Quais as consequências da campanha desastrosa de Napoleão contra a Rússia em 1812?

Tiago 25/03/2017

1812 A MARCHA FATAL DE NAPOLEAO RUMO A MOSCOU
Existem mais livros escritos sobre Napole�o Bonaparte do que sobre qualquer outra personalidade. Ent�o por que ler mais um livro sobre seus feitos? Como diria Dostoievski �n�o existe um assunto t�o velho no qual n�o se possa falar algo novo sobre ele.� Em uma obra espetacularmente bem escrita o historiador Adam Zamoyski, que tamb�m � autor de �Ritos de Paz a queda de Napole�o e o congresso de Viena�, retratou um dos mais tr�gicos cap�tulos das guerras napole�nicas: a invas�o da R�ssia em 1812.
A narrativa se inicia na manha de 20 de mar�o de 1811: depois de atravessar a noite em trabalho de parto a jovem e exausta imperatriz Marie Luise havia finalmente havia dado � luz a um menino. Cem tiros de canh�o troaram por Paris anunciando o nascimento do menino. Gritos de �vive l�Empereur!� percorriam as ruas; Paris estava em festa e o imp�rio napole�nico encontrava-se em sua plenitude. Aos poucos o clima festivo das primeiras paginas vai se transfigurando numa tens�o pol�tica provocada pelas conseq��ncias do Bloqueio Continental � estrat�gia criada por Napole�o cujo objetivo era a destrui��o econ�mica de seu velho inimigo: o imp�rio brit�nico.
O Czar Alexandre, herdeiro do imp�rio edificado cem anos antes pela pol�tica inflex�vel de sua av� Catarina, a Grande, se encontrava numa dif�cil posi��o: manter seus portos fechados para os navios ingleses era o mesmo que aumentar o descontentamento da aristocracia russa, restrita a produ��o ineficiente da ind�stria nacional. Abrir os portos ao comercio significava entrar em guerra com a Fran�a.

Para quem gosta de temas voltados a pol�tica externa o capitulo �A guinada para a guerra� � um prato cheio, um autentico mergulho nos bastidores pol�ticos que arrastariam as duas na��es para o conflito. Napole�o, consciente da deteriora��o diplom�tica entre os dois pa�ses, buscou induzir Alexandre a romper o bloqueio para que este fosse visto como o agressor. Em 31 de dezembro o Czar abriu oficialmente seus portos aos navios americanos e no ver�o de 1811 j� circulavam os boatos de que tropas russas come�avam a se agrupar nas fronteiras. Era o sinal que Napole�o tanto aguardava para mobilizar suas tropas. Para os mais supersticiosos o sinal veio como um cometa, vis�vel a olho nu, que riscou os c�us da Europa na noite de 25 de mar�o de 1811. No contexto de uma gigantesca guerra iminente um simples fen�meno astrol�gico assumiu contornos de uma profecia: a carnificina estava prestes a come�ar.
Zamoyski exp�e um retrato menos conhecido sobre a campanha de 1812 e derruba velhos mitos. Um deles � de que a retirada do exercito russo seria uma estrat�gia para desgastar o exercito franc�s. O autor mostra que no momento da invas�o as for�as russas estavam distribu�das em tr�s ex�rcitos dispersos ao longo da fronteira. A estrat�gia consistia em recuar para que os ex�rcitos pudessem se agrupar em uma posi��o vantajosa onde sua superioridade num�rica fosse capaz de fazer frente aos franceses. Portanto, o recuo n�o foi uma estrat�gia, mas uma necessidade. Um segundo ponto no qual o autor abre espa�o para questionamentos � sobre o papel do inverno russo na derrota dos franceses. Para Zamoyski - que n�o se apega apenas a opini�es particulares e exp�e seus argumentos atrav�s de fatos - o calor das primeiras semanas da invas�o foi mais determinante para a derrota do que o lend�rio inverno russo. Antes mesmo de chegar a Smolensk, primeira cidade relativamente grande antes de Moscou, o exercito de Napole�o, que inicialmente contava com uma for�a aproximada de 600 mil homens, j� havia sido reduzido a uma for�a de 160 mil soldados. As baixas ao longo do caminho foram causadas pelo desgaste imposto pelas marchas for�adas sob o calor:�Os soldados vestfalianos sucumbiam aos montes pelo calor. Ao final de uma marcha for�ada a uma temperatura superior a 32�C, um regimento de 1.980 homens foi reduzido a 210.�

