Quais são os problemas sociais e econômicos presentes nos países latino

Desafio de conter o vírus da Covid-19 aumenta para países com problemas econômicos e sociais como os latino-americanos; estratégias têm resultados positivos e negativos. 

*Mathias Boni / Assuntos internacionais

Pela distância geográfica da China (epicentro inicial da pandemia global do novo Coronavírus) a América Latina foi das últimas regiões a ver a chegada do vírus em seu território. Pela fragilidade econômica, no entanto, além de ter a maior desigualdade social do planeta, o continente pode ser um dos mais gravemente atingidos. O Brasil registrou o primeiro caso latino-americano de Covid-19 (nome técnico atribuído à doença) no dia 26 de fevereiro, seguido por um caso no México, dois dias depois.

Por mais que pareça muito mais tempo, estamos lidando com esse vírus aqui, oficialmente, há apenas seis semanas e já contabilizamos cerca de 65.000 casos e quase 3.000 mortes registradas, sem contar a grande subnotificação em razão da insuficiência de testes (dado que torna o Brasil, por exemplo, o país que menos testa entre os mais atingidos pelo vírus).

O governo federal brasileiro vem falhando em comandar um plano de ação efetivo, que ajude a controlar a pandemia. Devido à baixíssima quantidade de testes, o número de casos oficiais está bem longe do número real, o que pode dar uma falsa sensação de que a situação não é tão séria assim – mas é: basta notar o grande aumento de internações e óbitos por “problemas respiratórios” atualmente em comparação ao ano passado.

Enquanto isso, nos outros países da América Latina há exemplos positivos e negativos de combate ao vírus, que podem também inspirar o Brasil a enfrentar o vírus com mais sucesso.


Bons exemplos

Dentre os países da América Latina que têm apresentado os melhores resultados no combate ao vírus está o Chile, pelo menos no que diz respeito ao baixo número de mortos. O país andino se preparou com muita antecedência para a chegada da epidemia, aumentando sua rede hospitalar e qualificando vários laboratórios no país para realizar testes em massa na população, tendo capacitado 49 laboratórios no país todo para rapidamente detectar o vírus.

Quais são os problemas sociais e econômicos presentes nos países latino
Funcionamento do sistema de saúde do Chile ainda tem garantido baixo número de mortos. Foto: Getty Images.

Por sua política de testes massivos, os chilenos já confirmaram pouco mais de 7.000 casos. Mas como eles também testam pessoas assintomáticas e possuem uma política de isolamento e monitoramento muito efetiva, interrompem a cadeia de contágio com antecedência, além de terem condições de prestar tratamento adequado aos doentes. Para se manter assim, também aplicaram medidas de supressão para conter o avanço da pandemia, suspendendo aulas, fechando fronteiras, cancelando eventos públicos, obrigando a população a usar máscaras na rua e até fazendo quarentenas obrigatórias em regiões chaves do país.

Apesar do sucesso momentâneo, antecipar medidas de flexibilização da restrição de circulação das pessoas agora seria um erro, visto que a epidemia ainda está longe do fim. Por mais que ainda ocorram reclamações contra essas medidas por parte da população, incluindo denúncias de truculência dos “carabineros” (como é conhecida a polícia por lá), a resposta rápida do governo fez crescer até a popularidade do presidente Sebastián Piñera, profundamente abalada desde os protestos públicos contra sua administração no ano passado.

Outros países que apostaram como o Chile em grandes quantidades de testes e isolamento precoce dos infectados são o Panamá e, principalmente, a Costa Rica, que consegue manter uma taxa de letalidade ainda mais baixa que a dos chilenos.

Vale destacar também como casos de sucesso o Uruguai e Cuba. Os uruguaios, que viram Lacalle Pou assumir o governo em 1º de março e já ter que lidar com essa crise, conseguem manter sua taxa de letalidade por volta de 1,5% graças à grande adesão da população ao distanciamento voluntário e às outras medidas de contenção. Cuba, por outro lado, se destaca mais uma vez pela já notória grande capacidade do sistema de saúde pública, tanto para atender a população local quanto para mandar equipes de médicos para auxiliar outros países, como a Itália. Durante a pandemia, Cuba já mandou equipes para 17 diferentes países.


