, perdendo a final para os Estados Unidos, maior potência da modalidade. Mas, assim como aconteceu com o mágico time de Rinus Michels em 1974, a equipe de Sarina Wiegman foi vice sendo exaltada pelo seu estilo vistoso ao longo do torneio. Ela virou a primeira mulher homenageada no jardim das estátuas da Federação da Holanda pela sua contribuição decisiva para o sucesso e desenvolvimento do futebol feminino no país. Aceitou trabalhar na seleção da Inglaterra, sendo a primeira técnica de fora do Reino Unido a assumir o comando das Leoas. Ela sucedeu o ex-jogador Phil Neville no cargo e pode agora superar Gareth Southgate, técnico da seleção masculina da Inglaterra que levou o time à final mas acabou ficando com o vice-campeonato europeu. Sarina estreou com um sonoro 8 a 0 na Macedônia do Norte e estabeleceu um recorde nacional na seleção inglesa ao aplicar uma goleada de 20 a 0 na Letônia nas eliminatórias para a Copa do Mundo (o recorde anterior era 13 a 0, o que mostra como a Inglaterra ficou ainda mais artilheira com a treinadora holandesa). Nos primeiros seis jogos de Sarina à frente da seleção inglesa, o saldo de gols foi absurdo: 53 gols marcados e nenhum sofrido.   

Como torcedor da Holanda, eu lamentei muito a saída de Sarina do comando da seleção laranja, mas entendo que sua ida para a Inglaterra (e seu possível bicampeonato pessoal na Eurocopa) vai acrescentar demais na sua carreira e também no desenvolvimento do futebol feminino devido ao seu estilo de jogo e de comando. Guardiola, considerado por muitos o melhor treinador deste século, causou uma pequena revolução ao se mudar para o futebol inglês. Sarina está fazendo o mesmo agora na terra da rainha. Aliás a Holanda também tem sua família real. Rinus Michels é o rei da prancheta, e Sarina já é uma admirável rainha do futebol.

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Rodrigo Bueno20 Jul, 2022

A Conmebol discute agora a possibilidade de unificar os títulos da antiga Copa Conmebol, torneio dos anos 90, com a atual Copa Sul-Americana, que agora está sendo chamada de Sudamericana mesmo no Brasil por um pedido da entidade máxima do futebol sul-americano. O Atlético-MG, bicampeão da Copa Conmebol (ganhou a primeira edição em 1992 em cima do Olimpia e repetiu a dose em 1997 ao bater o Lanús na final), encabeça o pedido dos sete clubes campeões do extinto torneio de uma unificação. O movimento é parecido com o que unificou no Brasil os títulos nacionais, colocando no mesmo balaio a Taça Brasil, o Robertão o Campeonato Brasileiro. Há muito de política nesses pedidos, além de uma certa demonstração de carência. O aspecto técnico fica em segundo plano, embora possa render frutos em rankings.

Uma das motivações do Galo e dos outros campeões da Copa Conmebol com a unificação é ganhar mais pontos no ranking da Conmebol, que é utilizado para definir os cabeças de chave da Libertadores, por exemplo. O Atlético-MG, além de se transformar no maior campeão da Sudamericana conjuntamente com outros cinco clubes (com dois títulos), levaria cerca de 300 pontos a mais no ranking continental. A lista da Conmebol atribui pontos também pela história dos clubes na Libertadores e na Sudamericana. Muito por isso, os dois gigantes uruguaios (Nacional e Peñarol) ainda são vistos sistematicamente como cabeças de chave da Libertadores mesmo sem sucesso recente.  

A Conmebol tem seguido os passos da Uefa em vários sentidos, mudando o nome de seus torneios interclubes, lançando a final única em campo neutro, adaptando os formatos de disputa das competições etc. Teoricamente, o pedido de unificação vai levar em conta o que aconteceu com a antiga Copa da Uefa, que virou Liga Europa. São torneios similares no Velho Continente, ambos contando com os clubes mais bem classificados nos campeonatos nacionais que ficaram de fora da Copa dos Campeões da Europa e a atual Champions League. De fato a Copa Conmebol tinha essa característica e reunia até times de ponta, mas não possuía tantas equipes como acontece agora com a Copa Sudamericana. A Copa Conmebol era um mata-mata curto com quase sempre 16 equipes. A atual Copa Sudamericana tem uma fase de grupos e um total de 56 participantes, sendo que 12 deles passaram pela Libertadores. Claro que é uma competição maior e mais desafiadora agora do que era a Copa Conmebol, vencida até pelos garotos do São Paulo em 1994 (o Expressinho de Telê ganhou a final contra o Peñarol).

O pedido de unificação da Conmebol com a Sudamericana será submetido agora à Comissão de Clubes para um parecer. Essa comissão é formada por muitos clubes que não venceram a Copa Conmebol e alguns que ganharam a Copa Mercosul (Flamengo e Palmeiras). Esses vão pedir também que a Mercosul, uma disputa que durou apenas quatro anos e tinha caráter mais comercial, seja também unificada com a Copa Sudamericana? Lembro que a Mercosul convidava os times de maior torcida ou relevância à época em parte do continente (havia também a Merconorte). Não era um torneio com critério técnico, era mais um clube privê. Como de costume, a decisão passará pelo Conselho da Conmebol. Alejandro Domínguez, presidente da entidade, vai chancelar ou não essa unificação com o apoio de outros cartolas, como Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, e Oscar Harrison, presidente da federação paraguaia. Ou seja, como de hábito, teremos nesse processo de unificação dos títulos muito clubismo e politicagem.

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Campeões da Copa Conmebol de 1993 pelo Botafogo, que agora será campeão da Copa Sudamericana se houver a unificação Divulgação/Botafogo

 

A CBF decidiu oficialmente unificar os títulos nacionais em 2010, uma decisão polêmica que foi motivada muito por alguns acordos políticos de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF envolvido em casos de corrupção. Naquela época, ele tentou aproximação com alguns dos principais clubes do país (acenou com o reconhecimento do título brasileiro de 1987 para o Flamengo também, mas a Justiça e o Sport impediram essa oficialização). Teixeira ficaria de bem com Pelé, que venceu Taça e Brasil e Robertão, não o Campeonato Brasileiro propriamente dito (teve início em 1971). A base para unificar torneios tão diferentes (a Taça Brasil era uma copa, poderia ser unificada com a Copa do Brasil) veio de um dossiê montado por Odir Cunha, historiador do futebol ligado ao Santos, o grande beneficiado com a unificação.

O Galo ainda tenta na CBF o reconhecimento do título da Copa dos Campeões de 1937 como o primeiro Campeonato Brasileiro. O Vasco conseguiu disputar em 1997 a Supercopa (torneio que era restrito aos campeões da Libertadores) porque Eurico Miranda foi bem-sucedido no lobby para considerar o Sul-Americano de 1948 como Libertadores. Em vários Estados, clubes pleiteiam mais títulos reconhecidos. A Federação Paulista, por exemplo, proclamou o Juventus como campeão estadual de 1934 no ano passado. O Moleque Travesso, que na época era o Fiorentino, venceu uma liga que não contava com os grandes. O Palmeiras, então Palestra Itália, foi campeão em 1934 atuando na liga mais forte. O Verdão, aliás, vinha tentando o reconhecimento de mais dois títulos paulistas, os torneios extras de 1926 e 1938. Rivais zombam do Palmeiras por pedir de tempos em tempos à Fifa o reconhecimento da Copa Rio de 1951 como Mundial. Já festejou e se frustrou com sinais vindo da entidade máxima do futebol.

Eu valorizo demais a história do futebol, os mais variados campeonatos e entendo que todo clube deve se orgulhar muito mesmo de suas conquistas, mas não curto essa busca insana de reconhecimentos de títulos do passado como se esses precisassem de atualização para ter valor. A Copa Conmebol teve a sua importância nos anos 90, mais para alguns clubes do que para outros. Transformá-la em Sudamericana pode até fazer algum sentido, afinal são torneios com propósito e funcionamento bem parecidos, mas isso não vai fazer os clubes campeões ficarem ainda maiores no caso de uma unificação. A mesma coisa serve para outras unificações. O Uruguai se julga tetracampeão mundial por ter vencido os torneios olímpicos de 1924 e 1928 (além das Copas de 1930 e 1950). Está no seu direito e tem base histórica para se achar mesmo tetra, mas a Copa do Mundo de verdade nasceu em 1930. Aquelas duas medalhas de ouro são épicas e marcantes, serão sempre lembradas mesmo não sendo Mundial. O glorioso Botafogo, que pode agora ser campeão da Sudamericana porque venceu a edição da Copa Conmebol em 1993, não precisa forçar a barra para se proclamar tricampeão mundial por ter vencido três vezes o Triangular de Caracas.  

O Santos ganhou a Taça Brasil em 1963 e em 1965 fazendo apenas quatro jogos em cada edição. Enfrentou apenas dois adversários nessas duas conquistas (Bahia e Grêmio em 1963, Vasco e Palmeiras em 1965). E esses dois troféus valem hoje a mesma coisa, oficialmente, do que os títulos do Brasileiro que o Santos suou para ganhar em 2002 e 2004 (esse já nos pontos corridos), campeonatos com 26 e 24 participantes, respectivamente. Tentar equiparar coisas que são bem diferentes às vezes é complicado. E normalmente são necessárias pouquíssimas pessoas para dar uma canetada e chancelar título para esse ou para aquele. Há muitos interesses que não são os mais bacanas por trás dessas decisões.

Como eu costumo dizer, quem reconhece mesmo título é o torcedor. Cada um sabe o real valor que tem sua conquista. Ter ou não o respaldo e a chancela de uma federação é algo secundário. Pouco adianta ter um título reconhecido oficialmente se esse não é aceito pela maioria das pessoas. Às vezes, isso vira piada.

