Qual a relação entre a prática da mumificação e a crença na vida após a morte?

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Os mortos são cultuados em diversas sociedades. Isso ocorre de acordo com as crenças de cada povo. Um exemplo de civilização que praticava o culto dos mortos foi o Egito. Para eles, mesmo após a morte, a vida humana continuava em outro lugar com as mesmas necessidades (moradia, alimentação, etc.). Por isso, os egípcios conservavam os cadáveres para que sua continuidade fosse mantida no além. Os mortos eram tratados da mesma forma que as divindades. Foram desenvolvidos processos que mantiveram os corpos conservados por muito tempo, protegidos contra quaisquer forças que pudessem desintegrá-los.

Aos poucos, o culto dos mortos começa a se tornar um verdadeiro ofício na cultura egípcia. Uma das primeiras técnicas desenvolvidas neste sentido foi a mumificação, na qual eram retirados os órgãos principais do cadáver e, então, colocava-se os corpos encobertos por faixas de algodão dentro de um sarcófago. Existiam três tipos de mumificação, a do Egito faraonitico, a osiriana e a de classe baixa. Após o final do processo, os mortos eram presenteados com móveis, bebidas e outros artefatos. O objetivo destas doações era fazer com que os falecidos, já em outro plano, continuassem a utilizar os objetos em sua nova existência.

Normalmente, os cuidados com os cadáveres ficavam sob responsabilidade da família do falecido. Mas essas atividades tinham alto custo, por isso, apenas os egípcios de classe mais abastada podiam ter esse privilégio. Porém, com o declínio do poder do Faraó, o interesse do povo egípcio no culto ao mortos diminuiu, restando poucas tradições como a libação com água realizada a cada dez dias e o pronunciamento de frases para os cadáveres.

Além da cultura egípcia, quase todas as religiões cultuam os mortos, como a Igreja católica, que venera Santos como intercessores entre os vivos e Deus. Algumas culturas de nativos da América e orientais veneram seus ancestrais de forma a garantir que tenham um bem-estar contínuo em outra vida, além da crença de que os mortos podem influir na vida dos vivos, fazendo-lhe favores ou lhes dando assistência. No espiritismo, acredita-se que é possível a comunicação com os vivos e os espíritos por meio de médiuns.

Fontes:
AZEVEDO, Antonio Carlos do Amaral. Dicionário de nomes, termos e conceitos históricos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%BAmia#Mumifica.C3.A7.C3.A3o
http://pt.wikipedia.org/wiki/Culto_dos_mortos

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/cultura/culto-dos-mortos/

Mumificação é o processo de preservação de um corpo após a morte. Este processo pode acontecer de forma natural ou deliberada, sendo uma tradição encontrada em diversas culturas do mundo antigo. 

Qual a relação entre a prática da mumificação e a crença na vida após a morte?
Fotos de sarcófago fechado e múmia (Grande Museu Egípcio). 

Esta prática era uma forma de honrar um corpo ou expressar uma importante crença religiosa, especialmente a crença relacionada à vida após a morte. O processo de mumificação no Egito Antigo é o mais conhecido do mundo, mas esta tradição também é encontrada na civilização chinesa, nas civilizações antigas das Ilhas Canárias e em muitas sociedades pré-colombianas da América do Sul, incluindo os Incas. 

Como era o processo de mumificação? 

Existem poucos registros do processo de mumificação em textos egípcios antigos. O que é revelado nestes documentos são especialmente os rituais envolvidos durante a mumificação. As fontes mais detalhadas sobre o processo vêm de registros não egípcios, tais como os textos dos historiadores gregos Heródoto (484 - 425 a.C.) e Diodoro Sículo (30 - 90 a.C.). 

Qual a relação entre a prática da mumificação e a crença na vida após a morte?
Ilustração de embalsamadores egípcios.

