Quem é paulo chaves

O arquiteto Paulo Chaves Fernandes, o dr. Paulo, acaba de falecer em Belém. Ele estava internado há alguns dias, na UTI do hospital da Beneficência Portuguesa, depois de ter sofrido um infarto. Ele havia acabado de completar 75 anos de idade.

Poucos paraenses souberam amar Belém como Paulo Chaves. E poucos souberam tão bem usufruir de um cargo público para demonstrar, na prática, o amor pela capital paraense.

Em 1995, quando o governador Almir Gabriel (PSDB) assumiu o Governo do Pará, Paulo Chaves se tornou o titular da Secretaria de Cultura do Pará (Secult-PA), e começou a transformação pela qual Belém passou desde essa época.

Em 1998, foram as duas primeiras obras: Parque da Residência, inaugurado em um dia, e o Museu de Arte Sacra, no outro. O Museu está localizado no antigo Arcebispado, que é colado à igreja de Santo Alexandre, que, por obra de Paulo Chaves, foi terminada a reforma que já se estendia por quase 30 anos.

O acervo no Museu de Arte Sacra tem como base a coleção particular do médico paraense Abelardo Santos que havia deixado a coleção inteira como herança aos seus empregados. Dr. Paulo, por meio do Governo do Pará, comprou essa coleção, que poderia ter saído do Estado, mas ficou no Pará.

Depois, vieram Estação das Docas, Complexo Feliz Lusitânia, Polo Joalheiro “São José Liberto” – um santo que ele desencavou, sabe Deus onde, assim como o famoso São José de Botas, do Museu de Arte Sacra -, e também o Mangal das Garças, Hangar – Centro de Convenções, a reforma do aeroporto internacional de Val-de-Cans, a grande reforma do Theatro da Paz e, por último, o Parque do Utinga.

Paulo Chaves ficou 20 anos à frente da Secult-PA, nos dois governos de Almir Gabriel e em três de Simão Jatene. Se hoje temos em Belém: Feira Pan-Amazônica do Livro, Festival de Ópera do Theatro da Paz, Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz e a Amazônia Jazz Band, devemos à mente inquieta e visionária de Paulo Chaves.

Quem é paulo chaves
Paulo Chaves na Feira Pan-Amazônica do Livro, no Hangar

Dessas coincidências da vida (e da morte), na terça-feira, 16, fez três anos que o Parque do Utinga, o último presente dele a Belém, foi inaugurado.

Na entrada do Parque do Utinga há uma placa com um poema que ele escreveu sobre aquele lugar. Entre outras coisas, ele diz que gostaria que os caruanas o recebessem, depois da morte, e que ele voltasse na forma de um pássaro ou borboleta para morar, enfim, junto à natureza.

Belém, a capital do estado do Pará, deve muito ao arquiteto Paulo Roberto Chaves Fernandes. Paz à alma dele

Familiares, amigos e admiradores do arquiteto, professor e ex-secretário estadual de cultura Paulo Chaves Fernandes se despediram e fizeram suas últimas homenagens com um grande cortejo pelas ruas de Belém na manhã desta quinta-feira (18), passando em frente às principais obras que contaram com a assinatura dele, como o Mangal das Garças, o Parque das Residências e a Estação das Docas. Em seguida, os presentes seguiram para o enterro, que ocorreu por volta das 12h40, no cemitério Recanto da Saudade, em Ananindeua.

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Inicialmente marcado para as 10h, o enterro só aconteceu após o cortejo fúnebre deixar a capela do Recanto da Saudade, no bairro do Umarizal, onde foi realizado o velório, e percorrer locais como o Theatro da Paz, que foi reformado e restaurado na administração de Paulo Chaves, e também a Estação das Docas, o Complexo Feliz Lusitânia, o Mangal das Garças, o Portal da Amazônia, o Espaço São José Liberto, o Parque da Residência, o Hangar e o Parque do Utinga. Todas essas obras foram assinadas por ele, sozinho ou em coautoria, projetos originais ou de revitalização. 

