Quando o conhecimento explícito e convertido em conhecimento tácito?

A espiral do conhecimento é um dos tópicos mais cobrados pelas bancas de concurso quando trazem o tema da Gestão do Conhecimento.

De acordo com Nonaka e Takeuchi [1], o processo de criação de conhecimento nas organizações se relaciona com a interação dos conhecimentos tácitos e explícitos – o que os autores chamam de conversão de conhecimento.

Este macroprocesso pode ser desdobrado em quatro modos de se criar conhecimento: a socialização, a combinação, a externalização e a internalização.

Conhecimento Tácito e Explícito

Antes de entrar na espiral do conhecimento, vamos ver o que são os conceitos de conhecimento tácito e de conhecimento explícito.

O conhecimento tácito é o que vem da experiência de cada pessoa. Desta forma, ele é subjetivo, pois decorre dos valores e da vivência de cada indivíduo. Este tipo de conhecimento é difícil de ser transferido para a linguagem formal, escrita.

Portanto, este tipo de conhecimento é considerado um importante quesito na competitividade das organizações e só é possível avaliá-lo por meio da ação. É o chamado “Know How”, ou saber fazer.

Por exemplo, imagine que você saiba dirigir automóveis. Assim, dez anos atrás, seu pai lhe levou a uma fazenda e mostrou os primeiros cuidados que você deveria ter na direção. Com a prática, você foi evoluindo e hoje já dirige, naturalmente, muito bem.

Portanto, este conhecimento que você adquiriu é tácito! Ou seja, ele não foi adquirido, nem está inserido, em um manual de direção de automóveis.

Ele está na sua cabeça! Logo, foi fruto de uma série de experiências que você teve durante sua vida.

De certa maneira, muitas vezes nem sabemos que temos certo conhecimento tácito, ou que ele pode servir para alguém.

Conhecimento Explícito

Por outro lado, o conhecimento explícito, muito valorizado em nossa cultura ocidental, é o conhecimento que já foi transformado para a linguagem formal. Assim sendo, foi passado para a forma de manuais, normas, textos, equações matemáticas, etc.

Nesse sentido, este conhecimento de certa forma já foi explicado, mapeado. Logo, está pronto para ser reproduzido e transferido de forma muito mais fácil entre as pessoas.

Por exemplo, imagine a lei da gravidade. Muito antes de Newton (que foi quem a conceituou, transformando o conhecimento tácito em explícito), os seres humanos já a conheciam de maneira tácita, não é mesmo?

Ou seja, mesmo antes que a lei da gravidade fosse estudada cientificamente, e a sua dinâmica explicada em equações, os indivíduos já sentiam que existia “algo” que os puxava para baixo. Certamente, eles sentiam esta força em sua vivência.

Igualmente, temos outro exemplo conhecido que é o dos grandes cozinheiros. Por mais que você tente, mesmo seguindo aquela receita do livro “à risca” o prato não fica tão bonito e apetitoso como no restaurante, não é mesmo?

Nesse sentido, isto acontece porque a receita é o conhecimento explícito. Entretanto, provavelmente faltou algum conhecimento tácito a você no momento da execução do prato.

Logo, este conhecimento tácito é a sensibilidade do cozinheiro, sua experiência, seus “anos de cozinha”.

Esta habilidade e experiência são muito difíceis de serem transformadas em conhecimento explícito. Muitas vezes, nem que queira, o cozinheiro conseguirá lhe passar este conhecimento.

Cabe lembrar que os conhecimentos tácitos e explícitos são complementares, pois não conseguiríamos isolá-los. A interação ente estes conhecimentos levará uma organização a gerar mais conhecimento.

Espiral do Conhecimento – A Conversão do Conhecimento

Como mencionamos acima, a conversão do conhecimento pode ser desdobrado em quatro modos de se criar conhecimento: a socialização, a combinação, a externalização e a internalização.

No gráfico abaixo podemos ver um esquema que sintetiza a relação entre estes modos:

Quando o conhecimento explícito e convertido em conhecimento tácito?
Espiral do Conhecimento

Socialização

O primeiro modo, chamado de socialização, compreende a conversão de conhecimento tácito em outro conhecimento tácito. Este processo ocorre através da própria interação entre as pessoas no ambiente de trabalho.

Quando um funcionário mais antigo está passando sua experiência para um mais novo, este processo está acontecendo. Assim, este processo pode ocorrer por meio da linguagem, bem como através da observação, da imitação, entre outras formas.

A chave neste processo, segundo Nonaka [2], é a experiência. Sem um mínimo de experiências compartilhadas entre duas pessoas, é muito difícil que alguém possa aprender como a outra pessoa pensa e porque toma certas decisões ou age de alguma forma. Portanto, temos de “conhecer” um pouco o outro antes de aprender com ele.

Combinação

O segundo modo de conversão ocorre quando transformamos conhecimento explícito em outro conhecimento explícito. Desta forma, ao mudarmos o contexto, recategorizarmos ou aumentarmos um conhecimento explícito, estamos, de certa forma, transformando este conhecimento.

Por exemplo, de certa maneira estou fazendo isso agora, pois me utilizo de diversos textos de outros autores para “montar” uma aula voltada para um concurso específico, não é verdade? Da mesma forma, quando vocês fazem um resumo de um livro, ou um mapa mental, também estão se utilizando deste processo de combinação.