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Taça da Copa Sul-Americana, que terá seis bicampeões (Atlético-MG, Athletico, Boca Juniors, Independiente, Lanús e São Paulo) se houver a unficação GettyImages

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Rodrigo Bueno14 Jul, 2022

Tive a honra de comentar nesta terça-feira o clássico entre Manchester United e Liverpool disputado na Tailândia. A goleada de 4 a 0 dos Red Devils na estreia do ótimo Erik ten Hag foi acompanhada por mais de 50 mil pessoas, quase todas vestidas com os uniformes dos dois maiores clubes da Inglaterra. Muitos rostos pintados, várias bandeiras e até algumas tatuagens com escudos ou símbolos de Manchester United e Liverpool. Quem já esteve em países na Ásia, percebe a adoração que os times ingleses despertam na população. A força da Premier League se vê bastante nesses momentos. O alcance da liga nacional mais badalada do mundo em várias regiões do planeta é enorme. E tem gente aqui no Brasil que tenta minimizar essa paixão à distância pelos gigantes times europeus, como se esses torcedores doentes de outros continentes fossem meros fãs, simpatizantes, não devessem ser levados em conta em pesquisas de torcida global.   

“É a primeira vez que estou vendo eles jogarem no estádio”, disse, emocionado, o tailandês Termjit Trungchitvilas, que torce há três décadas já para o Liverpool, à France Presse. Ele exibia com orgulho a camisa dos Reds. Outro torcedor tailandês que foi ao estádio Rajamangala, entrevistado antes do início da partida transmitida pela ESPN, falava do encontro entre “os dois maiores clubes do mundo”. Para ele, não tem Real Madrid com suas 14 Champions nem nenhum time brasileiro, claro. Futebol inglês é visto e admirado há décadas mundo afora, algo que passou a fazer parte do nosso cotidiano no Brasil há aproximadamente 20 anos.

Ao comentar a partida, recebi várias mensagens de torcedores de Liverpool e Manchester United, muitos deles de grupos de seguidores dos dois times. E tem provocação de parte a parte, tem tiração de sarro e tem corneta no comentarista. Embora Jürgen Klopp tenha dito antes do clássico que “não existe amistoso entre Liverpool e Manchester United”, ele utilizou mais de 30 atletas na partida e pagou o preço com um 0 a 4. Eu citei as goleadas que os Reds deram nos rivais na temporada passada na Premier League (5 a 0 e 4 a 0) e teve perfil brasileiro de torcida do Liverpool ironizando meu comentário de que o time de Ten Hag estava dando uma espécie de troco. Claro que é um jogo de pré-temporada, o próprio treinador holandês disse que não é para se empolgar muito porque é só começo de trabalho, mas, como bem disse Klopp, “o resultado está lá”. Eram as duas camisas mais pesadas do futebol inglês em campo afinal.

O placar foi até enganoso pelo número de chances criadas pelo Liverpool, podia ter sido um espetáculo ainda melhor para os torcedores presentes e para quem viu o jogo pela TV se os Reds tivessem levado o duelo com um pouco mais de seriedade. Vários garotos foram lançados por Klopp neste festivo clássico, que foi praticamente definido no primeiro tempo pelo time quase que titular do Manchester United (Cristiano Ronaldo não atuou, e mesmo assim a torcida estava eufórica pelo clube, não por uma estrela popular). Claro que Salah chamou muito a atenção, hoje ele é um ídolo global e acabou de renovar seu contrato com os Reds, só que a massa que pagou no mínimo US$ 140 por um ingresso foi a campo para celebrar mesmo o time de coração.   

Não dá para medir ou calcular a maior torcida do mundo sem contar torcedores de todo o mundo. Liverpool e Manchester United não têm fanbase apenas no Reino Unido. São equipes globais, como são os gigantes clubes do Velho Continente. Há várias gerações essa equipes são vistas e admiradas. Muito por conta do império britânico e seus tentáculos mundo afora, há milhões de torcedores de times ingleses na Tailândia, na Índia, na África do Sul e em tantos outros lugares, como a Austrália, país que vai receber agora com festa o Manchester United para mais alguns jogos de pré-temporada. O Liverpool fará a alegria dos torcedores em Cingapura em duelo contra o Crystal Palace. Enquanto isso, o Tottenham para a Coreia do Sul e as estrelas da K-League colocando Son e companhia para brilhar em campo (foi a estreia de Richarlison pela equipe do norte de Londres). A tal da internacionalização é algo que os clubes ingleses alcançaram faz tempo. Nem precisam muito de sucesso em competições da Uefa e da Fifa para ter grande popularidade mundo afora. Basta estar na Premier League para ser visto e admirado no planeta inteiro.

Alguém vai dizer que eu estou exagerando e só estou fazendo este post porque comento há quase duas décadas a Premier League no país, mas essa competição virou febre e exemplo de excelência também por aqui. O Campeonato Inglês virou modelo para o mundo por uma série de fatores, um deles é justamente a paixão dos torcedores por seus clubes. E essa é uma paixão que há muito tempo atravessou fronteiras. Eu pude testemunhar isso in loco em viagens que fiz para a Ásia, para a África e para o Caribe ou mesmo neste ano participando do evento São Paulo Watch Party em meio ao duelo Liverpool x Manchester City pela FA Cup. Acompanhei com outros colegas da ESPN nesta semana uma apresentação de Jaime Blanco, assessor no gabinete do presidente de La Liga, e, para a surpresa de zero pessoas, ele destacou que a Premier League tem muita competitividade, citou o grupo de elite que é chamado Big 6, e falou da meta do Campeonato Espanhol de seguir esses passos (eu acho quase impossível um Big 6 na Espanha, pois Real Madrid e Barcelona não querem nunca ceder espaço aos outros e querem mais é integrar alguma Superliga).

Eu quero provocar as maiores torcidas do Brasil dizendo que os gigantes europeus são mais populares mundo afora? Não, estou fazendo apenas uma óbvia constatação. Alguém vai pegar no site da Fifa algum relato de maiores torcidas pelo mundo e não vai ver Real Madrid, Manchester United, Barcelona, Milan, Liverpool e Bayern no topo. Quero explicar que a Fifa não conta torcedores. Ela reproduz em suas mídias às vezes reportagens e relatos feitos por terceiros. Torcidas numerosas de alguns países, casos do egípicio Al Ahly ou do iraniano Esteghlal, são normalmente esquecidas nessas listas que destacam Flamengo, Boca Juniors, Chivas e outros times muito populares de países com tradição expressiva no futebol. Como se o Egito ou o Irã ou a China não fizessem parte do planeta. Repito o que digo há tempos: para definir quais são as maiores torcidas do mundo é preciso levar em conta nas pesquisas todos os torcedores do mundo. E, assim como uma pessoa na Amazônia torce de verdade para um clube do Rio, um cidadão na Tailândia torce de verdade para um time inglês.   

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Rodrigo Bueno06 Jul, 2022

Houve um tempo em que se falava do “Complexo de vira-lata”, sobretudo no futebol brasileiro após o Maracanazo em 1950. Essa linha de pensamento era pautada pela inferioridade em que o brasileiro de uma forma geral se colocava diante dos estrangeiros. Nelson Rodrigues, que elaborou esse conceito, disse que o brasileiro era um “narciso às avessas” e que “não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima”. Isso começou a mudar no futebol com a conquista da Copa do Mundo de 1958, na Suécia. A seleção brasileira passou a ser bastante temida e admirada mundo afora, virando motivo de orgulho para o povo. Mas mesmo após isso, nas competições interclubes da Conmebol, continuamos ouvindo aqui e acolá algo sobre a fragilidade mental dos brasileiros, de como argentinos e uruguaios têm mais controle na hora decisiva, de como nossos times e jogadores pipocam.  

A situação mudou bastante nos últimos anos, quando vemos um avassalador domínio brasileiro na Libertadores e agora também na Copa Sul-Americana. As classificações épicas do Corinthians (contra o outrora ameaçador Boca Juniors em plena Bombonera)  e do Internacional (contra o grande Colo Colo que tinha uma boa vantagem) nesta semana passam muito pela confiança, por acreditar sempre, pela força mental, algo que Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, destaca muito, inclusive em seu livro. O atual bicampeão da Libertadores é o grande favorito para ganhar mais um título continental não apenas porque investiu pesado no time, mas também porque tem quase sempre a cabeça no lugar. Por isso também estabeleceu o recorde de partidas sem derrota como visitante na Libertadores, o time não sucumbe sob pressão.

O Corinthians, segundo o próprio técnico Vítor Pereira, poderia estar brigando contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro se não fossem os “miúdos”, os jogadores mais jovens. E esse time, cheio de desfalques e problemas, vai a Buenos Aires eliminar um Boca completo na assustadora Bombonera. Os corintianos mais antigos vão se lembrar de tantas campanhas internacionais do Timão em que a equipe, mesmo forte ou preparada, tombava muito pelos próprios nervos, com tolas expulsões ou falhas individuais. A classificação heroica na Bombonera, na minha opinião, é a segunda maior façanha do Corinthians na história da Libertadores (a maior, claro, é o título invicto em 2012). O rival argentino teve chances claras para matar o jogo no tempo normal e mesmo na disputa de pênaltis. Quem falhou demais e pipocou feio foi o badalado atacante argentino Benedetto. Imagine se fosse um jogador do Corinthians que tivesse tido uma atuação nota 1 em Libertadores antes de 2012.

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Benedetto, atacante argentino que desperdiçou dois pênaltis na eliminação do Boca Juniors para o Corinthians na Libertadores Stringer/Anadolu Agency via Getty Images

Eu participei do programa F90 na ESPN no dia do jogo e, para meu espanto, havia muita confiança na classificação por parte de torcedores corintianos que foram a Buenos Aires, além de palpites otimistas dos meus companheiros de trabalho. Eu fui mais pela lógica ao apontar o favoritismo do Boca, isso olhando para o estádio, para a história e para os desfalques do Corinthians. Porém um torcedor do Boca entrevistado antes do jogo mostrava um profundo respeito pelo time visitante mesmo nessas condições, basicamente por “ser brasileiro”. Ali era possível perceber como os nossos vizinhos veem hoje o futebol do nosso país, muito mais endinheirado e poderoso. Foi-se o tempo em que o Boca metia medo, em que o time xeneize era tão frio que vencia todas as disputas de pênaltis, que os brasileiros, sobretudo mais jovens, amarelavam. Os miúdos do Corinthians saíram vivos e muito mais fortes da Bombonera depois dessa demonstração de fibra.

