Como eram as condições de trabalho dos imigrantes nas áreas de cultivo do café?

A partir da segunda metade do século XIX, mais especificamente em 1850, com a proibição do tráfico negreiro (Lei Eusébio de Queiroz), a economia brasileira passou a girar em torno do café (a produção cafeeira tinha o caráter agroexportador).

As grandes fazendas cafeeiras de São Paulo e do Rio de Janeiro empregavam a mão de obra escrava, mas com a proibição do tráfico de escravos, no ano de 1850, as elites cafeeiras tiveram que encontrar uma alternativa para suprir a mão de obra nas lavouras de café. Uma das saídas encontradas pelos proprietários das fazendas de café foi a importação de colonos europeus para atender a falta de trabalhadores.

Na província de São Paulo, o fazendeiro Nicolau de Campos Vergueiro fundou a empresa de colonização Vergueiro & Companhia. Vários funcionários da empresa percorriam o continente europeu em busca de pessoas que se interessariam em trabalhar no Brasil. Os agentes da empresa realizavam uma propaganda informando sobre a possibilidade de enriquecimento no país e que o Brasil era uma terra promissora, onde todos teriam grandes oportunidades. Além dessa efetiva propaganda, os funcionários da empresa Vergueiro & Companhia ofereciam um adiantamento na remuneração dos trabalhadores. Essa era uma forma de seduzir ainda mais os europeus.

Após intensas negociações com os agentes das empresas, os europeus assinavam um termo de contrato de trabalho no qual geralmente se comprometiam a trabalhar durante um intervalo de tempo nas lavouras de café. A espécie em dinheiro que a empresa adiantava aos funcionários, como foi dito acima, teria como finalidade cobrir as despesas de viagem e de instalação nas terras brasileiras.

Quando os europeus chegavam ao Brasil, eram deslocados para as fazendas de café. Lá, cada colono recebia uma parcela do cafezal, que ficava sob sua responsabilidade. Após a colheita, parte do lucro da produção era descontada para pagar o tal adiantamento contraído pelos trabalhadores antes da viagem. Esse sistema de trabalho ficou conhecido como parceria e constituiu-se como a primeira forma de trabalho livre implantado no Brasil escravocrata.

Todas as promessas feitas aos europeus começavam a diluir-se a partir do momento em que embarcavam nos portos europeus. A grande maioria tinha seus contratos de trabalho trocados. No novo contrato havia uma cláusula que informava sobre a taxa de juros que iriam pagar pelo adiantamento. No momento que chegavam ao Brasil, principalmente no porto de Santos, era cobrada por cada europeu uma taxa de entrada no país. Essa taxa variava de valor segundo a idade da pessoa.

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Um grupo de imigrantes suíços que foram trazidos para o Brasil pela empresa Vergueiro & Companhia foi encaminhado para a fazenda Ibicaba, próxima a Limeira. Foram justamente esses lavradores suíços que, no ano de 1856, indignados com as péssimas condições de trabalho e de vida que encontraram nas lavouras cafeeiras, promoveram uma das primeiras rebeliões de trabalhadores livres no Brasil.

O primeiro estranhamento dos imigrantes suíços foram as péssimas condições das moradias que foram entregues a eles: as casas estavam sem assoalhos, sem fogão, e sem móveis. Além disso, geralmente recebiam uma caderneta onde constavam as dívidas que já tinham contraído e as futuras dívidas. Rapidamente os colonos perceberam a ilusão em que foram envolvidos: teriam que trabalhar mais do que estavam pensando para pagar suas dívidas.  

Outro mecanismo que explorava os colonos europeus era a constante proibição de se deslocarem para as cidades. Podiam sair somente com permissão e as compras de alimentos tinham que ser realizadas no mercado existente na fazenda (lá os preços dos produtos eram bastante elevados, o que deixava os trabalhadores ainda mais atrelados à dependência financeira).

Os colonos se encontravam enganados pelos proprietários das lavouras de café, entretanto mantinham a esperança, pois estava programado o acerto de contas para setembro de 1856. Esperavam receber em torno de $740 réis por alqueire, entretanto receberam somente $467 réis por alqueire.