Assim sendo, a combinação é um processo que transforma conhecimento explícito em outro conhecimento explícito.

Externalização

O terceiro e o quarto modo se referem a uma conversão entre conhecimento tácito e explícito. De certa forma, baseiam-se na noção de que estes conhecimentos são complementares, e que podem se expandir com esta interação.

Assim sendo, o processo de transformação de um conhecimento tácito em conhecimento explícito é o terceiro modo. Quando um cozinheiro famoso lança um livro de receitas, por exemplo, está buscando fazer isso. Nonaka chamou este processo de externalização.

Internalização

Finalmente, existe o quarto processo. Este envolve a transformação de conhecimento explícito em conhecimento tácito. De certo modo, identifica-se com o conceito comum de “aprender”.

Ou seja, quando estamos lendo um manual, um livro, ou vendo uma videoaula, estamos buscando converter conhecimento explícito em conhecimento tácito, não é mesmo? Este processo é chamado de internalização.

Outro nome para este processo que é muito utilizado é o de “espiral do conhecimento”, pois se refere à ideia de que, com a contínua interação entre os conhecimentos tácitos e explícitos, potencializa-se o desenvolvimento e transmissão destes conhecimentos.

[1] (Moresi, 2001)

[2] (Nonaka, 1994)


Questões sobre a Espiral do Conhecimento

(FCC – TRE-RR – ANALISTA – 2015)

Nonaka e Takeuchi (1995) afirmam que os conhecimentos nas organizações devem ser gerenciados de forma articulada e cíclica. Esse processo denomina-se

(A) Curva de Aprendizagem.

(B) Espiral do Conhecimento.

(C) Processo Ensino-Aprendizagem.

(D) Gestão do Conhecimento Tácito e Explícito.

(E) Gestão do Conhecimento.

Comentários

Inicialmente, de acordo com Nonaka e Takeuchi o processo de criação de conhecimento nas organizações se relaciona com a interação dos conhecimentos tácitos e explícitos. Em outras palavras, o que os autores chamam de conversão de conhecimento.

Igualmente, outro nome para este processo que é muito utilizado é o de “espiral do conhecimento”. Nesse sentido, se refere à ideia de que, com a contínua interação entre os conhecimentos tácitos e explícitos, potencializa-se o desenvolvimento e transmissão destes conhecimentos. Desta forma, o gabarito é a letra B.


(CESGRANRIO – IBGE – ANALISTA – 2013)

Na análise da espiral do conhecimento, tem-se que a

(A) socialização é o compartilhamento do conhecimento explícito, por meio da observação, imitação ou prática.

(B) articulação ou externalização é a conversão do conhecimento tácito em explícito e sua comunicação ao grupo.

(C) internalização envolve a padronização do conhecimento, o seu agrupamento em um manual ou guia de trabalho e sua incorporação a um produto.

(D) combinação ocorre quando novos conhecimentos explícitos são compartilhados na organização, e outras pessoas começam a utilizá-los para aumentar, estender e reenquadrar seu próprio conhecimento.

(E) socialização envolve o conhecimento conceitual, a combinação envolve o conhecimento sistêmico, a externalização envolve o conhecimento operacional e a internalização, o conhecimento compartilhado.

Comentários

Primeiramente, a letra A está errada, pois a socialização é a conversão de conhecimento tácito em outro conhecimento tácito. Por outro lado, a letra B está certa e é o nosso gabarito.

Entretanto, a letra C está incorreta. Certamente, a internalização é a transformação de conhecimento explícito em conhecimento tácito. De certo modo, identifica-se com o conceito comum de “aprender”.

Continuando, a letra D está também equivocada porque a combinação ocorre quando transformamos conhecimento explícito em outro conhecimento explícito.

Finalmente, a letra E está errada. Destarte, a socialização gera na verdade o “conhecimento compartilhado”. Segundo, a externalização gera o chamado “conhecimento conceitual”.

Assim, a combinação gera mesmo o “conhecimento sistêmico” e a internalização gera o “conhecimento operacional”. Portanto, o gabarito é mesmo a letra B.


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Publicado em: 31 de agosto de 2020


Quais as 4 formas de conversão do conhecimento tácito?

Os quatro modos de conversão do conhecimento são: Socialização, Externalização, Combinação e Internalização, que originam o modelo SECI. isso, de criação de conhecimento tácito – tais como os modelos mentais e as habilidades técnicas compartilhadas”.

Qual a relação entre conhecimento tácito e explícito?

Conhecimento explícito é o conhecimento que possuímos e de que temos consciência. É o conhecimento que somos capazes de documentar, é o conhecimento que as organizações conseguem armazenar. O conhecimento tácito, ao contrário, é conhecimento que temos mas do qual não nos apercebemos.

Como é adquirido o conhecimento tácito?

O conhecimento tácito é desenvolvido por meio da intuição, da observação e da prática. Por não ser um tipo de conhecimento fácil de ser formalizado e explicado, geralmente é retransmitido pelo convívio cotidiano e pelo contato com o conhecedor, sendo considerado o diferencial da pessoa.