Como foi a participação popular durante o processo de instauração da república no Brasil?

História

O período Republicano no Brasil iniciou em 1889 com o declínio da monarquia e o começo da chamada República Velha. O marco inicial desse período foi a posse do Marechal Deodoro da Fonseca, como primeiro presidente Republicano da história do Brasil. O período foi marcado por crise econômica, pouca participação popular e insatisfação por parte da maioria dessa população, especialmente os mais pobres. O apoio veio pela maioria elitista, que via no novo governo um meio de recuperar parte das perdas que teve com a abolição da escravidão. Saiba mais na primeira reportagem da série sobre a história da República no Brasil.

Ouça aqui as reportagens da série:

Parte 1 - República Velha e o marco inicial do período republicano

Parte 2 - Era Vargas e o segundo período da República

Parte 3 - República Nova

Parte 4 - Ditadura militar

Parte 5 - Nova República começa com o fim da ditadura militar

19/09/2018, 20h29 - ATUALIZADO EM 14/11/2018, 12h24

Duração de áudio: 02:03

Como foi a participação popular durante o processo de instauração da república no Brasil?

Benedito Calixto

Transcrição
LOC:. O PERÍODO REPUBLICANO NO BRASIL SE INICIOU EM 1889, COM O QUE HOJE É CHAMADO DE REPÚBLICA VELHA. LOC: ESTE PERÍODO FOI MARCADO PELO DOMÍNIO AGRÁRIO DAS ELITES E PELA CRISE ECONÔMICA NO PAÍS. SAIBA MAIS NA PRIMEIRA, DESTA SÉRIE DE REPORTAGENS DE MARIA FERREIRA, SOBRE A HISTÓRIA DA REPÚBLICA DO BRASIL. TÉC: Em 1889, a monarquia entrou em declínio e teve início o período chamado República Velha, com a Proclamação da República no dia 15 de novembro, quando foi eleito por voto indireto o primeiro presidente republicano do Brasil, Marechal Deodoro da Fonseca. Apesar da eleição indireta, no período, o voto já era capacitário, de acordo com a alfabetização, o que excluía a maioria da população com pouco estudo. Essa era uma das principais características da República Velha: a baixa participação popular. Entre alguns historiadores, se discute o fato de que, no começo, esse governo não teve apoio total da população, como explica o professor doutor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Luiz Antônio Dias. (Luiz Antônio Dias) uma frase que foi proferida por um republicano que era o Aristides Lobo, ele vai dizer que o povo assistiu a tudo bestializado porque o povo não entendia o que era República. Alguns estudos mais novos, dos anos 80, 90, vão mostrar que na realidade o povo não apoia a República porque o povo tinha uma concepção de que a República não iria lhe beneficiar. (Repórter) O professor lembra o apoio das elites ao movimento republicano a partir da abolição da escravidão, pois acreditavam que, com o novo governo, poderiam recuperar parte de suas perdas. Luiz Antônio ainda explica mais a fundo o acontecimento do dia 15 de novembro. (Luiz Antônio Dias) o que você tem no 15 de novembro, é uma intervenção militar, então não é um processo revolucionário que brota das ruas, ainda que houvesse um descontentamento, ele vem de cima pra baixo, você tem ali um movimento militar. A República vem com um caráter disciplinador muito forte, e essa disciplina ela se impõe sobretudo ao pobre ne, ao ex escravo. (Repórter) O marco final da República Velha é em 1930, com o que alguns autores chamam de golpe de Getúlio Vargas, apoiado também por militares, e mais conhecido como Revolução de 1930. Com supervisão de Tiago Medeiros, da Rádio Senado, Maria Ferreira.

A proclamação da república aconteceu em 15 de novembro de 1889 e resultou na derrubada da monarquia e na instauração da república no Brasil. Esse acontecimento foi resultado de um longo enfraquecimento que a monarquia enfrentou no Brasil a partir da década de 1870. Um dos grupos mais insatisfeitos foi o dos militares.

