Porque o preço do álcool sobe junto com a gasolina?

Para quem está precisando abastecer o carro, parece injusto: quando o Jornal Nacional (ou a Autoesporte) anunciam um aumento, o dono do posto logo sobe os preços, ainda que seu reservatório esteja cheio (e adquirido no preço menor). Ora, se ele pagou menos, que venda por menos, certo?

Para o dono do posto, o problema é outro. Com o aumento, se ele vender o “estoque antigo” pelo preço antigo, não terá margem para repor o conteúdo dos tanques com o valor atualizado.

O caso inverso também não beneficia o consumidor. Quando a Petrobras reduz os preços, a vantagem dessa redução demora até aparecer na bomba – isso quando aparece. Deixando de lado razões especulativas, aqui vale uma lógica comercial.

Todo aquele combustível que está armazenado teoricamente foi adquirido pelo empresário por uma cotação mais alta. Assim, se ele repassar imediatamente esse “benefício” para o cliente, terá que absorver o custo adicional.

Outro fator que se leva em conta na hora de precificar o etanol são os períodos de safra e entressafra da cana de açúcar. De abril a novembro, momento do ano em que as plantações da matéria-prima estão produtivas, o etanol fica mais competitivo no mercado (preços mais baixos, favorecendo a movimentação comercial) e sua venda é maior por conta do aumento da oferta.

Já na entressafra, o mercado se regula. Cerca de metade da matéria-prima produzida e reservada da safra precisa dar conta do etanol vendido no período entre dezembro e março, uma vez que a produção será baixa. Assim, o combustível fica menos competitivo no mercado e isso culmina nos preços sendo elevados devido à diminuição de sua oferta.

No Brasil, a própria entressafra acaba provocando influência no preço da gasolina (que é feita com petróleo, não da cana). A gasolina vendida no país contem etanol em sua composição, cerca de 27%. Quando o álcool aumenta, a refinaria paga mais caro à indústria alcooleira. E transfere este custo para o consumidor. Ou seja, você.

Sobre o preço final que o consumidor paga nas bombas de combustíveis, Pádua ainda explica que existem outras variáveis que modificam esses valores. “O preço pode cair no produtor e subir na bomba, ou vice-versa, tudo depende também da política de margem de lucro das distribuidoras e da política de margem de revenda. O mercado de combustíveis é pautado por todas essas variáveis”.

Por fim, o diretor da Única relembra que os combustíveis, assim como diversos outros produtos, são afetados pelas mudanças no ICMS. “Mesmo que o preço do etanol caísse agora em março, como a referência de cobrança do ICMS é de fevereiro e o preço está alto, ainda sim a cobrança do imposto iria aumentar o preço final”.

A guerra entre Rússia e Ucrânia elevou o preço do barril de petróleo para as alturas - na cotação desta sexta-feira (11)  o valor era de US$ 116. Como a Petrobras segue a cotação internacional de preços, mesmo para o combustível produzido no Brasil, veio o consequente reajuste nas refinarias de 18,7% para o preço da gasolina. Mas se o etanol, que é um derivado da cana-de açúcar produzido em nosso estado, não faz parte dessa cadeia do petróleo, porque ele também subiu junto?  O preço médio do etanol no Recife está em R$ 5,30 o litro.

A culpa é da paridade de preços, resumiu Alfredo Pinheiro Ramos, presidente do Sindcombustíveis, entidade que agrega os donos de postos de combustíveis no estado. A paridade é a regra de mercado que diz que o etanol deve custar até 70% do preço da gasolina para ser competitivo em relação a gasolina. O que deveria ser uma medida para ajudar o consumidor, acaba servindo de parâmetro de precificação para quem revende. "Quando as distribuidoras vendem o combustível para os postos, o etanol já vem com essa paridade tendo como referência o preço da gasolina", diz Ramos.

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CONTAS

Na prática, os postos sempre aplicam algo entre 72% e 77% de diferença nos preços entre etanol e gasolina nas bombas como que para deixar o motorista na dúvida sobre qual combustível escolher. Cabe ao motorista então fazer as contas, para saber se vale a pena abastecer com etanol, lembrando que nos carros com motores mais modernos o consumo com o derivado de cana aumenta em torno de 20% e nos motores mais antigos, até 30%.

Outra razão para que o etanol não apareça mais barato nos postos seria uma espécie de "medida preventiva" do mercado. Como a gasolina traz em sua composição o álcool etílico, uma grande procura pelo etanol (que nada mais é do que uma mistura de álcool e água), poderia afetar o preço do álcool, que é adicionado à gasolina na proporção de 27%, impactando no futuro no preço final da gasolina.

Por que o álcool é adicionado à gasolina?

A queima incompleta da gasolina produz monóxido de carbono, um gás-estufa que aumenta o problema do aquecimento global. Com a adição de etanol, essa poluição diminui. O percentual indicado de cerca de 25% foi criado justamente para poder diminuir os poluentes e também melhorar a limpeza interna do motor.

O que determina o preço do etanol?

"O que determina o preço do etanol são alguns componentes, como preço do petróleo, do açúcar, a procura por combustíveis e as condições do País", resumiu o professor de economia Antonio Carlos Lobão, da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas.

Porque o álcool é mais barato que a gasolina?

O etanol é produzido pelo setor sucroenergético e é mais econômico do que a gasolina.

Porque o etanol é tão caro no Brasil?

Segundo o consultor em agronegócio José Luis Coelho, uma das questões que mantém o etanol caro nos postos é a baixa na produtividade no campo, que reduz a quantidade de matéria-prima e, consequentemente, a disponibilidade de combustível que deixa as usinas.