Quais as estratégias devem ser utilizadas no ambiente escolar com os alunos que apresentam paralisia cerebral?

Inclusão de alunos com paralisia cerebral no ensino fundamental: contribuições da fisioterapia

Inclusion of students with cerebral palsy in elementary education: contributions of physiotherapy

Simone Massaneiro SilvaI; Rosângela Ribeiro de Castro Neri SantosII; Cristiane Gonçalves RibasIII

IMestranda em Tecnologia em Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Paraná/PUCPR, Curitiba, Brasil.

IIFisioterapeuta pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná/PUCPR, Curitiba, Brasil.

IIIDocentes do Curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná/ PUCPR, Curitiba, Brasil.

RESUMO

Este estudo teve como objetivo apontar como o fisioterapeuta pode atuar no processo de inclusão de alunos com paralisia cerebral (PC) no sistema regular de ensino. A presente pesquisa foi realizada em três escolas públicas municipais de ensino fundamental, pertencentes a uma Regional de Ensino da cidade de Curitiba. Cada escola foi visitada cinco vezes entre março e abril de 2009, para coleta de dados. A amostra foi composta por três alunos com diagnóstico de Paralisia Cerebral, cognitivo preservado, alfabetizados, idades entre nove e 16 anos. Para avaliar os alunos foram utilizados dois instrumentos: o Protocolo de Observação e a Ficha de Avaliação Neurológica Qualitativa e Descritiva, do Instituto Pequeno Cotolengo do Paraná. Mediante os resultados encontrados foram estabelecidos os objetivos da atuação fisioterapêutica e realizadas intervenções específicas de acordo com as necessidades dos alunos participantes, no período de abril á junho de 2009. Após a realização do estudo, foi possível verificar que a atuação da Fisioterapia sobre a adequação de mobiliários e materiais, orientação para eliminação de barreiras arquitetônicas e conscientização dos profissionais envolvidos na educação, contribuiu para o desenvolvimento do aluno com paralisia cerebral no ambiente escolar.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Especial. Paralisia Cerebral. Fisioterapia. Inclusão Escolar.

ABSTRACT

This study aimed to show how physiotherapists can contribute in the process of inclusion of students with cerebral palsy (CP) in elementary education. The present study was undertaken at three public elementary schools in Curitiba. Each school was visited five times between March and April of 2009, for data collection. The sample was composed of three literate students, aged between nine and 16 years, with a diagnosis of cerebral palsy, without cognitive impairment. To assess the students, two procedures were used: an Observation Protocol and the Descriptive and Qualitative Neurological Evaluation Card of Pequeno Cotolengo in Paraná. The results enabled the researchers to establish goals for physiotherapy; specific interventions were carried out according to the needs of the students involved, during the months of April through June 2009. As a result, the study showed the importance of the role of Physiotherapy on indicating how to adapt furniture and material, so as to become appropriate to the needs of students with cerebral palsy. Their supervision also provided for the elimination of architectural barriers, contributed to better awareness of the educational professionals and helped in the development of the student with cerebral palsy in the school environment.

KEYWORDS: Special Education. Cerebral Palsy. Physiotherapy. School Inclusion.

1 Introdução

A presente pesquisa trata de um tema de grande atualidade, pois as políticas de inclusão educacional só vieram com a implementação do Decreto Lei 9.394 (BRASIL, 1996). A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais (NEEs) em rede regular de ensino tornou-se uma obrigação do estado.

A criança com paralisia cerebral (PC) possui um padrão motor anormal de postura e movimentação, causado por uma alteração de tônus muscular (SHEPHERD, 1996). Muitas crianças com PC possuem o cognitivo preservado, e tem a capacidade de acompanhar o ensino regular, apesar de suas limitações motoras.

O ambiente da escola regular pode favorecer o processo de aprendizagem dos alunos com PC, porque possibilita o desenvolvimento de suas potencialidades. Por isso este ambiente deve ser o mais diversificado possível, como forma de atingir o pleno desenvolvimento humano e o preparo para o exercício da cidadania (MELO; MARTINS, 2007). Não podemos considerar os alunos com NEEs como incapazes de acompanhar o ensino regular, apenas levando em consideração suas limitações motoras.

É importante que esses alunos com PC quando inclusos tenham um suporte adequado para permitir um bom desenvolvimento escolar. Eles vão necessitar de recursos pedagógicos adaptados, adaptações no ambiente físico e adequações no mobiliário da escola (MELO; MARTINS, 2007).

