Qual das seguintes situações caracteriza um déficit no balanço de pagamentos?

Economia aula 5 - o balanço de pagamentos e a taxa de câmbio from Felipe Leo

Estamos de volta com a resolução da questão sobre balanço de pagamentos que propus no artigo anterior.

Vamos à questão!

2.(CESGRANRIO – ECONOMISTA JÚNIOR/PETROBRÁS 2010) Quando há um superávit em conta corrente no balanço de pagamentos, em um determinado período, isso significa que, nesse período, necessariamente, o(a)

A) valor das exportações de bens suplantou o das importações.
B) pagamento de juros para o exterior foi reduzido.
C) entrada líquida de capitais financeiros externos foi positiva.
D) reserva de divisas internacionais aumentou.
E) poupança externa foi negativa.

Resposta: E

A questão nos pergunta quais das alternativas contém uma afirmativa que, necessariamente, signifique um superávit da conta corrente do balanço de pagamentos.

Vamos analisar as alternativas!

A alternativa A afirma: quando o valor das exportações de bens suplanta o das importações, há um superávit em conta corrente do balanço de pagamentos.
 

Lembrem-se que na balança comercial (BC) do balanço de pagamentos são registradas como exportação todas as transações que resultam na saída de mercadorias do país e como importação todas as transações que resultam na entrada de mercadorias no país.

Observem, quando o valor das exportações de bens suplanta o das importações significa que houve um superávit da balança comercial (BC>0).

Lembremos da expressão que nos dá o saldo da conta corrente do balanço de pagamentos:

TC = BC + BS + TU
(Expressão 1)


Dessa expressão percebemos que o saldo da conta corrente do balanço de pagamentos (TC) depende do saldo da balança comercial (BC), do saldo da balança de serviços (BS) e das transferências unilaterais (TU). Então, mesmo havendo superávit na balança comercial (BC>0), pode ocorrer déficit da balança de serviços (BS) e/ou transações unilaterais negativas (como o envio de dinheiro para doação) que acarretem o déficit da conta corrente do balanço de pagamentos (TC). Exemplificando:

BC= + 100 (Superávit da balança comercial)
BS= – 105 (Déficit da balança comercial)
TU= – 10

TC = BC + BS + TU 
TC = 100 –105-10
TC=-15

Assim, quando o valor das exportações de bens suplanta o das importações não significa necessariamente que há um superávit em conta corrente no balanço de pagamentos. Alternativa A está incorreta.

Notem que a alternativa B lembra a questão de balanço de pagamentos resolvida no artigo passado. Neste caso especificamente, a alternativa afirma que a redução de pagamento de juros para o exterior significa, necessariamente, a ocorrência de superávit da conta corrente do balanço de pagamentos.

Atentem que a operação de pagamento de juros para o exterior diminui o saldo da balança de serviços (BS), então a redução desse pagamento irá aumentar o saldo da balança de serviços. Observem que o aumento do saldo da BS não significa necessariamente a ocorrência de seu superávit. No exemplo abaixo a redução no pagamentos de juros aumenta o saldo da BS mas não acarreta em seu superávit:

Antes da redução no pagamento de juros:

BS: – 20 (Déficit da balança de serviço devido ao pagamento de juros)

Depois da redução de 5 no pagamento de juros:

BS: – 15 (Déficit da balança de serviço devido ao pagamento de juros)

Além disso, como pode ser visto na expressão 1, o saldo da conta corrente do balanço de pagamentos (TC) não depende apenas do saldo da balança de serviços (BS), mas também do saldo da balança comercial (BC) e das transferências unilaterais (TU). Então, mesmo havendo um eventual superávit na balança de serviço (BS>0), dependendo dos saldos de BC e TU, pode ocorrer déficit da conta corrente do balanço de pagamentos.

Pelo o exposto, a redução do pagamento de juros para o exterior não significa, necessariamente, o superávit da conta corrente do balanço de pagamentos. A alternativa B está incorreta.

A alternativa C afirma que a entrada líquida de capitais financeiros externos significa, necessariamente, superávit da conta corrente do balanço de pagamentos.

Observem que a entrada de capitais financeiros é registrada no item balanço de capitais autônomos (Ka) e que esse item não faz parte do cálculo do saldo da conta corrente do balanço de pagamentos (TC), vejam a expressão 1.

Então, como a entrada de capitais financeiros não afeta a conta corrente do balanço de pagamentos (TC), a alternativa C está incorreta.

A alternativa D afirma que o aumento de reserva de divisas internacionais significa, necessariamente, superávit da conta corrente do balanço de pagamentos.

Lembremos que, de maneira geral, o aumento ou a diminuição de reserva de divisas internacionais é registrada no item balanço de capitais compensatórios (Kc) como contrapartida das transações ocorridas nos demais itens do balanço de pagamentos: balança comercial (BC), balança de serviços (BS), transferências unilaterais (TU), balanço de capitais autônomos (Ka) e erros e omissões (EO).

Então observem que pode haver um aumento da reserva de divisas internacionais decorrente apenas das transações registradas no balanço de capitais autônomos (Ka) (por exemplo entrada de investimentos estrangeiro). Neste caso, o aumento de divisas não teve qualquer relação com o saldo da conta corrente do balanço de pagamentos (TC), uma vez que TC depende apenas dos saldos de BC, BS e TU e não do saldo de Ka.

Desta forma, o aumento de reserva de divisas internacionais não significa, necessariamente, superávit da conta corrente do balanço de pagamentos. Alternativa D está incorreta.

A alternativa E afirma que a existência de poupança externa negativa significa, necessariamente, que há um superávit da conta corrente do balanço de pagamentos.

Para analisar essa alternativa basta lembrarmos da definição de poupança externa:

Poupança Externa (SE) corresponde ao déficit no balanço de pagamento em transações correntes (– TC), ou seja, quando há mais dinheiro saindo do que entrando nas transações correntes do país o setor externo estará fazendo poupança (na ótica do próprio setor externo):

SE = -TC

Observem que a poupança externa (SE) é o oposto do saldo da conta corrente do balanço de pagamentos (TC), então se tivermos uma poupança externa negativa teremos um saldo da conta corrente do balanço de pagamentos positivo, ou seja, superávit da conta corrente do balanço de pagamentos. Exemplificando:

Se SE = – 10 então TC = + 10 (superávit da conta corrente do balanço de pagamentos).

Então a existência de poupança externa negativa significa, necessariamente, que há um superávit da conta corrente do balanço de pagamentos. A alternativa A está correta.

Amigos, observem que as duas questões sobre balanço de pagamentos que resolvemos procuram avaliar se o candidato está atento às transações que influenciam o saldo da conta corrente do balanço de pagamentos.

Continuem praticando.

Abraço e até a próxima.

Prof. Eduardo Moura
[email protected]

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  • ae porra muito bom aprendendi

    eu em 22/12/15 às 12:16

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O que é um déficit no balanço de pagamentos?

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O que são erros e omissões no balanço de pagamentos?

Registra também a contrapartida de pagamentos em moeda nacional. As contas “CC5” são contas de não residentes em bancos residentes e por isso classificadas em passivo externo. Os erros e omissões são a compensação da sobrestimação ou subestimação dos lançamentos efetuados no balanço de pagamentos.

Quais os fatores que fazem parte da balança de pagamentos?

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Como é definido o resultado do balanço de pagamentos?

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