É possível reutilizar a água do ar condicionado para regar as plantas?

Líquido condensado pode ser reaproveitado para limpeza e rega de plantas, entre outras atividades

A água descartada pelo ar-condicionado pode ser utilizada para diversas atividades que não requerem o uso de água potável. A medida pode gerar economia em tempos de escassez de recursos hídricos, seja em residências ou em estabelecimentos privados de grande porte. No verão, período no qual o aumento no uso do aparelho é considerável, um único equipamento pode gerar até 20 litros de água, quantidade suficiente para atividades como limpeza de área externa e carros, rega de plantas, descarga de banheiro, entre outras.

Por se tratar de um desumidificar, o ar-condicionado trabalha retirando a umidade do ambiente em que está instalado. A condensação acontece quando o vapor de água passa do estado gasoso para o líquido, em um processo igual ao que ocorre com a água da chuva. O resultado é um líquido condensado impróprio para consumo humano -- não é indicado para beber nem para tomar banho --, mas perfeitamente seguro para outros usos.

Na maioria das casas e empresas, a água do ar-condicionado é desperdiçada e descartada no esgoto e nas galerias pluviais. Mas, com medidas simples como a utilização de canos e reservatórios plásticos, ela pode ser facilmente armazenada e reaproveitada. A quantidade de água varia de acordo com a potência do equipamento, o tempo de funcionamento e o clima do local. Em regiões úmidas, os aparelhos condensam uma quantidade maior de água.

A água condensada pode, inclusive, ser utilizada para regar plantas, mas é importante observar algumas ressalvas. O solo que receberá o líquido deve ser bem cuidado, adubado e estar rico em nutrientes, porque a água que vem do ar-condicionado é destilada, ou seja, não possui sais minerais e nutrientes que são essenciais à saúde das plantas.

Reutilização vira lei em Pernambuco
A Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) aprovou, ainda em 2019, um projeto de lei que determina a reutilização da água descartada dos aparelhos de ar-condicionado. De acordo com a lei, os novos empreendimentos particulares de grande porte que se instalarem no estado -- entre eles, shoppings centers, hospitais e bancos -- podem reaproveitar a água, sem arcar com taxas e tarifas cobradas pela concessionária de água e esgoto.

Segundo o autor da lei, deputado estadual Isaltino Nascimento, a medida é importante tanto para a economia quanto para o meio ambiente.  "Alguns estabelecimentos mais antigos já usam porque é mais econômico e ajuda a diminuir custos. Os mananciais vão diminuindo, e nosso objetivo é criar uma cultura de não desperdício", afirmou em entrevista ao jornal Folha de Pernambuco.

O não cumprimento da lei pode acarretar em multas que vão de R$ 1 mil até R$ 100 mil, a depender do tamanho do estabelecimento.

Reúso é indicado para lavagem de piso, bacias sanitárias e rega de plantas

É possível reutilizar a água do ar condicionado para regar as plantas?

A água clara gerada por aparelhos de ar-condicionado é uma solução viável para usos não potáveis, como lavagem de piso, bacias sanitárias e rega de áreas verdes. A conclusão é de uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) entre os anos de 2018 e 2020.

A pesquisa “Avaliação da viabilidade de uso e aceitação social da água clara gerada por aparelhos de ar-condicionado” foi realizada pela pesquisadora Jéssika de Oliveira, com suporte dos professores Williame Farias, Tarciso Cabral, Cristina Crispim e Gilson Barbosa. A análise se deu por meio de coletas em equipamentos de climatização instalados no campus I da UFPB, em João Pessoa.

“Buscando averiguar o volume gerado, coletou-se água de 38 aparelhos de potências variadas, entre 7.500 e 80.000 BTU/h, localizados em seis tipos de ambientes: auditório, bibliotecas, copiadoras, salas administrativas, salas de aulas e laboratórios. Mesmo sem tratamento especial, a água clara gerada apresentou-se como uma solução bastante viável”, conta Jéssika.

Economia

A pesquisadora da UFPB afirma que, de maneira sistêmica, planejada e bem projetada, é possível, com o aproveitamento do recurso saindo do ar-condicionado, além de atender questões ambientais, obter economia financeira na instituição.

“Boa parte da água utilizada na UFPB é oriunda da concessionária de abastecimento de água. Com a crescente escassez hídrica, fontes alternativas de água vêm surgindo ano após ano. Como um exemplo dessas fontes, tem-se o vapor d’água e as gotículas presentes no ar atmosférico, que são extraídas por máquinas através da condensação do ar”, explica.

Segundo Jéssika, os aparelhos de ar-condicionado usam processos bem similares ao das máquinas de condensação do ar, mas, comumente a água – nomeada pela NBR 16.783/2019 de água clara – é desprezada.

“Surgiu a ideia de averiguar o volume e a qualidade da água clara gerada por esses aparelhos de climatização, tão usuais ao nosso cotidiano. Através das 188 coletas na UFPB, foi observado que, quanto maior a potência dos aparelhos, maior tende de ser o volume gerado”, diz a pesquisadora.