As adaptações têm por objetivo facilitar e possibilitar as atividades escolares realizadas pelos alunos com NEEs, proporcionando um posicionamento adequado de acordo com as necessidades individuais de cada aluno (OLIVEIRA, 2007).

O direito de ir e vir é garantido a todos os seres humanos desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948). A Cartilha da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2007) aponta que todas as medidas necessárias para a eliminação de barreiras arquitetônicas, que impedem a inclusão social das pessoas com deficiência, devem ser adotadas pelo poder público como forma de promover o acesso a todos.

O Decreto-lei n.° 5296 (BRASIL, 2004), institui que os estabelecimentos de ensino de qualquer nível, públicos ou privados, devem proporcionar condições de acesso e utilização de todos os seus ambientes para pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, inclusive nas salas de aula, bibliotecas, auditórios, instalações desportivas, áreas de lazer e sanitários.

Ao receber alunos com PC, a escola deve oferecer ajuda técnica necessária que permita o acesso às atividades escolares em igualdade de condições com os demais alunos, tais como: rampas de acesso, adaptações nos banheiros como barras de segurança e assento adaptado, carteiras e cadeiras adaptadas, entre outras adaptações que se façam necessárias (BRASIL, 2004).

Um dos fatores importantes para o acontecimento do processo de inclusão é o enfoque multidisciplinar. A inclusão exige o envolvimento de todos os profissionais que atendem estes alunos nos diferentes níveis de ensino e áreas de conhecimento (DURCE et al., 2006).

Segundo Durce et al. (2006), a Fisioterapia pode auxiliar no processo de inclusão, por meio da eliminação de barreiras arquitetônicas, adaptações de materiais pedagógicos e mobiliários, orientação do manuseio e posicionamento do aluno em sala de aula e em atividades extraclasse, e promoção de ações de educação em saúde para funcionários da escola, pais e alunos.

Assim, a equipe multidisciplinar, deve garantir a permanência do aluno com NEEs na escola, criando condições para sua adaptação, dando oportunidade para o desenvolvimento de suas capacidades, bem como a troca de experiências com os demais alunos.

Desta forma, o presente estudo buscou investigar as contribuições da Fisioterapia no processo de inclusão escolar do aluno com paralisia cerebral.

2 Método

Esta pesquisa é classificada como qualitativa, e se caracteriza como estudos de casos clínicos, por se tratar de um estudo aprofundado (GIL, 1996).

O projeto de pesquisa foi aprovado no Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da PUCPR, sob o protocolo de n° 2810, segundo a Resolução 196/96 do CNS.

Inicialmente foi realizado um levantamento dos alunos com NEEs matriculados na Regional de Ensino. Depois foram feitas reuniões com os gestores de cada escola participante, e com os pais dos alunos que foram convidados a participar do estudo, para esclarecer os objetivos da pesquisa e os procedimentos a serem realizados. Após os esclarecimentos, os pais foram convidados a ler e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, dando permissão para que a criança participasse da pesquisa.

Fizeram parte do presente estudo três alunos, com diagnóstico clínico de PC espástica, cognitivo preservado, alfabetizados e matriculados em três escolas públicas municipais de ensino fundamental, pertencentes a uma Regional de Ensino da cidade de Curitiba, com idades entre nove a 16 anos, dois do sexo feminino e um do sexo masculino.

Para a coleta de dados foram realizadas cinco visitas em cada uma das três escolas escolhidas, entre março e abril de 2009, no período matutino, com duração média de quatro horas por visita, totalizando 15 visitas.

Um dos instrumentos utilizados para avaliação dos alunos foi o Protocolo de Observação (APÊNDICE 1), desenvolvido pelas pesquisadoras, que norteou a observação e análise do aluno: em sala de aula e nas aulas práticas de Educação Física, a locomoção do aluno no ambiente escolar, e a acessibilidade oferecida pela escola.

O preenchimento do Protocolo de Observação de cada aluno foi feito por duas fisioterapeutas, que acompanhavam o aluno em suas atividades escolares, discutiam cada item de observação e faziam o seu preenchimento. A observação dos alunos durante as aulas foi realizada com o consentimento do professor responsável pela turma.

