Qual a relação do multiculturalismo com a globalização?

1 Revista Eventos Pedagógicos v.3, n.2, p , Maio - Jul O MULTICULTURALISMO E A GLOBALIZAÇÃO Andr&ea...

Revista Eventos Pedagógicos v.3, n.2, p. 301 - 307, Maio - Jul. 2012

O MULTICULTURALISMO E A GLOBALIZAÇÃO

Andrés Máximo Molina López Jocilene Rocha da Cunha Roberto Alves de Arruda

RESUMO

Neste trabalho se aborda o tema de globalização e multiculturalismo. De forma suscinta apresentamos a conceituação de globalização e multiculturalismo, destacando a análise no seu aspecto cultural. Ressaltamos a íntima ligação relacional entre a globalização e o multiculturalismo, delinhada por uma hegemonia ideológica e econômica atrelada aos interesses do sistema capitalista. Concluimos o artigo registrando algumas considerações, principalmente da necessidade de tomada de conciência dos diversos grupos sociais a fim de preservar a sua identidade cultural.

Palavras-chave: Globalização. Multiculturalismo. Capitalismo.

1 INTRODUÇÃO

Para superar a existência de grupos oprimidos, o multiculturalismo implica conquistas e reivindicações, de modo a evitar as formas diversas de opressão, exclusão e dominação, pluralidade de culturas e evolução da globalização tornam necessária uma análise do multiculturalismo e das mudanças sociais, principalmente da diversidade cultural. Por Graduado em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), pós-graduado em Administração em Marketing pela Universidade Dom Bosco (UCDB), pós-graduado em Psicologia Organizacional pela Universidade Estácio de Sá (UES). Pós-graduando no Curso de Especialização Docência no Ensino Superior pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Graduada pela Universidade do Norte de Paraná (UNOPAR), pós-graduada em Psicopedagogia pela Faculdade de Sinop (FASIP). Pós-graduanda no Curso de Especialização Docência no Ensino Superior pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Graduado em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Mestre em Ciências Sociais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Trabalho, Educação e Práticas Sociais (GEPTEPS). Concursado na área de Metodologia de Ensino no Departamento de Pedagogia do Campus Universitário de Sinop, (UNEMAT).

meio de seus movimentos, o multiculturalismo imporá barreiras à propagação de uma forma de globalização hegemônica. Por um longo período devido à globalização capitalista, o multiculturalismo foi esquecido. Na época, não interessava compreender o outro e reconhecer suas diferenças; o verdadeiro interesse era obter o lucro, nem que para isso fosse necessário travarem-se lutas entre os povos. Assim, a sociedade era dominada pela economia. Dessa forma, as globalizações do capitalismo acarretaram sérias implicações para as culturas. Kellner, citado por Torres (2001, p.90), argumentou:

Cultura é hoje um terreno particularmente complexo e contestado, à medida que as culturas globais invadem as locais e que surgem novas configurações unindo os dois polos, pondo em ação forças contraditórias de colonização e resistência, de homogeneização global e de formas e identidades locais híbridas.

2 CONCEITUAÇÕES: globalização e multiculturalismo

A globalização é um fenômeno do modelo econômico capitalista, que consiste na interligação econômica, política, social e cultural em âmbito mundial. Iniciou-se na era dos descobrimentos e foi se desenvolvendo a partir da revolução industrial. Embora fosse ignorada por longo tempo, hoje é estudada e analisada por muitos. Vários estudiosos destacam a globalização cultural como a forma mais visível e efetiva do processo de globalização. Segundo eles a mesma chega a se desdobrar em efeitos políticos de alterações sócio-culturais que levam a uma insegurança social e vai diminuindo cada vez mais as oportunidades dos grupos sociais interagirem ou se comunicarem. No entanto através da necessidade de uma forma educacional de proteção às culturas minoritárias que surge os movimentos sociais hoje denominados multiculturalismo. É nesta linha de pensamento que Tomaz Tadeu da Silva (2004, p.89) chamou a atenção para o surgimento do multiculturalismo relacionado à educação:

Nos Estados Unidos o multiculturalismo originou-se exatamente com uma questão educacional ou curricular. Os grupos culturais subordinados - ás mulheres, os negros, e os homossexuais – iniciaram uma forte crítica á aquilo que consideravam como o cânon literário, estético e científico do currículo universitário tradicional. (SILVA, 2004, p. 89).