Sículo aponta que as pessoas responsáveis pelo processo de mumificação eram chamados de embalsamadores, artesãos habilidosos que aprendiam esta técnica como um negócio familiar. Ele associa estas pessoas aos padres ou figuras religiosas que tinham esta função naquela época. 

O processo podia durar até 70 dias. Este é o passo-a-passo do processo de mumificação clássica que acontecia no Egito Antigo: 

1. Inserir um gancho por um buraco próximo ao nariz para puxar parte do cérebro;
2. Fazer um corte no lado esquerdo do corpo próximo à barriga;
3. Remover os órgãos internos; 
4. Secar os órgãos internos; 
5. Colocar pulmões, intestinos e estômago em um jarro; 
6. Recolocar o coração no corpo; 
7. Enxaguar o interior do corpo com vinho e especiarias; 
8. Cobrir o corpo com Natrão (sais) por cerca de 70 dias;
9. Após 40 dias encher o corpo com linho ou areia para dar uma forma mais humana; 
10. Após 70 dias enrolar o corpo da cabeça aos pés por bandagens de linho; 
11. Colocar o corpo em um sarcófago, espécie de caixa decorada como um caixão. 

Como acontece a mumificação natural? 

As múmias também podem ser formada através de um processo acidental relacionada às condições de temperatura do ambiente onde o corpo continua preservado. 

Isso pode acontecer quando o corpo morto é exposto a frio extremo, condições muito secas (como o deserto) ou outras condições de ambiente que favoreçam a não decomposição do corpo. 

A múmia mais antiga encontrada no Egito foi naturalmente preservada e data de 5.500 anos atrás. Ela era de uma jovem mulher que foi apenas enrolada em linho e pele quando morreu. 

Qual a relação entre a prática da mumificação e a crença na vida após a morte?
Ötzi, o homem de gelo, fotografado por Helmut Simon na descoberta do corpo em setembro de 1991.

Outra múmia preservada naturalmente foi encontrada na Europa e é conhecida como Ötzi, o homem de gelo. Ele provavelmente viveu há cerca de 5.300 anos atrás e foi morto nos alpes italianos, tendo o seu corpo preservado pelo  gelo. 

Na América do Norte, foi encontrado no estado de Nevada a múmia mais antiga daquela região. Descoberta em 1940, estudos apontam que ela pode ter mais de 10.000 anos.

Por que os egípcios faziam a mumificação? 

Historiadores acreditam que a mumificação foi inspirada pelas história dos deuses Osíris e Ísis da mitologia egípcia, que teve um efeito profundo na forma como os antigos egípcios tratavam os mortos. 

Na mitologia egípcia, Osíris e Ísis eram irmãos. Osíris governava o mundo, até que seu irmão Seth o matou, despedaçando-o em pedaços que foram espalhados pela terra do Egito. Ísis era mágica e andou pelas terras coletando os pedaços de Osíris e unindo-os com linho no primeiro ato de mumificação. Com este processo, ela o trouxe de volta à vida. Os dois tiveram então o filho Hórus. 

Hórus cresceu para vingar a morte do pai e governar o Egito como rei da vida na Terra. Osíris se tornou o rei do submundo, deus da morte e da ressurreição. 

Qual a relação entre a prática da mumificação e a crença na vida após a morte?
Papiro que revela o processo de chegada da alma ao submundo na mitologia egípcia.

Os antigos egípcios esperavam que após a morte, suas almas fossem levadas à Aaru, ou o campo dos Juncos, que era a representação do paraíso. No entanto, quando morriam, deveriam passar por testes no submundo. O mais importante dos testes acontecia na sala de julgamento, diante de Osíris. 

Para chegar ao paraíso a pessoa ficava diante de 42 juízes e tinha que jurar que não havia cometido certos pecados em vida, como roubo, mentira e assassinato. Depois disso, acontecia a pesagem do coração. Este é o motivo pelo qual eram retirados vários órgãos internos da pessoa no processo de mumificação, mas o coração era mantido. 