Também foi utilizada a ficha de Avaliação Neurológica Qualitativa e Descritiva, do Instituto Pequeno Cotolengo do Paraná, para avaliar a função motora dos alunos. Esta avaliação é composta por: anamnese e exame físico. Ela foi realizada por apenas uma fisioterapeuta em uma sala reservada, que foi cedida pelos gestores de cada uma das escolas.

Mediante os achados da Avaliação Neurológica e da aplicação do Protocolo de Observação, foram estabelecidos os objetivos da atuação fisioterapêutica e realizadas as intervenções específicas, de acordo com as necessidades apresentadas pelos alunos participantes, no período de abril a junho de 2009.

As intervenções incluem: adaptação de materiais escolares, confecção de uma órtese de baixo custo, elaboração de uma cartilha de sugestões para facilitar a participação dos alunos nas aulas práticas de Educação Física e a elaboração de um laudo com propostas de adequação da mobília e do espaço físico da escola.

Filmagens e fotografias foram feitas durante as avaliações e observações, para verificação e registro da evolução de cada um dos alunos, antes e após as intervenções fisioterapêuticas.

Após a realização das intervenções foi dado início a análise e discussão dos resultados, que serão apresentados em contexto individual.

O pequeno número de alunos participantes, a aceitação da realização da pesquisa pelos gestores das escolas e a falta de recursos para confeccionar os materiais, foram alguns dos fatores limitantes da pesquisa.

3 Resuldados

Os resultados apresentados foram formatados em dois momentos distintos. O primeiro descreve o mapeamento realizado na Regional de Ensino e o segundo descreve os estudos de caso, situando cada caso analisado a partir da avaliação e intervenção traçada.

3.1 Mapeamento

Inicialmente foi realizado um levantamento na Regional de Ensino investigada, para obter os seguintes dados: número total de alunos matriculados e número de alunos com necessidades educacionais especiais (NEEs) inclusos, com seus respectivos diagnósticos clínicos.

No gráfico abaixo, pode-se observar que dentre os 13.730 alunos matriculados, havia apenas 23 alunos com NEEs matriculados, que representavam 0,167% do total de matrículas.

Observa-se, no gráfico abaixo, uma grande variedade de diagnósticos clínicos entre os alunos com NEEs matriculados na Regional, totalizando 12 diferentes patologias. Os alunos com PC representam 43% das matriculas de alunos com NEEs.

3.2 Estudos de Caso

3.2.1 Estudo de Caso 1

3.2.1.1 Avaliação

O aluno 1, sexo masculino, nove anos, apresenta como diagnóstico clínico paralisia cerebral espástica, e como diagnóstico fisioterapêutico hemiparesia à direita. Segundo os dados analisados no Protocolo de Observação:

• Em sala de aula:

1. Posicionamento do aluno sentado: ele está bem posicionado no mobiliário escolar (Figura 1), seus pés se apóiam no chão, ele ocupa todo assento e suas costas se apóiam no encosto na cadeira, quadril e joelho formam um ângulo de 90°. Ele se encontra sentando na fileira do canto da sala, o que proporciona maior assimetria a sua postura.

2. Desempenho na atividade da escrita: o aluno é destro, e escreve com o membro superior direito, sua preensão é inadequada (Figura 2), ele faz fixação de cintura escapular para facilitar a atividade da escrita, não realiza pinça e faz muita pressão no papel ao escrever.

3. Interação com os colegas: ele tem dificuldade de interação com a turma e não consegue se relacionar com os outros colegas, devido à hiperatividade (esta condição foi relatada pela mãe durante a realização da Avaliação Neurológica).

• Nas aulas práticas de Educação Física:

1. Atividades com bola: o aluno possui dificuldade mínima nos jogos em grupo, sua maior dificuldade é a interação com os colegas.

2. Atividades/brincadeiras em grupo: ele participa de todas as atividades e brincadeiras em grupo, mas tem dificuldade de interação com a turma.

• Locomoção na escola:

1. Em sala de aula: o aluno não possui nenhuma restrição em sua locomoção, apesar de haver um degrau na porta de entrada da sala.

2. Nos ambientes da escola: ele se locomove sem nenhuma restrição, apesar das barreiras arquitetônicas encontradas.

• Acessibilidade:

1. Rampas de acesso: a escola possui uma rampa ligando o pátio à quadra esportiva. Mas há vários desníveis e degraus na entrada da escola, nos pátios e na entrada de cada sala de aula.