Algo parecido pode ser dito do Inter na Copa Sul-Americana. O time de Mano Menezes perdeu a partida de ida contra o Colo Colo por 2 a 0 e, no Beira-Rio, levou o primeiro gol. Tudo parecia perdido para os colorados, porém veio a virada com goleada e classificação: 4 a 1. Duas camisas pesadas e tradicionais do nosso continente, mas o Colo Colo naufragou no final, assim como fez na Libertadores quando encontrou com o Fortaleza. As equipes brasileiras estão sim mais organizadas institucionalmente, mais firmes economicamente e mais recheadas de talento (contratam vários jogadores e treinadores de destaque dos outros países sul-americanos). Estamos vendo já um abismo entre os brasileiros e os vizinhos, tanto que as duas últimas finais da Libertadores foram com times do nosso país, além da Sul-Americana passada ser definida entre Athletico e Bragantino. O Brasil ganha hoje na quantidade de times, na qualidade das equipes e na confiança. Mesmo quando a situação parece bem favorável para os gringos (vide Boca e Colo Colo), os brasileiros dão um jeito de ganhar.

Benedetto teve noite PARA ESQUECER na Bombonera contra o Corinthians; VEJA

Não dá para fechar os olhos diante da supremacia nacional hoje nos torneios da Conmebol. A lógica aponta para três brasileiros nas semifinais tanto na Libertadores quando na Sul-Americana. Deveremos ter um Palmeiras ou Galo x Athletico, em uma semifinal, e do outro lado da chave o Flamengo favorito (ou  o Corinthians) contra algum argentino que não mete medo (Talleres ou Vélez, pois o River foi eliminado). Pela primeira vez na história da Libertadores, Boca e River caem juntos na mesma disputa de oitavas de final. Poderíamos ter um Inter x Santos em uma semi da Sul-Americana, mas o Peixe decepcionou diante do Táchira, abrindo assim caminho para o Colorado ir à decisão em Córdoba. Do outro lado, um São Paulo ou Ceará com boas chances diante de algum estrangeiro tradicional (Olimpia ou Nacional). Parece questão de pouco tempo para os brasileiros passarem a ser os maiores campeões de Libertadores e da Copa Sul-Americana (já são os reis da Recopa). Longe de ser pacheco (amo futebol internacional), eu faço essa constatação óbvia de que o futebol brasileiro está mesmo dominante na América do Sul.

Eu comparo o Campeonato Brasileiro com a Premier League no nosso continente. Há muitos times de tradição e com muito poder de investimento quando comparamos com os outros países na disputa. Há sim alguns clubes muito tradicionais em outras ligas nacionais, casos de Real Madrid e Barcelona na Espanha, mas há uma tendência atual de ver mais qualidade nas equipes inglesas. Boca e River, pela fama, pela história e pelos estilos, seriam mais ou menos o Real e o Barça da América do Sul. O gigante de Madri, para a surpresa de muitos, ganhou a última Champions passando por vários ingleses de excelente nível: Chelsea, Manchester City e Liverpool. O Internacional usou justamente o exemplo do Real Madrid para acreditar na remontada histórica contra o Colo Colo. Para o Boca Juniors voltar a vencer a Libertadores (não ganha desde 2007) ou para o River Plate de Marcelo Gallardo voltar a reinar na América, será mesmo preciso passar por vários adversários brasileiros, basicamente. Hoje, isso é uma missão bastante pesada e difícil para os hermanos.

O Fortaleza chegou às oitavas de final da Libertadores! O Ceará faz a melhor campanha da Copa Sul-Americana! O Athletico está de novo nas quartas de final da Libertadores, assim como um Corinthians todo remendado! Coloque-se no lugar dos torcedores dos times dos nossos países vizinhos diante de tudo isso. Talvez já estejamos vendo mesmo um “Complejo de chucho”, a tradução em espanhol que o Google me deu para aquele “Complexo de vira-lata”.

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Rodrigo Bueno22 Jun, 2022

Em todo lugar do mundo, clássico é um jogo especial, é um duelo diferenciado que mexe demais com os torcedores, é um confronto lembrado por décadas às vezes, é motivo de piada e provocação no trabalho, na escola, na faculdade, no bar, na rua, na praia, nas mídias sociais etc. A vitória vale muito mais do que os três pontos, e a derrota dói mais do que um tropeço comum. Todo mundo sabe isso tudo que eu escrevi, mas parece que alguns profissionais do futebol relativizam isso ou pouco ligam para isso.

Rogério Ceni não garantiu força máxima contra o Palmeiras nesta quinta-feira pela Copa do Brasilporque tem jogo no domingo peloBrasileiro contra o Juventude. O treinador são-paulino transferiu para a diretoria a responsabilidade de “arriscar tudo” contra o rival alviverde no meio da semana. Se eu fosse diretor, eu mandaria Rogério fazer o possível e o impossível para vencer o time que bateu no São Paulo, com requintes de crueldade, na final do Campeonato Paulista e na última segunda-feira no Morumbi pelo Brasileiro. Mas e se alguém se machucar ou se cansar nesta quinta-feira? Paciência, faz parte do futebol e do esporte. Mas e o duelo contra o Juventude no fim de semana, duelo em casa contra time da zona do rebaixamento? Importa muito menos para o torcedor são-paulino do que qualquer Choque-Rei. Quero acreditar que Rogério apenas se perdeu nas palavras após levar a virada no Morumbi na última segunda. Por mais que ele priorize o Campeonato Brasileiro, não é possível que ele não tenha a exata noção do valor do clássico para os tricolores.

Eu critiquei Crespo quando ele poupou jogadores contra o Corinthians em Itaquera no Paulista do ano passado. Na ocasião, ele priorizou o confronto contra o Racingna fase de grupos da Conmebol Libertadores e desperdiçou grande chance de quebrar o tabu são-paulino no estádio corintiano. O Timão de Vagner Mancini estava muito enfraquecido, e seu treinador acabou caindo pouco depois. O São Paulo, posteriormente, usou reservas nos três últimos jogos da fase de grupos da Libertadores, conseguiu a classificação sem muito problema e eliminou o próprio Racing nas oitavas. Como Crespo ganhou o Paulista e tirou o São Paulo da fila, muitos entenderam que ele fez o certo em poupar naquele clássico. Mas vai falar isso para a Independente e para outros milhões de são-paulinos que não aguentam mais jogar em Itaquera e não vencer. Dava tranquilamente para dar o máximo contra o Corinthians, avançar na Libertadores e ainda conquistar aquele Estadual.  

 O mesmo raciocínio vale para Abel Ferreira. Eu fui um dos poucos que o criticaram por ter colocado time reserva contra o São Paulo na reta final do Brasileiro do ano passado. Era um jogo no Allianz Parque lotado com cara de despedida do time antes da final da Libertadores, e havia ainda outros dois confrontos depois antes da decisão continental contra o Flamengo. O plano do Abel foi usar reservas em casa em um clássico e levar o time principal no fim de semana para enfrentar o Fortaleza no Nordeste. Como o Palmeiras conquistou o bicampeonato da Libertadores (venceu na prorrogação com falha de Andreas Pereira, e poderia ter perdido no tempo normal se Michael não falhasse em uma finalização no fim da partida), as escolhas de Abel foram elogiadas. Só que o Flamengo também poupou titulares contra o Corinthians na semana anterior à final e perdeu a decisão da Libertadores.

O resultadismo coroou o plano do Abel de usar reservas contra o ameaçado Tricolor. O estrategista português e seu time tiveram a rara e histórica chance de rebaixar praticamente o São Paulo para a segunda divisão, porém entenderam que isso não teria muita importância. Por mais que todos os palmeirenses amem, com razão, seu treinador, alguns que eu conheço não concordaram com essa “ajuda” que ele deu para um rival. E esses também têm razão, a meu ver. Ganhar a Libertadores é mais importante do que rebaixar um rival, mas dava, sim, para ter os dois prazeres. O Palmeiras tem levado boa vantagem sobre o São Paulo desde 2015, sobretudo nos jogos no Allianz Parque. Em quase todos os triunfos alviverdes no Choque-Rei, os palmeirenses lembram da frase desastrada de Carlos Miguel Aidar, ex-presidente tricolor que, em meio às bananas que comia, falava do “apequenamento” do Palmeiras. Rebaixar o São Paulo seria uma excelente resposta para essa tolice dita com soberba pelo cartola são-paulino.

Outro técnico português chegou ao Brasil e poupou logo de cara em clássico. Vítor Pereira, comandante do Corinthians, teve a coragem de tirar o pé em um Derby. O Palmeiras, que já era favorito, venceu o mais tradicional clássico paulista com autoridade. Cobrado pela decisão de usar alguns reservas contra o maior rival, Vítor se defendeu dizendo que sabe o que é um clássico porque participou de vários. Ele de fato treinou até o Fenerbahçe, mas será que na Turquia a torcida de seu time aprovaria formação reserva contra o Galatasaray? Duvido muito, mesmo que tivesse depois uma partida por torneio internacional. A desculpa de Vítor Pereira para entrar sem força máxima diante do Palmeiras foi um duelo da fase de grupos contra o Boca Juniors pela Libertadores. Não dava para usar força máxima nos dois jogos? Quando tem Real Madrid x Barcelona antes de rodada da Champions Leagueos dois gigantes espanhóis usam reservas? Claro que não! O Rangersse matou para ir à final da Europa League na última temporada, mas sem aliviar jamais para o Celtic.

Citei três casos de treinadores estrangeiros que pouparam em clássicos paulistas nos últimos tempos. Alguém pode dizer que eles não conheciam bem as nossas rivalidades locais, outros podem afirmar que eles são bons demais e têm planos melhores do que os técnicos brasileiros. O fato é que vem agora Rogério Ceni, à frente do seu amado São Paulo e preocupado com o calendário, dando mostras que pensa mais no Juventude em mais uma rodada do Brasileiro do que em um mata-mata contra o Palmeiras no único torneio importante que ele e seu clube jamais venceram. Quanto vale financeiramente chegar às quartas de final da Copa do Brasil? Certamente mais do que o São Paulo vai lucrar na partida contra o Juventude. Muito mais que isso, quanto vale para o são-paulino não ser humilhado de novo pelo Palmeiras e talvez, quem sabe, ter o gostinho de eliminar o badalado rival que é o melhor da América atualmente? Há coisas que não têm preço. Clássicos são assim, valem muito mais do que aparentam.