A noção de multiculturalismo, em sentido amplo, pode mudar de um lugar para outro. Algumas pessoas vêem o multiculturalismo como uma filosofia anti-racista; outras, como uma maneira de reforma educacional; outras como proteção da diversidade cultural, e dos direitos das minorias, ou o vêem como uma neutralidade, entendendo ser uma simples Página 302 - Andrés Máximo Molina López, Jocilene Rocha da Cunha e Roberto Alves de Arruda

pluralidade de culturas. O multiculturalismo para pessoas diferentes pode significar coisas diferentes. No entanto, não importa o modo de vê-lo, mas sim de efetivá-lo como um fim social que está sempre em prol de direitos de certos grupos. Na classificação de Mclaren (1997, p.311), “é possível identificar quatro possíveis tendências de multiculturalismo: o multiculturalismo conservador, o multiculturalismo humanista liberal, o multiculturalismo liberal de esquerda e o multiculturalismo crítico e de resistência ou multiculturalismo revolucionário”. Freire (1991, p.19) em sua importantíssima obra, Pedagogia do oprimido, chamou a atenção para a importância dos movimentos sociais para a libertação dos oprimidos. Segundo ele: “esses grupos não são capazes, muitas vezes, por si só de libertar-se, pois, enquanto tocados pelo medo da liberdade, se negam a apelar a outros e a escutar o apelo que se lhes faça ou que tenham feito a si mesmos, preferindo a gregarização à convivência autêntica”. Assim, para superar a existência de grupos oprimidos, o multiculturalismo implica conquistas e reivindicações, de modo a evitar as formas diversas de opressão, exclusão e dominação. A pluralidade de culturas e a evolução da globalização tornam necessária uma análise do multiculturalismo e das mudanças sociais, principalmente da diversidade cultural. Por meio de seus movimentos, o multiculturalismo imporá barreiras à propagação de uma forma de globalização hegemônica.

3 O REDUCIONISMO ECONÔMICO DA GLOBALIZAÇÃO

A globalização caracteriza inúmeras áreas, não somente a econômica. Trata-se de um fenômeno abrangendo as dimensões econômicas, sociais, políticas e culturais. Segundo Boaventura de Sousa Santos (2002, p.434.), “nos debates acerca da globalização, há uma forte tendência para reduzi-la às suas dimensões econômicas, ou seja, à denominada globalização hegemônica”. No entanto, a globalização reflete-se em aspectos sociais, políticos, culturais, razão pela qual se fala em globalização de modo geral (que inclui as diversas dimensões da globalização), e não apenas sob a perspectiva econômica. Ao analisar-se o conceito de globalização, na visão do referido autor, nota-se a importância de tratar o impacto da globalização numa sociedade multicultural, ou melhor, abordar as políticas multiculturais como forma de combate à globalização hegemônica. No entanto, a relação entre multiculturalismo e globalização é de certa forma, ambígua, pois, de acordo com Boaventura (2003, p.433), “aquilo que habitualmente é

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chamado de globalização constitui, de fato, conjuntos diferenciados de relações sociais”. Com a existência dessas relações sociais, a globalização gera conflitos e, como resultado, haverá povos ou culturas vencedoras e vencidas. A globalização é mal vista por teóricos multiculturalistas, pois produz diversos pontos negativos à diversidade cultural, tais como o surgimento das desigualdades sociais e dos grupos minoritários. Nesse sentido, Ianni (2000, p.03), afirmou que, “o fenômeno da globalização é como se fosse um terremoto inesperado e avassalador, provocando transformações mais ou menos radicais em modos de vida e trabalho, formas de sociabilidade e ideais; hábitos e expectativas, explicações e ilusões”.