2. Banheiro adaptado: a escola possui um banheiro adaptado, que contém somente piso antiderrapante e um vaso sanitário elevado. Só que ele está inativo, sendo usado como depósito (Figura 3).

3. Corrimãos: não possui.

4. Elevadores: não possui, pois a escola é térrea.

5. Mobiliário adaptado: não possui.

6. Materiais pedagógicos adaptados: não possui.

7. Sala de Recursos Multifuncionais: não possui, embora seja um recurso importante, pois o aluno possui dificuldade em acompanhar sua turma.

8. Professor assistente: não possui, apesar da dificuldade supracitada.

3.2.1.2 Intervenção

Abaixo estão expostos os objetivos de intervenção da Fisioterapia, estipulados com base na avaliação e observação, e as intervenções que foram realizadas considerando os objetivos traçados:

1. Orientar os gestores em relação á melhoria da acessibilidade na escola: foi elaborado um Laudo, entregue aos gestores da escola, sugerindo a construção de rampas de acesso onde estavam os degraus.

2. Propor atividades adaptadas para que o aluno participasse de forma mais interativa com a turma, nas aulas práticas de Educação Física: foi realizada a elaboração de uma Cartilha de Sugestões (que contém explicações sobre as principais alterações motoras que a criança com PC pode apresentar, sugestões de adaptações de atividades e de jogos em grupo, e propostas para estimulação motora específica deste aluno), que foi entregue ao professor de Educação Física.

3. Facilitar a escrita do aluno: foi confeccionado um engrossador de lápis de baixo custo (uma folha de E.V.A. foi enrolada em torno do lápis para engrossá-lo), entregue a professora desse aluno, para que ela incentivasse o seu uso nas atividades de escrita.

Não foi possível verificar melhora na integração do aluno durante as aulas práticas de Educação Física, pois durante as observações, o aluno estava pouco colaborativo e agressivo.

A evolução do aluno pôde ser observada pela facilitação da atividade de escrita. Ao usar o engrossador de lápis o aluno conseguiu realizar a pinça, escreveu com mais precisão, e maior agilidade. Houve melhora da preensão e liberação da cintura escapular. As Figuras 4 e 5 evidenciam a preensão mais adequada do aluno 1 após a adaptação do lápis.

3.2.2 Estudo de Caso 2

3.2.2.1 Avaliação

A aluna 2, sexo feminino, nove anos, apresenta diagnóstico clínico de paralisia cerebral espástica, e diagnóstico fisioterapêutico de hemiparesia á direita. Segundo os dados analisados no Protocolo de Observação:

• Em sala de aula:

1. Posicionamento da aluna sentada: incorreto, ela não apóia os pés no chão, e não encosta suas costas no apoio da cadeira, porque a cadeira não é adequada ao seu tamanho. Seus membros superiores estão em posição inadequada, fazendo fixação de cintura escapular, porque a carteira é muito alta (Figura 6). Ela está sentada na fileira do canto da sala, e isso leva a uma maior assimetria postural, pois ela roda a cabeça para a esquerda, tendendo a esquecer o hemicorpo acometido (Figura 7).

2. Desempenho na atividade da escrita: a aluna é canhota e realiza corretamente a pinça para escrever, porém fixa cintura escapular para melhorar o seu desempenho. Observa-se que ela apresenta forte padrão flexor de punho direito, ao realizar esta atividade (Figura 8).

3. Interação com os colegas: de acordo com o relato da aluna e as observações realizadas, ela interage satisfatoriamente com os seus colegas.

• Nas aulas práticas de Educação Física:

1. Atividades com bola: a aluna geralmente não participa das atividades com bola, por não conseguir acompanhar os jogos em grupo.

2. Atividades/brincadeiras em grupo: ela participa das atividades de recortar, com o lego, de desenhar e de dobradura com lentidão e dificuldade moderada.

• Locomoção na escola:

1. Em sala de aula: a aluna não apresenta dificuldade de locomoção.

2. Nos ambientes da escola: ela não apresenta dificuldade de deslocamento nos diversos ambientes da escola, apesar das inúmeras barreiras arquitetônicas.

• Acessibilidade:

1. Rampas de acesso: a escola possui uma rampa de acesso que liga o refeitório, presente no andar térreo do prédio, ao pátio (Figura 9), e outra que liga o pátio as salas de aula.

2. Banheiro adaptado: não possui.

3. Corrimãos: estão presentes apenas na escada que dá acesso aos andares do prédio (Figura 10), onde ocorrem as aulas no contraturno para os alunos que ficam na escola em período integral.