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Rogério Ceni, técnico do São Paulo, está na dúvida se arrisca tudo no clássico contra o Palmeiras, que já poupou contra o rival tricolor e o ajudou a não ser rebaixado Gazeta Press

As oitavas de final da Copa do Brasil apresentam, além de São Paulo x Palmeiras, outros vários clássicos estaduais: Atlético-GO x Goiás, Fortaleza x Ceará e Corinthians x Santos. Imagino que ninguém vai tirar o pé nesses confrontos, e o mesmo vale para Atlético-MGx Flamengo, um dos maiores clássicos interestaduais do país. Perder de rival acontece e torcedores até entendem isso devido às situações e às fases de um e de outro, mas beira mesmo o incompreensível não dar o máximo em duelos tão significativos. Aliás, até mesmo em uma goleada sobre o rival, é possível lamentar quando a equipe tira o pé e não faz mais gols, não faz ainda mais história, não humilha ainda mais o adversário. Espero não ter que fazer outro post sobre esse tema. Sinto que estou escrevendo o óbvio ao afirmar que em clássico não se poupa.

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Rodrigo Bueno15 Jun, 2022

O clima da Copa do Mundo esquenta após uma gorda Data Fifa com muitos jogos da Nations Leaguee com a definição dos últimos classificados para o torneio no Qatar. E, com todos os países já definidos na disputa, é possível fazer algumas análises e reflexões mais específicas. No que se refere a treinadores, vemos 22 dos 32 times com profissionais do próprio país, incluindo a imensa maioria dos favoritos ao título: Alemanha (Hansi Flick), Argentina (Lionel Scaloni), Brasil (Tite), Espanha (Luis Enrique), França (Deschamps), Holanda (Van Gaal), Inglaterra(Southgate) e Portugal (Fernando Santos). Uma exceção é a Bélgica, que tem o espanhol Roberto Martínez como treinador em outro Mundial.

As seleções de mais tradição no futebol costumam valorizar suas escolas e relutam mais em contratar técnicos estrangeiros. Todos os países campeões mundiais vão para o Qatar com treinadores locais (o Uruguaitrocou o Maestro Óscar Tabárez por Diego Alonso), exceção feita à Itália, que não se classificou mais uma vez. Reconhecida como uma das pátrias da prancheta, a Itália não terá nenhum treinador na Copa do Qatar. As nacionalidades com mais de um treinador no primeiro Mundial disputado no Oriente Médio: argentinos e espanhóis (três), croatas, franceses e portugueses (dois). O Brasil, que discute com mais seriedade a possibilidade de ter um treinador estrangeiro a partir de 2023, possui apenas Tite como representante da prancheta nesta Copa.

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Hans-Dieter Flick, Lionel Scaloni, Tite, Luis Enrique e Louis van Gaal Matthias Hangst/Getty Images | Getty Ima

As seleções africanas, tão acostumadas a contar com técnicos europeus e sul-americanos, estão acreditando mais em seus próprios treinadores. Aliou Cissé (Senegal), Jalel Kadri (Tunísia), Otto Addo (Gana) e Rigobert Song (Camarões) estão à frente de seus países. Apenas o veterano bósnio Vahid Halilhodzic leva sua bagagem internacional para uma seleção africana (comanda agora o Marrocos). Mas é bom lembrar que o treinador europeu de 69 anos já foi demitido de Costa do Marfim e do Japão pouco antes de uma Copa do Mundo. Alguns interinos estão ficando no comando de suas seleções, fato que vemos na Tunísia e no País de Gales (Giggs ainda é oficialmente o treinador, porém, como ele enfrenta um problema judicial, Rob Page tem dirigido a equipe). O próprio Scaloni foi ficando na Argentina e está com a maior sequência invicta dentre as seleções da atualidade: 33 jogos.     

O argentino Tata Martino corre perigo no México, onde seu trabalho vem sendo questionado. No caso de uma demissão, os mexicanos poderiam optar por uma solução caseira, o que diminuiria ainda mais o número de treinadores estrangeiros na Copa. O Japão, outro país que costuma importar técnicos, vai mesmo com Hajime Moriyasu para o Mundial. A rival Coreia do Sul, por sua vez, aposta ainda no português Paulo Bento, que naufragou quando trabalhou no Cruzeiro. A Croácia chegou à final da última Copa com Zlatko Dalic no comando e ele volta agora para o Mundial. Dentre as seleções europeias, só a Bélgica não terá treinador do próprio país. Isso é um grande sinal de que um velho tabu das Copas irá permanecer: nunca uma seleção foi campeã mundial contando com um treinador estrangeiro.

No momento em que o Brasil está vendo a volta de Felipão e Mano ao nosso mercado, que o “Malvadão” Flamengo para de ir à Europa buscar treinador e contrata Dorival Júnior e que o São Paulo entende que Rogério Ceni é mesmo o nome ideal neste momento do clube, a discussão sobre treinadores gringos ou não no país pode dar uma nova guinada. Será mesmo que Tite vai ter um sucessor estrangeiro ou o cargo dele cairá no colo de Cuca?

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Rodrigo Bueno02 Jun, 2022

Posso ser chamado de resultadista por causa de dois amistosos, mas Argentina e Brasil têm tudo para brigarem pelo título mundial, sim. E não simplesmente porque bateram com autoridade a Itália (3 a 0) e a Coreia do Sul (5 a 1) nos continentes desses adversários. Há vários pontos positivos que animam os gigantes sul-americanos que foram, de certa forma, menosprezados por Mbappé, astro francês que vai tentar um bicampeonato mundial genuíno no Qatar no final deste ano. Segundo o excelente atacante do Paris Saint-Germain, como as seleções sul-americanas pouco têm enfrentado as europeias, estariam em um nível abaixo.

“A vantagem que nós, europeus, temos é que sempre jogamos uns contra os outros e temos partidas de alto nível o tempo todo, como na Nations League. Quando chegarmos à Copa do Mundo, estaremos prontos. Argentina e Brasil não têm esse nível. Na América do Sul, o futebol não está tão avançado quanto na Europa. Por isso, quando você vê as últimas Copas do Mundo, são sempre os europeus que ganham”, afirmou Mbappé, que deve perder a Bola de Ouro para o conterrâneo Benzema. Alguns dos 'colegas' de Mbappé, sobretudo argentinos, já deram a resposta.

Finalíssima: Messi arrebenta, Di María faz golaço, e Argentina atropela a Itália; ASSISTA

Messi, eleito o melhor jogador da Finalíssima, a disputa entre as campeãs de Europa e América do Sul, vê um equilíbrio entre os dois continentes em termos de seleção.

“O futebol está cada dia mais equilibrado, seja qual for o adversário. A seleção argentina está preparada para jogar contra qualquer europeu. Muitas vezes falamos sobre isso na Espanha. Quando voltávamos de uma partida de eliminatórias, dizíamos a eles: ‘Vocês não sabem como seria difícil para vocês de classificar para a Copa do Mundo se tivessem que ir jogar lá’”, falou Messi para a TyC Sports. Parceiro de Mbappé no PSG, o genial argentino valorizou demais a Itália, que foi amassada pela Argentina. “É uma loucura a Itália ter ganhado a Eurocopa e não estar na Copa do Mundo, com tudo o que significa a Itália na história dos Mundiais. Se a Itália estivesse no Mundial, seria uma das favoritas. Tiveram má sorte. Ninguém gostaria de cruzar com a Itália”, afirmou Messi.   

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Nos 3 a 0 da Argentina na Itália campeã europeia, Messi deu uma boa resposta para a fala de Mbappé sobre os sul-americanos EFE

Di María, outro 'amigo' de Mbappé do Paris Saint-Germain, do qual acabou de sair após sete temporadas, não deixou barato também: “Acredito que hoje (3 a 0 na Itália) demonstramos que estamos à altura dos times europeus.” O goleiro Emiliano Martínez, tão bom quanto catimbeiro foi outra voz forte em defesa do continente sul-americano. “La Paz, na Bolívia (3.600 metros acima do nível do mar), Equador com 30 graus, Colômbia onde nem dá para respirar. Eles (europeus) sempre jogam em campos perfeitos, molhados e não sabem o que é a América do Sul. Toda vez que você viaja para jogar com a seleção, são dois dias de ida e volta. Você está exausto e não pode treinar muito. Quando um inglês vai treinar na Inglaterra, em meia-hora ele está em campo. Vai para Bolívia, Colômbia ou Equador ver como é fácil”, afirmou o arqueiro do inglês Aston Villa que se firmou como titular e como um dos pilares desta forte Argentina.

A seleção de Lionel Scaloni chegou a 32 jogos sem perder, e claro que a maioria dessas partidas foram contra adversários da própria América do Sul. Só que essa marca não deve ser minimizada, assim como a liderança folgada do Brasil nas eliminatórias para a Copa do Mundo não deve ser menosprezada. A maior ameaça para a invencibilidade da Argentina talvez seja mesmo o duelo contra a seleção brasileira no dia 22 de setembro, jogo que será realizado por determinação da Fifa (a entidade exige a partida que faltou no qualificatório para o Mundial). A equipe de Messi busca o recorde de jogos sem derrota da Itália de Mancini (37 partidas) e pode atingir essa marca no seu último confronto da fase de grupos da Copa, contra a Polônia, uma seleção europeia assim como a Estônia, a próxima adversária da Argentina. É mais fácil perder da Estônia ou em algum jogo fora na América do Sul?   

O divertido e articulado Loco Abreu, ex-atacante da seleção uruguaia, disse que Mbappé deveria fazer mais “pesquisas na Wikipédia” antes de falar, uma direta após a polêmica fala do francês sobre o nível do futebol sul-americano. Lautaro Martínez, atual atacante da Argentina, defendeu sobretudo as seleções de seu país e do Brasil. “Argentina e Brasil têm jogadores de grande experiência e alto nível. O Brasil também tem um elenco onde a maioria joga na Europa. Me pareceu que foi uma afirmação injusta (do Mbappé). Mas tudo bem, estamos nos preparando e vamos pensar no que está por vir, que é a Copa do Qatar.”