A situação dos colonos suíços na fazenda de Ibicaba não gerou nenhum tipo de conflito físico ou violência, porém a fazenda recebeu visitas de diplomatas suíços que desconfiavam das péssimas condições em que os europeus viviam nas lavouras cafeeiras. Da visita resultou a proibição de imigração da população de alguns estados alemães para o Brasil.

A abolição da escravidão foi o acontecimento de maior impacto e transformação mais profunda no Brasil do século XIX. Em 1888, o trabalho escravo tornou-se ilegal depois de séculos de uma economia e sociedade construídos com base na violência do trabalho forçado. Foi um longo e conflituoso processo que se prolongou durante toda a monarquia. O tráfico negreiro, organizado inicialmente pelos portugueses e, depois, praticado também por luso-americanos e brasileiros, transportava milhares de pessoas da África para serem vendidas como escravas no Brasil. Durante séculos, raras foram as vozes, entre os homens livres, que criticaram ou contestaram a escravidão. A situação só começaria a mudar, lentamente, no decorrer do século XIX.


Como eram as condições de trabalho dos imigrantes nas áreas de cultivo do café?
Antes mesmo que fosse aprovada, em 1850, a lei que extinguia o tráfico negreiro, cafeicultores de São Paulo, cientes de que isso acabaria acontecendo, tomaram a iniciativa de encontrar um substituto para o escravo. Optaram pela utilização de imigrantes de outros países. Naquele momento, a aposta nos imigrantes lhes parecia a melhor alternativa por duas razões. Em primeiro lugar, não abriam mão dos escravos que possuíam, de modo que tinham que encontrar em novos grupos sociais a fonte para ampliação de fornecimento de mão de obra. Como a cafeicultura do Oeste Paulista estava em expansão, o recurso ao tráfico interprovincial era insuficiente. Em segundo lugar, estava a dificuldade em garantir que os homens livres pobres brasileiros se dispusessem a trabalhar de forma sistemática nas fazendas, ao lado dos escravos. Na sociedade escravista, o trabalho manual feito para um patrão era considerado extremamente humilhante, porque aquele que assim vivesse se equiparava aos escravos. Os homens livres pobres preferiam buscar outras alternativas de sobrevivência. A economia e a sociedade operavam com uma lógica que não era a do trabalho assalariado.

As primeiras tentativas para trazer imigrantes para as fazendas de café foram iniciativas de um importante cafeicultor e político, Nicolau de Campos Vergueiro. Para suas fazendas no Oeste Paulista contratou alemães e suíços. Não se tratava, contudo, de trabalho assalariado. As condições da época impunham outra forma de contrato.

De um lado, havia a necessidade de criar condições atraentes para que cidadãos de outros países se dispusessem a migrar para o Brasil. Crises econômicas e políticas levaram a que habitantes de vários países da Europa se dispusessem a migrar para a América. Mas sua preferência eram os Estados Unidos, que gozavam da fama de ser uma terra de oportunidades para todos que lá chegassem. Era preciso convencer os potenciais migrantes a virem para o Brasil ao invés de irem para os Estados Unidos. Além disso, havia outra questão a ser resolvida. Uma vez que de início o número de imigrantes seria restrito, frente às necessidades da cafeicultura, era vantajoso encontrar meios para estimular sua produtividade.
Para responder a essas condições, a fórmula adotada por Vergueiro tinha por base justamente criar esses estímulos. Em vez de um salário, Vergueiro oferecia um contrato de parceria. O imigrante receberia 50% dos lucros obtidos com a venda do café produzido por ele, empréstimo para pagar a passagem para o Brasil e para os gastos enquanto não recebesse o primeiro pagamento.

A partir de 1847, Vergueiro trouxe alemães e suíços para suas fazendas com contratos de parceria. A experiência foi inicialmente exitosa, a ponto de outros cafeicultores se interessarem por adotar o mesmo modelo em suas fazendas. Em poucos anos, no início da década de 1850, várias fazendas contavam com trabalhos de imigrantes europeus, com contratos de parceria.