4. Elevadores: a escola não tem elevadores, apesar de possuir um prédio com três andares (Figura 11), por onde o acesso é feito exclusivamente por meio de escadas.

5. Mobiliários adaptados: não possui, apesar de ser necessário para a aluna.

6. Materiais pedagógicos adaptados: não possui.

7. Sala de Recursos Multifuncionais: não possui.

8. Professor assistente: não possui.

3.2.2.2 Intervenção

A seguir estão expostos os objetivos de intervenção da Fisioterapia, estipulados com base na avaliação e observação, e as intervenções que foram realizadas considerando os objetivos traçados:

1. Orientar os gestores em relação á melhoria da acessibilidade da escola: foi elaborado um Laudo com sugestões para adaptação do banheiro e construção de rampas de acesso. No prédio que possui apenas escadas, o ideal seria a instalação de uma plataforma vertical.

2. Inibir o padrão flexor do punho direito observado durante a escrita: foi confeccionada uma tala de punho de baixo custo que inibe o padrão flexor do punho (confeccionada com tecido jeans, fecho e velcro, reforçado internamente com plástico rígido). A órtese foi entregue a mãe da aluna juntamente com instruções de uso.

3. Melhorar o posicionamento da aluna na carteira e cadeira em sala de aula: foi encaminhada aos gestores da escola uma proposta para adequação do mobiliário escolar da aluna. E para a minimização da posição inadequada da aluna em sala de aula, enquanto o mobiliário dela não estivesse pronto, foi confeccionado um suporte de pés com o objetivo de prevenir contraturas e deformidades no seu pé direito.

4. Propor atividades adaptadas para que a aluna participasse da aula prática de Educação Física: foi entregue a professora de Educação Física, uma Cartilha de Sugestões (ver aluno 1) objetivando a participação da aluna nas atividades com bola, pois nas atividades de recreação a aluna participa sem muitas dificuldades.

As Figuras 12 a 15 evidenciam importante melhora do padrão flexor do punho direito da aluna, com o uso da tala de punho nas atividades com os membros superiores.

Foi possível observar a melhora do posicionamento dos pés da aluna com o uso do apoio de pés. O apoio inibiu o equinismo do pé direito, levando a uma leve dorsiflexão do tornozelo, conforme ilustrado nas Figuras abaixo.

As orientações para as aulas práticas de Educação Física incentivaram a aluna a participar das atividades em grupo com bola, como visto nas Figuras abaixo:

3.2.3 Estudo de Caso 3

3.2.3.1 Avaliação

A aluna 3, sexo feminino, 16 anos, apresenta como diagnóstico clínico paralisia cerebral espástica, e diagnóstico fisioterapêutico de hemiparesia á esquerda. Ela faz uso de uma muleta canadense para locomoção. Segundo os dados analisados no Protocolo de Observação:

• Em sala de aula:

1. Posicionamento da aluna sentada: ela está bem posicionada no mobiliário escolar (Figura 20), seus pés se apóiam no chão, ela ocupa todo o assento da cadeira, quadril e joelho formam um ângulo de 90°. Ela encontra-se em posição adequada, o que facilita sua simetria.

2. Desempenho na atividade da escrita: a aluna é destra e faz fixação de cintura escapular para facilitar o desempenho da escrita, mas apesar disso, ela realiza a escrita de forma adequada (Figura 20).

3. Interação com os colegas: de acordo com o relato da aluna e observações realizadas, ela interage bem com seus colegas.

• Nas aulas práticas de Educação Física:

4. Atividades com bola: a aluna não participa das aulas práticas de Educação Física (Figura 21), pois as atividades propostas pelo professor são: vôlei, futebol, basquete e handebol, e ela não consegue acompanhar os jogos. Ela declara que participa somente das aulas teóricas em sala de aula.

6. Atividades/brincadeiras em grupo: essas atividades são os jogos acima citados, dos quais a aluna na participa.

• Locomoção na escola:

Em sala de aula: a aluna não encontra dificuldades de locomoção, o chão é plano e ela pode se deslocar sem a muleta canadense.

Nos ambientes da escola: ela se locomove com a muleta, mas sem dificuldades, porém seu maior obstáculo é a escada sem corrimãos que liga o pátio as salas de aula (Figura 22).

