Quais os cuidados com a criança em relação às vias de administração?

Para a administração de medicação intravenosa a crianças são necessários conhecimentos científicos que salvaguardam a segurança do doente. Há que estar atento a vários princípios dos quais destacamos: o modo de abordagem da criança/jovem e família, a prescrição certa, a idade, o peso, a via de acesso e as condições do paciente. Neste artigo descrevem-se princípios que o enfermeiro deve sempre considerar.

Adoecer constitui para as crianças e jovens um acontecimento não esperado que as expõem a vulnerabilidades de ordem física, social e psicológica condicionadas pela gravidade da doença, pelas restrições ambientais que provoca e pelo medo que sentem dos tratamentos e procedimentos. A par da Hospitalização um dos procedimentos que lhes suscita maior receio é a administração de medicação por via intravenosa ou intramuscular.

A administração de medicação é a forma mais comum de intervenção nos cuidados de saúde. Existem diversas vias de administração de medicação como a via oral, a via intramuscular, a via intravenosa, a via sub-lingual, a via rectal, a via sub-cutânea, a via intradérmica e a inalatória. Em Pediatria as mais usadas são a via oral e a via intravenosa, sendo que para algumas substâncias importantes a via intravenosa é a única via de administração possível.

A menor opção de administração de medicamentos por via intramuscular explica-se pelo facto de a massa muscular das crianças ser aproximadamente 38% menor que a do adulto, e por esse facto são poucos os locais recomendados para a administração intramuscular em Pediatria, daí a opção pela via intravenosa em crianças.

Outra explicação para a alta frequência de utilização de administração de medicamentos por via intravenosa nesta faixa etária deve-se ao facto de serem cada vez mais complexos os cuidados prestados às crianças e jovens.

A via intravenosa é o principal acesso para a administração de medicamentos em recém-nascidos internados em Unidades de Cuidados Intensivos neo-natais, sendo vital para sua sobrevivência.

A via intravenosa utiliza-se sempre que é preciso administrar medicamentos em crianças que apresentem absorção deficiente como resultado de diarreia, desidratação ou colapso vascular periférico; crianças que necessitam de uma alta concentração sérica de uma substância; crianças com infecções resistentes que precisam de medicação parenteral por um período de tempo prolongado, crianças que necessitam de alívio contínuo da dor e crianças em situações de emergência.

A administração de medicamentos por via intravenosa não se resume a simples execução de técnicas e à implementação de uma terapêutica pois existem riscos que é preciso considerar.

Existem mais riscos na administração de medicamentos a crianças do que a doentes adultos. As crianças variam muito na idade, no peso, na área de superfície corporal, e na capacidade de absorver, metabolizar e excretar os medicamentos.

Um outro problema reside no facto de existirem muito poucas dosagens pediátricas padronizadas, sendo necessária uma atenção redobrada na preparação e administração destes medicamentos pois as crianças reagem com gravidade inesperada a algumas substâncias, sendo as crianças doentes ainda mais sensíveis.

Outro problema a considerar é o facto de a administração parenteral de medicamentos contribuir de modo significativo para o aumento do risco de doenças iatrogénicas sobretudo bacteriemias. Para minimizar este risco é necessário que se adoptem boas práticas nos procedimentos para a preparação e administração de terapia endovenosa, devendo existir procedimentos escritos como guias de boas práticas ou manuais com orientações sobre a reconstituição, diluição, conservação e estabilidade físico-química de medicamentos, efeitos colaterais e incompatibilidade medicamentosa de fármacos e soluções.

De modo a diminuir a possibilidade de ocorrência de erros são também muito importantes o desenvolvimento e implementação de sistemas de notificação de erro e incidentes adversos que ajudam a tomar medidas correctoras que consigam reduzir as complicações relacionadas.