A conspiração contra a monarquia contou com a adesão do marechal Deodoro da Fonseca,  responsável por liderar a derrubada do gabinete ministerial. No decorrer do dia 15, as movimentações políticas fizeram José do Patrocínio proclamar a república na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

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Crise da monarquia

Como foi a participação popular durante o processo de instauração da república no Brasil?
Proclamação da república aconteceu em 15 de novembro de 1889 e foi consequência da crise da monarquia.[1]

A proclamação da república foi fruto da crise do império e sua incapacidade de atender as novas demandas que foram surgindo na sociedade brasileira. Essas insatisfações convergiram-se para o movimento republicano, que, um tanto na base do planejamento e um tanto na base do improviso, realizou um golpe que colocou fim na monarquia no Brasil.

Podemos considerar que essa crise da monarquia no Brasil iniciou-se na década de 1870, logo após a Guerra do Paraguai. O Brasil venceu a guerra, mas a monarquia saiu enfraquecida e os novos rearranjos políticos que estavam em formação no Brasil, desde a década de 1860, começaram a ganhar espaço no debate político.

Os dois principais grupos insatisfeitos e que diretamente influenciaram no fim da monarquia foram certos grupos políticos, que reivindicavam a modernização do país e novas agendas para política brasileira, e os militares. Ambos orbitavam ao redor do republicanismo, forma de governo que passou a ser enxergada como moderna e como solução para o país.

  • Insatisfação militar

No caso dos militares, a insatisfação com a monarquia iniciou-se após a guerra, justamente quando o Exército brasileiro estabeleceu-se como uma instituição profissional. Isso fez com que os militares passassem a organizar-se na defesa por seus direitos. Suas duas principais exigências passaram a ser aumento salarial e melhora no sistema de carreira.

Os militares também exigiam para si o direito de manifestar suas opiniões políticas, uma vez que passaram a enxergar-se como os responsáveis pela tutela do Estado. Além disso, havia insatisfações entre eles pelo fato de o Brasil não ser um país laico, e todas essas questões fizeram-nos abraçar o positivismo, conjunto de ideias defendidas pelo sociólogo francês Augusto Comte.

O positivismo tornou-se o discurso oficial para o questionamento da monarquia por parte dos militares. No fim, grande parte deles passou a defender que a modernização do país fosse realizada com base em uma república ditatorial, na qual um governante representaria os interesses do povo. Para agravar a situação, a insatisfação dos militares ainda era incentivada por outros grupos da sociedade.

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  • Insatisfação política

Na política, havia uma grande insatisfação com a monarquia, principalmente em províncias como São Paulo, pela sub-representação política. Economicamente, São Paulo já era o principal estado do Brasil, mas politicamente sua representação era muito pequena em relação a outros estados com economias decadentes, como Bahia, Pernambuco e o próprio Rio de Janeiro. Isso mobilizava as elites políticas da província na exigência de maior participação.

A socióloga Ângela Alonso também fala da insatisfação em grupos emergentes nas cidades que desejavam ter voz política, mas que não conseguiam porque o sistema político da monarquia era abertamente excludente|1|. Os liberais até tentaram incluir parte da sociedade no eleitorado, mas a realidade que se impôs foi contrária: a Lei Saraiva, de 1881, reduziu drasticamente o eleitorado brasileiro.

Os problemas da monarquia, portanto, criaram um grupo de insatisfeitos que passou a ver na república uma alternativa para o desenvolvimento do Brasil. Pontos de partida extremamente importantes para o fortalecimento do republicanismo aqui foram a fundação do Partido Republicano Paulista (PRP) e o lançamento do Manifesto Republicano, em 1870.

O PRP surgiu por meio do Clube Radical, e era formado por um grupo de republicanos paulistas que estavam insatisfeitos com a política na monarquia, sobretudo por conta da centralização do poder e da falta de autonomia das províncias. Entretanto, o PRP, surgido em 1873, só foi possível graças ao Manifesto Republicano, publicado três anos antes.

Essa manifesto tornou-se um balizador dos defensores da república no Brasil e defendia a ideia de que os grandes males do país advinham da monarquia. O manifesto também criticava o centralismo e propunha o federalismo como a principal ação em benefício do país. A questão federalista, na defesa por autonomia para as províncias, foi um dos grandes motes dos defensores da república no Brasil.