4 O CAPITALISMO E A GLOBALIZAÇÃO

A globalização hegemônica, que teve sua origem no Ocidente, faz tornar conhecido em todo o cosmo uma ideologia capitalista, que busca uma fusão mundial dos mercados. Muitas vezes, essa ideologia coloca em conflito várias culturas, que cada vez mais se tornam homogêneas, contrariando dessa forma as políticas multiculturais. As sociedades capitalistas exigem representações diferenciadas em poder e política, e favorecem a iniquidade por meio de hierarquias e interesse competitivo, e a desigualdade, por intermédio de um sistema em busca do lucro. Observa-se, assim, uma relação entre multiculturalismo, globalização e capitalismo, pois o capitalismo propicia a globalização, e esta influencia as políticas multiculturais, porém sob aspecto negativo, na medida em que cria classes dominantes sendo que estas classes dominantes oprimem grupos menos favorecidos, o que acarreta exclusão social, econômica e política de pequenos trabalhadores. Como consequência, haverá vários grupos em condições financeiras precárias e uma concentração de rendas e riquezas nas mãos de poucas pessoas. Dessa maneira, a globalização vem robustecendo a riqueza de uns poucos e verticalizando a pobreza e a miséria de milhões. No entanto muitas vezes, possuem em seu favor unicamente os direitos humanos e, ao buscarem sua proteção, acabam por eliminar uma ideologia hegemônica. A tradição dominante dos direitos humanos está relacionada com a filosofia ocidental, intimamente ligada ao liberalismo, ao individualismo e ao comércio. Dessa forma, pode-se dizer que os direitos humanos (direitos civis e políticos) tiveram sua origem no Ocidente. Isso fez com que suas fundamentações fornecessem apoio à globalização hegemônica.

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Hoje, a chamada globalização capitalista, sobrecarregada de formas da globalização hegemônica, iniciada a partir do século XV, com a chegada das sociedades industriais, promove uma fragmentação cultural. Para melhor explicar a homogeneização cultural, recorre-se a um comentário exposto por Santos (2003, p.558), acerca do capitalismo global:

[...] há muitas evidências de que o capitalismo de mercado tende a quebrar e eventualmente a destruir a propriedade comunal ou comum da terra, e com isso os laços e a coesão da comunidade. Ele introduz novos valores que desenraizam modos tradicionais de pensar e agir. Quebra a família nuclear ou ampliada, em torno da qual estão estruturados valores e rituais da cultura.

De acordo com Souza (2001, p.44) “o modelo de globalização existente tem provocado diversas „transculturações‟, especialmente ao longo dos últimos 50 anos. Por ora, o desafio é promover uma igualdade material entre os diversos grupos por meio do reconhecimento de suas diferenças, de forma a evitar grupos oprimidos”. Sendo assim, o multiculturalismo passa a ser grande instrumento teórico dos desfavorecidos, que buscam ver assegurada a sua dignidade, por meio da igualdade de oportunidades e do respeito a sua identidade.