Cuidados de Enfermagem na administração de medicação intravenosa

A prescrição certa, a escolha do tipo de cateter e acessórios para a perfusão, a obtenção do acesso, a preparação e administração de fármacos e soluções, os cuidados a ter na manutenção do acesso, a necessidade ou não de imobilização, o controle das perfusões, o alívio da dor no procedimento, a prevenção de complicações e monitorização constantes estão entre as principais acções para a promoção da eficácia e da segurança da criança em terapia intravenosa.

O local escolhido para a administração intravenosa a crianças depende da acessibilidade e da conveniência, contudo devem ser consideradas a idade, as necessidades de desenvolvimento, cognitivas e de movimento quando se escolhe o local a puncionar. As crianças mais velhas devem ser consultadas pois podem ter preferência pelo local de modo a poderem mobilizar-se melhor. Os locais mais utilizados são o dorso da mão, antebraço e braço. Se houver dificuldade em encontrar um acesso nos membros superiores podem ainda utilizar-se o dorso do pé, o tornozelo, e no pescoço a veia jugular. As veias superficiais do couro cabeludo podem ser utilizadas em bebés muito pequenos até cerca dos 9 meses, mas só em situações extremas em que não é possível encontrar outros locais. Se o local escolhido for as extremidades deve começar-se pelos locais mais distais e evitar a mão dominante de modo a reduzir a incapacidade associada ao procedimento. O local seleccionado deve restringir o mínimo possível os movimentos da criança. Devem também ser evitados locais sobre articulações, e extremidades como o espaço antecubital. As veias do pé devem ser evitadas em crianças que já andam ou que estão a aprender a andar.

A escolha do cateter e do seu calibre deve ser adequada ao tamanho da criança bem como à duração do tratamento, sendo os mais utilizados os cateteres 24G e os 22G.

Antes de ser administrada a terapêutica endovenosa os Enfermeiros devem ter presentes nove regras, ou nove certos, indispensáveis à segurança e qualidade da terapia, a saber:

O doente certo - verificar sempre a identidade correta da criança através da pulseira de identificação, da própria se tiver idade, e dos pais ou pessoa significativa presente.

Medicamento certo - Antes de preparar a medicação certificar-se mediante a prescrição de qual é o medicamento, e conferir lendo mais de uma vez, o rótulo do mesmo. Pedir a uma colega que confirme, procedimento necessário em alguns medicamentos.

Dose certa - Antes de administrar a medicação certificar-se da dose na prescrição, lendo uma e outra vez.

Via certa - Antes de administrar a medicação, certificar-se da via mediante prescrição, lendo mais de uma vez e só depois aplicar.

Hora certa - Administrar no horário previsto na prescrição, e no espaço de tempo de terminado, 6/6h, 8/8h, 12/12h.

Tempo certo - Respeitar o tempo previsto na prescrição, programar corretamente as bombas ou seringas perfusoras ou controlar adequadamente o gotejo monitorizando dessa forma o tempo previsto para a perfusão.

Validade certa - Antes de preparar a medicação deve ser verificada a data de validade.

Abordagem certa - Antes de administrar o medicamento deve ser explicado o procedimento à criança e aos pais e implementadas medidas para aliviar a dor, se necessário.

Registo certo - Registar a medicação administrada, bem como a existência de incidências ou complicações.

Podem ocorrer complicações na administração de medicação intravenosa.

As complicações mais frequentes são:

  • Hematomas: decorrem da tentativa de punção venosa ou punção inadvertida de artéria;
  • Flebite: inflamação na veia, a criança refere dor e o local fica sensível ao toque. Devem-se vigiar sinais inflamatórios no local de inserção do cateter, (dor, calor rubor e edema);
  • Infiltração: extravasamento da solução ou medicação fora da veia, a pele fica tensa, fria e com edema.
  • Obstrução: quando a perfusão é interrompida formando-se um coágulo dentro do dispositivo e não existe retorno do fluxo de sangue.

Complicações menos frequentes:

  • Infecção: causada por assepsia inadequada nos procedimentos;
  • Choque anafilático: reação alérgica potencialmente grave a determinados medicamentos;
  • Embolia gasosa: ocorre por entrada maciça de ar na veia. Pode trazer desconforto respiratório, pulso e TA diminuídos e perda de consciência.

