O simbolismo russo, uma poética do desencontro Show Palavras-chave: Abstract: Key-words: Como ecos longos que à distância se matizam Há aromas frescos como a carne dos infantes, Com a fluidez daquilo que
jamais termina, Viver do presente eu não posso, No templo de naves escuras, À sombra das colunas altas, Acostumei-me a esta casula São meigos os círios, Sagrada! (Do ciclo Versos sobre a Bela Dama, 1902) É uma poesia platônica revestida de modernidade, uma ponte para o Infinito que supera a tragédia do cotidiano, sublimando-a em um universo inexistente e fantasioso. O símbolo, assim realizado, isto é, teologicamente, é sempre um vínculo que a casta poética sabe utilizar para alcançar o além da consciência individual, ultrapassando assim as fronteiras reduzidas do visível e do presente. A palavra poética assume, desta forma, a capacidade de ser sortilégio, a
miraculosa verificação que aproxima o Poeta do mundo supra-sensível. Nasce, assim, uma fraternidade poética que engloba também pintores como Vrúbel’ e músicos como Skriabin. Em todos eles, reinava a consciência de que, como dizia Biély, a arte era a via mais breve para a religião, onde a palavra “religião” era sistematizada etimologicamente: uma relação correspondente entre o mundo terreno e o celeste. Também Alphonsus de Guimaraens esmerou-se no estabelecimento desse ambiente de coloração religiosa, em que se celebra um ritual, tendo por objeto de culto uma figura feminina. O tema, que poderia escorregar para o erótico, neutraliza a sexualidade por intermédio da descrição do espaço, fechado e sombrio, iluminado tão-somente por velas, mais de uma vez citadas. O amor pela mulher torna-se adoração de um ideal distante, presente, mas inalcançável, logo, puro e virginal (1999, p. 157) Resulta, sem dúvida, curiosa essa proximidade entre o simbolismo russo e o simbolismo brasileiro. Não se trata apenas de um zeitgeist, como dissemos em precedência, o que isolaria a comparação a um mero processo instintivo ou casual. Ao contrário, trata-se de um processo estudado pela teoria da literatura comparada. Tânia Carvalhal sintetiza a relação estreita e profícua entre o conceito de comunidade interliterária, proposto pelo comparatista eslovaco Dionyz Durišin, e uma renovada perspectiva da intertextualidade que não se atem exclusivamente ao diálogo semântico-textual: A ampliação e mesmo complementação das propostas de Even Zohar, contidas em Papers for Historical Poetics (1978/1981), que reúne estudos dos anos 1970, pode ser dada pelos estudiosos de Bratislava, liderados por Dionýz Durišin, que desenvolveram a noção de “comunidades interliterárias”, visando ao estabelecimento de um sistema teórico e metodológico coerente para as relações literárias. As investigações de Durišin e de seus colaboradores não querem apenas identificar os conjuntos históricos das literaturas e das unidades literárias, históricas e analógicas do passado, como conjuntos supranacionais, mas intentam definir conceitos e categorias que possibilitem interpretar melhor as relações que asseguram sua conformação e continuidade. A constituição dessas comunidades interliterárias é de natureza múltipla, condicionada por fatores variados, que podem ser geográficos políticos, lingüísticos, de proximidade de parentesco ou mesmo de analogia de procedimentos artísticos. Além disso, “as comunidades interliterárias não existem nem se desenvolvem isoladamente, mas através de uma interação variável com seu contexto”. Por isso, cada literatura nacional pode tornar-se, ao longo de seu desenvolvimento histórico, um componente de várias comunidades interliterárias, não se constituindo essas em sistemas fechados ou invariáveis. Essa proposta teórica nos permite reavaliar noções como a da literatura nacional, examinando-a em suas articulações com outras literaturas (2003, pp. 83-85). A comparação com as literaturas européias ocidentais é ainda mais evidente e produziu inúmeros textos teórico-críticos que têm fundamentado as divergências, mas também, os pontos em comum, entre as poéticas simbolistas russa e francesa, especialmente. *** Quando Aleksandr Blok morreu, “puro cisne”, como escreverá Anna Akhmátova, com pouco mais que quarenta anos, também os poetas mais detratores dirão que a poesia russa tinha perdido a sua voz mais genuinamente mística. Marina Tsvetáieva que re-escreveu, à sua maneira, de Blok um ciclo inspirado a Carmen, reinventa o símbolo poético incluído no próprio sobrenome “Blok”: Versos a Blok Na mão – um pássaro que cala, Um seixo, atirado num lago calmo, Teu nome – ah, não consigo! A lírica de Blok se caracteriza pelo paradoxo da presença de elementos dissonantes e a confusão quase