Tragédia no Equador é alerta 

O primeiro grande epicentro de descontrole da pandemia na América Latina foi Guayaquil, a maior cidade do Equador. Isso ocorreu principalmente por causa do menosprezo do governo federal à seriedade do vírus, que cometeu uma série de erros até a situação sanitária do país ficar insustentável. O governo não preparou o sistema de saúde antecipadamente, e também demorou para adotar medidas de restrição de circulação da população e para controlar as fronteiras. Por conta disso, os equatorianos demoraram a entender a gravidade da situação e não respeitaram as orientações iniciais de isolamento.

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Com sistema funerário em colapso, corpos de mortos por Coronavírus são recolhidos por equipes de saúde em Guayaquil, no Equador. Foto: Vicente del Pino/Reuters.

Pela falta de preparo da administração de Lenín Moreno, o diagnóstico de confirmação do primeiro caso oficial  veio somente 14 dias depois da paciente ter chegado ao país. Nesse meio tempo, o estrago já estava feito. Os casos cresceram rapidamente, assim como o número de óbitos, até que o sistema de saúde de Guayaquil entrou em colapso. Os hospitais ficaram lotados e as pessoas com outras doenças, com medo, deixaram de buscar auxílio médico. O necrotério da cidade também acabou lotado, e com o colapso também do sistema funerário, os corpos dos mortos começaram a se acumular, nos hospitais, nas casas das pessoas, e até nas ruas, cobertos de sacos plásticos, onde ficavam vários dias, até a prefeitura conseguir recolher. Na semana passada, o governo chegou a produzir mil caixões de papelão.

O governo equatoriano já mudou sua postura, porém, tardiamente. O país já declarou estado de exceção e emergência sanitária, fechou as fronteiras e aplicou medidas de supressão, incluindo um toque de recolher à população. Entretanto, sendo apenas a oitava maior população da América Latina, os mais de 330 mortos oficiais fazem do Equador o segundo país onde morreram mais pessoas por Covid-19 na região, atrás somente do Brasil – e há evidências de que esse número possa ser muito maior.

Dois países têm as situações mais preocupantes no médio prazo. A Venezuela, pela grave crise humanitária que enfrenta há alguns anos, em meio às medidas populistas e autoritárias do presidente Nicolás Maduro, de um lado, e das sanções econômicas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, de outro; e o Haiti, país mais pobre de toda América Latina. Ambos são os focos da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da ONU (Organização das Nações Unidas) em relação ao enfrentamento da pandemia na região no momento. A Venezuela já reconheceu por volta de 200 casos em seu território, e o Haiti apenas 30, o que denota acima de tudo a evidente subnotificação e a falta de capacidade de lidar com o vírus que existe nos dois países.

O regime venezuelano até tomou medidas interessantes para aplacar o avanço do vírus, como isolamentos e o controle de fronteiras, mas não tem condições de combater adequadamente a pandemia, considerando todos os recursos médicos e higiênicos que o sistema de saúde nacional e a população necessitam para tanto, e que simplesmente não têm. Situação ainda pior vive o Haiti, devastado pela pobreza e por desastres naturais há muitos anos, que resultaram na falência total do estado. Por essas razões, tanto a Organização Pan-Americana de Saúde quanto outros órgãos internacionais ligados à ONU enviaram equipes técnicas e equipamentos médicos tanto para Venezuela quanto para o Haiti. Hoje, são essas equipes que lideram os esforços para conter o avanço do vírus nesses territórios.

Também é importante também ficar de olho na evolução da epidemia no Peru, onde os casos começaram a crescer rapidamente nos últimos dias, sendo o único país da região além de Equador e Brasil até agora a confirmar mais de mil novos casos em apenas um dia.


Potências econômicas têm situações distintas  

Depois do Brasil, México e Argentina são as maiores potências econômicas da América Latina, e esses dois países reagiram de maneira bastante distinta à pandemia. O México, na figura de seu presidente, Andrés Manuel López Obrador, desprezou a seriedade do vírus durante praticamente um mês inteiro. Os mexicanos confirmaram o primeiro caso em 28 de fevereiro, e durante quase todo mês de março Obrador seguiu fazendo aparições públicas, frequentando eventos com multidões, cumprimentando pessoas nas ruas e incentivando a população a fazer o mesmo.

