Quando mudou de cruzeiro para real

Neste domingo (1º), o real completa 18 anos em circulação no país. A moeda – a quinta à qual os brasileiros tiveram que se acostumar em uma década – marcou o final do período de instabilidade monetária e altas taxas de inflação, que chegaram a atingir 5.000% ao ano – de julho de 1993 a junho de 1994.

Antes do real, a moeda que circulava no país era o cruzeiro real (CR$), vigente de 1º de agosto de 1993 até 30 de junho de 1994. Ele funcionava junto com a Unidade Real de Valor, a URV, cujo valor, em cruzeiros reais, variava diariamente.

Em 1º de julho de 1994, uma URV passou a ser igual a R$ 1. Para a equivalência, o valor da nova moeda foi fixado com a cotação da URV do dia anterior, que era de 2.750 cruzeiros reais. Dessa forma, CR$ 5.000 equivaliam a cerca de R$ 2 – o suficiente para comprar, na época, meio quilo de carne, três litros de leite ou duas latas de refrigerante, por exemplo.

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Preços
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) calcula mensalmente o preço da cesta básica em 17 capitais brasileiras. Para se ter uma ideia, em junho de 1994 o preço da total da cesta era de CR$ 148.561,94. Se levado em conta o valor da URV de 2.750 cruzeiros reais, seria o equivalente a R$ 54 no dia 1º de julho de 1994 (ou seja, sem a inflação de lá para cá).

Como comparação, em São Paulo, o preço médio da cesta básica em maio deste ano era de R$ 283,69.

Inflação
De acordo com levantamento da consultoria Economática, de maio de 1989 até junho de 1994, a inflação média anual pelo IGP-M (índice da "inflação do aluguel, por ser usado para calcular os reajustes grande parte dos contratos), por exemplo, atingiu os robustos 1.874,9%. Nos 18 anos de lá para cá (de 30 de junho de 1994 a 31 de maio de 2012), ficou em 11,96% ao ano.

O IPCA, índice usado pelo governo para a "inflação oficial" do país, teve variação média de 507,3% de dezembro de 1979 até junho de 1994. Nos 18 anos seguintes, a taxa média anual foi de 8,28%.

Apenas como comparação, o IPCA em 12 meses em maio deste ano acumula alta de 4,99%.

Em outro exemplo, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que mede a inflação na cidade de São Paulo, variou 50,75% em junho de 1994. Em maio deste ano, a taxa foi de 0,35%.

Aos poucos, chega às mãos dos brasileiros a cédula de R$ 200,00, lançada este mês pelo Banco Central. A estreia da nova cédula causou alvoroço nas redes sociais. O que não faltaram foram memes sobre a imagem que deveria estampar a nova nota, de vira-lata caramelo a capivara.

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Mas, os nascidos antes de 1994, sabem que a movimentação causada pelo lançamento da uma nova cédula não é nada perto das trocas de padrão monetário vividos nas décadas anteriores.

Desde a independência, em 1822, o Brasil já teve nove trocas de padrão monetário e sete moedas. Dos réis ao real, o motivo de tantas trocas era um só: a inflação. Caso o Brasil mantivesse a mesma moeda, hoje seriam necessário milhões de cruzeiros para comprar uma garrafa d’água, por exemplo. 

Depois dos réis, que ficaram mais de 400 anos em circulação, o real é a segunda moeda com mais tempo de circulação, 26 anos. Para ficar por dentro do assunto, confira abaixo todas as moedas que o Brasil já teve!

Réis – Do período colonial a 1942

No início do período de colonização pelos portugueses, não haviam moedas no Brasil. O comércio entre nativos e europeus era feito por sistema de trocas, eram usados pau-brasil, pano de algodão, açúcar, fumo, entre outros. Com o avanço da colonização, começaram a circular pelo país as primeiras moedas, trazidas pelos estrangeiros. 

Como o Brasil era colônia de Portugal, o padrão monetário do período era o mesmo da metrópole: o real. Os reais, plural de real, ficaram popularizados como réis. Mesmo com a Independência do Brasil e a Proclamação da República, o réis se mantiveram, só as gravuras das moedas e das cédulas se alteraram.

Imagem: Banco do Brasil

Quando mudou de cruzeiro para real

Exemplos de cédulas de réis

Cruzeiro – De 1942 a 1967

A primeira mudança de padrão monetário do Brasil foi a instituição do Cruzeiro. A nova moeda veio para unificar os 56 diferentes tipos de cédulas em circulação no país. Um cruzeiro (Cr$ 1,00) equivalia a mil réis (Rs 1$000). Em 1964, devido à inflação, a fração do cruzeiro chamada centavo deixou de existir.

Imagem: Banco Central do Brasil

Quando mudou de cruzeiro para real

Cédula de 10 mil cruzeiros

Cruzeiro Novo – De 1967 a 1970

Em 1967, com a inflação a 25%, o Cruzeiro se desvalorizou e a moeda foi substituída temporariamente pelo Cruzeiro Novo, criado para vigorar até as novas cédulas do Cruzeiro entrarem em circulação e a sociedade se adaptar ao corte de três zeros.