O coração da pessoa era pesado contra a pena da verdade e da justiça. Se o coração fosse mais pesado que a pena, a pessoa seria comida por um demônio com cabeça de crocodilo. Se o coração e a pena se equilibrassem, a pessoa era considerada verdadeira e poderia dar seguimento a sua jornada no campo dos Juncos. 

Os animais no Egito eram mumificados da mesma forma que os humanos 

Animais no Egito Antigo eram vistos mais do que pets, eles eram considerados encarnações de deuses e eram mumificados em honra a estas entidades. 

Pássaros, touros e especialmente gatos foram encontrados por arqueólogos ao longo dos anos mumificados da mesma forma que os humanos. Uma pesquisa da Universidade de Bristol relata que foram encontrados praticamente os mesmos materiais utilizados na mumificação de humanos em animais, tal como gorduras animais, óleos, cera de abelha, goma de açúcar, betume e resinas de pinheiro. 

Qual a relação entre a prática da mumificação e a crença na vida após a morte?
Foto de gato mumificado (Museu do Louvre).

Acredita-se que existam milhões de animais mumificados no Egito. Muitos deles receberam este processo após a morte ou assassinato devido a sua relação com os deuses cultuados por aquela civilização. 

Os gatos eram vistos como a encarnação de Bastet, deusa da música, da alegria e protetora das mulheres. Esta deusa era representada pelos egípcios como uma mulher com cabeça de gato. O touro Ápis era um outro animal sagrado no Egito que ficou conhecido como a incarnação de Osíris, o Deus dos mortos e do submundo. Os falcões, por sua vez, eram associados à Hórus, deus da luz. Já os pássaros Íbis eram associados a Thoth, o deus do conhecimento e da sabedoria.

Leia também: Conheça os principais deuses egípcios e suas histórias

O documentário de 2020 da Netflix, “Os Segredos de Saqqara”, mostra a primeira descoberta de um filhote de leão mumificado. No filme, acompanhamos a animação dos investigadores em fazer tal descobrimento. Possivelmente, a mumificação de um leão estaria ligado à honra de Sekhmet, a deusa da guerra e da cura, que era representada com o corpo humano e a cabeça de leão.

Chinchorro: a primeira civilização a realizar a mumificação no mundo

A mumificação era uma tradição amplamente difundida e honrada no mundo antigo, uma tradição que tinha um profundo significado religioso e frequentemente era realizada por especialistas qualificados. 

Qual a relação entre a prática da mumificação e a crença na vida após a morte?
Ilustração de como a civilização Chinchorro realizava a mumificação dos corpos. 

A primeira civilização conhecida por realizar o processo de mumificação é chamada Chinchorro, que se estabeleceu na costa do Chile há cerca de 9 mil anos atrás. Em 1917, foram encontradas pelo arqueólogo alemão Max Uhle as múmias mais antigas do mundo. As práticas de mumificação pelo Chinchorros começaram cerca de 2000 anos antes do Egito. 

Foi no Egito Antigo, contudo, que a mumificação alcançou o maior grau de sofisticação, especialmente no período conhecido como Império Novo (1550 a 1069 a.C.). Diferente da sociedade Chinchorro, a mumificação no Egito Antigo era reservada para a elite, tal como a realeza, famílias nobres, oficiais do governo e pessoas abastadas. Outros cidadãos eram raramente mumificados devido ao alto custo do processo. 

A relação entre a mumificação e os avanços na medicina

A mumificação do Egito Antigo teve um efeito indireto, mas profundo nos avanços da ciência médica. Esse processo familiarizou os egípcios com a ideia de dissecar cadáveres estimulando a pesquisa anatômica. A civilização egípcia foi fundamental para que os médicos gregos estudassem o corpo humano sistematicamente por dissecação nos anos seguintes. 

Existiu também um alexandrino chamado Elmagar que desenvolveu uma técnica séculos depois chamada de múmia. Ele utilizava um pó feito de porções moídas de cadáveres embalsamados para hematomas e feridas. 