• Acessibilidade:

1. Rampas de acesso: a escola possui diversas rampas de acesso, em diferentes ambientes (Figura 23).

2. Banheiro adaptado: a escola possui banheiro adaptado, com barras de apoio, pia rebaixada, piso antiderrapante e vaso sanitário elevado.

3. Corrimãos: vemos corrimões presentes junto às rampas de acesso, e em algumas escadas (Figura 24).

4. Elevadores: não possui, pois a escola é térrea.

5. Mobiliários adaptado: não possui.

6. Materiais pedagógicos adaptados: não possui.

7. Sala de Recursos Multifuncionais: não possui.

8. Professor assistente: não possui.

3.2.3.2 Intervenção

Abaixo estão expostos os objetivos de intervenção da Fisioterapia, estipulados com base na avaliação e observação, e as intervenções que foram realizadas considerando os objetivos traçados:

• Orientar os gestores em relação á melhoria da acessibilidade da escola: foi elaborado um laudo, entregue aos gestores da escola, sugerindo à construção de uma rampa de acesso ligando o pátio as salas de aula.

• Propor atividades adaptadas para que a aluna participasse da aula prática de Educação Física: foi proposto ao professor de Educação Física a adaptação de algumas atividades em grupo, para que a aluna pudesse participar junto com a sua turma. Para isso foi elaborada uma Cartilha de Sugestões (ver aluno 1).

A aluna teve ótima evolução em relação á sua participação nas aulas práticas de Educação Física. Na Figura abaixo a aluna participa de uma atividade com bola, adaptada para ela (como ela não conseguia arremessar a bola, foi proposto que ela passasse a bola quicando para o colega):

4 Discussão

Segundo o levantamento realizado na Regional de Ensino, em relação ao número de matriculas de alunos com necessidades educacionais especiais (NEEs), verificou-se que apenas 0,16% das matriculas se referiam a alunos com NEEs. De acordo com o censo escolar de 2003, de todos os alunos com NEEs matriculados, 17,4% estão matriculadas na rede municipal de ensino, 21,2% na rede estadual, 0,2% na rede federal, e 61,2% na rede particular de ensino, que normalmente são as escolas especiais (SILVA; SOUZA; VIDAL, 2005).

O levantamento aponta ainda que, a patologia de mais prevalência encontrada nas escolas dessa Regional de Ensino foi a paralisia cerebral (PC). O aluno com PC tem a capacidade cognitiva semelhante à dos colegas de classe e pode realizar as atividades com bom desempenho, desde que as limitações físicas sejam contornadas (TAGLIARI; TRÊS; OLIVEIRA, 2006).

Os três alunos investigados possuem PC, e são classificados como hemiparéticos. A forma hemiplégica é a forma mais freqüente no PC (ROSEMBERG, 1992).

Os alunos com hemiplegia constituem um grupo capaz e auto-suficiente, que atinge a posição ortostática e a marcha até dois ou três anos de idade. As crianças tendem a rejeitar o hemicorpo acometido, eleger e inclinar-se para o hemicorpo contralateral. Se não receberam atendimento contínuo e adequado o mais precocemente, a assimetria persistente pode resultar em limitações desnecessárias, desconforto e deformidades na idade adulta (STOKES, 2000).

O aluno descrito no estudo de Caso 1 respondeu satisfatoriamente à intervenção realizada. Ele apresentava dificuldade em realizar a atividade de escrita, e essa atividade foi facilitada pelo uso do lápis com engrossador. Segundo Melo e Martins (2007), os alunos com PC podem necessitar de recursos auxiliares para realização de suas atividades escolares, com vistas a possibilitar o seu melhor desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social.

Ao realizar atividades com os membros superiores, a aluna descrita no estudo de Caso 2 apresentou um aumento do tônus da musculatura flexora do punho e mão direita, denominada reação associada. Para Bobath (1984) as reações associadas são responsáveis pelo aparecimento das contraturas e deformidades. Na criança com PC, as reações associadas produzem um aumento difuso da espasticidade que pode resultar em acentuação visível da postura anormal.

Dentre os alunos avaliados, vemos que o comprometimento do membro inferior é geralmente menos evidente, sendo notado principalmente na marcha. De uma maneira geral, o comprometimento tende a predominar no membro superior. Mas na aluna descrita no estudo de Caso 3, nota-se o contrário, o comprometimento do membro inferior é maior, e isso se deve a uma complicação que ocorreu após a cirurgia de osteotomia derrotativa (cirurgia que reposiciona a cabeça do fêmur na fossa acetabular) feita no fêmur esquerdo, que levou a uma diminuição de três centímetros do seu membro inferior esquerdo.