Marchando em um ritmo de 76 passos por minuto os soldados cobriam uma extens�o de 15 a 35 quil�metros por dia. Era comum ver soldados largar suas forma��es e correr para as margens da estrada arriando as cal�as e sofrendo de dores intensas. O sofrimento da cavalaria foi retratado com brutal realismo no texto: das costas dos cavalos escorria o pus que se acumulava sobre as assaduras criadas pelas celas dos soldados. Os pobres animais exaustos e enfurecidos pela sede muitas vezes tombavam para n�o mais se levantar. Vespas furiosas por causa do calor se acumulavam aos montes sobre os homens encharcados de suor e cobertos pela poeira amarela que subia das estradas de terra. Um dos piores flagelos, no entanto, era a sede: �Quantas vezes eu n�o me atirei com meu estomago na estrada para beber do rastro dos cavalos um liquido cuja cor amarelada deixa meu estomago enjoado at� hoje.� Contou um dos soldados obrigados a beber urina de cavalo. Em 14 de agosto Napole�o e seus soldados come�am a percorrer a famosa estrada Minsk-Smolensk. Constru�da por Catarina, a Grande, seria esta a estrada que guardaria as maiores lendas e as maiores trag�dia de toda a campanha.
O primeiro grande momento da obra � a descri��o da batalha de Smolensk. O impressionante bombardeio da artilharia francesa contra as muralhas � descrito em detalhes, bem como a terr�vel luta em meio a ruas enegrecidas pelos inc�ndios que tomou conta da cidade ap�s a entrada das tropas de Napole�o. Borodino � o segundo grande momento: os preparativos de ambos os lados para a gigantesca batalha � uma das maiores na historia das guerras � s�o minuciosamente descritas pelo autor que cria uma tens�o natural quanto aos acontecimentos. A ferocidade dos combates e a descri��o quase po�tica do campo de batalha ao entardecer, coberto de balas de chumbo e por corpos desfigurados de russos e franceses, fazem da batalha de Borodino um dos momentos mais intensos do texto.

O terceiro grande marco do texto � o inc�ndio de Moscou, episodio que marca o inicio da passividade de Napole�o. O imperador perdeu cinco preciosas semanas nas ru�nas enegrecidas da cidade tentando arrancar do czar um acordo de paz. A essa altura seu gigantesco exercito de aproximadamente 600 mil homens estava reduzido a uma for�a efetiva de apenas 90 mil. Quando Napole�o finalmente decidiu retornar � que os primeiros tra�os do rigoroso inverno come�aram a surgir.
Da metade da obra em diante acompanhamos a deteriora��o final dos ex�rcitos franceses em sua marcha de volta pela estrada Minsk-Smolensk � a mesma utilizada no ver�o anterior. Da� em diante enfrentariam seus maiores pesadelos e o primeiro deles veio na forma de uma intensa chuva que despencou no dia 22 de outubro e transformou as estradas em um mar de lama. Carro�as atulhadas de itens e farinha retirados de Moscou tiveram de ser deixados para tr�s semi afundadas na lama. A partir daquela data a sobreviv�ncia de cada um dependeria do que fosse capaz de carregar. O maior golpe moral, no entanto, ocorreu seis dias depois quando os soldados passaram novamente pelo campo de batalha de Borodino e se depararam com os corpos dos companheiros que haviam morrido durante a batalha, todos inchados por causa do calor e desfigurados pelos insetos que os devoravam.
1812 retoma a proposta de muitas obras anteriores em querer mostra que a campanha de Napole�o foi assolada por uma serie de adversidades desde o seu inicio. O esgotamento do exercito franc�s teve origem principalmente nas falhas log�sticas quanto ao abastecimento das tropas. O sistema de abastecimento de Napole�o dependia de 9.336 carro�as que demandavam a for�a de 32.500 cavalos. Nas p�ssimas estradas da R�ssia a movimenta��o das carro�as n�o funcionou como deveria e para piorar n�o havia comida para os cavalos. Segundo o autor um dos maiores erros de Napole�o foi colocar uma cavalaria de 40 mil homens a frente de sua ofensiva como ponta de lan�a. Ele n�o apenas desconsiderou a dificuldade para manter a alimenta��o de 40 mil homens e igual numero de cavalos como tamb�m estendeu muito suas linhas de abastecimento. Curiosamente o ponto mais fr�gil de seu exercito estava na retaguarda.