Se é verdade que a Europa vence todos os Mundiais de seleções desde 2006 e que só a Argentina em 2014 conseguiu ir a uma final sem ser uma equipe europeia, é verdade também que o Brasil assumiu a liderança do ranking da Fifa, desbancando a Bélgica depois de muito tempo. Tite parecia perdido e estagnado com sua seleção ao perder a Copa América em casa para a Argentina, mas jovens jogadores de beirada de campo, como Antony, Raphinha e Vinícius Junior, ajudaram a oxigenar o time e a melhorar a produção ofensiva. A própria Champions League última foi uma prova da força brasileira no momento. No lado campeão do Real Madrid, Casemiro, Militão, Rodrygo e Vini Jr. (apenas Marcelo não entrou na decisão). No lado vice-campeão do Liverpool, Alisson, Fabinho e Firmino (apenas o atacante ficou na reserva e não faz uma temporada de altíssimo nível).

A nacionalidade dominante na final da Champions foi a brasileira, e o gol do título foi marcado por um jogador sub-21 do país que tem tudo para ficar entre os dez melhores do planeta nas premiações individuais da temporada (disputar a Bola de Ouro não é mais coisa apenas para Neymar dentre os brasileiros). Na decisão em Paris envolvendo um time espanhol e um clube inglês, jogaram apenas três atletas nascidos na Espanha (Carvajal, Ceballos e Thiago Alcântara, que tem sangue brasileiro) e só dois mesmo da Inglaterra (Alexander-Arnold e Henderson). O técnico Carlo Ancelotti ajudou bastante a seleção brasileira ao evoluir alguns jogadores, sobretudo o titular Vinícius Junior e o reserva Rodrygo. Tite já agradeceu em entrevista ao vitorioso treinador italiano pela força que deu ao melhorar seus atletas da seleção. O momento do Brasil é muito bom, assim como é o da Argentina.  

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Vinícius Júnior, autor do gol do título do Real Madrid na Champions League, deve figurar entr os melhores da Bola de Ouro e fortalecer o Brasil na Copa do Mundo Twitter Oficial Real Madrid

Pelo chaveamento da Copa do Mundo, talvez tenhamos uma semifinal entre Argentina e Brasil, o que poderia ser visto como o maior embate entre as duas rivais na história. Pela lógica e pela qualidade técnica, a França seria a finalista para derrubar uma dessas potências sul-americanas. O Mundial do Qatar ainda não começou, mas a disputa América do Sul x Mbappé já está pegando fogo. Temos um europeu favorito contra dois fortes postulantes do nosso continente. Não sei qual vai vencer, mas quem está perdendo até aqui é o vestiário do Paris Saint-Germain. Mbappé fez há poucos dias a escolha mais difícil de sua carreira e também soltou sua maior bomba desde que virou astro global. Já estou vendo o que vão dizer para ele se os sul-americanos forem mesmo os melhores do mundo: "Receba!"

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Rodrigo Bueno25 May, 2022

Ser campeão continental com a Roma! Essa é a “decadência” do “ultrapassado” e “retranqueiro” José Mourinho. Um dos maiores gênios da prancheta na história do futebol. Primeiro a ganhar os três torneios grandes atuais da Uefa. Primeira, segunda e terceira divisão? Que seja. Se tem um cara capaz de levar times limitados ou com dificuldade histórica de ganhar um troféu, esse cara é o Special One. Ele só não foi campeão no Tottenham porque o demitiram na semana da final. Ele apostou certo ali na Copa da Liga, assim como apostou certo agora na Conference League com a Roma, mas simplesmente não o deixaram bater Guardiola mais uma vez em jogo decisivo (havia vencido o Manchester City duas vezes dirigindo os Spurs, que cometeram um erro a dispensá-lo).

O último título de um clube italiano antes da Roma de Mourinho foi aquela Champions da Inter de Mourinho, que eliminou o Barcelona de Guardiola em pleno Camp Nou mesmo jogando com um homem a menos por uma hora e sendo prejudicado pela arbitragem. Mestre da tática, o maior treinador português de todos os tempos bateu recordes defensivos na Inglaterra, onde quebrou a hegemonia do Manchester United de Sir Alex Ferguson, lenda que ele tirou da Champions League com um organizado Porto. Líder carismático, Mourinho foi só um dos três que superaram Guardiola nos pontos corridos, ganhando a Liga espanhola batendo recordes ofensivos (100 pontos e 121 gols). Essa foi a a “retranca” dele para ser campeão também na Espanha (já tinha vencido o Português, o Inglês e o Italiano). Talvez a “retranca” que inspira tantos, como Abel Ferreira no Palmeiras, que acaba de bater o recorde de gols em uma fase de grupos da Libertadores.      

É campeã! Zaniolo faz belo gol, Roma vence o Feyenoord e conquista o título da Conference League

Cinco finais de cinco grandes torneios da Uefa, com quatro clubes diferentes, e cinco títulos! E há quem não respeite José Mourinho. Um treinador que ficou 9 anos sem perder em casa e com 77 jogos de invencibilidade como mandante na Premier League (um recorde que Guardiola e Klopp ainda não bateram com suas máquinas), um cara que montou o melhor sistema defensivo da história dessa Premier League (apenas 15 gols sofridos). Quando teve muito dinheiro para gastar, marcou época no Campeonato Inglês e mudou o patamar do Chelsea. Quando não teve muita grana nem era favorito, ganhou tanto ou mais. Mourinho não precisa de Messi nem de bilhão para ser campeão. E ele faz isso muito com o coração. Milão o amava, e agora Roma também. Muitos jogadores se matam e choram por ele, e torcedores aos montes de identificam com ele. Nisso ele parece com Klopp, mesmo não sendo o poço de simpatia que alguns esperam.   

No automobilismo, tivemos muitos pilotos lendários, mas poucos venceram com os carros que não eram os melhores. É difícil triunfar com menos recursos e condições do que os adversários. Mourinho é o treinador que mais triunfou em todos os tempos com elencos e times que não eram os favoritos. Mesmo o Manchester United dele tinha as limitações e os problemas internos que vemos até hoje, só que ele saiu de Old Trafford com três taças, inclusive uma continental. Depois dele, ninguém ganhou nada comandando os Red Devils. Pediram para Mourinho na coletiva antes da final da Conference para dar um conselho para Ten Hag, novo técnico badalado do Manchester United. Elegante, o marrento português preferiu não falar do ex-clube.

Carlo Ancelotti, até outro dia, também era dado como técnico ultrapassado, basicamente porque estava treinando Everton e Napoli. Alguns dizem o mesmo de Mourinho, que agora ganha o primeiro título oficial da Uefa da história do apaixonante clube da capital romana. Torça para o ex-Special One (ele está tentando se descolar desse apelido, mas é sensacional e eterno) não assumir o seu time de coração, especialmente se você o odeia ou se você o desmerece. A chance de José Mourinho fazer seu time campeão e da torcida do seu clube passar a idolatrá-lo é enorme. Torça para que ele se aposente, pois também não é legal tê-lo como rival...

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Mourinho na final da Conference League Getty Images

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Rodrigo Bueno20 May, 2022

O Galo estabeleceu um novo recorde de invencibilidade na Conmebol Libertadores: são 18 partidas. Durante mais de 50 anos, a marca a ser atingida era de 17 jogos, sequência incrível alcançada pelo Sporting Cristal na década de 60 mesmo sem título continental do time peruano. O próprio Atlético-MG saiu invicto da edição passada do principal interclubes sul-americano, o que permitiu a ele se isolar neste ano como o recordista de invencibilidade. A antiga marca de 17 partidas já tinha sido obtida pelo Flamengo entre 2020 e 2021. E quem não está tão longe dela é o atual Palmeiras de Abel Ferreira, que não perde na disputa há 13 jogos. Em resumo, um recorde que parecia muito difícil de ser alcançado no passado, agora se abre para um seleto grupo de clubes brasileiros que vivem uma fase recente de muito investimento.     

O desequilíbrio financeiro no nosso continente está cada vez mais explícito. O Palmeiras, que tem se notabilizado nos últimos anos por fazer excelentes campanhas na fase de grupo da Libertadores, agora beira a perfeição: deve fazer os 18 pontos sem muita dificuldade e igualou o recorde do River Plate de Gallardo de 21 gols na fase de grupos. O Verdão tem tudo para se isolar como o melhor ataque de uma edição porque ainda tem mais um jogo para fazer: em casa contra o Deportivo Táchira, que levou 4 a 0 do Palmeiras na Venezuela. O time de Abel fez um placar agregado de 13 a 1 no Independiente Petrolero neste ano, outra prova da diferença de nível que existe hoje no futebol sul-americano. O Palmeiras já havia batido outro recorde do River de Gallardo: o de número de partidas sem perder como visitante. O time argentino, o mais bem-sucedido na década passada no continente, ficou 12 jogos invicto fora de casa, e o alviverde já soma 18 partidas!

Dos nove clubes brasileiros que entraram na Libertadores deste ano (um recorde), sete podem estar nas oitavas de final da disputa. Apenas o Fluminense, que caiu na terceira fase diante do Olimpia, e o América-MG, que agora tenta apenas a Copa Sul-Americana, foram eliminados. O Fortaleza precisa de ao menos um empate na rodada final no Chile diante do Colo-Colo. E o Red Bull Bragantino também tem um confronto direto fora de casa, contra o Nacional no Uruguai. Os quatro elencos mais destacados do futebol brasileiro devem passar em primeiro lugar em seus grupos: Atlético-MG, Corinthians, Flamengo e Palmeiras. Isso significa dizer que eles não devem se enfrentar nas oitavas de final e têm boas chances de alcançar as quartas. Muito possivelmente, o Verdão fechará com a melhor campanha da fase de grupos e poderá decidir sempre em casa, aumentando sua chance de uma terceira final consecutiva, talvez a terceira só com brasileiros.

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O Flamengo de Gabigol ficou 17 jogos seguidos sem perder em Libertadores, mas o Atlético-MG de Hulk bateu o recorde com 18 partidas de invencibilidade Marcelo Cortes/Flamengo | Pedro Souza/At

No passado, a Libertadores tinha menos times e mais equilíbrio. Os clubes campeões faziam normalmente menos jogos, entrando apenas em fases adiantadas da competição. Hoje, está muito difícil para os países vizinhos acompanharem a esquadra brasileira. E esse abismo é mais flagrante na fase de grupos. Até mesmo os gigantes argentinos têm sofrido com essa realidade. O presidente do River Plate em 2019, Rodolfo D’Onofrio, destacou em meio à final perdida para o Flamengo que seu clube faturava dez vez menos que o time carioca de direitos de TV, deixando claro que era bem complicado competir com o clube brasileiro.