Pesquisa

Na análise realizada pela pesquisa, foram coletadas, por exemplo, vazões entre 0,20 e 6,81 L/h (Litro por hora), dos aparelhos de 7.500 e 80.000 BTU/h, respectivamente. No entanto, os pesquisadores registraram vazões com valores discrepantes em um mesmo aparelho ou em aparelhos de potência idêntica.

“Logo, foi notado que, além da potência, a umidade relativa do ar, principalmente do ar interno, e a carga térmica (calor sensível e calor latente) do local também têm influência sobre o volume gerado”, destaca.

Jéssika de Oliveira argumenta que as discrepâncias no volume de água dos aparelhos idênticos podem acontecer diante de fatores como fluxo de pessoas, instalações mais próximas à entrada do local e funcionamento ininterrupto dos aparelhos.

Também por causa de possíveis pontos de infiltração de ar. Os equipamentos dispersadores de ar, releva a pesquisadora da UFPB, tendem a elevar ou diminuir a carga térmica e a umidade relativa do local e, consequentemente, o volume produzido. Já a marca dos aparelhos, segundo ela, aparentou nenhuma influência na mudança da quantidade produzida.


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Na pesquisa, com intuito de auxiliar projetos que visem o uso dessa fonte alternativa, uma equação foi construída para estimar a vazão produzida de água clara através da umidade relativa do ar interno e da potência dos aparelhos.

Para verificar a qualidade da água clara, foram coletadas amostras em seis aparelhos, sendo feita a análise dos parâmetros em parceria com a Coordenadoria de Medições Ambientais, da Superintendência e Administração do Meio Ambiente (Sudema).

“Os parâmetros físicos e químicos analisados (cor, turbidez, pH, condutividade e sólidos totais dissolvidos) estão todos em conformidade com a NBR 16.783/2019, a norma pertinente às fontes alternativas de água, e com os padrões estabelecidos na legislação referente à potabilidade da água”, ressalta.

Quanto à análise microbiológica da água dos aparelhos de ar-condicionado, distingue Jéssika, houve a presença de “coliformes termotolerantes” em todas as amostras. Mas os valores se mostraram abaixo dos limites permitidos pela norma brasileira NBR 16.783/2019.

“Com um simples tratamento, filtração e cloração, passa a haver possibilidade de conformidade quanto à potabilidade da água”, acredita a pesquisadora da UFPB.

Recurso

No trabalho, foi analisada também a percepção ambiental da população sobre a água clara. Os pesquisadores constataram que o ar-condicionado é um item bastante comum no dia-a-dia de 137 participantes da pesquisa.

“99,3% dos participantes afirmaram ter contato com ambientes climatizados (automóveis também foram considerados) pelo menos uma vez por semana. Apesar disso, apenas 23% já usaram ou usam a água clara, sendo a rega de jardins e lavagem de áreas externas os usos mais comuns”, acentua Jéssika.

A pesquisadora da UFPB assevera que, quando questionados sobre o possível volume gerado por um aparelho de 12.000 BTU/h, 76% dos participantes da pesquisa responderam que seria menor que 1L/h.

“Na pesquisa realizada foram registradas vazões médias de 1,137 a 2,047 L/h. Logo, pode-se notar que, apesar de ser tão usual, o “subproduto” gerado pelo processo de climatização ainda é um recurso pouco observado e explorado”, contrasta Jéssika.

A partir de um inventário disponibilizado pela Gerência de Manutenção e Equipamentos (GME) da UFPB, os pesquisadores constataram uma quantidade de 3.258 aparelhos do modelo split na instituição. Os aparelhos com potências de 12.000, 18.000 e 24.000 BTU/h foram os mais presentes.

“Pela pesquisa realizada, esses aparelhos possuem vazões médias de água clara entre 1,37 e 2,41 L/h, sendo o volume produzido escoado para o sistema de esgoto. Ou ainda, de forma errônea, despejado nas calçadas, o que pode causar até danos às estruturas das edificações”, lamenta a pesquisadora da UFPB.

Fonte: Jornal da Paraíba.


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Pode regar plantas com água do ar condicionado?

Regar as plantas: a água do ar condicionado também pode ser usada para regar as plantas e os jardins. Atenção que esta não tem todos os nutrientes necessários.

Pode reaproveitar a água do ar condicionado?

A água que sai do seu ar condicionado é destilada, mas não é potável! Você pode reaproveitar esta água de tais forma: reabastecer a mochila ou a cisterna do seu vaso sanitário, reabastecer a água do limpador de para-brisa do carro, para limpar pisos, janelas, peças do carro, certos móveis, etc.

Qual o pH da água que sai do ar condicionado?

Foram coletadas águas condensadas de aparelhos de ar condicionados na Universidade Federal do Ceará, e após filtração possuem os seguintes parâmetros físico-químicos: temperatura 23 °C; pH 6,9; turbidez 0,4 NTU; condutividade 47 microS/cm.

Qual tipo de água que sai do ar condicionado?

O solo que receberá o líquido deve ser bem cuidado, adubado e estar rico em nutrientes, porque a água que vem do ar-condicionado é destilada, ou seja, não possui sais minerais e nutrientes que são essenciais à saúde das plantas.