Zamoyski preenche dezenas de paginas com um retrato vivo da grand arme descrevendo os uniformes, os armamentos, a log�stica, os tipos de muni��o utilizadas nos canh�es e at� sobre a alimenta��o di�ria dos soldados: 550g de biscoitos, 30g de arroz, 60g de vegetais desidratados, 240g de carne ou banha de porco, vinho e um pouco de vinagre. Em muitos casos o perigo real n�o eram as tropas inimigas, mas o pr�prio equipamento dos soldados. O mosquete utilizado pelos franceses era uma arma que praticamente n�o havia sofrido nenhuma inova��o no ultimo s�culo.
�Para carreg�-lo, o soldado usava um cartucho que nada mais era que um cilindro de papel contendo uma por��o de p�lvora e um proj�til; ele mordia a ponta do cartucho, segurando o proj�til com a boca, salpicava um pouco de p�lvora no tambor e o fechava; depois, colocava o restante da p�lvora no cano com a vareta. Um soldado treinado era capaz de recarregar a arma e se preparar para atirar em um minuto e meio.�
O tiro n�o possu�a precis�o alguma, e a nove metros de distancia do seu alvo um soldado tinha apenas 5% de chance de acertar, por isso os soldados marchavam em linhas compactas durante as batalhas, dessa forma os disparos sincronizados cobriam seu alvo com uma muralha de projeteis de chumbo. Ap�s aproximadamente 12 disparos os detritos da p�lvora obstru�am o cano e a arma corria o serio risco de explodir no rosto do seu manuseador. Em batalhas longas como Borodino, por exemplo, as baionetas assumiram o papel de arma principal embora cerca de 1.400.000 disparos de mosquetes tenham sido efetuados pelos franceses durante a batalha.

As batalhas mais intensas durante a retirada ocorreram na segunda semana de novembro entre as cidades de Smolensk e Ladi. Miloradovich e Kutuzov fizeram varias tentativas de separar e destruir os exaustos invasores. A descri��o da tentativa de bloqueio da estrada em 2 de novembro pelos russos da inicio a uma serie de narrativas sobre os furiosos combates que ocorreram ao longo da estrada. A retaguarda de Napole�o, formada pelas tropas dos generais Davout e Ney, foram especialmente fustigados pelos canh�es da artilharia russa. Somente em 6 de novembro o inverno russo finalmente mostrou sua for�a: �Aquele dia permaneceria gravado na minha mem�ria. Depois de termos atravessado o Dorogobuzh, come�ou a cair uma chuva muito forte, e comecei a sentir frio; a chuva deu lugar a neve, e em muito pouco tempo o ch�o estava coberto por mais de meio metro de neve� � contou um soldado franc�s. A ca�tica travessia do Berezina marca o fim da campanha, mas n�o do texto em cujas ultimas paginas esta um interessante estudos sobre as baixas sofridas por Napole�o e as conseq��ncias de sua desastrosa campanha para os anos posteriores.

AUTOR
TIAGO RODRIGUES CARVALHO

site: http://cafe-musain.blogspot.com.br/2016/06/1812-marcha-fatal-de-napoleao-rumo.html

Quais foram as consequências da Campanha da Rússia para Napoleão Bonaparte?

A falta de suprimentos, os ataques surpresas das tropas russas, as doenças e o frio russo dizimaram o exército francês. Dos 600 mil, cerca de 30 mil retornaram com vida para Paris, e o desastre da campanha foi tão grande que deu início à sexta coalizão contra a França.

Qual foi o resultado da campanha militar de Napoleão contra a Rússia em 1812?

As tropas que tinham iniciado a campanha na Rússia, já tinha boa parte se perdido pelo caminho, com pequenas batalhas e principalmente doenças, devido a má alimentação e ao clima instável da região, dos aproximadamente 680 mil homens, que foram enviados para a batalha, menos 100 mil conseguiram sair do território russo ...

O que aconteceu após a derrota de Napoleão na guerra contra a Rússia?

O exército francês foi embora da Rússia. Muitos soldados franceses acabaram vitimados pelo frio e pela fome. O episódio foi uma grande derrota para a França e fortaleceu a Inglaterra e seus aliados. Em 1814, Napoleão foi obrigado pelos seus inimigos a renunciar e foi exilado na ilha de Elba.