surrealista de imagens que se repetem como as máscaras, a tempestade de neve, as ruas desertas, as prostitutas, os palhaços, os sósias – mistério da eternidade e da repetibilidade do Ser – e, finalmente, a trivialidade à qual o herói lírico sente-se atraído poderosamente. Noite. Fanal. Rua. Farmácia. Morres – e tudo recomeça, (Do ciclo Dança de morte, 1912) Efim Etkind, um dos maiores especialistas de poética e versificação russa, escreve que no breve lapso de quinze anos, Blok conseguiu “criar um novo sistema poético, de excepcional força e originalidade, que se apresenta, ao mesmo tempo, unitário e fragmentário. Unitário, porque os seus fatores principais ficam invariáveis ao largo dos quinze anos; fragmentário, porque a obra de Blok se divide em vários períodos que pareceriam negar-se reciprocamente” (1989, p. 159). Etkind continua: “O princípio unitário sobre que se fundamenta a poética de Blok se reduz à afirmação da existência de dois mundos: por meio da obra poética, dedicada ao que está próximo, transparece o que está distante” (1989, p. 160). Sinteticamente, essa é uma ulterior definição da poética simbolista, em que resulta evidente que a divisão fortemente dicotômica dos universos espiritual e terreno faz perder qualquer rastro de matéria, de objetualidade, de densidade corporal. O espírito é tão dominante e paira tão sufocante, que também em certas líricas onde o símbolo parece abrir-se a uma perspectiva menos sombria, a palavra poética quase se dirige à pura sonoridade, um fluxo que de-semantiza o significado intrínseco para designar um som, uma sensação, um desengano. Fábrica No prédio há janelas citrinas. E os portões fechados, severos; Eu, dos meus cimos, tudo ouço: Eles hão de entrar à porfia, *** Canção para guitarra Eu Burla No Ante Velho A Vós E – Um dia Em E - Amor universal. Vós Parastes Vós – O barrete Vós – - “Este Vós – O – A palavra Na febre de som Lá fugindo da laringe, Expiram Deposita-se a crosta Sobre o mundo formado Profundamente ora E do futuro Por onde em chamas, consumido, 1. Universidade Católica de Budapeste, PPKE 2. A tradução desse poema é de Aurora F. Bernardini. Cf. Marina Tsvetáieva, Indícios flutuantes. São Paulo: Martins Fontes, 2006, pp. XLVII-XLVIII. Quais são as principais características do Simbolismo?As principais características do Simbolismo são elementos místicos e transcendentais, subjetividade, musicalidade e presença de figuras de linguagem como a sinestesia. Essas características do Simbolismo se referem a linguagem e ao estilo de escrita feitas pelos escritores simbolistas.
Qual das opções abaixo expressam características do Simbolismo?Alternativa correta: b) subjetivismo, pessimismo e misticismo. O simbolismo foi um movimento literário que surgiu no final do século XIX na França.
O que representa o Simbolismo?Simbolismo é um substantivo masculino que significa um sistema de símbolos ou forma de expressão que utiliza símbolos para indicar fatos e ideias. Além disso, simbolismo também é o nome de um movimento literário que teve início no final do século XIX.
Quais as principais características do Simbolismo autores e obras?O Simbolismo surgiu na França, com a publicação do livro As flores do mal (1857), de Charles Baudelaire (1821-1867). De maneira geral, possui as seguintes características: misticismo, musicalidade, rigor formal, uso de reticências, valorização do mistério, maiúscula alegorizante e sinestesia.
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