A dor associada ao procedimento

A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável que resulta da lesão real ou potencial dos tecidos associada aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos.

Dentre os procedimentos invasivos realizados a crianças nos serviços de saúde a punção venosa destaca-se como o procedimento a que as crianças mais vezes são submetidas, seja por motivos de diagnóstico seja para administração de terapêutica.

Estes procedimentos percepcionados pela criança como dolorosos representam um factor elevado de desconforto e stress cuja minimização deve ser valorizada, através da gestão da dor com implementação de medidas farmacológicas e estratégias não farmacológicas associadas.   

O medo e a ansiedade das crianças contribuem para agravar a dor sendo a presença dos pais fundamental durante a realização dos procedimentos pois torna a criança menos ansiosa e mais segura. A colaboração dos pais deve ser negociada e adequada ao papel parenteral desejado para o momento.

É importante a “preparação psicológica da criança” em que os Enfermeiros realizam um conjunto de estratégias destinadas a tranquilizar a criança e a família e obter a sua colaboração para o procedimento. 

Os Enfermeiros, compreendendo a dor nas crianças, e perante um procedimento que sabem ser doloroso, devem fazer tudo para evitar a dor, utilizando de preferência mais do que um processo recorrendo à combinação de diferentes métodos farmacológicos e não farmacológicos.

Um dos métodos farmacológicos utilizados para minimizar a dor na punção venosa em crianças é a aplicação de anestesia tópica da pele e em casos de repetição do procedimento pode utilizar-se a sedação.

As estratégias não farmacológicas devem ter em conta a idade da criança e o seu desenvolvimento cognitivo, a sua história de dor, e o envolvimento dos pais. Para os bebés o embalo, o colo, a massagem, a sucção não nutritiva e o leite materno são estratégias a utilizar. Para as crianças maiores e adolescentes são utilizadas a informação antecipatória, a distracção com a música e a leitura, a imaginação guiada, o reforço positivo, o relaxamento e a simulação e modelação.

Bibliografia
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Oliveira Joseph, Lemos Izabel, et al - BRINQUEDO TERAPÊUTICO INSTRUCIONAL NO PREPARO DA CRIANÇA PARA PUNÇÃO VENOSA: CONTRIBUIÇÕES À ENFERMAGEM PEDIÁTRICA. Acedido em: http://www.abeneventos.com.br/anais_senpe/17senpe/pdf/0760co.pdf
Rodrigues, Elisa - Os significados da prática da terapia intravenosa em uma unidade de terapia intensiva neonatal do Rio de Janeiro vol. 44, n. 4, out./dez., 2008 http://www.scielo.br/pdf/rbcf/v44n4/v44n4a14.pdf
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*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.

Quais os cuidados de enfermagem para administração de medicamento em crianças?

Verifique todos os cálculos da dose e a dose especificada, se possível utilizando uma calculadora; Esclareça aos pais e cuidadores a razão pela qual o medicamento foi prescrito, a dose e instruções corretas para administração – demonstre como medir e administrar a dose, se necessário.

Quais os cuidados com as vias de administração?

5 dicas para não errar na administração de medicamentos.
Siga a regra dos 9 certos. ... .
Leia cuidadosamente os rótulos e a ficha do paciente. ... .
Monitore as reações do medicamento. ... .
Tenha um espaço tranquilo para preparar a medicação. ... .
Organize o espaço de armazenamento..

Quais as vias de administração de medicamentos em criança?

Em Pediatria as mais usadas são a via oral e a via intravenosa, sendo que para algumas substâncias importantes a via intravenosa é a única via de administração possível.

Quais os cuidados de enfermagem em cada via de administração?

Cuidados na Administração de Medicamentos.
Medicação certa..
Paciente certo..
Dose certa..
Via certa..
Horário certo..
Registro certo..
Ação certa..
Forma farmacêutica certa..