A passagem por esses espaços foi a forma que os parentes e amigos de Paulo Chaves escolheram para prestar a última homenagem e promover um encontro do arquiteto com várias de suas criações. "Faltam palavras. E faltando, surgem as de agradecimento. Ele era o homem público, persistente, mas também o pai leal, afetuoso e companheiro, e o amigo fraterno, que sempre pregou a amizade plena e sincera. Ele tinha um amor incondicional por Belém, essa terra que ele nunca traiu e nunca deixou", chorou Gabriel Fernandes, filho caçula de Paulo Chaves.

"Ele era o homem público, persistente, mas também o pai leal, afetuoso e companheiro, e o amigo fraterno, que sempre pregou a amizade plena e sincera. Ele tinha um amor incondicional por Belém, essa terra que ele nunca traiu e nunca deixou" - Gabriel Lima Fernandes

Pablo Chermont, filho mais velho do arquiteto, se emocionou ao relembrar da trajetória do pai, com quem trabalhou em algumas de suas obras, como o Museu de Arte Sacra (MAS), na Cidade Velha, e também das principais memórias que ele deixa, como a de acompanhar os jogos do Flamengo, clube do qual era torcedor desde criança. "Não é só o pai que nos deixa neste momento. Mas ele nos deixa também um grande legado da sua passagem como pessoa e como arquiteto pra memória da nossa cidade e do nosso Estado", pontuou.

Os dois filhos do arquiteto, Pablo Chermont (à esquerda) e Gabriel Fernandes (à direita), se abraçam e se emocionam em frente a uma das obras do pai, o Complexo Feliz Lusitânia (Akira Onuma/ O Liberal)

O velório durou toda a madrugada e teve grande participação de pessoas. Emmanuel Zagury Tourinho, reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), instituição onde Paulo Chaves foi professor, e Simão Jatene, ex-governador do Pará, estiveram entre os presentes. O cortejo deixou a capela por volta das 10h50, com quase uma hora de atraso frente ao inicialmente previsto. "Foi uma perda muito grande para nós da universidade e do Estado, por toda sua capacidade de trabalho e liderança, e pelo seu trabalho como arquiteto, que é uma referência", avaliou Tourinho. "Paulo Chaves foi um professor muito respeitado e uma liderança intelectual".

"Foi uma perda muito grande para nós da universidade e do Estado, por toda sua capacidade de trabalho e liderança, e pelo seu trabalho como arquiteto, que é uma referência" - Emmanuel Zagury Tourinho

Para Conceição Alencar Souza, dona da joalheria Belém da Saudade, localizada no Espaço São José Liberto, uma das obras do arquiteto, Belém tem duas histórias: uma antes e outra depois de Paulo Chaves. "É uma perda muito grande. Eu trabalho no Polo Joalheiro, e devo todo o meu sucesso a ele. O meu progresso depende todo do Paulo. Ele me deu a mão, me deu a vara e eu pesquei. Eu sou muito grata por tudo que ele fez por mim e por essa cidade", disse a amiga pessoal do arquiteto, muito emocionada.

No Parque da Residência, mais uma obra assinada por Paulo Chaves, Gabriel Fernandes se emociona ao relembrar do pai (Akira Onuma/ O Liberal)

Gilberto Chaves, primo do arquiteto, avaliou o legado deixado por ele aos paraenses. "Paulo entra para a história do Pará como um homem que ficou acima da média, daqueles que amavam sua cidade. Um dos homens que o Paulo mais admirava era o Antônio Lemos, uma figura que fazia obras para o futuro. E essa era uma característica que ele mesmo tinha. Ele não fazia uma obra política, para uma geração. Fazia para várias gerações futuras. Essas pessoas que são visionárias tendem a ficar eternizadas na história", concluiu.

"Um dos homens que o Paulo mais admirava era o Antônio Lemos, uma figura que fazia obras para o futuro. E essa era uma característica que ele mesmo tinha. Ele não fazia uma obra política, para uma geração. Fazia para várias gerações futuras. Essas pessoas que são visionárias tendem a ficar eternizadas na história" - Gilberto Chaves

Paulo Chaves Fernandes morreu às 16h desta quarta-feira (18), em Belém, aos 75 anos, vítima de complicações de uma insuficiência cardíaca, enfrentada havia alguns anos. Pai de Pablo Chermont, de 43 anos, de seu primeiro relacionamento com Ana Júlia Chermont, e Gabriel Lima Fernandes, da união com a também arquiteta Rosário Lima, ele passou o último aniversário, em 4 deste mês de março, já internado.

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