A Copa Sul-Americana, que também viu uma final brasileira no ano passado (o Furacão bateu o Bragantino), deve ter nas oitavas de final vários candidatos ao título do nosso país. Além do São Paulo, campeão do torneio em 2012 que já está classificado matematicamente, Internacional e Santos devem levar sua força e tradição para o mata-mata. Mas a lista de representantes do Brasil no segundo interclubes da Conmebol pode ter ainda Atlético-GO, Bragantino, Ceará, Fortaleza e até o Fluminense, que agora possui chances remotas de classificação. A decisão deste ano da Sul-Americana vai ser em Brasília, o que pode aumentar ainda mais o favoritismo nacional na competição. Com clubes brasileiros vencendo Libertadores e Sudamericana (mesmo poupando titulares em várias partidas), a Recopa também passa a ser uma disputa internacional restrita apenas a clubes do país.  

Nesta fase de domínio brasileiro na América do Sul, o Palmeiras estabeleceu na era Crefisa praticamente todos os recordes nacionais na história da Libertadores: mais participações, mais participações seguidas, mais títulos, mais pontos, mais vitórias, mais gols, mais saldo etc. Das últimas 12 edições da Libertadores, oito foram vencidas pelos clubes brasileiros, que estão encurtando a liderança argentina na galeria de troféus (está 25 a 21 para os “hermanos” agora). Na Copa Sul-Americana, o Brasil tem cinco troféus contra nove da Argentina, mas o Athletico, um símbolo de clube emergente brasileiro, já tem o mesmo número de títulos na disputa do que o Boca Juniors e o Independiente, “Reis de Copa”.

Caso os clubes brasileiros fiquem de fato unidos em torno da criação de uma liga nacional independente da CBF, a tendência é de todos aumentarem suas receitas e transformarem essa atual hegemonia na América do Sul em algo ainda maior. Com mais dinheiro (e talvez com menos restrições e limites para a chegada de estrangeiros no país), será ainda maior o abismo que vemos hoje. Se isso acontecer, a Conmebol talvez terá que pensar em um sistema de fair play financeiro para não transformar a América do Sul em uma Oceania (sem a Austrália, a Nova Zelândia nada de braçada por lá em termos de seleção e também de clubes).

Não é sempre que vemos no nosso continente um time tão bom e duradouro como o River Plate de Gallardo. E não é sempre que veremos nos próximos anos um título continental sair do Brasil.

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Rodrigo Bueno10 May, 2022

O cometa Haaland, na teoria, tem tudo para se encaixar com uma luva no excelente time do Manchester City, mas o histórico de Guardiola com grandes centroavantes e com jogadores que têm muito brilho individual não dá garantia de sucesso para esta negociação que agita agora o futebol mundial. O jogo coletivo do brilhante treinador espanhol consagrou muitas vezes “falsos 9” e deixou de lado alguns artilheiros com boa presença de área e com mais sede de protagonismo. Por mais que Haaland tenha nascido na Inglaterra (ele é norueguês, mas nasceu em Leeds e torce pelo time da cidade), seu pai possua ligação com o Manchester City e ele desde garoto parecia encaminhado para jogar na Premier League, a adaptação ao estilo de Guardiola, ao chamado jogo de posição, pode ser mais complicada do que muita gente imagina.    

Guardiola começou a brilhar como técnico no Barcelona aproveitando bem a base do clube e da seleção espanhola que ganhou a Eurocopa em 2008 sob o comando de Luis Aragonés e com a marca do tiki-taka, sistema pautado essencialmente pelo controle da posse de bola, abusando muitas vezes de incessantes trocas de passes até que algum espaço apareça na defesa rival. Guardiola, que já mostrou certa rejeição ao tiki-taka espanhol (é visto por alguns como algo chato), dispensou Eto’o, um atacante que marcou época no Barça e que serviu bastante como referência do time de Xavi e Iniesta. Até hoje, Eto’o odeia Guardiola. Ele foi para a Inter de Mourinho e ajudou na semifinal a eliminar o então badalado Barcelona da Champions League de 2010. Guardiola usou naquele jogo o centroavante Ibrahimovic, outro atacante de força e personalidade que passou a detestar o treinador espanhol.

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Haaland, novo atacante do Manchester City, vai testar a capacidade do Guardiola de trabalhar com centroavantes que são estrelas Alexandre Simoes/Getty Images

“O Guardiola viveu toda uma vida em Barcelona, mas, durante todos aqueles anos, nunca entendeu o plantel. Não vivia a vida do nosso grupo. Podem perguntar ao Xavi, ao Iniesta, a muitos outros... O Messi despontaria mais tarde, mas aquela foi a minha era. O meu agente me disse que o clube queria me vender por pedido do Guardiola. Hoje em dia, vejo que ele me deu a oportunidade de ganhar a Liga dos Campeões pela Inter de Milão  e entrar ainda mais na história do futebol”, disse Eto’o ao beIN Sports. O camaronês costuma dizer que não dá para comparar Guardiola com Mourinho: “Um não conseguiu ganhar a Champions com o Bayern, e o outro ganhou com o Porto.” Ibrahimovic, que também é da turma que defende Mourinho com unhas e dentes, critica Guardiola abertamente por não ter conseguido aproveitar suas características: “O Guardiola tinha uma Ferrari, mas a dirigiu como um Fiat”, diz o polêmico sueco.  

A ascensão de Messi no Barcelona instaurou ainda mais a figura do falso 9 no time. Na verdade, nem Henry, que foi no Arsenal um comandante de ataque de muita mobilidade e habilidade, conseguiu ter muito sucesso na equipe catalã. Guardiola, que já chegou ao Barcelona barrando a estrela Ronaldinho Gaúcho, levou seu jogo coletivo para o Bayern, que venceu a Champions pouco antes e logo depois da passagem do treinador espanhol pela Alemanha. Lewandowski evoluiu e virou Bola de Ouro após a saída de Guardiola do time alemão, onde atua como referência no ataque. Haaland se adaptou rapidamente ao futebol alemão também, aproveitando quase sempre um futebol mais direto e contundente noBorussia Dortmund. O norueguês tem um estilo rápido, apesar do seu tamanho, mostrando-se sempre perigoso em  arrancadas em contra-ataques. Ele também costuma ser alvo de cruzamentos devido à sua estatura. Contra-ataque e jogo aéreo não combinam bem com o estilo de Guardiola, que muitas vezes usou no Manchester City como referência jogadores com Gabriel Jesus, Sterling e Ferran Torres, atletas de tipo físico mais baixo.

Haaland costuma sair da área para buscar jogo e participar da criação de jogadas também, ele não é apenas um poste na área, mas ele vai ter que se doar ainda mais taticamente sob o comando de Guardiola. Nos clubes em que jogou e na seleção da Noruega, ele era a estrela, a referência, o time o buscava. No Manchester City, ele terá que ser mais uma peça na máquina, atuar de forma mais coordenada. O norueguês, que possui uma média de praticamente um gol por jogo em sua carreira, vai ter certamente muitas oportunidades de gol com a camisa azul de Manchester de seu pai, mas não há total certeza de que o funcionamento coletivo do time de Guardiola irá receber esse verdadeiro 9 sem que seja necessário algum tipo de ajuste ou de sintonia fina. Talvez outros destaques da equipe percam em protagonismo, tenham que ficar mais fora da área e servir ainda mais, correr ainda mais para o time. Guardiola, que não fez tanta força para contratar Cristiano Ronaldo, já disse que não gosta de jogadores que pensam de forma individualista, de atletas que pensam muito em marcas e recordes. Talvez por isso também Grealish, que curte um mano a mano, não deu tão certo no Manchester City ainda.

Haaland, desde pequeno, é uma fábrica de gols e recordes, sempre foi muito cercado de holofotes, embora seja humilde. Guardiola tem um enorme e talentoso centroavante nas mãos. Vai explodir?

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Rodrigo Bueno06 May, 2022

O tempo é implacável! Com pessoas e com alguns julgamentos. Em várias áreas da sociedade, vemos uma certa vontade de aposentar profissionais com idade um pouco mais avançada. Claro que tem algo de natural nisso, afinal os mais novos chegam com muita vontade, atualizados e normalmente ganhando salário menor. Mas descartar pura e simplesmente a experiência e um currículo de peso porque “o tempo passou” muitas vezes é um erro e uma grande injustiça. Eu poderia citar aqui uma série de exemplos, mas focarei o post em dois dos maiores técnicos da história do futebol que estavam meio esquecidos, descartados e que foram até ridicularizados: Carlo Ancelotti e José Mourinho.    

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Carlo Ancelotti x José Mourinho Getty Images

O italiano que fará 63 anos no mês que vem é conhecido pela liderança silenciosa. Tem muito menos marketing do que outros treinadores. Mesmo assim, ele é o primeiro técnico a ser campeão nacional nas cinco principais ligas da Europa e também agora o recordista isolado em finais de Champions League comandando uma equipe (cinco decisões, uma a mais do que Sir Alex Ferguson, Jürgen Klopp, Marcello Lippi e Miguel Muñoz). Ancelotti, que já tinha feito um ótimo trabalho no Real Madrid em sua primeira passagem, voltou ao clube merengue para a surpresa de muita gente que esperava algum treinador da moda, alguém mais valorizado no momento, um cara menos velho.   

Nesta memorável temporada do Real Madrid, o experiente Ancelotti eliminou, em série, os endinheirados Paris Saint-Germain (Mauricio Pochettino), Chelsea (Thomas Tüchel) e Manchester City (Pep Guardiola). Três treinadores que estão em alta prateleira do futebol europeu por trabalhos recentes caíram na hora mais aguda diante de um Ancelotti que outro dia perdeu do Sheriff em casa, um Ancelotti que parecia, para alguns, só em condições de treinar um Napoli ou um Everton. Mesmo nesses times que não brigam por título de Champions, havia olhares de desconfiança sobre a capacidade atual do trabalho de Ancelotti. Após eliminar o City de Guardiola, uma das tantas imagens tocantes no Santiago Bernabéu foi a do italiano agradecendo ao chefe Florentino Pérez: “Obrigado por me trazer, presidente”.