Imagem: Banco Central do Brasil

Quando mudou de cruzeiro para real

Cédula de 100 cruzeiros antigos carimbada no valor de 10 centavos do Novo Cruzeiro

Sendo assim, as cédulas do Cruzeiro foram carimbadas com novos valores e reutilizadas como Novo Cruzeiro. Um cruzeiro novo (NCr$ 1,00) correspondia a mil cruzeiros antigos (Cr$ 1.000,00).

Cruzeiro – De 1970 a 1986

Após a reforma monetária, a moeda brasileira voltou a se chamar Cruzeiro. A equivalência das moedas se manteve o mesmo, ou seja, um cruzeiro (Cr$ 1,00) valia um cruzeiro novo (NCr$ 1,00).

Imagem: Banco Central do Brasil

Quando mudou de cruzeiro para real

Cédula de 100 mil cruzeiros

Cruzado – De 1986 a 1989

Nos anos 1980, o crescimento da inflação voltou a assombrar a economia, chegando a mais de 100%. Desvalorizado, o Cruzeiro foi substituído pelo Cruzado. No Plano Cruzado, do governo de José Sarney, um cruzado (Cz$ 1,00) equivalia a mil cruzeiros (Cr$ 1.000,00).

Imagem: Banco Central do Brasil

Quando mudou de cruzeiro para real

Cédula de mil cruzados

Cruzado Novo – De 1989 a 1990

Poucos anos depois da instituição do Cruzado, a inflação continuou a subir e obrigou o presidente Sarney a fazer uma segunda reforma monetária. Em 1989, o Cruzado foi substituído pelo Cruzado Novo, que - novamente - tinha três zeros a menos. Um cruzado novo (NCz$ 1,00) valia mil cruzados antigos (Cz$ 1.000,00). 

Imagem: Banco Central do Brasil

Quando mudou de cruzeiro para real

Cédula de cem cruzados novos

Cruzeiro – De 1990 a 1993

Em 1990, o Cruzeiro volta a ser a moeda nacional, pela terceira vez. Nesta ocasião, não houve corte de zeros, um cruzeiro (Cr$ 1,00) correspondia a um cruzado novo (NCz$ 1,00). 

Imagem: Banco Central do Brasil

Quando mudou de cruzeiro para real

Cédula de 500 mil cruzeiros

A substituição da moeda fazia parte do Plano Collor para conter a crise econômica, caracterizada por uma hiperinflação de 1700% ao ano e muita instabilidade. Entretanto, o plano fracassou e a moeda se desvalorizou rapidamente, chegando à cédula de 500 mil cruzeiros.

Cruzeiro Real – De 1993 a 1994

Após a renúncia de Collor, o vice-presidente Itamar Franco, fez uma nova reforma monetária. Nela, o Cruzeiro saiu de cena de vez e foi instituído pelo Cruzeiro Real, novamente reduzindo três zeros nas cédulas. Um cruzeiro real (CR$ 1,00) equivalia a mil cruzeiros (Cr$ 1.000,00).

Imagem: Banco Central do Brasil

Quando mudou de cruzeiro para real

Cédula de 50 mil cruzeiros reais

Real – De 1994 aos dias atuais

Em 1994, se consolida o projeto econômico Plano Real, feito pelo então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso (FHC), ainda no governo de Itamar Franco. O projeto tinha como objetivo conter a inflação extremamente elevada que assolava o Brasil há anos.

O Plano Real incluiu ações de ajuste fiscal, a implementação da URV (Unidade Real de Valor), uma moeda virtual atrelada a cotação do dólar, e a criação de uma nova moeda oficial: o Real. Um real (R$ 1,00) correspondia a CR$ 2.750,00.

Imagem: Banco Central do Brasil

Quando mudou de cruzeiro para real

Cédula de um real da Primeira Família do Real, que deixou de ser produzida em 2005

Depois de tantas reformas monetárias, o Plano Real foi a primeira que obteve algum sucesso, mantendo o Real vigente até hoje, e ainda garantiu a eleição de FHC à presidência. 

Em julho de 2022, essa moeda completou 28 anos e, mesmo com o surgimento de novas cédulas e o desuso de outras, ela segue consolidada. Isto é, não há debates significativos sobre a troca desse padrão monetário.

Fonte: Banco Central do Brasil

Em que ano mudou do cruzeiro pro real?

ALTERAÇÕES NA MOEDA BRASILEIRA A PARTIR DE 1942.

Quantos cruzeiros valia 1 real em 1994?

Cruzeiro Real – De 1993 a 1994 Um cruzeiro real (CR$ 1,00) equivalia a mil cruzeiros (Cr$ 1.000,00).

Quando a moeda passou a ser real?

O Real (ISO 4217: BRL, abreviado como R$) é a moeda corrente oficial da República Federativa do Brasil. Após sucessivas trocas monetárias, o Brasil adotou o real em 1 de julho de 1994, que, aliado à drástica queda das taxas de inflação, constituiu uma moeda estável para o país.

Quando mudou de cruzeiro para cruzado?

ALTERAÇÕES NA MOEDA BRASILEIRA A PARTIR DE 1942.