As técnicas de mumificação egípcia foram também utilizadas para preservar corpos de figuras importantes ao longo da história. Entre elas, destaca-se Henrique IV e Luís XIV da França. 

Apesar da arte da mumificação ter sido deixada de lado ao longo dos milênios, sua importância para a conservação de corpos e o avanço da medicina e anatomia são indiscutíveis. 

Hoje, graças aos avanços relacionados à pesquisa de DNA, investigadores estão aptos a estudar corpos mumificados de maneira ainda mais profunda e detalhada. Atualmente, cientistas esperam encontrar a causa de muitas doenças atuais e suas evoluções ao longo dos tempos. Em um estudo realizado em 137 múmias, por exemplo, foi indicado que 34% sofria de endurecimento das artérias, o que sugere que fatores genéticos podem ser mais importantes que “estilo de vida” em relação às doenças do coração. 

Curiosidades rápidas sobre múmias e mumificação

Qual a relação entre a prática da mumificação e a crença na vida após a morte?
Foto da múmia do Faraó Ramsés II (Grande Museu Egípcio).

- O faraó Ramsés II foi a primeira múmia a receber um passaporte. No documento diz que a sua ocupação é rei. 

- Cebolas eram normalmente utilizadas para preencher cavidades no corpo da múmia, servindo também como olhos falsos. 

- Uma múmia da 11º dinastia da civilização egípcia apresentou cerca de 845 metros quadrados de linho enrolada em seu corpo. Isso seria suficiente para cobrir 3 quadras de tênis. 

- É provável que a múmia mais popular do mundo seja Vladimir Lenin, revolucionário comunista russo que teve seu corpo mumificado após a sua morte. O mausoléu dedicado a ele é um dos mais visitados em Moscou. 

- Tutancâmon é a única múmia da realeza descoberta com todos os seus tesouros inestimáveis ​​intactos. 

- A palavra "múmia" vem da palavra persa mūm, que significa cera e a substância de embalsamamento, betume. 

- Uma nova espécie de vespa descoberta no Equador foi apelidada de "vespas múmias" porque envolvem suas presas como múmias. 

- No antigo Egito, os principais embalsamadores frequentemente usavam uma máscara do Deus Anúbis. 

- A mudança climática está fazendo com que múmias chilenas se decomponham rapidamente em lodo preto. O aumento da umidade também aumentou a disseminação de micróbios carnívoros. 

Este conteúdo utilizou informações de pesquisas e investigações de: National Geographic, Live Science, My Learning, Si.edu, Fact Retriever e o documentário “Os Segredos do Saqqara” (2020).  

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Qual era a relação entre mumificação e crença na vida após a morte?

Os egípcios, povos politeístas, acreditavam na vida eterna após a morte, em que o espírito do falecido voltava para tomar seu corpo. Para abrigar o cadáver, construíram as pirâmides. E para preservar o corpo (enquanto o espírito não retornava) inventaram a mumificação.

Qual a relação entre mumificação e religião?

O processo de mumificação assumia grande importância no culto religioso egípcio, tido que era o meio de preservação do corpo. A mumificação é uma técnica usada para preservar humanos e animais. Os egípcios acreditavam que se tratava de um processo essencial para assegurar a passagem do morto para a outra vida.

Qual é a relação entre o processo de mumificação e os mortos e a religião egípcia?

A relação entre o processo de mumificar os mortos e a religião egípcia se dá pelo fato de que a fé da época acreditava na relação entre o mundo físico e espiritual e, que motivava inclusive a ornamentação dos faraós, que eram mumificados com joias e riquezas.

Qual é a relação entre o processo de mumificação?

Esse processo clássico de mumificação, fazia também parte da religião egípcia, eles acreditam que alma precisava de um novo corpo após a morte, portanto fazer a mumificação em um corpo era uma forma de preservar o corpo, para que na próxima vida da alma, o corpo teria que estar intacto por muito tempo.