Em ambos os alunos avaliados, foi observada uma assimetria corpórea importante. Para Rosemberg (1992), com o crescimento corpóreo, ocorre a diminuição do volume dos membros plégicos, sendo a assimetria em relação aos membros contralaterais geralmente evidentes. De acordo com Costa, Bezerra e Oliveira (2006), a criança hemiplégica pode manter-se em uma posição de assimetria postural, com distribuição de peso menor sobre o lado acometido. E essa alteração postural, por sua vez, pode levar a deformidades graves.

Nos alunos avaliados encontramos alterações de marcha, sendo que na aluna descrita no Caso 3 essa alteração é mais evidente, pois ela faz uso de uma muleta canadense para deambular em ambientes externos. Para Torriani et al. (2008), pessoas com hemiparesia exibem redução na velocidade da marcha e no tamanho do passo, bem como na diminuição do equilíbrio, além de fazer uso de padrões primitivos para andar, com elevado consumo de energia e inabilidade em transferir o peso para o membro acometido. Na aluna descrita no Caso 3, foi encontrado esse padrão de pé equinovaro, por isso ela faz uso de uma tala de posicionamento para o tornozelo e pé, com o objetivo de inibir esse padrão anormal.

Quando avaliada a interação social dos alunos em sala de aula, pode-se perceber que apesar de não haver segregação destes alunos por seus colegas, não há interação efetiva deles com a turma. Segundo Melo e Martins (2007), de uma maneira geral, pode-se dizer que o preconceito, quando presente, decorre da falta de conhecimento sobre a deficiência. Portanto, é fundamental que a comunidade escolar, diante da inclusão do aluno com deficiência, possua um espaço para discutir sobre a sua condição, tirar dúvidas, objetivando desmistificar idéias errôneas e preconceituosas a respeito da pessoa com deficiência.

Os alunos, na observação inicial, apresentavam dificuldade em participar das aulas práticas de Educação Física, devido à falta de atividades adaptadas para eles. Acredita-se que essas dificuldades estejam ligadas ao déficit de equilíbrio, presença de assimetria corporal, déficit de coordenação motora grossa e fina, diminuição de trofismo e discrepância de membros no hemicorpo acometido, além das características peculiares de cada aluno.

O déficit no equilíbrio postural interfere na aquisição de habilidades motoras, na interação social e na comunicação; pois dificulta o desempenho funcional da criança com PC nas atividades cotidianas, tais como: alcançar um objeto, segurar um lápis, escrever, entre outras (BRACCIALLI et al., 2008). A aquisição de um equilíbrio postural eficiente, na posição sentada ou em pé é uma das maiores dificuldades encontradas pela criança com PC.

A Educação Física pode contribuir no processo de desenvolvimento motor de um aluno com PC, na medida em que permite ao participante proporcionar vivências motoras capazes de incrementar sua habilidade para solucionar as tarefas motoras apresentadas pelo ambiente no qual está inserido. Para tanto, deve-se focalizar o movimento corporal e não a deficiência do aluno. Segundo Mandarino e Neto (1999) a Educação Física adaptada é uma contribuição a mais na integração educacional dos alunos com NEEs.

Para Cruz e Rodrigues (2002), os movimentos manuais de crianças com PC parecem estranhos e ineficientes em relação aos padrões motores de crianças normais. Entretanto, quando se considera o processo pelo qual elas foram capazes de resolver o problema de manipulação, chega-se á conclusão de que, dentro das suas capacidades e limitações, elas foram altamente competentes.

A aluna descrita no Caso 3 realiza a marcha com auxílio de uma muleta canadense. Sua locomoção na escola é feita de maneira independente, mas poderia ser facilitada com a melhoria da acessibilidade. Considerando que a maioria dos alunos com PC podem fazer uso de ajudas técnicas que auxiliam na locomoção, a eliminação de barreiras arquitetônicas é um dos fatores determinantes para assegurar sua mobilidade com autonomia no meio escolar (MELO; MARTINS, 2007).