Ancelotti sabe que a chance de treinar um time de ponta para quem tem idade mais avançada é rara. Ele já decidiu que o Real será seu último clube, sairá por cima mesmo que perca a final para o Liverpool de Klopp, que tem mais time e mais tempo de trabalho. Conseguiu o título espanhol com sobras, quando alguns apontavam o Atlético de Madrid de Simeone como favorito inicialmente. Ele evoluiu vários jogadores, especialmente os brasileiros Vinícius Júnior e Rodrygo, oferecendo de bandeja para Tite um atacante titular desequilibrante e um outro reserva que é capaz de mudar jogos complicados no final. Deu mais solidez e confiança a Militão, manteve a liderança e a competitividade de Casemiro e resgatou até Marcelo, que estava para sair do clube.

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Vinicius Jr. e Ancelotti pelo Real Madrid Getty Images

Modric está jogando mais do que quando ganhou a Bola de Ouro. E Benzema então? Vai ser o próximo Bola de Ouro também pelo esquema montado por Ancelotti, que vai ceder um monstro de centroavante para a seleção francesa tentar outro título mundial. Quase sem nenhum reforço de peso ou galáctico para a temporada (o titular Alaba e o reserva Camavinga foram as grandes novidades na equipe) e com alguns jogadores estelares que não estão muito a fim há um bom tempo, como Bale, Ancelotti foi levando o barco com Asensio, Isco, Mariano, Jovic, Lucas Vázquez, Nacho e Ceballos. Não é o melhor Real Madrid da história, é inferior a todos os adversários que pegou no mata-mata. Isso só aumenta o valor do treinador, que entende muito de futebol e do clube que dirige, da camisa pesada que representa. Como bom italiano, Ancelotti organiza bem seu time taticamente e tem mais cautela no início (por isso Rodrygo normalmente só entra no fim dos jogos e o time vira nesses momentos em que se abre). Discípulo do genial Arrigo Sacchi, o ex-volante do Milan diz que vai torcer para sempre para o Real e para o rubro-negro italiano quando se aposentar. Mas tem gente na Itália querendo ver Ancelotti como treinador da Azzurra, que pela segunda Copa seguida fica fora da maior festa do futebol mundial. O treinador, com um pequeno sorriso e sua tradicional sobrancelha levantada, afirmou apenas, em entrevista recente, que quer mesmo é que a Itália esteja no Mundial de 2026.

Mas a Itália redescobriu outro gênio da prancheta: José Mourinho, que já revelou algumas vezes ter o desejo de treinar alguma seleção algum dia (a Azzurra seria uma das opções). Mourinho pode ser o primeiro técnico a ganhar os três principais interclubes da Europa: já ganhou a Champions League duas vezes, a Copa da Uefa e sua sucessora Europa League uma vez cada e, agora, pode faturar a Conference League. E pode fazer isso com a Roma que, de título internacional, tem só a antiga Copa das Feiras, uma taça de cidades, em 1961. O último clube italiano que ganhou algum título europeu foi a Inter de Mourinho em 2010, temporada em que o lendário Special One conseguiu a Tríplice Coroa no calcio. Também foi em 2010 que ele eliminou de forma épica no Camp Nou o badalado Barcelona de Guardiola mesmo jogando com um atleta a menos (Thiago Motta foi injustamente expulso) por mais de uma hora contra Messi.

Muito possivelmente, Mourinho também possuiria títulos das cinco principais ligas nacionais da Europa se tivesse a chance de treinar por uma temporada o Bayern de Munique e o Paris Saint-Germain nos últimos anos. Ele ganhou Premier League, LaLiga e Serie A, faltaram os campeonatos de Alemanha e França para igualar Ancelotti. Pouca gente sabe, mas Mourinho, tão poliglota quanto Guardiola, também fez curso de alemão. Perguntaram para ele se seria por algum acerto com algum clube da Alemanha (Guardiola estudou o idioma antes de assumir o Bayern), mas Mourinho disse que não, seria apenas para adquirir mais conhecimento e ajudar nos papos com jogadores e outros profissionais que falam alemão, prova de que ele não está acomodado e ainda busca evoluir. Mesmo com currículo invejável (ficou 9 anos sem perder em campeonato nacional como mandante e quebrou recordes defensivo, na Inglaterra, e ofensivo, na Espanha), Mourinho foi colocado de lado pelos times de ponta da Europa nos últimos anos, mas veja o que aconteceu com o Manchester United após a saída dele. Nada. Ou crise atrás de crise. Mourinho ganhou Liga Europa, Copa da Liga e Supercopa da Inglaterra pelos Red Devils. Depis, ninguém ganhou mais nada. O Special One não era o problema do clube. E ele até avisou a turma em Old Trafford sobre os problemas que vinham de temporadas anteriores. Foi em busca de um novo desafio então, dizendo sempre que ainda tem muitos anos de estrada para trabalhar como técnico, esbanjando motivação e disposição maior até para as mídias sociais e documentários, sendo mais "moderninho" e divertido. 

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José Mourinho durante jogo da Roma no Campeonato Italiano Matteo Ciambelli / Getty Images

No Tottenham, que não ganha título nenhum desde 2008, Mourinho melhorou até o Kane, que virou um artilheiro-garçom, rei de assistências também, aproveitando a velocidade de Son e Lucas Moura. Assim, bateu duas vezes o poderoso Manchester City de Guardiola, mas o demitiram na semana da final da Copa da Liga. Era a chance de os Spurs saírem da fila, mas deixaram um estagiário comandar o clube na decisão contra o favorito City. Tem todo um bastidor nessa demissão inoportuna do Special One envolvendo a então Superliga europeia (que nasceu praticamente morta), mas o fato é que Mourinho foi sacado de forma burra após ele apostar alto e certo na Copa da Liga para dar um troféu ao carente clube londrino. Eliminou no caminho até seu querido Chelsea no famoso jogo do banheiro (ele foi buscar o zagueiro Dier, que estava com “necessidades”, no banheiro na reta final do jogo). Mas cortaram suas pernas a poucos dias da decisão. Pior para o Tottenham, caso singular de lugar em que Mourinho trabalhou e não ergueu troféu.  

Assumir a Roma permitiu a Mourinho reencontrar a pátria da tática e da defesa. Os italianos o respeitam demais, ele é amado pela torcida da Inter de Milão e também agora pela galera da Roma. Além dos resultados, ele age muito com o coração, é latino demais, faz de cada jogo e de cada copa uma experiência especial. Ele é um obcecado por vitória, quer fazer da Roma campeã, como quase fez com o Tottenham. Por isso deu tanto valor para a Conference, a mais nova competição da Uefa. Deixou para trás alguns rivais encardidos, inclusive o Bodo/Glimt, campeão norueguês que manda jogos no Ártico em gramado artificial e que meteu seis na Roma de Mourinho na fase de grupos. Mourinho, que é criticado muitas vezes por problemas de relacionamento, reformulou o time após a goleada sofrida, deixando de lado atletas como Bryan Reynolds, Gonzalo Villar e Borja Mayoral. Mexeu duramente com o grupo, que fez algumas grandes partidas na temporada. Meteu 3 a 0 no clássico contra a Lazio e aplicou um 4 a 1 fora de casa na Atalanta do badalado Gian Piero Gasperini, um caso raro de técnico veterano que estava em alta nas últimas temporadas.  

Mourinho vai completar 60 anos no ano que vem, é bem mais experiente do que Arne Slot, técnico de 43 anos do Feyenoord, seu embalado adversário na final da Conference League. O Special One já fez história ao chegar à final, sendo o primeiro treinador a alcançar decisões continentais na Europa por quatro clubes diferentes (Porto, Inter, Manchester United e Roma). O homem que ganhou Champions League com Carlos Alberto e Derlei no ataque já provou que não precisa de Messi, de Cristiano Ronaldo ou de muito investimento para fazer grandes trabalhos. Pegou o atacante Abraham, já que o querido Chelsea não o queria, e está fazendo história na Roma mesmo com algumas limitações e sem contar com o ótimo ala-esquerdo Spinazzola, lesionado. A Roma perdeu apenas um dos seus últimos 14 jogos na Serie A.

Eu poderia aqui lembrar também de Van Gaal, veterano que estava aposentado e que topou a missão de salvar a seleção da Holanda e guia-la até a Copa mesmo lutando contra um câncer agressivo de próstata. Só que os “Bolas da vez”, mais uma vez, são Ancelotti e Mourinho. Talvez eles percam as suas finais continentais e voltem a ser rotulados por alguns como antiquados e ultrapassados, mas acho que eles já merecem muitos elogios pelo que fizeram nesta temporada. A história eles já escreveram faz tempo e todos sabem, estavam já na galeria dos maiores. Mas eles estão mesmo agora em um grande momento, chorando de emoção como fez Mourinho ao eliminar o Leicester City, abraçando tão agradecido o presidente que deu um emprego improvável como fez Ancelotti.

Meu urologista tentou me convencer há algumas semanas que eu ainda sou jovem. Disse a ele que estou perto de completar 50 anos. Ele me explicou então que hoje, com o avanço da medicina e alguns hábitos, jovem pode ter até 70 anos (ele até sugere, brincando de forma séria e científica, que os benefícios dados para a terceira idade passem no país de 60 para 70 anos). Vendo show do Kiss, com Paul Stanley voando em tirolesa por cima da multidão aos 70 anos, e curtindo a temporada de Ancelotti e Mourinho, estou acreditando ainda mais no meu urologista.

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Rodrigo Bueno03 May, 2022

Faz 30 anos que oSão Paulo de Telê conquistou sua primeira Libertadores e seu primeiro Mundial. Algumas homenagens e obras deverão ser feitas neste ano sobre essas duas conquistas, tão marcantes para o futebol brasileiro, sobre o Newell’s Old Boys de Marcelo Bielsa e sobre o Barcelona de Johan Cruyff. Mas os maiores elogios atuais feitos ao esquadrão tricolor que Telê montou nos anos 90 estão partindo de treinadores estrangeiros, cada vez mais presentes no futebol brasileiro e cada vez mais didáticos em suas coletivas de imprensa. Os portugueses Vítor Pereira e Abel Ferreira, técnicos de Corinthians e Palmeiras, já disseram abertamente que admiram o futebol do time de Telê.  