A postura do presidente mexicano se deve em parte ao temor de que o México sofresse um impacto econômico muito grande com paralisações, visto que o país se recupera de uma grave recessão desde o ano passado, e em parte à própria irresponsabilidade do presidente, cuja postura custará muitas vidas. A mudança de atitude no México veio somente no final de março, quando o aumento dos casos ficou grande demais para ser ignorado e com parte da população já em revolta. No dia 27, Obrador fez um pronunciamento à nação finalmente reconhecendo que estava errado, e pedindo para a população aderir ao isolamento voluntário. Antes, sua posição fora comparada pela revista britânica The Economist à do presidente brasileiro Jair Bolsonaro (um dos poucos líderes mundiais que ainda titubeiam no enfrentamento ao Coronavírus).

Já o presidente argentino, Alberto Fernández, reagiu à chegada do Coronavírus à Argentina de maneira inversa ao mandatário mexicano – e, por tabela, ao brasileiro. Fernández rapidamente apresentou um conjunto de medidas para conter o avanço da pandemia, fechando fronteiras, controlando aeroportos e principalmente sendo o primeiro presidente na América Latina a decretar quarentena total. Fernández também foi rápido em apresentar um pacote de medidas econômicas protegendo os socialmente mais vulneráveis, o que contribuiu efetivamente para a população aderir às medidas de restrição de circulação.

Todas essas ações celeremente adotadas resultaram no controle da fase inicial pandemia. No dia 7 de março, os argentinos confirmaram a primeira morte por Coronavírus de toda a região latino-americana, antes mesmo do Brasil; mais de um mês depois, registram apenas 100 mortes, enquanto o número que assusta os brasileiros já passou de 1.500. Nos últimos dias, porém, empresários e comerciantes argentinos vêm aumentando a pressão para flexibilizar a quarenta. Fernández, que também tem que lidar com uma crise financeira, já disse que a quarentena vai continuar, mas que algumas concessões deverão ser feitas nos próximos dias, dependendo de como o número de casos evoluir.


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Quais são os problemas sociais e econômicos presentes nos países latino
*Mathias Boni é advogado, com especialização em Direito Internacional e Direitos Humanos e Mestrado em Migração Internacional e Direito dos Refugiados. É aluno do curso de Jornalismo da Fabico/UFRGS e mantém coluna sobre assuntos internacionais no portal Humanista ao longo de 2020. Contato: .


Quais são os problemas sociais e econômicos presentes nos países latino

A desigualdade tem muitas faces. A riqueza obscena de poucos, contra a pobreza de muitos; a falta de oportunidades educacionais para as crianças, porque a educação é cara na América Latina; o racismo latente; a violência contra mulheres, povos indígenas, negros ou membros de minorias sexuais; a criminalidade.

Quais são os principais problemas sociais enfrentados pela América Latina?

Outros problemas podem ser citados: pavimentação e iluminação pública deficiente; má conservação de ruas e avenidas; e, sobretudo, crescimento de habitações precárias, que retratam as desigualdades sociais que marcam as cidades latino-americanas e outras do mundo.

Quais os 3 principais problemas dos países latino

O crime é o problema mais importante para 22% dos latino-americanos, superado apenas pelos problemas econômicos como o desemprego (16%), a escassez de alimentos (3%), inflação (3% ) e a pobreza (3%).

Quais as dificuldades os países da América Latina enfrentam em seu processo econômico?

A crise econômica e o modelo neoliberal A maioria dos países latinos sempre conviveu com inflação, que corresponde a aumentos constantes nos produtos e taxas de juros bastante elevadas. Na década de 80 não houve nenhuma expectativa de melhora, independente do seguimento, por isso ficou conhecida como a década perdida.

Qual é a origem dos problemas sociais na América Latina?

As causas da desigualdade remontam aos tempos coloniais. Têm suas origens na exploração impiedosa da população indígena e no igualmente impiedoso modelo econômico de extrativismo e monoculturas.