  • Outras demandas

Outras grandes demandas da época eram o estabelecimento do laicismo no Brasil, isto é, a transformação do Brasil em um Estado laico, e a questão do abolicionismo, uma das pautas que moveram a sociedade brasileira na década de 1880. A grande maioria dos abolicionistas era adepta dos ideais republicanos, e a mobilização em defesa do movimento inclinou-se para a implantação da república.

Por fim, havia uma insatisfação a respeito da sucessão do trono. A princesa Isabel não era considerada a pessoal ideal para assumir o trono e a possibilidade de que seu marido, um francês, se tornasse imperador também não era muito bem aceita. Chegou-se até a cogitar que seu filho mais velho fosse coroado, mas essa ideia não avançou.

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Conspiração

Percebemos, portanto, que havia inúmeras razões de insatisfação contra a monarquia, e, nas palavras de Ângela Alonso, “as crises políticas sobrepostas, somadas à mobilização social, produziram a conjuntura propícia para a mudança de regime”|2|. Ela completa dizendo que, em 1889, a questão não era se a monarquia cairia, mas quando ela cairia|2|.

Associações e grupos defensores do republicanismo começaram a fazer ações na rua em defesa da implantação da república, e jornais da época propagavam esses ideais. Em julho de 1889, a monarquia proibiu essas manifestações, mas já era tarde. Conspirações contra a monarquia aconteciam, em meios civis e militares.

Nomes como Benjamin Constant, Quintino Bocaiuva, Antônio da Silva Jardim, José do Patrocínio, entre outros, movimentavam-se pela implantação da república no Brasil. O Exército também era cada vez mais agitado pela possibilidade de agir contra a monarquia. Em novembro de 1889, os boatos sobre um levante militar eram fortes no Rio de Janeiro.

  • Proclamação da república

Como foi a participação popular durante o processo de instauração da república no Brasil?
O marechal Deodoro da Fonseca foi convencido a derrubar o Gabinete Ministerial e acabou tornando-se o primeiro presidente do Brasil.

A proclamação da república foi resultado de um golpe encabeçado pelos militares, mas que contou com envolvimento civil, e foi, em parte, planejada, e, em parte, improvisada. No começo de novembro, como vimos, os boatos sobre uma conspiração eram muito fortes. O passo decisivo para que a proclamação fosse deflagrada foi a adesão do marechal Deodoro da Fonseca.

No dia 10 de novembro, republicanos foram até a casa do marechal para convencê-lo a juntar-se a eles em um movimento para derrubar o Visconde de Ouro Preto do Gabinete Ministerial. Entre os presentes estavam Rui Barbosa, Benjamin Constant e Aristides Lobo. O marechal foi convencido a aderir ao golpe após uma série de argumentos baseados em muitos boatos.

A adesão do marechal aconteceu visando ao seguinte objetivo: a destituição do Visconde de Ouro Preto. Os acontecimentos da proclamação da república foram divididos, pela historiadora Ângela Alonso, em oito episódios, que se estenderam por 81 horas, a começarem no dia 14 de novembro de 1889. Os episódios narrados por ela foram os seguintes|3|:

  1. Desencadeamento da sublevação civil-militar
  2. Deposição do Gabinete Ministerial
  3. Reação monarquista
  4. Mobilização no espaço público e proclamação da república
  5. Formação do governo republicano
  6. Tentativa de formação de um gabinete monarquista
  7. Cerco da família imperial e posse do governo provisório
  8. Deportação da dinastia

Dentro dessa composição, o golpe que levou à proclamação da república foi realizado no dia 15 de novembro de 1889. Entretanto, as ações relacionadas a esse acontecimento iniciaram-se no dia 14 por meio de notícias falsas veiculadas com o objetivo de gerar adesão ao golpe em curso. Isso colocou alguns grupos militares em ação contra a monarquia.

No dia seguinte, 15, tropas lideradas por Deodoro da Fonseca cercaram o quartel-general que ficava no Campo do Santana. Ele ordenou que o Visconde de Ouro Preto e o ministro da Justiça, Cândido de Oliveira, fossem presos. Após prender os dois, o marechal fez um elogio ao imperador e foi para sua casa, à espera que d. Pedro II formasse um novo gabinete.