“Eu, quando cheguei, disse que gostava de um futebol de circulação, objetivo e de posse. Um futebol com uma transição agressiva muito forte, esse é o futebol que gosto de ver. Onde eu me inspirei? O que me marcou para eu gostar desse futebol? Marcou ver jogar o Barcelona de Cruyff, ver jogar o Milan do Arrigo Sacchi e o São Paulo de Telê Santana”, contou Vítor Pereira, sem medo de gerar críticas de corintianos por isso.

Ele repete em boa parte a atitude de Abel Ferreira, que mais de uma vez usou Telê como exemplo positivo para sua carreira. Quando participou do programa “Seleção Sportv”, o treinador palmeirense surpreendeu ao mostrar um livro de Telê. “Eu tenho aqui em casa um livro do Telê Santana. Comprei quando estive no Brasil. Nós podemos aprender com todos os treinadores. Não só os portugueses. Eu gosto muito do Klopp, que é alemão, do Guardiola, que é espanhol, do Mourinho, que é português. O treinador português compartilha conhecimento. Nós não fechamos”, afirmou Abel. 

No badalado “Roda Viva” em que ele esteve, fez questão de dizer que aceitou participar do programa para “homenagear duas grandes personalidades do desporto brasileiro”. “Uma tem mais a ver com a minha profissão, que é Telê Santana. E outra tem a ver com o desporto motorizado, que eu amo, que é o Ayrton Senna. Foi por essa razão que eu aceitei vir a este programa. Já tinha visto a entrevista desses dois.”

Uma das vozes que mais elevam o São Paulo de Telê mundo afora é simplesmente a de Guardiola. “Me recordo muito bem daquela final (Mundial interclubes de 1992 entre o São Paulo e o Barcelona). O São Paulo foi infinitamente superior, com Raí, Muller e outros jogadores fantásticos. Não tivemos nenhuma ação para competir com eles, quanto mais para ganhar. O São Paulo dominou o mundo”, afirmou o ex-volante do time de Cruyff quando treinava o Bayern em 2013 e foi enfrentar o São Paulo pela Audi Cup. Dois anos antes, quando goleou o Santos na final do Mundial com seu Barcelona, Guardiola já tinha falado muito bem do São Paulo de Telê. “Lembro de 1992, quando éramos favoritos. A frustração está superada. Foi uma pena, mas tenho o conhecimento de que o São Paulo foi muito melhor”, disse ele.  

Cruyff, o mentor de Guardiola, também elogiou o São Paulo após aquela derrota em 1992, dizendo que “se era para ser atropelado, que seja por uma Ferrari”. O genial holandês, que também havia perdido por 4 a 1 para o São Paulo de Telê em 1992 na Espanha na decisão do Teresa Herrera, classificou, em autobiografia, a derrota no Mundial interclubes de 1992 como algo natural. “Foi uma das poucas vezes que não tive problemas com uma derrota. Sempre admirei o técnico brasileiro Telê Santana por sua visão, porque sempre exibia um amor genuíno pelo futebol”, escreveu.

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Telê Santana Treino São Paulo 30/04/1994 Gazeta Press

Marcelo Bielsa, outro nome que influenciou Guardiola, sabe bem o que era aquele São Paulo de Telê, a quem chama de “uma mente superior”. “Era uma equipe única e extraordinária”, disse o treinador argentino que dá nome ao estádio do Newell’s Old Boys, que parou no São Paulo nas Libertadores de 1992 e 1993. Nessa entrevista para Renato Senize, correspondente brasileiro na Inglaterra, Bielsa até sorriu lembrando a escalação de São Paulo de 1992: “Era impossível ser superior ao São Paulo. Eram tão bons que o 1 a 0 em Rosario não era suficiente”, contou o “Loco”.

Diante de tantos elogios de estrangeiros ao São Paulo de Telê, eu tenho ainda mais convicção de que esse esquadrão é um tanto quanto subestimado aqui no Brasil. Vários outros times que venceram muito menos e que não ganharam o mundo são sistematicamente mais lembrados nas listas de maiores da história e dos “melhores que eu vi”. Inclusive muitos são-paulinos da antiga colocam a geração dos Menudos, o São Paulo entre 1985 e 1987, como superior (mais vistosa ou na frente por memória afetiva) à de Telê. Se o Santos de Pelé é reverenciado muito pelo talento de seus jogadores, notadamente o Rei, o São Paulo de Telê, pelo que vemos hoje até dos técnicos estrangeiros, tem como muito mérito a mão de seu treinador, a parte tática.    

O impacto do São Paulo do início dos anos 90 é enorme por vários fatores, ajudou a Libertadores a se tornar ainda mais uma obsessão no Brasil. O sucesso internacional daquela equipe inspirou outros brasileiros a alimentar o então “Projeto Tóquio”. Há quem diga aquele o Mundial naquela época era apenas uma Copa Toyota (na verdade, eram dois troféus dados ao campeão, o da Copa Intercontinental, feito pela Uefa e pela Conmebol, e a Copa Toyota, oferecido pela patrocinadora japonesa do evento). Mas muita gente que acompanhou os Mundiais vencidos pelo São Paulo de Telê (contra Barcelona de Cruyff e o Milan de Capello) não o esquecem até hoje. Que o digam a referência Guardiola (o técnico mais influente deste século), Vítor Pereira e Abel Ferreira.

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Rodrigo Bueno26 Apr, 2022

Por ser um dos brasileiros colaboradores da IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol), recebi a missão de montar até o final deste mês o que seria a seleção brasileira feminina de todos os tempos. A entidade internacional, que já montou equipes históricas para os homens, agora se debruça mais fortemente no futebol feminino. O pedido é para que todos os colaboradores ao redor do mundo consultem especialistas e preparem essas seleções que misturam diversas gerações. Já imaginou Marta e Sissi jogando juntas, por exemplo? Claro que a seleção brasileira de todos os tempos contaria com esse privilégio.

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Kátia Cilene e Sissi, estrelas do passado da seleção, disputam jogo em 1997, quando foram campeãs nacionais pelo São Paulo Gazeta Press

Em alguns países, não será fácil montar uma seleção ideal da história simplesmente porque ainda não houve o devido desenvolvimento da modalidade. Não é o caso do Brasil, que já figura há décadas entre os melhores no ranking da Fifa, tendo disputado inclusive todas as edições do Mundial (foi vice em 2007) e todos os torneios olímpicos (ganhou prata em 2004 e 2008). São muitos nomes importantes e históricos desde 1986, quando a equipe feminina do nosso país fez sua estreia (perdeu um amistoso para os Estados Unidos, maior potência, por 2 a 1).

Neste século, o avanço do futebol feminino foi enorme, a modalidade de fato virou algo global, indo bem além dos países nórdicos, da Alemanha, da China, do Japão, da Austrália, da Nigéria, dos Estados Unidos, do Canadá e do Brasil. A Fifa e outras federações têm estimulado e difundido a prática, os campeonatos estão cada vez mais regulares, as condições estão bem melhores do que no século passado (embora ainda não sejam as ideais), o nível está crescendo, e o interesse geral também. Mas, até por vivermos uma nova era do futebol feminino, fica bem difícil misturar em um time as melhores atletas da atualidade com as craques pioneiras que tiveram ainda mais adversidades. É quase como comparar as fases de amadorismo e profissionalismo.

Das 10 jogadoras com mais partidas pela seleção brasileira, apenas a veterana Formiga não estreou na equipe a partir do ano 2000. Hoje, joga-se muito mais vezes do que no passado, e isso afeta diretamente nas estatísticas, nos números históricos. Apenas em 2013, a CBF passou a organizar o atual Campeonato Brasileiro feminino, competição transmitida para o país todo e com a participação de grandes camisas do esporte nacional. Entre 1983 e 2007, a antiga Taça Brasil não tinha muita visibilidade, o espaço na mídia era pequeno e pouco se via das principais jogadoras a não ser quando estavam a serviço da seleção.

“A Fifa lançou um documentário sobre a Sissi. Se ela tivesse a estrutura que teve a Marta... A Sissi não tinha academia, não podia treinar, dadas as circunstâncias. A Marta é genial no momento dela, e a Sissi é fantástica no sentido de resistência. Ambas são LGBTQIA+, sofreram preconceitos de todas as formas, ambas viveram realidades distintas na CBF mas todas preconceituosas”, diz Luciana Mariano, a primeira narradora da televisão brasileira. Na seleção brasileira feminina de todos os tempos da Luciana, estão vários nomes da antiga geração.

“Nessa seleção, a Marta e a Sissi não podem faltar. A Roseli (atacante que jogou até 2004 na seleção) também não. A Kátia Cilene (atacante que jogou até 2007 na seleção) era uma garota fora do normal, a Pretinha (atacante que jogou regularmente na seleção até 2008) também. Temos meias e atacantes que são muito destacadas. Acho que a Ju Cabral (Juliana, capitã da seleção entre 2001 e 2004) foi uma baita zagueira, pode botar na minha lista”, afirma Luciana, uma das narradoras da ESPN hoje.

Por quê estão chamando o rodrigo de rodriguetes

Cristiane, Marta e Formiga, três nomes que figuram com destaque na história da seleção brasileira feminina Getty Images

Dentre as principais artilheiras da história da seleção, já figuram nomes da atualidade, como Debinha, que está com 30 anos. Atacante que costuma ser titular da equipe de Pia Sundhage, Debinha está na seleção ideal de todos os tempos montada pela Natasha David, apresentadora da ESPN que a escalou ao lado da artilheira Cristiane no ataque, deixando Marta e Sissi na armação.

A IFFHS pediu que eu enviasse a seleção brasileira feminina de todos os tempos montada no 4-4-2, no 4-3-3 ou no 3-4-3. E eu peço a você, agora, que me ajude também a definir essa equipe ideal. Pode mandar seu time nas minhas mídias sociais (@RodrigoBuenoTV no Twitter , @rodrigobuenobubu no Instagram e www.facebook.com/RodrigoBuenoJornalista ) que levarei em conta seu voto, sua preferência. Certamente o Brasil terá uma das seleções históricas mais fortes entre todas.   

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