Foram propostas adequações no mobiliário escolar da aluna descrita no Caso 2, com o objetivo de melhorar seu posicionamento em sala de aula. De acordo com Fernandes et al. (2007), quanto mais firme for a superfície de assento maior será a simetria proporcionada. Os alunos que possuem bom controle de tronco necessitam de um encosto que vá até o meio da escápula. O posicionamento adequado da criança facilita a realização das atividades propostas em aula.

A eliminação das barreiras arquitetônicas, não só promove acesso, mas também dá condições para interação, pois, a impossibilidade de estar e fazer o que os outros alunos fazem, leva a uma diminuição da auto-estima.

A Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação, com base no Censo Escolar 2003, informou que, das 176.880 escolas publicas, apenas 6.489 (3,6%) tinham sanitários adequados e 4.863 (2,75%) ofereciam dependências e vias para movimentação apropriadas (ROSA, 2005 apud MELO; MARTINS, 2007).

No entanto, constatamos nas escolas observadas a ausência de instalações físicas totalmente adequadas, com a presença de barreiras arquitetônicas dificultando a acessibilidade dos alunos com PC em alguns ambientes da escola. Para promover a acessibilidade no ambiente escolar, foram encaminhados Laudos aos gestores das escolas investigadas, com sugestões para eliminar as barreiras arquitetônicas encontradas. A falta de priorização de recursos financeiros, o desconhecimento das normas e adaptações que poderiam ser feitas, e a falta de vontade dos órgãos públicos leva a um não cumprimento da lei que garante a acessibilidade do aluno com NEEs na escola (MELO; MARTINS, 2007).

As dificuldades desses alunos devem ser vistas como desafios e não como obstáculos. A capacitação de todos os educadores e o aprimoramento dos demais profissionais da escola, seja através de palestras abrangentes ou treinamentos específicos, é o ponto fundamental para a efetivação do processo inclusivo nas escolas (GOMES; BARBOSA, 2006).

5 Conclusões

A presente pesquisa constatou que poucos alunos com NEEs freqüentam as escolas públicas, talvez por falta de informação dos pais, por carência de preparação das escolas, e por essas escolas não fornecerem condições de acessibilidade a esses alunos.

A partir dos resultados obtidos foi possível identificar que essas escolas necessitam: 1 – de um trabalho multidisciplinar para favorecer o desenvolvimento do aluno com PC; 2 - derrubar preconceitos, desenvolvendo programas para orientar os colegas de classe e profissionais envolvidos com a educação desses alunos; 3 – realizar melhorias em sua estrutura física para garantir o acesso e a autonomia desses alunos em todos os ambientes da escola.

O resultado obtido nesta pesquisa demonstra que a contribuição da Fisioterapia no processo de inclusão é benéfica para a criança com PC, pois facilita seu processo de inclusão. Sugerimos que para os próximos trabalhos, realizados com essa perspectiva de atuação do fisioterapeuta na inclusão de alunos com PC no ensino regular, sejam investigados mais alunos e, sobretudo, que se busque trabalhar com alunos que tenham um maior comprometimento motor.

Recebido em: 01/12/2010

Reformulado em: 06/06/11

Aprovado em: 05/07/2011

Como lidar com paralisia cerebral na escola?

Para dar conta das restrições motoras da criança com paralisia cerebral, vale adaptar os espaços da escola para permitir o acesso de uma cadeira de rodas, por exemplo. Na sala de aula use canetas e lápis mais grossos, envoltos em espuma e presos com elástico para facilitar o controle do aluno.

Que recurso pode contribuir para o aprendizado do aluno com paralisia cerebral?

No caso especifico da pessoa com Paralisia Cerebral, pode ser feito o uso da CAA ( comunicação aumentativa e alternativa), especialmente no caso do aluno, ter comprometimento de fala e escrita.

Quais estratégias pedagógicas você enquanto professor pode utilizar com educandos com deficiência visual em sua sala de aula?

Confira, a seguir, 4 estratégias pedagógicas que auxiliarão sua escola a vencer os desafios da inclusão escolar de alunos portadores de deficiência..
Conheça as necessidades de cada aluno. ... .
Promova campanhas de inclusão escolar. ... .
Faça avaliações individuais. ... .
Invista em tecnologia..

Como trabalhar em sala de aula com alunos com deficiência intelectual?

Envolva todo grupo de alunos: Sempre traga o tema do respeito ao tempo do outro, das habilidades individuais e das diferenças para sua prática; Você pode até sugerir que os próprios alunos confeccionem materiais diversificados para auxiliar a aprendizagem de um colega da turma.