No entanto, isso não aconteceu. Enquanto isso, outras pessoas envolvidas na conspiração começaram a agir para tornar esse acontecimento o responsável pela proclamação da república. Durante a tarde do dia 15, foi proposto que a república fosse proclamada na Câmara Municipal ou no Senado.

Ficou decidido que a proclamação aconteceria em uma sessão da Câmara Municipal, e nela, José do Patrocínio foi o responsável pela proclamação da república no Brasil. Houve alguma celebração nas ruas do Rio de Janeiro, com desfiles e vivas sendo puxados pelos envolvidos na conspiração. Nessas comemorações, fala-se da participação de populares.

Houve uma tentativa de resistência organizada por monarquistas, como Conde d’Eu e André Rebouças, mas ela não avançou. O imperador d. Pedro II, que estava em Petrópolis, ainda tentou formar um novo gabinete, mas sua proposta não foi aceita. Os republicanos, em seguida, formaram um governo provisório.

O governo provisório contou com muitos dos envolvidos na conspiração contra a monarquia. Quintino Bocaiuva assumiu a pasta das Relações Exteriores; Benjamin Constant assumiu a pasta da Guerra; Aristides Lobo assumiu a pasta do Interior; Rui Barbosa assumiu a pasta da Fazenda etc. O marechal Deodoro da Fonseca, por sua vez, foi indicado à presidência.

Por fim, a família imeperial foi expulsa do Brasil. No dia 16 de novembro, ela recebeu a ordem de deixar o país em até 24 horas, e, no mesmo dia, um decreto do governo provisório anunciou que a ela receberia a quantia de cinco mil réis. Entretanto, essa medida indenizatória foi revogada em dezembro de 1889. No dia 17 de novembro, a família real embarcava para Lisboa.

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Consequências

A proclamação da república foi um acontecimento marcante na história de nosso país e trouxe mudanças significativas. Entre elas, podemos mencionar:

  • Implantação da república
  • Implantação do federalismo
  • Estabelecimento do sufrágio universal masculino e fim do voto censitário
  • Implantação do Estado laico
  • Estabelecimento do presidencialismo

A década de 1890 ficou marcada como uma década de conflitos, frutos da disputa entre monarquistas e republicanos e das disputas entre os diferentes interesses políticos que lutavam pelo poder na recém-instalada república.

Notas

|1| ALONSO, Ângela. Instauração da república no Brasil. In.: SCHWARCZ, Lília M. e STARLING, Heloísa M (orgs.). Dicionário da república: 51 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. p. 164.

|2| Idem, p. 166.

|3| Idem, p. 167-171.

Crédito da imagem

[1] Commons

Por Daniel Neves Silva

Como se deu a proclamação da República? O estabelecimento da República no Brasil não teve uma participação popular. A conspiração que derrubou a monarquia ficou restrita a poucos republicanos.

Qual foi a participação do povo na República?

O povo simplesmente não participou de nada. A Proclamação da República no Brasil foi encabeçada somente por militares e pessoas influentes da elite, q estavam insatisfeitas com o governo de D. Pedro II. Tanto é q quando as tropas do Marechal Deodoro estavam a caminho do palácio para depor D.

Quem participou do movimento da proclamação da república?

Proclamação da República do Brasil
Exército Brasileiro
Império do Brasil
Líderes
Deodoro da Fonseca Benjamin Constant Ruy Barbosa Quintino Bocaiuva Campos Sales Floriano Peixoto
Pedro II Princesa Isabel Visconde de Ouro Preto
Baixas
Proclamação da República do Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livrept.wikipedia.org › wiki › Proclamação_da_República_do_Brasilnull

Como a população reagiu com a proclamação da república?

Os republicanos tentavam a todo custo disseminar suas idéias pelo país, porém era um trabalho em vão. Quando enfim perceberam que não conseguiriam por fins pacíficos acabar com o império, tiveram a grande idéia de um golpe militar.