5 CONCLUSÃO

O marco inicial da diversidade cultural é do multiculturalismo enquanto movimento social. Foram abordadas definições de multiculturalismo, com ênfase ao multiculturalismo crítico ou emancipatório, que é aquele que busca reconhecer os direitos dos grupos minoritários, impondo barreiras à propagação da globalização hegemônica, resistindo à homogeneidade cultural e protegendo a diversidade cultural. Outro ponto de grande interesse abordado foi o surgimento de minorias culturais a partir do processo da globalização. A hegemonia ocidental é conduzida pela força do capitalismo global, que exclui, discrimina e favorece a iniqüidade entre os grupos. É evidente, entretanto, uma relação entre o multiculturalismo e globalização, pois esta é uma das principais formas para o surgimento de grupos excluídos na sociedade. Deste modo, um dos desafios dos defensores da globalização contra hegemônica, sobretudo dos adeptos das políticas multiculturais, é buscar uma forma de globalização que se adapte a uma sociedade multicultural, respeitando todos os direitos do homem e a diversidade cultural. Enfim, pode-se afirmar que, enquanto os cidadãos não tomarem consciência de sua força democrática para a realização de diversos movimentos emancipatórios, os grupos hegemônicos ditarão regras de convivência, seus costumes, suas crenças, ou seja, toda a sua ideologia capitalista voltada à O MULTICULTURALISMO E A GLOBALIZAÇÃO - Página 305

exclusão de grupos que não sejam dominantes, para, consequentemente, alcançarem uma unidade de identidade cultural. No entanto, é necessária uma urgente mudança no sistema, a fim de que seja assegurada a todos a tão almejada dignidade da pessoa humana.

EL MULTICULTURALISMO Y LA GLOBALIZACIÓN RESUMEN3

En este trabajo se aborda el tema de la globalización y multiculturalismo. De forma sucinta presentamos la concepción de globalización y multiculturalismo, destacando el análisis en su aspecto cultural. Resaltamos la íntima ligación relacional entre la globalización y el multiculturalismo, delineada por una hegemonía ideológica y económica aunada a los intereses del sistema capitalista. Concluimos el artigo registrando algunas consideraciones, principalmente de la necesidad de tomada de conciencia de los diversos grupos sociales a fin de preservar su identidad cultural.

Palabras clave: Globalización. Multiculturalismo. Capitalismo.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. ______. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. GANDIN, Luiz Armando ; HYPOLITO, Álvaro Moreira. Dilemas do nosso tempo: globalização, multiculturalismo e conhecimento. Currículo sem Fronteiras, v.3, n.2, 2003, p. 5-23. Disponível em: < http://www.boaventuradesousasantos.pt/documentos/curriculosemfronteiras.pdf >. Acesso: em 15 jan. 2012. HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia. Entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. IANNI, Octavio. O discurso filosófico da modernidade: doze lições. São Paulo: Martins Fontes, 2000. MCLAREN, Peter. A vida nas escolas. Uma introdução à pedagogia crítica nos fundamentos da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. 3

Tradução realizada por Maria de Lourdes Alves Bedendi (CRLE – Revista Eventos Pedagógicos).

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SANTOS, Boaventura de Sousa. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitismo multicultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. ______. A globalização e as ciências sociais. São Paulo: Cortez, 2002. SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2004, p.89. TOURAINE, Alain. Um novo paradigma: para compreender o mundo de hoje. Petrópolis: Vozes, 2006. TORRES, Carlos Alberto. Democracia, educação e multiculturalismo: dilemas da cidadania em um mundo globalizado. Petrópolis: Vozes, 2001.

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Qual a relação entre multiculturalismo é globalização?

Como principal fenômeno de todo esse movimento, temos a globalização que impulsiona o conhecimento das diversas culturas, a desterritorialização das fronteiras, o compartilhamento das diferentes formas de aprendizagens.

O que podemos definir por multiculturalismo?

A multiculturalidade implica um conjunto de culturas em contato, mas sem se misturar: trata-se de várias culturas no mesmo patamar.

Qual a importância do multiculturalismo para a formação de uma sociedade?

O multiculturalismo favorece a mudança nas relações vividas pelos indivíduos, inserindo dentro do contexto as questões como identidade, diferenças de classe, gênero e etnia, entre outros.

Quais são as vantagens do multiculturalismo?

Vamos lá!.
Incentivo ao aprendizado de outras origens culturais. ... .
Contato com múltiplas perspectivas e visões de mundo. ... .
Maior facilidade para se adaptar a culturas diferentes. ... .
Promoção do senso crítico e desconstrução de estereótipos..