Poucos anos depois, a experiência de contratos de parceria começou a sofrer uma série de problemas. Os colonos frustravam-se com o não atendimento de suas expectativas iniciais. Depois de chegarem às fazendas, demorava muito tempo, entre a produção e a comercialização do café, para que recebessem o primeiro pagamento. Com isso, a dívida com o fazendeiro se avolumava. Quando recebiam o rendimento obtido com o café cultivado, praticamente nada lhes restava depois de quitar a dívida. Eram então obrigados a se endividar outra vez. Desiludidos, dedicavam-se cada vez menos ao trabalho no cafezal. Desconfiavam de que eram enganados pelos fazendeiros, que lhes remunerava com menos do que deveriam receber. Se houve casos de burla pelos fazendeiros, essa não foi a regra. A eles interessava que os imigrantes fossem estimulados a produzir, por isso não valia a pena roubar-lhes o rendimento devido. Os fazendeiros identificavam na dívida o obstáculo para a eficácia daquele modelo de contratação.

Ao final da década de 1850, os contratos de parceria foram abandonados pelos cafeicultores. O fracasso da experiência foi para eles um importante aprendizado. Para que fosse possível substituir os escravos por meio da imigração, os estímulos precisavam funcionar. E, para tanto, era necessário que os imigrantes não ficassem sujeitos a dívidas que não conseguiam saldar. A solução seria o financiamento da imigração pelo governo. Impossível para os fazendeiros, o governo poderia utilizar recursos públicos para pagar as passagens para o Brasil, o sustento inicial dos imigrantes, sem que eles tivessem que devolver o dinheiro.

Na década de 1880, o governo de São Paulo assumiu os custos para trazer imigrantes para a cafeicultura. Atendeu ao anseio dos fazendeiros, destinando parte do orçamento provincial para financiar a vinda de imigrantes em larga escala. Milhares de imigrantes vieram para São Paulo, atraídos pelas novas condições oferecidas. A grande maioria era composta de italianos que fugiam da crise econômica na Itália. Sem o peso de uma dívida inicial e graças ao grande contingente que o governo era capaz de financiar, essa nova fórmula deu os resultados esperados.


Miriam Dolhnikoff é professora do departamento de História da FFLCH-USP e pesquisadora do Cebrap. É mestre e doutora em História Econômica pela USP. Ensina e pesquisa o Brasil Império. Atualmente estuda o governo representativo, sob a forma de monarquia constitucional, no Brasil, com foco no debate político em torno das eleições. É autora do livro “História do Brasil Império“.


Fonte: DOLHNIKOFF, Miriam. “Imigrantes para substituir escravos na cafeicultura”. História do Brasil Império. Editora Contexto.

Como eram as condições de trabalho dos imigrantes na lavoura de café?

Os colonos recebiam um pagamento fixo pelo cultivo dos pés de café e um pagamento variável pela quantidade de frutos colhidos. Além disso, podiam produzir alimentos para sustento próprio nas fazendas e vender o excedente.

Como era a vida dos imigrantes nas fazendas de café resposta?

Um grande problema que ocorreu com os imigrantes que chegaram ao Brasil para trabalhar nas fazendas era a baixa remuneração, além dos fazendeiros tratarem os trabalhadores livres como se fossem escravos. Além disso, eles acumulavam dívidas nas fazendas que, por vezes, tornava difícil a saída delas.

Como era o trabalho nas lavouras de café?

A rotina dos escravizados, nos cafezais, era limpar o terreno, plantar e colher. Após a colheita, o café era exposto ao Sol, Num segundo momento, quando os grãos já se encontravam secos, eram batidos com vara ou moídos em pilões.

Quem eram os trabalhadores que trabalhavam no cultivo de café nas fazendas brasileiras no passado?

De acordo com Herbert Klein (1972, p. 314), a população livre brasileira cresceu vigorosamente nas regiões cafeeiras de São Paulo e Rio de Janeiro. Os trabalhadores livres e pobres, brancos ou negros, desempenhavam as mais diversas atividades e ocupavam-se dos mais diversos ofícios urbanos e rurais.